Capítulo 21
✧ Um Sonho ✧
Depois daquele dia, passaram-se semanas e nem todos os dias pude ver Amélia.
Ela entristeceu. Eu já imaginava que isso fosse acontecer.
Felizmente para mim, as coisas estavam um pouco melhores. Meu pai parecia mais preocupado com a nossa família, fazendo-se mais presente.
Ele resolveu tirar quinze dias de férias para passar mais tempo conosco. Mas também era por conta do aniversário de casamento que seria nesta quarta. E ele queria fazer algo especial com minha mãe.
O plano era irmos ao pequeno shopping do lado leste da cidade. O casal iria jantar num restaurante e os filhos iriam para o cinema. Graças aos céus nos deixaram chamar nossos amigos. Seria um verdadeiro saco assistir um filme só com Stefany ao lado. Aí não precisava nem perder tempo saindo de casa.
Pegamos o carro e chegamos ao shopping. Era um final de tarde num dia de quarta, mas estava lotado de gente, como num fim de semana. Nossos pais nos deixaram na porta do cinema e seguiram direto para um restaurante na praça de alimentação. Vê-los se afastarem com as mãos dadas me fez sorrir.
Não demorou muito e chegaram primeiro duas amigas de Stefany. Enquanto elas conversavam, recebi uma mensagem no celular. Era Carina, marcando de nos encontrar na entrada da livraria. Deixei as meninas e fui ao ponto de encontro.
Andando pelo shopping, fiquei pensando no que Amélia havia dito. O que será que ela tinha feito de tão ruim assim? Será que era por isso que ela continuava presa àquela casa?
Parei em frente à livraria e a capa de um livro me chamara a atenção, pela vitrine. Era um livro sobre crimes hediondos, e na sua capa trazia um desenho à giz de um corpo estendido no chão, como quando a polícia faz ao investigar um assassinato. Aquilo me fez lembrar do homem que vi morrer ao ser atropelado pelo ônibus em que eu estava.
Senti um arrepio ao lembrar que ele tinha corrido atrás de mim, quando percebeu que eu podia vê-lo.
As pessoas que fizeram coisas ruins... Não vão embora?
No meio do meu raciocínio, olhei para o corredor ao lado e dentre as pessoas surgiu uma garotinha morena com um vestido rosa, que do nada veio correndo em minha direção. Aparentava ter uns cinco anos de idade e percebi tarde demais que não teria como evitar o esbarrão. Até que a menina simplesmente atravessou-me.
Senti uma sensação estranha demais. Olhei para trás e a vi indo embora bastante serelepe, atravessando as paredes de uma loja mais adiante.
Fiquei atordoado, e me questionei se todas as pessoas que estavam à minha frente... estavam realmente vivas.
— Viu um fantasma, Bernardo?
Virei-me e percebi que Gio e Carina tinham chegado.
— Essa é tão manjada! É o que mais falam nos filmes! — comentou Carina.
— Eu sempre quis falar isso! Olha só pra cara dele!
— Como assim? — Questionei, sem jeito.
— É, você parece meio que assustado! Tá tudo bem? Tá se sentindo bem? — Gio se aproximou de mim.
— Tá sim... Pensei ter visto alguém. Não foi nada, não — Tentei disfarçar — Vamos? Eu já comprei os ingressos, falta vocês me pagarem!
— Mas foi você que nos convidou! Quem paga é quem convida, né não?! — brincou Giovani, cutucando Carina de lado.
Como faltava uns dez minutos para começar o filme, fomos para a fila de entrada. Nos encontramos com Stefany e sua amigas.
No meio do papo, senti um leve puxão na barra de minha camisa e olhei para trás. Era Belinda.
— Oi!! Que surpresa você por aqui!
Fiquei desconcertado com o seu sorriso, porém uma onda fria me percorreu. Lembrei da última vez que a vi. Ela pareceu notar minha mudança de comportamento, afastando-se um pouco. Ainda assim, perguntei:
— Oi... Veio ver um filme também?
— Sim!
— Tá sozinha?
— Não, eu vim com minhas amigas. Elas foram comprar o nosso lanche e eu tô aqui na fila pra adiantar.
— Ahh... — Fiquei sem assunto. Não tinha o que falar, afinal, ela não era para o meu bico.
Carina que estava à minha frente na fila olhou para trás e percebeu a presença de Belinda. Do lindo sorriso que enfeitava o seu rosto, de repente ela fechou a cara. Já Giovani parecia se divertir com a cena, fingindo não estar interessado na situação, mas eu conhecia bem o meu amigo fofoqueiro. Eu decidi que não iria dar mais cartaz para Belinda. Roubei uma pipoca do lanche de Carina e esta me deu um tapa no braço.
— Ei! Vá comprar o seu! — Nós rimos. Reparei com o canto de olho que Belinda nos observava quieta, na sua. Era bem provável que aquele idiota do Noah fosse aparecer também. Não iria deixar que isso estragasse a minha noite.
