07 - Valentina
Exatamente quando o relógio em minha cabeceira marcar quinze para as onze escuto o som dos pneus esmagando as pedras na entrada de minha garagem e imediatamente me levanto. Jogo meus livros e cadernos debaixo da cama e corro escadas abaixo a tempo de encontrar Valentin saindo do carro do tio. Do jeito que ele sorri parece que não se incomoda nem um pouco por estar dirigindo a minivan de Stefano, mas eu como sua melhor amiga tenho o privilégio de saber que ele vem juntando dinheiro para comprar o próprio carro desde que tem quinze anos.
- Consegui sair mais cedo hoje e passei no seu restaurante favorito. – Ele ergue um pacote na mão esquerda e eu sinto meu sorriso se alargar só com a visão da embalagem. O cheiro de queijo derretido e batata frita me atinge logo em seguida, fazendo meu estômago roncar.
- Você atravessou a cidade só para comprar hambúrguer? – Não consigo evitar, me atiro em Valentin e o puxo para um abraço bem apertado, mesmo sabendo que ele odeia quando faço isso.
- Você merece, afinal me deixou escolher o filme de hoje. – Ele diz de forma enigmática e logo me arrependo por ter permitido que ele trouxesse algum filme qualquer. São raras as vezes em que deixo Valentin escolher o filme porque ele sempre me força a assistir filmes de suspense, guerra ou ficção científica e eu odeio cada um deles. Imagino que a escolha de hoje não seja muito melhor.
Sem me dar chances de fazer mais perguntas, Valentin me empurra para dentro da casa e vamos direto para a sala de televisão. Minha mãe o encontra no meio do caminho e enquanto os dois conversam aproveito para ligar os aparelhos e me sentar no sofá com meu hambúrguer. V. aparece logo em seguida junto com minha mãe e faz o maior mistério ao colocar o filme no aparelho de DVD.
- Divirtam-se. – Minha mãe me entrega uma lata de refrigerante e coloca a outra sobre a mesinha de centro. Pelo jeito que está rindo eu aposto que ela sabe qual filme Valentin escolheu e isso significa que não vou gostar nem um pouco. – Valentin, se ficar muito tarde você pode dormir aqui na sala. Não quero você dirigindo por aí no meio da madrugada como na semana passada.
- Obrigada senhora Kozlov. – Ele dá um beijo na bochecha de minha mãe e fico impressionada ao perceber que ele precisa se abaixar para isso. Não muito tempo atrás Valentin precisava ficar na ponta dos pés para ficar na mesma altura de mamãe, mas depois do verão passado ele virou uma escada ambulante.
Assim que ele se acomoda ao meu lado minha mãe apaga a luz e nos deixa. Sinto o braço de Valentin passar por meus ombros e em seguida ele me puxa para seu peito. Geralmente não ficamos juntos assim, mas com o frio acima do normal nem mesmo nossos cobertores têm sido o suficiente para nos aquecer e, de alguma forma esquisita, eu até gosto de ficar perto assim de Valentin.
No momento em que a tela da televisão fica inteiramente negra sinto meu amigo passar uma das mãos por meus cabelos, mas não sei se é reflexo ou se ele fez isso de propósito. O movimento é tão rápido que quando a imagem volta a aparecer suas mãos já estão longe de mim.
- Você me paga por isso! – Ao ler o título do filme em letras garrafais na televisão sinto meu sangue gelar e acabo me encolhendo para ainda mais perto de Valentin. Odeio filmes de terror e V. sabe muito bem. A única vez em que ele me obrigou a ver um filme desses eu o forcei a ficar acordado comigo por toda a noite e quase perdi a voz de tanto gritar.
- Relaxa, Val. Eu estarei do seu lado durante a noite inteira. Não vou deixar nada acontecer com você. – O tom que ele usa me deixa em dúvida. Não sei dizer se ele está debochando ou fazendo uma promessa. – Além do mais, o chamado dificilmente é considerado terror... Existem filmes muito piores. Esse é até engraçado de tão ridículo.
