REGRA OITENTA E OITO

Já faziam dois üoяs e meio que o navio embarcara do posto do Call, rumo a Samant. Os outros homens não receberam muito bem a notícia sobre a inexistência de um pagamento. Campy até tentou negociar uma pequena fortuna que tinha em Samant, coisa que ele não faria se não fosse pelas benditas regras. Entretanto, a maioria do samantros resolveram abandonar o navio, restando somente dois samantros além de Helys e Johua, um velho que se esforçava muito para manter-se em pé e o jovem Landsey.

Cinco homens cuidando de um navio com capacidade para quarenta. Um navio roubado da patrulha de Teяïs. Somente com muita sorte chegariam em Samant sem encontrar nenhuma outra embarcação.

Enquanto os homens trabalhavam, Johua estava na cabine procurando em seus livros qualquer coisa sobre os Züяs. Um estrondo, algo chacoalha o navio. Rapidamente Campy retira sua arma do coldre e dispara para cima.

Pow!

- Inimigos!

O tiro corta uma das cordas de um dos mastros, fazendo a vela descer de um só lado atingindo o samantro idoso, derrubando-o na água. Agora só tinham quatro samantros.

Um vulto se aproxima na neblina, um navio samantro. O navio transportava muitos samantros, mais do que podia suportar. Alguém gritava na popa, uma fileira de samantros apontam suas armas sobre a amurada, eles disparam.

As explosões das armas se misturam com gritos. O ar já neblinado pela primeira üoя da manhã do oceano, se embaça ainda mais por conta da fumaça de pólvora.

Johua que ia passando para fora da cabine, tropeçando em pilhas de livros, recua ao ouvir Campy gritar que fique do lado de dentro. Campy estava atrás do mastro e enxergava Johua dentro da cabine graças a porta aberta. Helys se protegia atrás de uns caixotes de munição, e Landsey chorava de medo em algum lugar do convés.

'Não posso matar' pensa Campy largando sua pistola após carregá-la inutilmente, 'mas Helys pode'.

Os tiros cessam.

- Atira Helys!

Helys agarra duas de suas pistolas de bolso de fecho de pederneira e se levanta para ceifar vidas do outro lado.

- Regra número... – Grita Johua dentro da cabine procurando algo no pergaminho – Oitenta e oito, não induzir outrem a transgredir as regras!

- É o que?!

Johua solta o pergaminho e berra:

- VOCÊ NÃO PODE MANDAR HELYS ATIRAR!

- Helys, Nãaaaaaaaao!

Campy se levanta e corre. Helys grita quando termina de apontar a arma:

- MORRAM SEUS DESGRAÇA...

- AAAAAAAAAAAAAAH! – Irrompe Campy saltando sobre o amigo no exato momento em que atirou.

O caixote quebra, os dois caem atrás da amurada. Alguém grita do outro lado:

- Fogo!

Outra sucessão de explosões se inicia no outro navio esburacando tudo em volta dos dois samantros na amurada. Os tiros cessam, um estrondo. Os dois navios se chocam. O navio de Campy é invadido.

Campy e Helys levantam a cabeça, estão cercados. Um samantro de barba trançada chamado Zarolho, abre o caminho esbravejando:

- Cadê o desgraçado que me acertou?!

Os homens abrem um círculo em volta do homem. Ele para em frente Campy e Helys.

- O Cortador? Hahahahahaha! Que os Züяs me recompensem. – Ele estende os braços para os homens – Reconhece eles Cortador?

Campy e Helys reconhecem. Eram os samantros que abandonaram o navio de Campy no Posto do Call.

- Eles me disseram que você está devendo. – Ele se agacha se aproximando do ouvido de Campy – Eles desconfiam que vocês ficaram com todo o sal para vocês.

Kanty aparece segurando Johua e o jovem Landsey, pelas golas.

- Achei esses daqui... – Ele nota Campy e Helys – Olá!

- Cagão'tro? – Se espanta Helys. Alguns homens dão risadas.

