CAPÍTULO XXXVI - PÁRIS E JOSEPH
Senhor Geraldo passa uma semana desaparecido. Comunicamos o desaparecimento dele à polícia e tentamos encontrar algum parente, mas não conseguimos. A polícia já o dava como morto quando de repente ele aparece.
Diz que está tudo bem, apenas havia ido visitar uns familiares no interior e adoeceu de repente. Realmente, ele parece meio abatido, mas não temos conhecimento de nenhum parente, porém isso é assunto para mais tarde.
Ele faz questão de vir me ver, quer saber se está tudo bem, como tinha acontecido e se eu reconheci algum dos sequestradores. Ele tem se preocupado comigo e fica feliz por estar tudo bem. Se oferece para ajudar no que eu precise e finaliza dizendo que quer conversar comigo outra hora.
Chego em casa e pego a mochila. Hoje é dia de estudar com Lucas. Estamos fazendo isso toda tarde. Alguns dias aqui, outros na casa dele. Estou quase de saída quando Roberta chega com Joseph que ainda está com os olhos inchados. Parece que estava chorando.
- Aconteceu alguma coisa? – pergunto para Roberta.
- Longa história – ela responde. – seu irmão tá aí?
- Sim está no quarto. Boa sorte! – falo e vou saindo.
- Você pode ficar? Talvez possa ajudar – Joseph me olha tristemente.
- Tá bom então! – respondo pegando o celular e mandando uma mensagem para Lucas avisando do atraso.
Quando estamos todos no quarto Joseph começa:
- Tem alguns moleques na escola de Futsal que dão trabalho, mas nenhum se iguala ao Alex. Ele é mal-educado, desrespeitoso e brigão. Já quis bater de frente várias vezes comigo. O Heitor já viu como ele é! Hoje eu fui na casa dele conversar com os pais e pedir para eles ajudarem. Descobri que ele não tem mãe; o pai trabalha fazendo bicos e ele é criado pelo irmão mais velho. Acha que escola e futebol são perda de tempo, que o Alex tem que trabalhar para colocar comida em casa. – uma lágrima escorre e Joseph afasta para o lado com a mão. – E o pior é que agora eu me toquei que ele não é o único numa situação complicada, como eu vou fazer para arcar com as despesas sem a ajuda dos pais?
- Com patrocínio! – respondo enquanto a ideia vai se organizando na minha cabeça.
- Nenhuma empresa vai patrocinar uma escola de futsal que nem jogou ainda Páris. – Joseph está triste.
- Nenhuma empresa grande, quanto tempo temos? – pergunto.
- Daqui a três semanas é o primeiro jogo – Joseph levanta a cabeça e eu posso ver uma pontinha de esperança.
- Os comerciantes do bairro podem ajudar, afinal os jogadores são daqui. O Senhor Geraldo com certeza ajuda – falo radiante.
- É claro que ele vai ajudar. Ele dá tudo o que você pede – fala Heitor.
- Coloquem no grupo o material que você precisa que depois eu falo com os comerciantes. – falo me levantando e pegando a mochila.
- Eu quero ir com você. Sou ótima pra apresentar projetos – fala Roberta antes que eu saia.
- Combinado então! – saio puxando Heitor para me levar.
Heitor permite que eu durma na casa do Lucas, já que atrasei e não foi culpa minha. Depois de uma tarde exaustiva de estudos, vamos jogar videogame, quer dizer, jogar não é bem a palavra adequada, vou assistir Lucas me trucidar a cada jogada.
- Tem falado com o Aloysius ultimamente? – pergunto para puxar conversa.
- Sim – ele responde sem tirar o olho da TV.
- Fora das aulas?
- Às vezes. – Ele me olha de soslaio.
- Ele ainda vai continuar ensinando?
- Só até o fim do ano letivo.
- Mas é por minha causa ainda?
- Sim. Ele disse que quer ver se seu pai entra em contato com você.
- Vocês têm conversado bastante hein! Para você saber todas essas informações? – pergunto em tom de brincadeira.
- Um pouco. Ele veio me pedir um favor.
- O que foi? Conta pra mim.
- Só se prometer não falar pra ninguém. É sério, ninguém! – ele pausa o jogo e olha pra mim.
- Claro que eu prometo. A única pessoa que conto essas coisas é você. Conta logo!
- Ele veio me pedir um localizador – ele fala de cabeça baixa.
- Como assim? Igual o nosso?
- É, ele quer ter um como vocês, e caso aconteça algo eu saberei a localização dele.
- Carácoles. Que legal! E quem mais sabe disso? – pergunto curioso, estou me sentindo em um filme policial, já que tinha muita coisa acontecendo.
- Só um amigo dele, ele não colocou no relatório. Disse que meu programa de localização é melhor que o da Polícia. Se outras pessoas souberem eu vou ter problemas. Ele não falou pra ninguém e me deu o número dele para ligar em emergência.
- Arrasou, segurança particular.
Rimos muito e mudamos de assunto.
Depois de um tempo, vamos dormir. Amanhã tem aula e temos que acordar cedo. Já não temos vergonha um do outro e dividimos a cama sem problemas. Sem dúvida nenhuma, Lucas é meu melhor amigo.
Na manhã seguinte, depois de uma aula chata de revisão em História, nos encontramos no corredor de sempre. Depois de algum tempo sem aparecer, Guilherme vem e me abraça.
- Como você está, amigo? – ele pergunta ainda abraçado – eu soube o que aconteceu. Você está bem?
- Sim, está tudo bem! E como você está? Estamos sentindo sua falta – falo quando ele me solta.
- Guilherme, você vem ou não? – era a voz do Tarcísio do outro lado do corredor.
- Estou indo! – grita Guilherme para ele. – Tchau, gente. Depois a gente se fala mais.
- Já amigo? Você mal chegou – falou Roberta triste.
Ele não disse nada, apenas solta beijinhos para todos e sai.
- Acho que o Tarcísio tá abusando do Guilherme – fala Roberta quando ele desaparece no corredor.
- Mas ele parece bem. Não vi nenhum machucado – comenta Joseph.
- Não existe só abuso físico, apesar de ser o mais fácil de identificar. Tem também o abuso psicológico – Roberta parece que falava para uma plateia invisível.
- Mas como isso é possível? – pergunta Lucas curioso.
- A pessoa tira a autoestima do outro afastando dos amigos, humilhando com insultos e ofensas. Mesmo pedindo desculpa, torna a fazer novamente, fica manipulando, até o outro se tornar dependente dela – Roberta está bem didática.
- Mas como saberemos se o Guilherme está passando por isso? – Élio pergunta.
- Eu vou descobrir, e depois TODOS nós vamos ajudar – fala Roberta determinada. – prometem?
- Prometemos! – respondemos em coro.
Guilherme é um dos nossos. E vamos fazer o possível para ajudá-lo.
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