Capítulo 16

✧ Eu vejo gente... ✧



Estava me barbeando no banheiro, quando sem querer cortei de leve o maxilar. Ardeu um pouco, então lavei o local do ferimento. Nunca deixei a barba crescer o suficiente, com certeza ficaria no estilo "Renato Russo". Talvez um dia, quem sabe. Ainda estou longe de ter uma barba cheia assim. Dei uma última olhada no cabelo e voltei para o quarto, a fim de arrumar a mochila.

Enquanto guardava o caderno, lembrei da conversa que tive com meu pai no dia anterior. Como ele diz que me dera uma camisinha? Que horas isso aconteceu? Muito louco isso.... Resolvi procurar. Remexi no fundo da mochila e encontrei a minha carteira bege. Abri, e não é que tinha uma camisinha dentro?

— Bora, Bernardo! Papai vai nos dar carona! — Stefany apareceu de repente na porta do quarto, e no susto deixei a carteira cair no chão. Para a minha sorte, a camisinha não pulou para fora. Olhei novamente para a porta e Stefany não estava mais lá, mas sim Amélia.

— Vocês duas tem algo em comum: gostam de dar susto, hein? — Ela deu um sorriso angelical em resposta. Peguei de volta a carteira e a devolvi para a mochila.

— Eu sei que você tá me seguindo! — Amélia me olhou com surpresa. Essa garota é muito debochada...

— E por que eu faria isso?

— Não sei, me diga você! Como conseguiu sujar o corredor daquela forma? Alguém poderia ter escorregado naquela sujeirada toda!

— Qual corredor? — Ela pergunta enquanto mexia na maior ousadia no meu notebook, que estava em cima da mesa de estudos.

— Não se faz de santa! Eu sei que você tava lá no colégio! — Aproximei-me e fechei o computador — Desde quando você aprendeu a mexer nisso?

— Não parece ser difícil, vendo você usá-lo — deu de ombros e saiu da cadeira. Parecia que eu havia ganho mais uma irmã chata, para ficar mexendo nas minhas coisas. Com o combo de ser stalker também, pelo que parece.

— Olha, eu só não quero confusão como da última vez! — Coloquei a mochila nas costas e dei uma última olhada em Amélia. Ela estava de braços cruzados, olhando para o jardim. Parecia uma garotinha mimada.

— Você entendeu, né? E também não mexa nas minhas coisas!

— Este quarto continua sendo meu. Nem ouse me expulsar! — Ela pronunciou essas palavras num tom bem ameaçador, o suficiente para que eu encerrasse logo a conversa. Ela pelo visto era oito ou oitenta. Tinha vezes que parecia até legal comigo, já outras vezes...

— Fui!

Saí do quarto e desci as escadas o mais rápido que podia. Antes que ela me arremessa-se para fora de casa. E também porque estava mega atrasado, é claro. A carona veio em boa hora.



Já na escola, o tempo estava passando bem depressa, ao meu ver. Estava aproveitando o intervalo entre as aulas para fazer absolutamente nada. Um nada produtivo, na verdade. Eu estava sentado na arquibancada da quadra de esportes, admirando Belinda de longe. Ela estava sentada com algumas garotas, alguns degraus abaixo. Enquanto eu fingia mexer em meu celular, discretamente a observava. Poderia gastar várias horas fazendo isso. Ela era muito bonita mesmo. Era o tipo de menina que não se vê a toa por aí. E a sua beleza intimidava de certa forma, não só a mim como aos outros rapazes também, acredito eu. E era alta, da minha altura. Hoje estava usando saia, o que não era permitido no colégio. A única vez que conversamos de fato foi naquela noite, na praia. Se houvesse outra oportunidade, era bem provável que eu fizesse papel de idiota, pois não tenho assunto para chegar em alguém como ela.

Enquanto estava imerso em pensamentos, recebi uma mensagem de Giovani perguntando onde eu estava. Assim que levantei meus olhos, dei de cara com Belinda vindo em minha direção. Ou talvez ela estivesse somente se dirigindo à saída. Quando ela se aproximou o suficiente para me ouvir, arrisquei tudo:

— Oi!

— Oi... — Ela estava olhando em outra direção, e então reparou em mim. Seu sorriso em resposta já tinha valido a pena.

— Tudo bem com você? Er... Acho que não deve se lembrar de mim, né?

— Claro que lembro! Bernardo, não é isso? — Assenti, animado.

— Eu até queria te pedir desculpas.

— Hum? Por quê?

— Bom, não foi culpa minha, é claro... Digo, aquela noite na praia, sabe? Eu nem te agradeci por ter me defendido — Ela olhou para baixo, desviando do meu olhar.

— Ah, tudo bem! Não precisava agradecer, não. E nem pedir desculpas! Eu não reparei nisso. Fica tranquila!