- Meu nome é Kanty. – Responde revirando os olhos, como quem está acostumado com aquilo.

- Ah! É que eu sempre ouvi o chamarem assim. – Se desculpa Helys sinceramente – Porque esse... apelido?

- Foi um dia que eu...

- Chega! – Brada o homem de barba trançada. – Vamos amarrá-los! Depois que acharmos aonde o sal está escondido, nós os matamos.

Os quatro são amarrados.

- Há mais alguém no navio?

- Não. – Responde Campy.

Surge então do lado de fora da amurada o velho samantro que Campy acidentalmente derrubara na água. O velho estava todo molhado.

- Olhem! – Alguém avisa.

Todos atiram ao mesmo tempo. O velho morre e despenca na água novamente.

- Vou matá-lo agora mesmo, e depois, pendurar sua cabeça sobre o mastro! Assim, todos vão pensar duas vezes antes de mentir para o grande Zarolho!

O homem arranca uma pistola de rodete mais enfeitada que a de Campy, aponta e atira. Landsey, cai morto no piso do convés. Kanty ri alto, mas para constrangido.

Zarolho recarrega a arma, aponta e atira novamente. Um dos seus samantros cai morto com o tiro.

Indignado, ele recarrega novamente, aponta com a mão oscilando, Campy fecha os olhos, o tiro vem. Todos os homens se abaixam. Zarolho grita de dor, conseguira acertar o próprio pé.

Só aí que os homens perceberam que os olhos de Zarolho estão tortos. O grande samantro Zarolho realmente era zarolho.

Ele passa a arma para Kanty atirar no Cortador.

- Bom! – Desculpa-se Kanty – Foi mal ai gente. Foi um prazer conhece-lo senhor Campy.

Ele aponta a arma para Campy, mas um tiro abre a cabeça de Zarolho fazendo-o cair de costas na amurada e tombar na água.

- Outro zarolho? – Alguém fala. Todos olhando para Kanty.

Surgem dois navios de alto bordo da escolta de Teяïs, carregados de soldados a disparar suas armas matando todos do navio. No final sobrara apenas Campy, Helys, Johua amarrados, e Kanty ainda vivo agachado.

Os soldados de uniforme vermelho e dourado, invadem o navio para soltar os homens amarrados.

- Fomos feitos prisioneiros deles.

Um soldado dá um alicate a Campy que de pronto, corta sua corda e começa a soltar os amigos.

- Obrigado – Agradece Campy ao soldado.

- Quando terminarem aí, coloquem essas algemas.

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Neяïs observa demoradamente o quadro da esposa na parede. Pintura séria, fitava ele.

- Hein pai?

O velho de cabelos brancos, corpo tão imponente quanto o do filho mais velho.

- O que? ... desculpa filha. O que disse mesmo?

- O senhor não vai maltratá-lo, não é?

Lancy, a mulher de olhos azuis como os do pai, cabelos escuros como os da mãe e do irmão. Não gostava de pensar nele como seu filho.

- Não minha princesa. Só vou fazê-lo pagar pelos seus erros.

- Pai...

- Não filha.

Ele se levanta do sofá, deposita uma taça de ouro bem polida sobre a mesinha, a filha faz o mesmo. O pai joga um papel na lareira. Observa a sala como se fosse a última vez que avistasse alguma coisa ali, a cômoda, dois sofás, a mesinha... a casa que passou parte da vida educando os filhos.

- Bom filha. É isso. Achei que deveria saber pessoalmente.

- Te amo pai.

- Também te amo.

Neяïs anda até a porta.

- Se o encontrarem, prometo tentar compreendê-lo também.

A mulher assente. Ela se sente tonta, uma dor de cabeça. Sangue começa a vazar dos seus olhos, ouvidos, boca... Sua barriga se retrai, o pai sai sem olhar para trás, sem nada perceber.

Lancy tenta gritar mas vomita os próprios órgãos. Se arrasta próximo a porta, olha para trás. O quadro da mãe parece sorrir para ela.

Os olhos da irmã de Campy saltam das órbitas para o tapete.

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