Quando estávamos perto de entregar nossos ingressos para entrar no cinema de fato, chegaram três amigas de Belinda. Esta se inclinou e ficaram cochichando. Assim que entramos, Stefany exclamou:
— Bora, gente! Nossa sala é a quinta à direita.
Quando me adiantei para acompanhar meus amigos, senti alguém puxar a minha mão para ir à outra direção. Era Belinda, que me guiou para que entrássemos numa sala diferente. Tive tempo de olhar para trás e perceber que nenhum de meus amigos percebeu o ocorrido.
Entramos na sala dois e percorremos devagar o corredor escuro. Pude ver no telão que um filme já havia começado. Belinda ainda segurava a minha mão e isso me deixava nervoso. O que ela queria?
Ela parou de andar e olhamos ao mesmo tempo para a cena que estava rolando no telão: um casal se beijava. Neste momento nos encaramos.
Mesmo com pouca luminosidade, eu podia ver o quão linda ela era. Estava de cabelos soltos e usava um tom de batom rosa clarinho, deixando-a com um ar delicado. Usava também uma blusa branca com casaco de couro sintético amarelo, um shorts jeans curtos, estando com uma bolsinha a tiracolo.
Ela me puxou pelo colarinho da camisa de forma lenta, como se testasse... Para ver se eu a queria.
Confesso que todo o rancor que eu tinha, esqueci do lado de fora da sala.
Ela se aproximou o suficiente e deixei que me beijasse. Um toque de lábios que aos poucos foi se tornando mais intenso.
Eu a queria para mim.
Belinda me encostou na parede e continuamos nos beijando, mais e mais.
Não ousava nem parar para respirar.
Passei a mão pelos seus cabelos e a segurei de leve pela sua nuca. Deixei escorregar minha mão esquerda pela sua cintura. Senti ela se arrepiar e se entregar mais para mim, passando seu braços pelo meu pescoço.
A noite poderia durar uma eternidade que eu não ligaria.
Meu primeiro beijo não foi com quem eu imaginei que seria anos atrás.
Belinda tinha de ser minha.
Algum tempo depois, saímos juntos da sala e entramos na que deveríamos ir de fato, pois veríamos o mesmo filme. Porém sentamos distantes de nossos amigos, sem que fôssemos notados. E voltamos a nos beijar.
No final do filme, esperamos que todas as pessoas saíssem da sala e só depois saímos. Belinda se despediu de mim antes:
— Vou aqui no banheiro. Manda mensagem pra mim mais tarde, ok? — Ela me deu um último beijo de leve, o que me deixou maluco.
E segui o meu caminho até a praça de alimentação.
Encontrei com o restante do pessoal, ao mesmo tempo que meus pais também chegaram.
— E aí, gostaram do filme? — perguntou meu pai, sorridente.
Carina e Giovani olharam para mim.
— Eu gostei, já Bernardo eu não sei! — riu Stefany. Será que ela nos viu?
— Eu gostei, sim, tá?! — Olhei ao redor em busca de Belinda. Nem sinal dela.
Esperei bastante ansioso para chegarmos em casa e assim poder mandar mensagem para ela.
Não sabia se deveria mandar logo ou esperar um pouco mais, pra não parecer que eu era um abestalhado. Só mais um...
✧
Já era madrugada, quando deitei na cama e fiquei olhando as fotos de Belinda no celular, de sua rede social. Ela era linda demais. Nunca que iria imaginar encontrá-la hoje, muito menos que iríamos ficar!
Ela merece muito mais do que ficar com aquele imbecil.
— Ela é linda! — Ouvi Amélia exclamar ao meu lado, debruçada sobre a cama. Com vergonha, bloqueei a tela do celular no impulso.
— Tá namorando?
— Er... Não! — Foi o que consegui responder. Ela pareceu entender a minha reação e se distanciou, sentando numa cadeira ao lado.
— Ela tá ficando com outra pessoa.
— Hum!
— Mas acho que agora é passado — Determinei. Pelo menos, era o que eu esperava. Liguei novamente o celular e fitei a foto de Belinda. Questionei Amélia:
— Você... já gostou de alguém?
Quando levantei os olhos para a cadeira onde ela havia se sentado, percebi que estava vazia. Ela sumiu, como sempre.
Cansado desses sumiços. Que ódio dessa garota! Não dá nem pra conversarmos direito.
Guardei o celular em cima da cômoda e me aconcheguei na cama. Acabei dormindo e esquecendo de mandar a mensagem.
Música-tema do capítulo: "Let Me Love You" | Artista: Mario
Cena: Beijo entre Bernardo e Belinda.
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🙈🥰
Ehhh, será que teremos um novo casal na área?
O que esperar dos próximos capítulos?
Até a próxima,
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