LUGAR DESCONHECIDO
Em meio a neblina sobre as águas de ETAЯ, um navio de alto bordo com três mastros, passa cortando o silêncio marítimo com uma enorme barulheira em seu interior. O brasão militar de Teяïs exibido na vela, se contrapunha aos seus ocupantes. É claro, o navio não era deles, pois, nada lhes pertenciam, a ninguém pertenciam, senhores de terra alguma.
O navio comporta cerca de quarenta homens, todos samantros, mas nem todos nascidos em Samant.
'Essa moda de ultimamente', pensou Campy, que poderíamos traduzir como o capitão, mas entre o samantros, nascidos em Samant, nunca adotaram essas nomenclaturas de hierarquias.
O cortador! Assim que era conhecido pela maior parte de ETAЯ. O homem de trinta e seis invernos estava na popa, próximo ao leme, encostado na amurada do navio quando pareceu avistar algo. Campy saca sua pistola de rodete e atira para o alto, alguém grita. Todos prestam atenção nele.
- Terra à vista! – grita ele.
O gávea que dormia até o momento, despenca de cima do mastaréu, bate na amurada e cai na água com o tiro que levou.
Campy desceu coordenando os samantros, transformando as cantorias em correrias e agitação por todo lado. Ele retira a aliança do noivado praticamente acabado e guarda-a. Arlïs recusara casar-se com ele.
Helys, o substituto de Campy, noutros povos interpretado por imediato, com quanto que aqui, como sabemos, entre os samantros não há hierarquia, somente o respeito.
Helys traz do porão uma garota de dezesseis invernos, envolta em um tecido que lhe cobria até a cabeça, e amarras até os pés, foi carregada por Helys até a amurada. Ninguém sabia quem era a menina, mas cumpririam o serviço para o qual foram contratados.
'Esse é o último serviço que eu faço como samantro!', pensou Campy.
Na amurada, desceram Helys, Campy e a moribunda no bote. Os homens se agitavam na amurada com a visão do lugar que estavam desembarcando, pois, aquilo não constava no mapa. O lugar não passava de um areal em volta de uma coluna artificial que ia até os céus.
Ao desembarcarem na praia, Helys prestou atenção na mão de Campy, apenas a marca da aliança.
Segurou a moribunda que soluçava em lágrimas, e disse:
- Eu posso explodir a cabeça dela se quiser.
Por um momento Campy pensou que estivesse falando de sua ex., mas ao olhar para a garota concluiu:
- Pode deixar!
- Bom... vai ser aqui mesmo?
Havia uma abertura na grande coluna.
- Vamos ali.
Andaram até chegar em uma espécie de caverna na coluna. Arrastando a garota pelos cabelos por dentro do pano, Campy entrou na caverna com sua pistola de rodete em riste. Helys ficou do lado de fora.
Campy estava em completa escuridão. Sentiu um peso escapar do seu braço. Carregava somente trapos, não a garota.
Uma iluminação logo a frente. Alguém nu segurava uma vela, a menina.
Ela começou a andar e ainda confuso, Campy deixou os trapos para trás e a seguiu. Ela virou uma esquina do túnel, desaparecendo. Uma porta abriu-se na escuridão com seu interior iluminado. Campy entrou.
Era uma sala de estar. Haviam mobílias como uma cômoda, dois sofás, uma mesinha no centro com duas taças de ouro polidas, tudo bem instalado. O chão coberto por tapetes, uma lareira que ardia, e um quadro de alguém que sorria. Campy passou pela sala da casa que passara toda sua infância. O quadro da sua mãe, morta há tempos.
No sofá, sangue esparramado. O corpo desfigurado de sua irmã jazia no tapete próximo a porta. Ainda confuso mas assustado, Campy saiu por uma porta que se abriu logo ao fundo.
Passando por esta, saiu por uma floresta. Seguindo a lógica, a porta na qual acabara de passar dava a um corredor que levava até os quartos. Mas seguindo a lógica também, nem era para ele estar ali.
O lugar estava cheio de estátuas, um cemitério. Há somente um lugar no mundo de ETAЯ com um cemitério em terra, Teяïs.
Campy seguiu uma iluminação vindo de uma vela sobre um pratinho depositado na base de uma estátua; seu pai.
Na base dela estava escrito a letras metálicas:
"NEЯÏS
MAGISTRADO
MORTO PELO PRÓPRIO FILHO"
E embaixo escrita rusticamente de branco, "O CORTADOR".