Para me silenciar, Valentin empurra uma batata frita em minha boca e se volta para a televisão.
***
- Ai meu Deus. Acende logo a luz! – Viro minha cabeça freneticamente para ambos os lados assim que percebo que Valentin não está ao meu lado. Sem nenhuma luz no ambiente eu sinto como se estivesse sendo observada por uma garotinha de cabelos negros e não é uma sensação boa. Minha garganta está arranhada por causa de todos os gritos (foram tantos que minha mãe veio nos ver umas quatro vezes antes de decidir fechar a porta).
- Valentina... – Escuto uma voz sussurrada vindo por trás do sofá, o que é ridículo porque eu sei que é Valentin, mas mesmo assim acabo gritando mais uma vez e meu amigo solta uma gargalhada alta.
- Para com isso Valentin! Acende logo a maldita luz. Eu vou te matar quando puder enxergar... Onde você está? – Ao invés de receber uma resposta, escuto os passos dele se distanciando. Aguardo alguns minutos, mas permaneço no breu. – Valentin? Isso não tem graça. Acende a luz.
Nada. Nem mesmo um som.
- Valentin. – Minha voz sai distorcida, mas me recuso a fazer papel de boba e tento me manter firme. Espero por mais alguns segundos e nada acontece. – Valentin, deixa de ser bobo.
Minha voz falha ao final da frase. De repente me levanto, incapaz de continuar encolhida no meio do sofá. Começo a tatear no escuro em busca de meu amigo ou o interruptor de luz. O que estiver mais perto. A cada passo meu sangue fica mais gelado e não consigo escutar nada acima das batidas de meu coração que pulsam alto em meu ouvido.
- Aaah! – Duas mãos enormes me puxam para trás pelos ombros e em seguida bato contra algo sólido e firme. Os dedos gelados escorregam por meus braços até a cintura, onde me erguem do chão e sou arrastada de volta para o sofá.
Ao invés de gritar eu permaneço congelada. Meu cérebro parece ter parado e não consigo pensar em nada além dos rostos maníacos de todos os vilões de filmes de terror que conheço. Quando meus joelhos batem contra a almofada do sofá e caio para trás só consigo pensar que em qualquer instante um homem assustador vai atravessar a porta com uma serra elétrica na mão.
- Val, está tudo bem? Você não está gritando. – Sinto a respiração de Valentin logo acima de mim e ouvir sua voz me traz de volta à realidade. Imediatamente sou tomada por raiva. – Droga, você não está gritando. – Sua voz soa desesperada e em menos de um piscar de olhos a luz acende e eu o vejo do outro lado do ambiente. – Você está bem? Seu rosto está quase sem cor. Desculpa, eu só queria te assustar. Meu Deus, você ainda está viva, né?
Ele volta correndo para perto de mim e envolve meu rosto com ambas as mãos. Ele parece tão preocupado, o que serve para aumentar minha fúria. Todo o meu corpo dói com a adrenalina gerada e as pontas de meus dedos está começando a ficar dormente. Tudo isso por uma brincadeira idiota.
- Você é impossível! – Eu o empurro longe, fazendo-o cair no chão por estar desprevenido. – Como você achou que seria engraçado fazer isso comigo?
- Você não tem mais onze anos, eu não pensei que você fosse ficar tão assustada! – Ele se defende. – Além do mais, você riu quando assistiu A bruxa de Blair...
- Isso não é desculpa. – Eu lhe dou um soco no ombro e quando estou prestes a dar o segundo Valentin segura minhas mãos acima de minha cabeça e ri. Ele ri! – Argh, você é tão bobo às vezes. Isso não foi nem um pouco engraçado. Eu achei... Não sei o que achei, mas não foi legal.
- Você pensou que o bicho papão me engoliu?
- Não. Eu não sei. Eu sabia que você estava aqui, mas fiquei assustada.
