ЯÜLL

A casa de Campy era localizava numa das partes mais altas de um dos grandes rochedos de Samant. A única forma de chegar lá, eram por escadas espirais em volta da rocha. Campy tenta abrir a porta, emperrada.

Ele sobe pela maçaneta e alcança o telhado do hall de entrada. Apesar de seu intuito em subir para o telhado da cozinha e finalmente entrar pela chaminé, seu peso fez o telhado do hall de entrada ceder.

Na entrada, Campy mete a mão no casaco pendurado na cabideira e acha sua outra pistola de rodete. Sempre fazia isso antes de sair de casa, como proteção para a companheira, embora ela fosse contra qualquer tipo de armas.

Do hall de entrada, avistava-se uma cozinha completamente vazia, sem mobílias, Arlïs o abandonara? Ele fica estarrecido, a cena da caverna mais uma vez se repetia.

Segurando a arma com as duas mãos, entrou na cozinha ele deparou com a porta entreaberta do cômodo onde Arlïs guardava suas pinturas. Ele treme pelo que está prestes a ver.

Alguém arromba a porta da casa, e faz Campy sobressaltar. Kanty aparece ofegante pela cozinha com a arma em riste.

– Nem pense em fugir mocinho!

Campy o ignora e se volta para o cômodo das pinturas de Arlïs. Nada! O piso está limpo, sem sangue, putrefação e órgãos que ele se preparava para encontrar.

'Ainda dá tempo'

Kanty segue Campy segurando a arma. Os dois voltam para a cozinha e entram no quarto de Campy.

Kanty vira apertando o gatilho. Antes disso, Campy por reflexo, dispara nele. O tiro acerta o homem no ombro. Helys está armado.

– Porque você fez isso? Droga! – Se irrita Kanty deixando a arma cair por causa do ferimento.

– Você ia atirar no Helys!

– Ele ia atirar em você, droga!

Campy se vira para Helys. O homem de sobretudo negro e runas douradas sorri.

Arlïs está sentada em um canto do quarto, ao lado cama, sua barriga estava enorme. Campy tenta se aproximar, mas Arlïs recua.

– O que está havendo?

– Ela vai embora Campy – Explica Helys em tom de deboche – Vou levá-la para onde ela nunca deveria ter saído.

– É o quê? – Perscruta Campy incrédulo – Helys...

– Ah! Sim. – Interrompe o outro num largo sorriso – Pode me chamar de Sopro do Vento!

Campy conhecia essa expressão. Era utilizada por todos os marujos de ETAЯ, embora não fosse daquela forma.  No entanto qualquer estudioso dos Escritos Sagrados, entenderia a forma com que Helys disse aquelas palavras.

Helys estava dizendo que ele é Яüll, o Züя do vento.

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Kanty começa a rir, mas algo diz a Campy que Helys não estava mentindo.

– O que você fez com ela?  – Indaga Campy com a voz embargada de emoção.

– Eu não fiz nada. Ela quer isso, pergunte a ela. – Responde ele sorrindo outra vez.

Campy se vira para sua amada.

– Vai me abandonar?

– Estava fazendo isso – Responde Arlïs com a voz rouca.

'Provavelmente de tanto chorar', pensa Campy. 'Ele disse alguma coisa'.

– Amor, eu não faço ideia do que ele disse para você, mas...

– Nem precisou – Corta ela – Яüll me mostrou.

Campy fica ainda mais confuso.

– Nós visitamos o túmulo do seu pai em Teяïs. – Ela esconde o rosto entre as pernas, encolhida – Você o matou.

– Não o matei amor. Eu e ele...

– Você ainda mente... Mente para mim... – Ela chora tristemente.

– Como vocês foram lá?

– Somos Züяs Campy. Eu e o Яüll, que você chama de Helys.

Antes dele perguntar, Яüll antecipou a resposta:

– Ela é Aü. A grande Züя da água.

A voz dele enjoava Campy.

– Vai se danar! – Se enerva Campy – Pedi para que protegesse ela!

– Protegê-la do quê? De você?

Campy lentamente recarrega a pistola de rodete.

Sabia agora do que o viajante o avisara na caverna. Estava na cara. Helys era na verdade Яüll disfarçado. E assim se fez como este, todos aqueles anos apenas para achar uma oportunidade para destruir seu relacionamento, e finalmente reconquistar sua antiga amada, Aü.

Pow!

A arma dispara em Яüll, mas ele nada sente. Яüll sorri sacando sua pistola de bico de galo e atirando em Campy.

Arlïs arregala os olhos em gritos de desespero.

– Então foi você – Argui Campy – que matou minha irmã!

– Oh não Campy, nem pense nisso – Defende-se o outro – Sou alguém mudado.

Pow! Pow!

Os dois disparam as armas no corpo um do outro sem se esquivar.

– Meu pai não estava me esperando coisa nenhuma, você fez aquilo para ganhar tempo!

– Pare de me caluniar, Cortador!

Pow! Pow!

Os dois permanecem em pé sem desviar das balas que mandam um no outro.

– E vir aqui – Continua Campy – encher a cabeça da minha mulher de groselha...

– Ela viu o túmulo do seu pai! Ela sabe das coisas que você faz! Todo mundo sabe! Mas você não muda! Nunca mudou! Nem mesmo por ela!

Pow! Pow!

Os dois disparam um na testa do outro agora, e ficam sem munição.

