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Hoje

Depois de tanto tempo fora por causa do emprego do meu padrasto voltei para Cuiabá. Eu esqueci de contar que tenho uma irmã de dez anos chamada Lucia. Apesar de ser minha irmã, eu não tinha muito apego a ela. A explicação para isso é que minha irmã é na verdade minha meia-irmã, a filha do meu padrasto.

Bem... Vamos falar antes da cidade onde morei durante esses últimos anos já que a viagem de carro vai ser longa mesmo.

Direi em um pequeno resumo dessa cidade do interior, meu padrasto trabalha como engenheiro que viaja bastante e acabamos morando aqui por um bom tempo. Eu aproveitei bem até conseguir uma namorada. E agora, estamos indo voltar para nossa cidade.

Meu padrasto colocou as malas no porta-malas. Eu estava me despedindo da Amora. Sim, o nome dela é Amora, eu acho que mãe dela estava com desejo de amora durante gestação.

Amora segurava minhas mãos. Ela me olhava com aqueles olhos meigos escuros quase chorando.

- Por que tinha que acabar assim? Eu quero que fique comigo.

Eu consegui ouvir minha mãe bufar enquanto estava encostada no carro.

- Eu sei minha linda. - disse pra Amora - Não queria que a gente terminasse. – acariciei sua bochecha

Mentira. Eu estava pulando de alegria por dentro para poder ir embora.

- A gente não precisa terminar. - ela deu pulinho e eu fiz uma cara confusa - Namoramos a distancia e depois você faz faculdade aqui.

Nem pensar que voltaria pra aquela por causa de uma garota.

- Amora... - meu padrasto buzinou - Nunca vai dá certo. Talvez seja o sinal que devemos seguir em frente.

- Mas eu te amo. – ela fez biquinho

- Eu também gosto de você. - ela ficou de boca aberta

Depois entrei no carro.

- Acelera antes que ela tente arrombar o carro.

- O que você falou? - minha mãe olhou pra trás com cara seria

- O que ela falou você quer dizer. Ela me disse eu te amo.

- Ih, moleque. Hora de ir. - meu padrasto acelerou o carro - Lucia, hora de dizer tchau.

- Tchau cidade - disse minha irmã acenando pra janela

Eu revirei os olhos achando aquilo idiota.

- Agora você apoia meu filho. - disse minha mãe

- Querida, você sabe como os homens são. Dizer eu te amo antes de estarmos prontos. – Roger olhou para minha mãe

Minha mãe ficou brava. Por mais que ela gostasse tanto da Amora, ela achava ridículo que a tratasse daquela forma.

- Ainda mais na despedida - eu disse

Minha mãe lançou um olhar de reprovação para mim.

- Acho que o Vinicius é um medroso e não é um príncipe. - disse Lucia

- Ainda bem. - eu disse – Eu não quero ser um príncipe.

- O que é uma pena. – comentou minha mãe

Ainda me lembrarei da Amora quando a conheci. Pena que eu não sentia o mesmo por ela. 


"Eu estava no clube com meu vizinho, Amora parecia estar desfilando na piscina e todos paravam para assoviar.

- Eu duvido que consiga falar com a Amora. - meu vizinho disse animado

Meu vizinho sabia que eu conseguia ficar com qualquer garota, então, eu entendi o que ele quis dizer com 'falar'.

- Quem é Amora? - perguntei

- Aquela garota. - ele apontou para Amora

Amora sorriu para mim enquanto conversava com as amigas. Eu conversei com Amora e ela me fez virar o namorado dela naquele dia mesmo."

Agora o caminho seria longo. Lembro do meu ultimo dia na minha cidade natal. Era festa do Mateo. Lembrei das ultimas palavras de Nicole disse que me odiava e se afastou de mim quando voltamos para festa.

Por que eu contei pra ela primeiro? Essa pergunta nunca teria resposta para mim. Todos esses anos eu ainda faço essa pergunta todas as manhãs. Nicole e eu não éramos uma coisa chamado amigos.

Será que  Cuiabá estava igual?

Pela madrugada. Eu não aguento mais. Alguém coloca alguma coisa na boca de Lucia porque eu não desejaria nem para meu pior inimigo que ouvisse Lucia cantando. É muita tortura. Ouvi-a cantar todas as musicas de princesa é um pesadelo.

- Chegamos. - anunciou meu padrasto

Abri a porta e beijei o chão.

- Finalmente. Livre do meu pesadelo. - eu gritei

- Cala boca Vinicius. Não tão ruim assim. - disse a Lucia descendo do carro

- Não foi. Foi um pesadelo. – digo

Ela mostra a língua pra mim e sai saltando para dentro da casa.

- Aquilo não é uma menina, é um capeta disfarçado. - digo

- Mocinho, levanta desse chão e pega as malas. - disse minha mãe

Esqueci que ainda estava de joelhos.

Abracei as pernas e clamei:

- Por favor... Me diz que meu quarto é separado do dela.

- Agradeça ao Roger por isso. Agora me solta, filho. – tentando tirar meus braços dela

Levantei e fui abraçar meu padrasto que estava tirando as malas. As malas caíram no chão.

- Que foi dessa vez Vinicius? – ele me olhou bravo por causa das malas

- Meu quarto. – eu dei um sorriso sem-graça

- Certo. – ele deu umas palmadas em meu ombro - Agora tira as malas e leva pra dentro de casa.

Enfim, algo bom aconteceu. Um quarto só pra mim. Meu terceiro ano no ensino médio.

- Devagar Vinicius. – minha mãe diz quando esbarro nela - Não quero morrer hoje por causa dessa pressa sua.

- Desculpa mãe. – gritei enquanto subia a escada

- Que ótimo filho eu tenho. – ela diz

- Deixa ele, agora que ele tem o próprio quarto dele. – meu padrasto diz

O quarto estava vazio, apenas tinha uma cama, um guarda-roupa e mesa para estudos. Mas, eu já conseguia imaginar as minhas decorações pessoais nas paredes.

Finalmente, um quarto só para mim. O que mais falta? Já sei. Encontrar meus velhos amigos. Mas quem?

- Vinicius desce. Tá achando que era só aquela mala. Pode descer moleque. – meu padrasto em baixo

Desci correndo, minha mãe estava na cozinha com Lucia guardando as panelas e meu padrasto estava lá fora.

- Achou que iria se livrar só com uma mala. – ele bagunçou meu cabelo – Me ajuda pega as outras coisas do caminhão.

- Se eu te ajudar posso sair? – perguntei

- Pode sim. – ele disse dando de ombros

- Esse que é o Vinicius? – um senhor perguntou

- Sim. Meu enteado. – meu padrasto respondeu

Havia outros caras do caminhão de mudanças que estavam tirando os móveis também. Eu nem lembrava que tinha um caminhão logo atrás da gente nos acompanhando.

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