TRIBUNAL DE TEЯÏS
Neяïs bate o martelo na mesa.
Pa!
- Caso encerrado!
O tribunal de Teяïs está lotado. Todas as fileiras de bancos estavam preenchidos, o que não era habitual. A porta dupla da entrada nem fechava de tanta gente. Neяïs sabia, tudo por causa do próximo caso.
- Próximo!
Um grupo de trinta soldados vermelhos entram pelo corredor carregando um homem. Diante da mesa da tribuna, eles o colocam no chão. O homem está com o corpo inteiro acorrentado, mas não revelou qualquer resistência.
Neяïs o observa demoradamente.
- Soltem-no.
Os soldados se agitam, mas obedientemente, soltam as correntes do réu. Ele ainda está preso por uma camisa de força.
- Tirem essa camisa dele.
Receosos, os soldados soltam suas algemas e tiram a camisa de força do homem. Os dois entreolham-se, réu e magistrado, pai e filho. Olhos e cabelos como os da mãe, que todavia, a parecença termina logo aí, pois o resto do físico era todo o pai, Neяïs.
O arauto pigarreia alto e pronuncia.
- Cortador. O senhor jura dizer somente a verdade, nada mais que a verdade, nada para fora da verdade, nada além da verdade, nada afora da verdade, nada avante da verdade, nada mais à frente da verdade nem nada adiante da verdade... - Ele pausa pigarreando.
- Aceito.
O arauto ainda não tinha terminado.
- ...nada antes da verdade, nada posterior a verdade, nada após a verdade, nada as costas da verdade, nada de trás da verdade, nada a retaguarda da verdade, nada no encalço da verdade... - Uma pausa para respirar.
- Eu...
- Nada acima da verdade, nada abaixo da verdade, nada elevado a verdade, nada superior a....
- Somando sua pena - Neяïs interrompe irritado - Você tem uma média de um milhão de primaveras de prisão, ou pode optar pela guilhotina.
Abruptamente ele pega uma pena num tinteiro sobre a mesa, enquanto segura uma pilha de papéis.
- Qual você escolhe?
Campy não se impressiona.
- Eu quero me defender. - Todos se assustam, menos Neяïs, o magistrado.
- Caro samantro. Você tem cerca de duzentos e oitenta e oito milhões de crimes relatados. Se eu fosse generoso o bastante para lhe apenar apenas um dia por cada crime, você sairia daqui com uma pena de oitocentos mil anos de cadeia.
Agora Campy se surpreendeu.
- E note que estou falando dos crimes relatados aqui. - Ele balança a pilha de papéis em uma das mãos.
Campy coça o pescoço pensando na resposta, mas todos lhe apontam armas. Ele relaxa o braço.
- Eu gostaria de dizer...
Ele tenta encontrar as palavras certas para dizer ao irredutível pai, gesticula os braços, todos lhe apontam armas novamente. Até um reverendo de batina verde apareceu com um fuzil apontando para o réu.
- Não há perdão para você, cria de Teя! - Exclama o reverendo.
- Como ousa blasfemar contra o nosso grande Züя! - Reclama outro reverendo de batina vermelha.
- Não há blasfêmia alguma contra um Züя morto! - Ele abaixa a arma, olha para o reverendo de vermelho, e continua - E isso graças ao nosso Züя que literalmente desceu o cassete no seu Züя até a morte. Aceita que dói menos.
- Não se atreva a insultar o grande Teя em nossa terra! Todos temerão o dia em que ele voltar com grande ira e vingança!
- Quem lhe disse isso? Ele? Porque eu não vi isso em nenhum lugar dos escritos sagrados!
- ELE VOLTARÁ! - Berra o reverendo de vermelho - E fará suas tripas saírem pela boca!
- Pode voltar, pois Яüll o matará de novo!
- Ele voltará e se vingará do maldito Яüll e da sua vadia Aü!
Os fiéis de Aü, os sireanos, possuem pele alva e escorregadia, não possuem nariz, pois respiravam por poros nas costelas, lembrando os peixes, no lugar das pernas, grossos tentáculos, no lugar dos cabelos, minúsculos tentáculos.
O reverendo deles, que usa uma batina azul se levanta.
- Não ouseis insultares a nossa a nossa Züя das águas, a grande Aü. Por venturas essas brigas não começares por conta dos vossos Züяs babões?
Os reverendos humanos observam esse de cima e baixo, o de vermelho fala:
- Se Aü for tão esquisita quanto vocês, não faço a mínima ideia de como ela apaixonou nossos Züяs.