- Foi mal. Eu não imaginei que você fosse surtar por causa de um filme bobo desses. Prometo que nunca mais vou escolher um filme de terror. – Ele leva uma mão ao peito e me encara profundamente. Seus olhos são tão intensos que chegam a causar arrepio em minha pele.
- Nunca mais? – Pergunto, desistindo de tentar ficar irritada com ele. É impossível. Valentin é sempre tão sorridente que basta ficar dois segundos ao seu lado para esquecer qualquer aborrecimento.
- Com exceção de sexta-feiras 13. – Meus olhos se apertam por vontade própria e o sorriso bobo dele desaparece. – Tudo bem. Nunca mais, nem no Halloween ou em qualquer outra data apropriada.
- Eu não acredito em você. – Digo com toda a sinceridade porque sempre que Valentin diz que nunca mais irá fazer algo ele acaba fazendo só para me irritar.
- Ah, tudo bem, eu não queria fazer isso, mas você está me forçando. – Ele levanta uma mão na altura do meu rosto e estica o dedo mindinho. – Promessa de dedo mindinho.
- Você sabe que essas não podem ser quebradas. – Digo ao laçar meu dedo ao dele. – Ou você vai ficar treze anos sem beijar.
- Eu não acho que seja essa a consequência de quebrar uma promessa...
- Não. Mas ficar treze anos sem beijar é mais dramático e assustador. – Dou de ombros e Valentin solta uma risada baixa.
- O que você quer fazer agora? – Ele tira o celular do bolso e após ver as horas volta a me encarar.
- Agora? Você vai ficar aqui?
- Ordens da sua mãe. – Ele vira a tela para que eu veja que já passa de três da manhã. – Além do mais, você é tão medrosa que não vai conseguir dar dois passos se eu for embora agora.
- Já que você me fez ver esse filme horrível acho que é justo que você me ajude a encontrar uma roupa para meu encontro amanhã. – Digo para provocá-lo. Eu não me preocuparia com a roupa se não tivesse que encontrar alguma forma de fazer Valentin sofrer. – E depois vamos ver as fotos do Ryan na internet e você vai me ajudar a encontrar assuntos legais para eu conversar com ele.
Reprimindo um gemido, Valentin segue obediente para meu quarto. Passamos cerca de meia hora rindo das fotos de Ryan sem camisa em poses bem esquisitas e quando entro no guarda roupa para mostrar todos os vestidos que tenho Valentin praticamente me faz prometer que não vou usar nenhum deles com Ryan. Ele escolhe um conjunto velho e horrível de moletom para mim e eu tenho uma crise de risos. Por fim convenço-o a me deixar escolher outra roupa, mas quando retorno para o quarto eu o encontro dormindo em minha cama. Depois de trocar minha roupa por um pijama de lã eu o cubro e me deito na ponta oposta do colchão.
***
Depois de passarmos toda a manhã dormindo foi uma surpresa acordar e descobrir que eu estava quase atrasada para o encontro, por isso nem me incomodei em chamar Valentin antes de correr para dentro do banheiro com uma muda de roupas e tentar ficar apresentável em um tempo recorde.
- Que bom que você desistiu de usar um daqueles vestidos. Você ia acabar ficando doente. – Valentin diz ao me ver saindo do banheiro com calças jeans e um suéter de lã. Pelo modo como seus olhos ainda estão vidrados ele provavelmente acabou de acordar.
- Bom saber que você está treinando para cuidar do Valentin júnior. – Subitamente lembro da conversa que tive com Sally no início da semana e começo a rir ao pensar no filho inventado de Valentin. Se ele soubesse o que eu fiz iria me matar.
- Aonde você vai? – Ele esfrega o rosto e leva um bom tempo se espreguiçando. Após levantar ele estica os braços acima da cabeça mais uma vez, fazendo sua blusa levantar um pouco e revelar uma boa parte de sua barriga.
