CAPÍTULO XXXVII - PÁRIS E HEITOR

Estou esperando Roberta chegar para irmos procurar patrocínio para a escola de futsal do Joseph. Finalmente Helena grita:

- Páris! É pra você!

Saio e encontro Lucas na sala me esperando.

- O que está fazendo aqui? Combinamos de estudar? – pergunto tentando lembrar algum compromisso.

- Não, é que você falou da escolinha do Joseph e eu trouxe esses panfletos para divulgar e ajudar na captação de recursos – ele fala coçando a cabeça.

- Ficaram muito bons, Lucas, vai ser de tremenda ajuda. Estou esperando Roberta para começarmos. Você vai esperar a gente voltar?

- É... – ele hesita um pouco. – tá bem, eu espero!

- Ou você pode ir com a gente – completo percebendo que era isso que ele queria.

- Claro! Vai ser ótimo – responde todo animado.

Roberta chega e dá uma olhada nos panfletos. Gosta muito da ideia e saímos os três. Roberta fala muito bem e apresenta o projeto magnificamente. Eu ajudava no que podia e Lucas sempre calado distribuindo panfletos. Já tínhamos arrecadado uma boa quantia e faltava só o Senhor Geraldo, Heitor e Joseph nos esperava lá.

- Já falaram com ele? – Pergunto ao entrar.

- Sim, ele perguntou por você e depois foi fazer um telefonema – Joseph responde. – E eu tenho uma novidade: o diretor do CEMA conseguiu o ônibus para levar as crianças para o torneio, não vamos pagar transporte.

- Que coisa boa! – respondemos eu e Roberta juntos.

- Olha o que o Lucas fez – Roberta mostra os panfletos para Joseph e Heitor.

- Nossa, cara, ficaram muito bom, obrigado! – Joseph pega na mão do Lucas.

Senhor Geraldo volta com uma cara de incógnita.

- Quantos jogadores você tem? – pergunta para o Joseph.

- Dez crianças – Joseph responde.

- E desses quantos tem tênis para jogar? – Senhor Geraldo pergunta novamente.

- Só quatro – Joseph responde triste.

Senhor Geraldo coça o queixo pensativo e finalmente fala:

- Eu conversei com um amigo meu e juntos vamos dar os seis tênis que faltam.

Começamos a comemorar e abraçar o Senhor Geraldo. Joseph não cabia em si de tanta alegria.

- E não é só isso – Seu Geraldo continua. – o lanche das crianças no dia do jogo é por minha conta.

A comemoração continua, vi Lucas falando algo no ouvido da Roberta e logo depois ela fala em voz alta:

- Senhor Geraldo, como é o nome desse seu amigo tão bondoso?

- Ele prefere ficar no anonimato – Seu Geraldo responde com um pouco de nervosismo.

Roberta olha pra mim e pisca um olho. Élio chega esbaforido. Todos nos assustamos.

- Ainda bem que estão aqui – ele fala com a respiração ofegante. – Estava procurando vocês.

- Você veio correndo? – pergunta Roberta sem acreditar.

- Deixei a moto lá no Páris – foi a resposta, ele aceita um copo d'água de Heitor e depois continua. – meu pai vai doar os uniformes para o seu time.

Ficamos tão surpresos que nem tivemos reação por uns segundos. Só depois começamos a comemorar. O time do Joseph já tinha tudo o que precisava para o jogo.

Em casa, Senhor Hyun já estava esperando o Lucas conversando com a mãe no sofá da sala. Roberta pergunta se ele pode ficar mais um pouquinho e Senhor Hyun concorda.

No quarto Joseph começa:

- Lucas, eu queria pedir desculpas por aquele dia. Depois eu pensei direito e percebi que eu exagerei, não tem problema em usar o chaveiro com localizador.

Depois disso, Élio também se desculpa e ambos pegam os localizadores de volta. percebo que Roberta conversou com eles.

- E agora um momento muito especial – Roberta corre dando pulinhos até Lucas. – Meu canal vai entrar no ar.

- Canal? – perguntamos os quatro.

- Sim, resolvi ser youtuber, gravei uns vídeos, o Lucas editou e diagramou o canal criando todo o visual necessário. – ela fala batendo palminhas de alegria.

- E você não falou nada pra gente? – Joseph era um misto de indignação e surpresa.

- Queria surpreender vocês. Venham quero que sejam os primeiros a visualizarem.

