CAPÍTULO XXXI - PÁRIS E ÉLIO

Mais uma aula de Português! Professora Patrícia parabeniza Roberta pela repercussão do seu vídeo que já ultrapassou os três milhões de visualização em um mês. E já avisa que passará outro trabalho, dessa vez o último do ano.

- Será que ela vai nos deixar livres novamente? – pergunta Lucas ao meu lado.

- Espero que sim! Ainda falta a final pra gente estudar – respondo.

Élio entra na sala, atrasado como sempre, mas pelo menos está vindo às aulas. Desde que nos trancaram no quarto de Roberta, há um mês, tudo têm melhorado. Ainda não voltou a ser como antes, mas está bem melhor.

Ele senta ao lado do Guilherme e dá um oi rápido em minha direção. Respondo com um sorriso e vejo Mônica se aproximando dele. Eles ainda mantêm o namoro "fake", já que parece bom para ambos.

- Quero que vocês apresentem um livro – ouço a voz da Patrícia na frente. – Qualquer autor e qualquer gênero, apenas venham aqui e convençam a todos que o livro é bom. Vocês têm 3 semanas para ler e preparar os argumentos.

No intervalo Lucas, Joseph, Roberta e eu vamos para o lugar de sempre, Guilherme já não vem pra cá há tempos e Élio volta pra pegar alguma coisa que esqueceu.

- Que livro vocês vão ler? – pergunta Roberta assim que chegamos.

- Eu não faço a mínima ideia – respondo.

- Você vai de "50 tons de cinza" ou "Para Todos os Garotos que já Amei"? - pergunta Joseph sorrindo.

- Nenhum dos dois, meu romance favorito é "Um herói entre nós". Conta a história de um rapaz que se apaixona por um cara e depois descobre que ele é um super-herói. Eu adoro esse livro.

- Romance gay? – Lucas faz uma cara intrigada.

- Sim, Luquinha. Há vários livros com romance LGBTs que são muito fofos. – Roberta responde como se tivesse mimando uma criança.

- Verdade – fala Élio se aproximando. – o meu favorito é "S.O.S Boys: Garotos ao mar", é um livro fantástico!

- Você vai apresentar ele no trabalho? – pergunto curioso.

- Não. Apesar dele ser o meu favorito, ele tem umas cenas... picantes! – ele dá uma pausa. - Talvez eu apresente outro do mesmo autor. Mas se quiser te empresto ele.

- Quero sim – respondo animado.

Assim como Lucas ainda não tive contato com esse tipo de literatura, e estou curioso para ler uma história em que eu me identifique, sem necessariamente me colocar no lugar da mocinha.

- Pessoal, tenho uma coisa para vocês! – Só então percebo que Élio está com vários envelopes na mão, e começa a distribuir entre nós. – Faço questão de ver todos lá.

Ele entrega para todos e sai ainda com alguns na mão. Abrimos ansiosos, trata-se de um convite para seu aniversário de 18 anos, que será uma festa à fantasia na sua casa, no dia do Halloween.

- Que ideia sensacional! – comemora Roberta. – estou com inveja por que não foi eu que tive. Vocês vão, não vão?

- Eu vou – grita Lucas. – vou me fantasiar de V do Ciberpunk 2077.

- Quem é esse? – pergunto sem entender.

- Um personagem do melhor jogo de videogame – foi a resposta.

Todos nós olhamos para Lucas sem entender nada.

- Eu não sei. Tenho que falar com minha mãe para ver se ela faz uma fantasia pra mim. – respondo cabisbaixo.

- Não precisa, Páris. Meu irmão tem uma fantasia que dá certinho em você, e se não der é só dar uns ajustes. – ela fala animada. De repente vira-se para o Joseph. – Jô, podemos ir combinando. Eu preparo tudo. Pode deixar comigo. – fala batendo palminhas.

Em casa minha mãe está bastante empolgada com o fato de eu ir à uma festa.

- Páris, você quer ajuda com sua fantasia? – pergunta minha mãe sentada frente a máquina de costura.

- Acho que não, mãe. Roberta vai me emprestar uma. – respondo-lhe.

- Consegui um uniforme velho de médico com um amigo meu. Vou consertar pro seu irmão - Fala ela mostrando a roupa.

- Por que não transforma num médico zumbi? – pergunto. - zumbi tá na moda.

- Vai ficar irado – grita Helena da cama.

Minha mãe hesita um pouco e fala:

- Tudo bem! Mas vou precisar de ajuda.

Fizemos uma lista do material que iríamos precisar e fui pegar no mercadinho do Senhor Geraldo. Geralmente lá tem tudo. Heitor está fazendo entrega e Sr. Geraldo conversa com o senhor negro que eu já havia visto antes.