Por mais que eu tente não consigo deixar de pensar no quanto Valentin mudou nos últimos anos. Ele passou do garoto magrinho e miúdo para alguém com músculos. Por mais que ele não seja malhado e definido feito Ryan, Valentin tem um corpo bem bonito (e eu só sei disso porque ouvi algumas garotas comentando). Ele não é feio e tem um porte esguio, o que o destaca no mar de alunos da escola. Sem mencionar o fato de ele ter nascido na Itália e ficar com o sotaque carregado quando fica irritado. É bem fofo, mas eu digo isso de uma maneira totalmente desinteressada.
- Estou atrasada para meu encontro. – Aponto para o relógio na cabeceira e Valentin solta um palavrão ao ver que já passa de duas horas da tarde.
- Você pode me dar uma carona? – Ele passa uma mão pelo cabelo, fazendo as ondas ficarem desordenadas e em seguida coloca um boné de seu time de baseball preferido.
- Você devia usar menos seu boné. Sabe que você pode acabar ficando careca por causa disso?
- Quantas vezes você já falou isso? – Ele pergunta sem demonstrar muito interesse na resposta e continua a falar: - Além do mais, quem vai ficar careca sou eu, então não se preocupe.
- Justamente por ser você que eu me preocupo. – As palavras saem sem que eu dê conta.
- O que você disse? – Valentin me encara como se chifres tivessem aparecido em minha testa e não consigo deixar de me sentir estranha. Tão estranha como na noite após o encontro com Ansel em que ele veio até minha casa e, com um gesto tão simples, limpou uma lágrima de minha bochecha. Naquele momento eu achei que estivesse imaginando coisas, mas agora sentindo o mesmo tipo de intensidade emanando dos olhos de Valentin não consigo acreditar que seja coincidência. Eu nunca antes havia me sentido tão aflita perto de alguém então não sei exatamente o que está acontecendo. Provavelmente tem a ver com a apreensão sobre o que ele vai fazer quando descobrir que contei uma história maluca para Sally Hastings.
- Nada. Vamos logo, posso te deixar em casa.
Corro escadas abaixo, ignorando-o por completo até chegar a garagem. Escuto-o se despedir de meus pais e em seguida aparece no batente da porta.
- Val, eu não vou para casa... – Ele esfrega a nuca e eu sinto que vou ouvir algo que não quero. – Suzie está me esperando na sorveteria.
Por mais que eu tenha vontade de perguntar qual é o problema dos garotos em marcar encontros em sorveterias em pleno inverno, acabo me controlando para ficar quieta. Ryan sugeriu que nosso encontro também fosse em uma sorveteria, então imagino que não deve ser tão ruim tomar sorvete em um clima desfavorável.
- Ah, tudo bem. – Algo me incomoda em saber que Valentin vai sair daqui direto para os braços de Suzie. Eu realmente não entendo como alguém legal feito ele consegue suportar uma metida-sabe-tudo feito a Suzie. – Em qual sorveteria eu devo te deixar?
- Você pode dirigir e eu aviso quando estiver perto. – Ele dá de ombros e entra no carro, mas não sem que eu perceba que está se esquivando da resposta. Como estou sem tempo para conversar acabo entrando me sentando na cadeira do motorista e ligo o motor.
Durante todo o trajeto Valentin se mantém mais quieto que o normal. Ele já não fala muito, só quando está alegre ou com vontade de me irritar. No entanto hoje é o único diz em que não preciso que ele fique de boca fechada.
A cada quilômetro mais perto da sorveteria uma pergunta diferente surge em minha cabeça e eu não consigo deixar de me perguntar se estou fazendo o certo. Qualquer um que soubesse da existência dessa lista já teria falado que eu sou maluca; que não se encontrar amor desse jeito; que é óbvio que nada de bom vai sair desses encontros... Mas o que as pessoas não sabem é que às vezes as melhores coisas surgem dos momentos mais impensáveis. Meus pais se conheceram de um jeito engraçado; a melhor amiga da minha mãe marcou um encontro às escuras para ela com seu vizinho e quando eles se conheceram foi amor à primeira vista. Eles souberam naquele instante que não existia mais ninguém que pudesse lhes completar. Eu sei que minha história também vai ser assim. Quando eu olhar para minha alma gêmea eu vou saber no mesmo minuto que o encontrei e a partir de então nada mais será como antes.