Todos nós sentamos ao redor do Lucas, que libera o vídeo e encaminha o link para nossas contas. Assistimos no laptop dele e depois em nossos celulares e enviamos para outras pessoas.

- Temos uma influencer entre nós – grita Élio e todos comemoramos.

Todos saem. Mamãe e Helena vão para o quarto e Heitor fica no nosso. Aproveito para namorar um pouquinho com Élio na sala, coisa que não fazíamos há muito tempo, colocamos o filme "Me Chame Pelo Seu Nome" e assistimos abraçados no sofá.

- Algum problema com Heitor? – Élio pergunta.

- Não que eu saiba – eu respondo assistindo o filme.

- Ele passou duas vezes olhando pra nós com uma cara esquisita.

- Deve estar preocupado com o resultado da faculdade dele que sai hoje.

- Esquisito – Élio franze a testa olhando em direção ao quarto.

Após o filme. Élio vai pra casa e eu vou limpar a pequena bagunça que fiz na cozinha ao tentar fazer pipoca. De repente, vejo Heitor me encarando.

- Credo! Que susto Heitor, algum problema? – pergunto a ele.

- Não. Nenhum – ele dá uma pausa e continua me olhando. – posso fazer uma pergunta?

- Mas é claro, maninho. Sempre!

- É... – ele para um pouco, parece constrangido.

- Pode falar mano! Qualquer coisa, pode confiar em mim.

- Quando você descobriu que gostava do Élio? – ele pergunta rápido.

Aquela pergunta me pega de surpresa.

- Não sei, acho que dá primeira vez que o vi.

- E antes dele? Como você sabia que gostava de meninos? – ele indaga pegando uma maçã na mesa para não me olhar diretamente.

- Eu não sabia. Quer dizer, eu me sentia estranho olhando para os meninos no jogo de futebol, mais ainda não sabia o que eu sentia – peguei na mão dele e nos sentamos na mesa. – Tem algo que você queira contar meu irmão?

- Não! Nada.

- Ou algo que queira perguntar? Pode continuar, não tenha vergonha, meu irmão.

- Você é mais corajoso que eu, maninho, se descobriu assim e não se escondeu e agora está feliz ao lado de quem você ama.

- Eu tive apoio, Heitor. Seu, da mamãe e dos meus amigos. Assim fica fácil, não sei o que aconteceria se eu fosse sozinho.

Heitor começa a chorar, levanto e o abraço, coloco sua cabeça em meu peito e acaricio.

- Heitor, você é o melhor irmão do mundo. Eu sou muito grato por ter você na minha vida e nada que você me disser vai mudar isso. Eu te amo mano – falo também com os olhos marejados.

- Páris - ele puxa meu braço para que eu baixe em sua frente. – Eu gosto de meninos, e gosto de meninas, mas nunca disse isso para ninguém. Isso me sufoca, mas eu cansei, vendo você feliz do jeito que é me inspirou a ser quem eu sou. Eu não quero mais viver uma mentira.

Eu o abraço forte.

- Você merece ser feliz, meu irmão, e eu tô aqui pra te ajudar a conseguir isso. Conte comigo para o que precisar.

Ele suspira aliviado e ri, eu retribuo o sorriso e sento ao seu lado.

- Vem cá, você já ficou com menino? – pergunto curioso.

- Sim, mas nunca ninguém por perto, uns carinhas da escola, quando dava certo, tinha medo que alguém daqui abrisse a boca e eu estaria ferrado.

Abraço ele novamente e pergunto:

- Quando vai contar pra mamãe?

Ele não tem tempo de responder, pois ela entra correndo na cozinha.

- O resultado saiu, o resultado da faculdade saiu, o resultado – ela nem conseguia organizar a frase direito.

Heitor pega o celular e acessa o site. Com as mãos tremendo, digita seu nome e senha. Nossos olhos correm a lista de aceitos até encontrar o nome dele. Ele fica estático, sem reação. Minha mãe e eu começamos a comemorar, corro para pegar um copo de água para ele.

- Em que curso você entrou? - Pergunto enquanto encho o copo.

Ele olha para o celular e olha pra mim novamente; os olhos cheios de lágrimas, ele tenta falar algo e não consegue, as lágrimas escorrem, minha mãe toma o celular dele e se assusta. Coloca a mão na boca, meu Deus, vou morrer de ansiedade.

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