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Eu voltei para casa e encontrei minha mãe conversando sozinha novamente na sala.

- Mãe, eu cheguei. - digo

- Querida, vem falar com o general. - ela disse sorrindo

- O general veio de uma guerra? - perguntei

- Sim. Ele levou tiro na perna na guerra contra a Itália. - ela me disse toda animada e olhou para televisão - Não é verdade general?

- Concordo. - digo

- Ele disse que seu pai vai voltar hoje. - ela disse para mim

- Mãe. Papai não vem hoje. - digo triste

- Mas o general não mente. - ela ficou irritada

- Ele deve ter se confundido. - comento

- Não. Seu mentiroso! - minha mãe gritou - Mentiroso!

Ela tentou quebrar a televisão, mas eu a segurei por mais que não tivesse força. Ela caiu de joelhos chorando e eu a abracei.

- Ele já foi, mãe.

Lembro quando meus pais se separaram. Foi um dos momentos mais marcante da minha vida, o motivo de minha mãe ficar assim.

"Meus pais estavam discutindo, como sempre discutiram, eu não esperava que fosse algo grave. Eu tinha quase quinze anos. Minhas amigas não sabiam o que acontecia em casa.

Meu pai andava de um lado para outro, irritado, e minha mãe ficava xingando ele.

- Não está dando certo isso. - minha mãe disse

- O problema desse casamento é você. - meu pai disse

Minha mãe pegou o vaso de flores que estava na mesa da sala e jogou no chão. Eu fechei os meus olhos com força ao sentir o barulho do impacto contra chão.

- Que eu saiba você não fez nada para mudar! - ela colocou o dedo indicador próximo do rosto - Eu poderia adoecer e você fugiria daqui.

- Ah... Me poupe disso. - meu pai falou em tom de deboche - Nós dois sabemos que o problema é você. Acabou de quebrar um vaso.

- Nós dois sabemos que esta casa é minha, então saia dela agora. - ela cruzou os braços

- Tem razão. - meu pai concordou - Eu vou embora daqui. Eu não suporto você.

- Saia logo. - minha mãe gritou

Meu pai fez a mala e chamou um táxi, foi embora. Ele não disse e nem sequer olhou para mim ao sair da casa.

Eu decidi limpar o chão quando minha mãe gritou de dor e apertava barriga. De repente, eu vi sangue pela pernas da minha mãe no meio da sala, a unica coisa que eu pensei foi ligar para hospital. Minha tia veio cuidar de mim enquanto minha mãe ficava no hospital.

- O que aconteceu? - perguntei para minha tia

Ela estava limpando o chão e parou apenas para olhar para mim com aquela triste expressão. Nunca esquecerei aquela tristeza que carregava nos olhos.

- Nicole, sua mãe teve aborto."

Não foi a mesma coisa como a época que meus pais me avisaram por telefone, meu pai não voltou pra casa. As vezes eu apenas via meus pais juntos quando era um evento da escola ou quando queria ir pro Alaska, mas depois de um tempo isso acabou. Parecia que foi ontem quando contei para Vinicius e ele me disse que iria embora. Eu fiquei irritada por ser unica que ele não ficou, então, achou mais fácil contar. Talvez, na época eu queria ser a Garota que ele amasse. Isso é tão infantil, mas estou começando a acreditar que é verdade.

Depois disso, minha mãe ficou depressiva e começou a sentir falta do meu pai. Ela acabou achando que meu pai era o único que podia salvar-la. Pelo menos uma vez por semana minha tia para saber como minha mãe sentia.

Eu ainda lembro que minha mãe começou a perder vontade de comer, eu acabei amadurecendo mais cedo para cuidar da minha mãe. Depois de alguns anos, Leonardo perdeu os pais e passou a morar com meu pai. Então, nós acabamos ficando próximos desde então.

A campanha tocou. Era Leonardo.

Ele não tinha mudado muito depois das ferias. Cabelo escuro que agora penteado é novo estava com a franja jogada para um lado só, olhos castanhos, ainda alguns centímetros mais baixo que eu, a pele estava bronzeada.

- Como vai a primeira semana de aula? - ele disse estendendo os braços

Eu o abracei toda feliz.

- Adora como você começa suas conversas. - admito - É algo inovador.

- Mas ainda não respondeu. - ele disse

- Pode se dizer que foi tranquilo. - digo dando de ombros

- Como está sua mãe? - o sorriso dele mudou para uma expressão preocupada

- A vida continua, não é mesmo? - tentei força um sorriso - Hoje eu encontrei com ela conversando sozinha na volta da escola.

Eu sentei no sofá e abracei a almofada tentando conter as lagrimas teimosas. Leonardo sentou ao meu lado e me puxou para mais perto, me abraçando.

- Sinto muito. - ele disse

- Está tudo bem. - eu afastei dele e limpei meu rosto - Como eu disse antes a vida continua.

- Você sabe que para mim, você é uma garota forte. Não precisa segurar suas lagrimas. - ele disse enquanto acariciava meu braço

- Eu sei, mas mesmo assim não é bom demonstrar. Eu não quero as pessoas descubram o que acontece em casa. - admito - Quanto mais pessoas souberem mais eles enxergaram drama. Acredite, nem todos compreendem a dor de alguém.

- Você quer dizer que as pessoas não têm interesse em compreender a dor dos outros. - ele olhou para mim

- Sim. - digo com um sorriso


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