- Páris, como está o braço? – pergunta o senhor com um sorriso no rosto.

- Está bem – respondo com vergonha.

- Vejo que já tirou o gesso. Que bom! Não está lembrando de mim? Eu trouxe você do hospital – ele fala me cumprimentando.

Já havia me esquecido. Estava tão distraído que nem agradeci naquele dia.

- Pelo menos o Vilmar teve o que mereceu na cadeia – ele fala sorrindo.

- Como assim? – pergunto curioso.

- Você não sabia que o Vilmar foi assassinado na prisão?

Aquela notícia me pega de surpresa, por mais que eu desejasse o Vilmar bem longe da gente, eu nunca ficaria feliz com a morte de uma pessoa.

Sr. Geraldo traz uma sacola com as compras.

- Coloque na conta da mãe – falo pegando a sacola e saio ainda pensando no Vilmar.

Descubro que minha mãe já sabia de Vilmar e optou por não me contar, segundo ela, para me "poupar". Não entendi o motivo. Mas aquele homem não pode fazer nada depois de morto.

Descubro que minha mãe já sabia de Vilmar e optou por não me contar, segundo ela, para me "poupar". Não entendi o motivo. Mas aquele homem não pode fazer nada depois de morto.

Um dia antes do aniversário, Roberta traz minha fantasia.

- A do meu irmão não estava em bom estado, então consegui essa aqui para você – fala me entregando uma caixa.

Joseph dá um risinho suspeito e ela olha pra ele com um olhar ameaçador.

- O que foi? – pergunto curioso. – Algo errado com a roupa?

- Não, Páris. A roupa é linda! – Roberta responde tentando matar o Joseph com o olhar.

- Principalmente depois do trabalho que tivemos para encontrá-la – ele completa sem medo da morte.

Mesmo sem entender abro a caixa e vejo uma fantasia de anjo.

- Gostou né? Combina com você. Vê se capricha no look, a gente se encontra lá. – Roberta fala e sai puxando o Joseph pelo braço.

- Uma dica. Se você ver um demônio lá, cai em cima dele – Joseph fala da porta antes de ser arrastado para fora.

Fico rindo daquilo tudo e me lembro de confirmar com Lucas. Aproveito para oferecer ajuda com a fantasia, caso ele precise.

"Confirmado a festa amanhã?" Eu mando a mensagem.

"Ñ" ele responde.

"😱 por quê? Quer ajuda com a fantasia?"

"Ñ. meu pai ñ deixou eu comprar, quer q eu vá com 1 q ele já tem."

"Se precisar de um conserto, minha mãe pode ajudar" digitei mesmo sem falar com ela, mas sei que ela não irá se negar.

"Ñ é isso, é q é mt feia, ñ vou vestir aquilo."

"Ñ pode ser tão feio assim, e além do mais o que importa é a diversão, sem você não tem graça. Faz isso por mim. Eu ñ vou sem vc." apelei para o sentimentalismo.

"Tá, mas vc fica me devendo uma."

Consegui,pelo menos ele vai, e realmente duvido de que a fantasia seja tão feia. Ele éum pouco exagerado, mas quem não é? Guardo o celular e vou experimentar a minhafantasia.

No dia seguinte Senhor Hyun passa aqui em casa para me pegar. Chega mais cedo do que o combinado e fica conversando com minha mãe. A fantasia do Lucas é linda, uma roupa de samurai que seu pai mantinha guardada em casa. Termino de me arrumar, pego o presente que Heitor comprou pra mim e vamos, já que meu irmão preferiu ir de moto hoje.

O pai de Lucas nos deixa lá e marca a hora de vir nos pegar. Entramos e vamos para a área da piscina onde está acontecendo a festa. Ficamos maravilhados com a ornamentação. Parecem aquelas revistas de decoração. Há um telão enorme com a foto do Élio cercado de balões atrás de uma mesa de doces de todas as cores e formatos. As pessoas transitam fantasiadas com taças de bebidas nas mãos.

- Páris – ouço uma voz familiar e viro ao seu encontro no momento de receber um abraço. – que bom que veio.

É D. Isabel, mãe do Élio, fantasiada de deusa grega. Como sempre, ela muito amável comigo.

- Que fantasia linda! Já viu o Élio? Ele está pra lá. Que bom que vocês voltaram a namorar. Você faz muito bem a ele. Com licença, pode ficar à vontade. Oi, Amylee! – ela sai gritando para outro convidado.

- Vocês voltaram? – Lucas pergunta me olhando com uma cara de curiosidade.

- Não que eu saiba. Vem, vamos entregar os presentes. – saio em direção ao local apontado pela mãe do Élio.