'Que absurdo!', pensou. Um portão ao fundo se abriu, e Campy passou por ela.
Ao passar, saiu pela porta da cabine do seu navio. Estava tudo escuro ali fora. O navio estava diferente, pois havia sangue em tudo. Tripas pendiam de vários lugares. O alçapão se abriu, Campy desceu, tropeçou em algum degrau no escuro e acabou despencando do teto de algum lugar, sua atual casa.
Seu coração ficou aos pulos quando reconheceu. Estava em Samant. A cozinha estava vazia, sem mobílias, Arlïs o abandonara?
Segurando a arma com as duas mãos, entrou na cozinha. No entanto, ele se deparou com a porta entreaberta do cômodo onde Arlïs guardava suas pinturas. O piso cheio de sangue, um corpo aos pedaços jazia no chão.
Uma porta se abriu na cozinha. Campy já receoso foi aonde deveria dar o seu quarto, chorando, passou pela porta.
A porta desapareceu atrás de si. Agora se encontrava em uma estreita passagem entre abismos. No final, a garota nua com sua vela acesa.
Campy foi até ela. A garota sorria. Campy cheio de cólera, dispara a arma nela. A garota tomba feito uma boneca de pano. A vela cai a poucos passos atrás dela, mas o fogo não apaga. O lume cresce em uma única língua de fogo azul.
Algo sobrenatural acontecia. Ele sabia que um dia algo assim aconteceria. 'Chegou o momento de pagar meus pecados', pensava ele. Algum dos grandes Züяs do livro sagrado. 'Talvez os três', pensava ele.
"Poque ...aste ...la"
A voz era um sussurro quase inaudível. As palavras mesclavam na cabeça de Campy, ficando finalmente completas quando interpretadas a fundo em sua mente: 'Porque mataste ela?'
Pensou na resposta e quando foi responder, um novo sussurro o interrompeu.
"Odos ...antos ão ....cê"
As palavras se organizaram em sua cabeça na pergunta 'Todos os samantros são como você?'
Sempre que ele ia responder, a entidade fazia uma nova pergunta, como se a pergunta anterior tivesse sido claramente respondida por Campy. Ele lia seus pensamentos.
"...em ...e ...ando .... as ...rem ...esé ...ido ....o no ...us ...entes"
As palavras se organizaram no eco em sua mente novamente em 'Dizem que quando as pessoas morrem, lhes é concedido o destino de seus parentes'.
Campy assustou-se.
"...ê ...ão ...e ...ito sat...lo ...iu"
'Você não me parece muito satisfeito pelo que viu'
Campy se dispôs a uma última tentativa para responder algo a entidade, mas novamente foi interrompido.
"...ê u....ssoa ...á"
'Você foi uma pessoa muito má'
'Era minha última missão', pensa Campy se entristecendo.
"...u ...sso ...ar"
'Eu posso ajudar'
"...ou edar ...a ...ance"
'Vou te dar uma chance'
"...e ...ar as re...ão o ...rei ...ar ...iu"
'Se quebrar as regras, não o ajudarei a mudar o que viu'
O homem assentiu de olhos cravejados na chama. Ele cai de joelhos ante o lume que se agita aumentando gradualmente de tamanho, acompanhado de um último sussurro.
"....ga as ...ras"
As palavras repercutiram em sua mente até ele entender 'Siga as regras'.
O brilho ofuscou seus olhos.
- Sim! Eu sigo a regras. Eu aceito seguir as regras. Quais são as regras! DIGA-ME AS REGRAS! O QUE EU DEVO FAZER? AS REGRAAAAS!
Helys estranha o homem a sua frente ajoelhado gritando feito um louco com as mãos para o alto.
- Campy? Está tudo bem?
Campy estava na boca da caverna com Helys, que por seu turno, ainda se encontrava em pé ao lado da garota de joelhos coberta e amarrada sobre a areia. Campy se levanta extasiado.
- Vamos embora!
Incrédulo, ele sai andando até o bote esperando que o outro fizesse o mesmo. Helys esperou ele passar; 'os samantros não tem hierarquia'. Então ele ascendeu seu canhão de mão, apontou, e explodiu a cabeça da garota.
Se Campy averiguasse seus bolsos no momento em que saiu da caverna, perceberia algo junto a sua aliança; uma lista de regras!
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