— Ah! Ainda bem, então! — Por um momento, ficamos nos olhando em silêncio. Eu esperava que ela puxasse mais algum assunto para ajudar este pobre coitado, mas acho que ela também esperava que eu me mexesse. Antes que o silêncio tornasse tudo ainda mais desconcertante, continuei:

— Depois daquela noite, ele te deixou em paz, né?

— Ahh, sim! Eu também deixei pra lá, sabe... Não é a primeira vez que isso acontece.

— Imagino. Bom, qualquer coisa, estamos aí!

— Certo, a gente se fala! — Ela me deu um aceno e continuou o seu caminho para a saída da quadra. Caramba...!

Posso até ter iniciativa, mas falta todo o resto...

Sentei-me e voltei a fingir que estava no celular, ao mesmo tempo que olhava ela se distanciar. Seus cabelos estavam soltos, e o vento ajudou a trazer o seu perfume para mim. Estava tão embriagado com este momento, que me surpreendi com a chegada de meus amigos.

— Tá me ignorando, Banks? — Questionou-me Gio.

— Eu? Eu não!

— Quer um guardanapo?

— Oi?

— Um guardanapo, pra limpar essa baba toda aí! — Começou a rir da minha cara ao lado de Carina, que parecia não ver graça na situação assim como eu.

— Quer dizer que você ignorou a minha mensagem por causa de mulher, rapaz? — Suspirei com esse comentário.

— Qual é, Gio! Não vai me dizer que vocês ficaram olhando de longe...

— Você não foi nada discreto, cara. Parecia até uma cena de filme pra adolescente, bem clichê!

— Vamos indo gente! Já chega desse papo! — chamou Carina, encerrando a conversa e saindo da quadra. Aproveitei que ela estava de costas e fiz sinal para Giovani parar de me importunar. Enquanto voltávamos para a sala, ele passou o braço pelo meu pescoço e disse:

— Ela não é pro teu bico! — Aquilo me deu um ódio, que empurrei Giovani para longe. Ele caiu na gargalhada.

— Tá apaixonadinho... Entra pra fila então!

— Você também?

— Eu não, fica tranquilo! Ela não faz meu tipo. É muito metida! — Desta vez, passei meu braço em suas costas:

— Ainda bem! Assim não preciso manchar as minhas mãos! — Chegamos e fomos cada um para o seu lugar. Reparei que no restante do dia, Carina estava mais quieta do que o habitual.

No final da aula, chamei os dois para dar uma volta antes de voltarmos para casa.

— Não vai dar... Combinei com Carol que passaria na casa dela pra gente estudar — disse Carina, apressando-se — Tchau, meninos! — Ela saiu andando enquanto abria um guarda- chuva, pois começara a chuviscar.

— Também não posso, man. Meu irmão ficou de vir me pegar pra gente ir no shopping. Aliás, quer vir junto?

— Valeu, mas vou pra casa. Brigadão, mais tarde a gente se fala! — Mostrei o celular e segui o meu caminho, sem me importar com a chuva de leve que caía. O céu estava bem escuro, então resolvi pegar um ônibus.

No caminho, fui lembrando de Belinda. E ao mesmo tempo me toquei que não havia sentido a presença de Amélia. Será que ela estava lá? Olhei ao redor à sua procura. O ônibus estava cheio, com algumas pessoas de pé. Nenhum sinal dela. Quando o ônibus manobrou para virar a esquina, derrapou e ouvimos um baque na frente, e o motorista freou tão de repente que algumas pessoas gritaram. Segurei-me na barra de apoio a tempo. O motorista abriu a porta do ônibus e saiu ligeiro, algumas pessoas fizeram o mesmo. Ouvimos gritos de socorro. Meu sangue congelou, e eu não sabia se deveria sair do lugar para ir atrás do que estava acontecendo. Como outras pessoas começaram a descer, resolvi fazer o mesmo. No final, me arrependi de ter pego aquele ônibus.

Ao passar pela pequena multidão, visualizei um senhor de idade com roupa social estirado no asfalto. Parecia desacordado, e havia muito sangue...

Bati a mão no bolso, procurando pelo celular. Ele ainda poderia estar vivo! Olhei ao redor e percebi que outras pessoas já estavam ligando para pedir uma ambulância. A chuva começou a cair e eu fiquei ali parado, sem conseguir tirar os olhos daquela cena. Alguém tinha que fazer alguma coisa, não é possível!

De repente, vi algo se mexer. Eis que o homem se levantou, e sentou. E com quase nenhuma dificuldade, ficou de pé também. Mas seu corpo continuava caído no asfalto.

O coitado do homem olhou atordoado para a multidão ao seu redor, e em seguida mirou seu olhar em mim.





O capítulo começou de um jeito, e terminou de uma forma... inesperada, não é mesmo? rsrs

Nos vemos no próximo capítulo, fantasminhas

Babi ☘

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