Nós o encontramos próximo à pista de dança. Ele estava com uma calça e blusa gola rolê com um sobretudo por cima, tudo em tons de vermelho. Completava a fantasia sapato e asas vermelhas com o característico cordão que ele tinha ganho do Lucas.

Quando o vejo, entendo toda a gracinha do Joseph no dia anterior. Élio está fantasiado de demônio! Com certeza, Roberta já sabia e por isso providenciou uma fantasia de anjo. Não me sinto bem com isso. Parece que estou forçando algo entre nós e não é isso. Quero que as coisas aconteçam naturalmente. Paro e penso em voltar, Lucas me olha com uma cara de bravo; olho para Élio e percebo que já é tarde demais. Ele nos avista e está vindo em nossa direção.

- Que bom que vieram! Fantasia irada, Lucas, onde você alugou? – ele fala nos cumprimentando.

- É do meu pai. – Lucas responde constrangido.

- Massa! Ficou show em você, bem original – ele fala admirando a fantasia. – e você lobinho, de anjo? Veio me derrotar? – ele abre os braços em sinal de rendição.

- Roberta me emprestou – adianto logo.

Ele sorri como se também tivesse notado as intenções de Roberta.

- Porque disse pra sua mãe que voltamos a namorar? – pergunto novamente sem pensar. Tenho que colocar um filtro entre meu cérebro e minha boca.

- Porque ela gosta de você. E isso facilitou eu ganhar essa festa – ele fala sorrindo.

- Você é mau. – falo.

- Se quiser podemos "terminar" novamente depois do aniversário. Até lá quero que você me ajude. Ainda tenho que ganhar meu presente. Posso contar com você?

Depois de tudo o que aconteceu, ele não está com créditos suficiente para isso. Mas não consigo resistir a esse olhar. Eu sou mesmo um idiota. Olho para o Lucas e lembro, então olho pra ele e falo:

- Fica me devendo uma.

- Está combinado! Fiquem à vontade na festa, Roberta e Joseph estão por aí, e obrigado pelos presentes. Não precisava. O que eu queria mesmo era a presença de vocês – ele diz e se afasta.

EncontramosRoberta e Joseph perto da mesa de doces. Como já imaginávamos, eles vieramcombinando fantasias; ela de Bela e ele de Fera.


- Cara, que legal essa fantasia! – diz Joseph assim que avista Lucas. – onde conseguiu?

- É do meu pai – fala Lucas menos constrangido.

- Irado! Quero usar um dia.

Estamos conversando sobre as fantasias quando Mônica se aproxima. Ela usa uma blusa com os ombros a mostra, uma saia curta, luvas, meia-calça e botas, todas na cor preta, com uma asa também preta.

- O Páris veio de anjinho! – ela debocha. - Cuidado, vai perder sua inocência por aqui. – ela finaliza tentando dar uma risada maléfica.

- Ele veio apenas resgatar um demônio que tá perdido aqui na Terra – responde Roberta antes que eu possa pensar em algo.

- Quando esse demônio conhecer os prazeres da Terra, vai querer ficar por aqui mesmo – Mônica solta uma gargalhada e sai.

Roberta puxa Joseph para a pista de dança e Lucas pega uns petiscos e um copo de refrigerante de um garçom que ia passando.

AvistoGuilherme que está do outro lado da pista. Sua fantasia de vampiro estáperfeita com direito a lente de contato e sangue na boca. Ele parece sedivertir com alguns amigos.

Vejo chegando Heitor, que usa a fantasia demédico zumbi, e Professor Aloysius, de policial. Este acena quando me vê e eulhe retribuo com um sorriso

- Que bom encontrar você por aqui! - É o Noah com dois copos. Ele me entrega um. Está fantasiado de jogador de futebol, e parece que usa lente, pois não está com seus óculos característicos.

Alguém esbarra em Lucas fazendo-o derramar sua bebida e se entalar. Apresso – me em dar leves batidas nas suas costas e meu copo para ele beber. Quando procuro Noah, já não o vejo mais.

Todos estão dançando. Então convido Lucas para dar uma volta e tirar umas fotos. À medida que andamos, o rosto de Lucas vai ficando mais vermelho. Ele está suando muito e tira o capacete para se abanar. Saímos do local da festa e chegamos ao jardim.

- Você está bem, Lucas? Está molhado de suor. – pergunto tocando sua testa para ver a temperatura.

Quando ele vai responder, se abaixa e começa a vomitar. Seguro-o pelo braço e percebo que ele está sem forças. Apoio-o em mim e o conduzo em direção à casa de Élio.

Encontro Aline, irmã do Élio, que nos indica um quarto. Levo Lucas até lá, deito-o na cama e tiro sua fantasia. Ele já não reage. Parece que está desmaiado, mas continua suando muito. Jogo um lençol em seu corpo e saio à procura de ajuda.

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