- As escrituras - Complementa o reverendo de verde com o fuzil, enojado da visão do sireano - devem ter confundido os nomes. Só pode.
- Talvez um feitiço. Essas criaturas vivem fazendo bruxarias.
- Não cairemos em vossas provocações - Rebate o reverendo sireano. E apontado para o réu continua - Esses bípedes vivem a comer tudo o que encontram. Dizem que nem as lesmas escapam de seu apetites vorazes e sãos um de seus alimentos mais caros. - Uma fileira de sireanos fazem cara de asco - Outro dia ouviris um deles dizeres que comia sua própria mulheres todas as noites! - Os soldados humanos riram enquanto os sireanos faziam cara de chocados - Nem seis comos eles não se devoram eles mesmos nesta tribuna!
PA!
Soa o martelo do magistrado.
- Ordem no tribunal!
Ele volta sua atenção para o réu.
- Como exatamente pretende se defender de duzentos e oitenta e oito milhões de denúncias?
Temeroso, Campy responde.
- Eu estou... Cumprindo umas regras e.... tenho que fazer uma coisa.
- Regras? - Exclama o reverendo armado - Até onde eu saiba, samantros não tem regras.
'Arlïs e meu futuro filho', não ia ser fácil explicar.
- Tem uma lista de regras e.... ah! Eu só quero pedir perdão.... - 'Eles não podem morrer'.
- Ah pronto! - Se abespinha o reverendo armado.
- É! Levem-no! - Termina o magistrado.
- Eu vou perder minha família! - O réu se altera!
- Pensasse nisso antes de destruir outras. - Contesta o magistrado escrevendo a sentença do réu no papel.
- Estou tentando mudar!
- Tarde demais!
- DEIXA EU SALVAR O SEU NETO!
Os soldados param, todos observam. O magistrado, para de escrever, depois continua e responde:
- É isso que estou fazendo.
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Campy entra em casa segurando um saco e uma rede nos ombros. Deposita o saco em um suporte na parede da cozinha. Arlïs sai do quarto entrando na cozinha.
- Chegou uma carta da sua irmã.
Sua barriga está quase aparecendo; grávida.
- Que bom! - Responde Campy jogando a rede sobre a mesa - O aconteceu algo?
- Ela quer vê-lo.
Vou convidá-la.
- Ela quer que você vá até lá.
Campy sabia, o pai.
- Só ela?
Arlïs não responde.
- Melhor não.
- É melhor sim! - Argumenta Arlïs postando a frente do companheiro, fitando-o nos olhos.
- Amor... Olha, melhor não.
- Eu quero que você se entenda com seu pai de uma vez por todas. Nossos filhos não podem crescer sem conhecer o avô e a tia.
Impressionado com o uso do plural 'Filhos', Campy disfarça respondendo:
- Eles poderão vê-los querida.
Os olhos azuis profundos dela são demais para ele encarar.
- Mas e você? - Ela indaga.
- Que tem eu amor?
Ela passa as mãos na própria barriga pálida.
- Tem algo para me falar?
Ele tinha. Tira do bolso uma aliança de osso e olha nos olhos da moça.
- Antes de abrir a boca, você sabe o que vou dizer.
Ela sabia o que ele ia fazer.
- Sendo assim, eu...
- Estava pescando? - Pergunta se aproximando do saco de peixes.
- Sim
Mentira.
- Mas como ia dizendo...
Ele a elogia, um texto cheio de belos versos que não eram dele. Provavelmente de algum trovador que fez a pedido dele. O texto terminou com o companheiro retirando a aliança de osso e um pedido de casamento. Arlïs estava triste.
- De quem é essa rede?
- O que...
- Você não tem rede de pesca.
Ele pensa em mentir, mas seus olhos lhe diziam que ela saberia de algum outro jeito misterioso, como ela sempre soube das coisas.
- Eu... Peguei de alguém.
- Você matou ele.
- Conhecia? - Pergunta o homem com o coração aos pulos.
- Que importa? - Ela dá de ombros - Matou alguém que suou para pescar isso. - Ela se afasta dos peixes e do companheiro enterrando o rosto nas mãos - Disse que não faria mais esse tipo de coisa. Quebrou nosso trato.
- Amor... eu sou um samantro e....
- Você vai acabar nos matando. - Ela chora, mas tapa a boca do outro antes dele falar - Não, para sua pergunta.
- O que? Mas eu não perguntei nada.
- A sua pergunta anterior.
Arlïs acabara de recusar casar-se com Campy.
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