- Onde eu devo te deixar? – Pergunto ao notar que estamos quase chegando no local onde Ryan está me aguardando. Valentin permanece em silêncio e eu tenho certeza de que não vou gostar do que ele vai dizer. – Fala logo!
- Vou encontrar a Suzie no mesmo lugar que você vai...
- Não é possível! Você fez de propósito.
- Claro que não! – Ele solta uma risada forçada e balança a cabeça enfaticamente. – Ela pediu para me encontrar aqui.
Não falo mais nada porque acredito que Valentin não teria um motivo para mentir. Se ele realmente quisesse vir por minha causa ele teria dito. Saber que ele veio por outro motivo me deixa mais desanimada do que eu gostaria de admitir, então eu ligo o rádio do carro e canto junto com a música em uma tentativa de ignorar o que estou sentindo. Eu gostaria muito que ele visse como a Suzie não é nada do que dizem. Meu melhor amigo não consegue enxergar que ela é uma falsa metida, justo ele que deveria ser tão inteligente quanto eu!
Depois de duas músicas inteiras eu estaciono em uma vaga perto da entrada da sorveteria. Quando eu era mais nova implorava para minha mãe atravessar a cidade e me trazer aqui todas as tardes após a escola e é claro que Valentin vinha comigo.
- Lembra do especial Java? – Olho através do vidro para a pequena loja.
- Acha que eles ainda servem? – Valentin pergunta já saindo do carro e me pego sorrindo ao segui-lo. – Talvez a gente devesse dividir um, pelos velhos tempos...
- Se nossos encontros não fossem achar isso estranho, talvez a gente pudesse.
- Tudo bem. – Valentin diz quase sem vontade e para em frente à porta da loja. – Você tem certeza de que quer continuar com isso?
Apesar de estranhar sua pergunta, paro para refletir. Eu tenho certeza de que quero estar aqui e também estou determinada a encontrar alguém legal para me acompanhar na festa de Sally (que ocorrerá em sete dias); não tenho tempo a perder. No entanto, algo no modo como seus olhos parecem aflitos e me faz ter segundos pensamentos sobre minha decisão. Será que eu quero mesmo estar aqui com Ryan? Eu não o conheço muito bem e ele pode ser tão estranho quanto Ansel Moose, ou pior, mas não é isso que me faz sentir culpada.
Valentin praticamente se inclina em minha direção, ávido para ouvir a resposta e eu me forço a afastar minhas dúvidas e colocar um sorriso nos lábios. Se ele perceber minha hesitação vai tentar me arrastar para longe daqui sem nem se preocupar com suas vontades. Eu não posso ser egoísta a ponto de afastá-lo de Suzie. Por mais que eu não goste dela, sei que meu amigo não tem muito tempo livre com seu trabalho e os estudos e as tardes de sábados são as únicas horas que ele tem para se divertir (o que inclui Suzie).
- Estou ótima. – Eu o empurro para o lado e tento abrir a porta, mas Valentin me impede e a abre como um perfeito cavalheiro.
- Então vamos fazer isso. – Um sorriso torto aparece em seus lábios. – Mas você precisa prometer que vai voltar aqui comigo para pedirmos um especial Java.
- Combinado. – Eu me viro para observar os poucos clientes dentro da loja e avisto Ryan imediatamente. Sua cabeça está abaixada e ele tem os olhos grudados na tela do celular enquanto digita. De onde estou não posso ver muito, mas aparentemente ele está vestindo uma camisa de mangas compridas cor de sangue em um número menor que o indicado, porque seus bíceps que já são gigantes estão ainda maiores. É impossível não olhar... – Lá vou eu.
- Val. – Valentin me segura pelos ombros, forçando-me a encará-lo. – Se houver qualquer problema é só me chamar.