Kanty e Arlïs assistem aquilo boquiabertos.

– Amor, eu mudei, é sério.

Яüll assopra jogando Campy contra a parede.

Kanty se levanta perto de Campy dizendo no pé do seu ouvido:

– Pensando bem, deixa esse sal para lá. Estamos quites.

E terminando de se levantar, Kanty corre em direção a uma janela e salta. Entretanto ele se arrebenta na parede do quarto quando sua cabeça encontra o quadro da parede, fazendo o mesmo cair em cima de si. Campy se lembrava desse quadro. Arlïs pintara tão bem que realmente parecia uma janela.

Kanty se levanta instantes depois e foge pela cozinha.

Campy se levanta raivoso, e investe contra Яüll. Яüll é rápido como o vento e se desvia da investida. Campy insiste. Outra esquiva e Яüll magicamente aparece atrás de Campy, que por sua vez, vira com um soco, mas o outro novamente desaparece.  Por fim a luta se resume em Яüll desaparecendo, reaparecendo  com Campy se virando e esmurrando o ar, as paredes, os móveis e as janelas do quarto.

Яüll assopra outra vez e Campy se esborracha do outro lado do quarto.

Aü recomeça os gritos, não por causa deles, mas as dores se intensificaram nas suas entranhas. O filho de Campy está para nascer.

Enquanto ela grita, os dois homens urram um contra o outro.

Campy revoltado, atira as gavetas da cômoda em Яüll. No final, ele a abraça e arremessa a cômoda contra Яüll. Яüll se desvia, e a cômoda quebra uma janela continuando seu voo.

Kanty descia em direção ao caís quando uma grande cômoda se despedaçou bem na sua cabeça, fazendo-o despencar das escadas e cair bem em cima do mastro do navio.

Assim que  Яüll se levanta, é obrigado se abaixar novamente. Campy acabara de levantar um enorme guarda roupas de parede.

– ALGUÉM ME AJUDA! – Berra Kanty pendurado pelas calças sobre o mastro.

Um guarda roupas imenso despenca em Kanty, esborrachando-o no piso do convés.

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Trovões ecoam por todos os lados. Tufos de água sobem do oceano até a casa de Campy. O piso do quarto começa a rachar, e Arlïs melindrada chama a água. Ela está com o filho no colo.

Ela anda até Campy. E toca nos buracos de bala no corpo de dele.

– Está vendo? É uma maldição – Explica Яüll.

– Não consigo mais ler sua mente – Discorre Aü para Campy.

– Eu falei. O cara fez tantas maldades que nem a morte o quis. Está putrefando vivo.

Campy a olha nos olhos. Seus grandes e perfeitos azuis. Seriam eles capazes de entender a explicação de Campy agora?

– Pode ir Яüll – Termina ela.

– Vamos Aü.

– Vamos para onde?

– Para casa.

– Jamais irei morar com você Яüll.

– Porquê não?

Ela para por um instante a examiná-lo.

– Você não mudou.

Lágrimas descem de seus olhos enquanto Яüll faz cara de indignação.

– Eu... Eu... Fiz isso tudo por você. Será que não entende? – Começa Яüll.

Aü recua assustada.

– Você matou Teя – Sua voz era fina e embargada de tristeza. Já não aguentava mais chorar.

– Ora!  Vamos – Rebate o outro Züя – Não acredito que amava ele assim.

– Eu o amava tanto quanto amava você! – Contrapõe ela – Foram vocês que confundiram as coisas.

– Eu sempre a amei...

– Vocês eram como irmãos para mim! O viajante nos fez assim, era para continuar assim!

– Você não sabe...!  – Яüll quase berrou, mas após um suspiro, continuou novamente – O viajante nos abandonou.

– Ele deixou a responsabilidade de ETAЯ em nossas mãos.

– Por isso amor – Ele se aproxima desesperado – nós podemos ficar juntos, só nós dois a governar esse mundo do jeito que queremos.

– Se responsabilizar por algo não é fazer o que quer com aquilo.

Яüll respira profundamente. Não estava disposto a abrir mão dela.

–  Você é muito teimosa! – Ele levanta os braços para o alto – Você será minha, mais de ninguém.

Ela se abaixa beijando Campy nos lábios e entrega o filho a ele.

– Eu não sei o que aconteceu mas acredito em você. Perdoe-me ter duvidado de você meu amor – Sussurra ela em seu ouvido.

Aü se levanta e chama as águas enquanto o outro chama o vento.  Dois ciclones invertidos se formam em volta da casa, um do mar, outro das nuvens, e se chocam.

Pedaços de madeira da casa são arremessados longe. A água e o vento despedaçam as casas de Samant ceifando centenas de vidas.

– Não, não, não, não... – Grita Aü freneticamente, desesperada com o que acontecia.

Campy que agarrava o filho firmemente, gritou ao ver este ser arrastado pelo vento, junto com o seu braço. Seus órgãos internos se desintegraram pouco a pouco, até Campy não passar mais de um molho de sangue e carne podre.

Os ciclones se combateram até destruir toda ETAЯ. Os últimos sobreviventes testemunharam gritos frenéticos de 'NAAAAÃOOO...", e outros, terríveis gargalhadas de um vento mortal por todo o céu de ETAЯ enquanto morriam.

Se Campy pudesse voltar atrás, jamais faria acordos com o viajante novamente.

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