- Eu sei. Obrigada. – Sorrindo, me distancio de Valentin em direção da mesa de Ryan. Ele não nota minha aproximação de tão concentrado que está. Seja lá o que for que está vendo em seu celular, parece ser importante para ele. – Ryan?
Passam-se alguns segundos até que ele erga a cabeça, mas ao me ver um sorriso largo surge em seus lábios e os olhos azuis se iluminam como uma criança em uma loja de doces.
- Valentina? – Ele passa uma mão pelos cabelos cor de mel, bagunçando os fios que já estavam arrepiados. – Muito prazer. Você é ainda mais bonita pessoalmente.
- Pessoalmente? – Pergunto um pouco confusa, mas isso não impede que Ryan volte os olhos para o celular antes de responder.
- É. Vi uma foto no seu perfil. Só por isso aceitei te encontrar aqui. – Ele aponta para a cadeira vaga à sua frente e depois que me sento volta a falar. – Eu tenho que confessar que estava com medo de encontrar uma desconhecida... Nunca te vi na escola, mas depois que encontrei seu perfil na internet te achei muito linda. Aí eu pensei que a foto pudesse estar editada, mas eu sei que não porque entendo dessas coisas. Sabe que tem muita gente que fica colocando foto falsa na internet e tem um monte de fãs, mas ao vivo essas pessoas são horríveis? Eu não sou assim. Faço questão de colocar apenas fotos originais na minha conta.
- Sim, eu já vi suas fotos e elas parecem bem reais. – Falo com um mínimo de sarcasmo na voz, porque sinceramente sempre achei que as fotos dele fossem editadas. Não acreditei que fosse possível que um garoto de dezoito anos pudesse ter um corpo tão definido, mas agora que Ryan está sentado logo adiante eu posso ver que os músculos são bem reais.
- Você viu minhas fotos? – Quando eu faço que sim com a cabeça o sorriso de Ryan fica ainda maior, deixando os dentes brancos e perfeitos completamente à mostra. – Gostou da foto que tirei essa manhã?
- Ah, eu não estou te seguindo nem nada. Só vi algumas fotos outro dia... – Lembro de quando minhas amigas mostraram o perfil de Ryan durante o almoço duas semanas atrás. Foi desse jeito que descobri sua existência, já que apesar de estudarmos na mesma escola eu nunca tenha o visto por lá. Acho que o horário dele é diferente do meu, mas sei que ele tem algumas aulas com Valentin.
- Você precisa ver essa foto. Se você gostou das outras, vai adorar essa. – Ele volta a digitar no celular, mas antes de virar a tela para mim suas sobrancelhas se unem e ele parece divertido com algo que lê. – Só me dê alguns segundos para eu responder esse comentário que recebi. É que tenho muitas seguidoras e todas elas adoram deixar comentários para mim... Eu preciso ser simpático e dar atenção a cada uma delas.
- Ok. – Ryan nem escuta minha resposta. Depois de cinco minutos o encarando sem que ele solte o celular eu desisto de esperar e peço por um chocolate quente com uma porção extra de mini marshmallows. Meus olhos traidores viram na direção da mesa de Valentin e Suzie e não consigo deixar de sentir uma pontada de inveja ao ver que os dois estão conversando animadamente enquanto eu estou esperando que Ryan Evans divida a sua atenção comigo.
- Ah, eu ia te mostrar a foto! – Ele subitamente se lembra de minha presença e me passa seu celular. – Pode ver todas as fotos e depois me diz se não ficaram boas?
A primeira foto é do torso nu de Ryan, o que lhe rendeu mais de mil comentários e trinta mil curtidas. Chocada, passo para a foto seguinte, mas ao ver que ele está na mesma posição que a primeira sinto que as próximas fotos serão praticamente iguais. A única coisa que mudou foi o ângulo em que o fotógrafo registrou a imagem.
Essa vai ser uma tarde interessante...
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Parece que esse encontro também não vai ser aquela maravilha... O que será que a Val vai fazer?
Copyright © 2015 N N AMAND
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