CAPÍTULO XXX - AS MULTICORES DE PÁLIO
Sou muito lesado quando acordo, leva um tempo para "a alma voltar para o corpo". Quando finalmente levanto e saio do quarto, Élio está sentado no sofá e Heitor guarda a moto que Élio havia deixado na calçada
- Ele não está em condições de dirigir, não sei como chegou aqui. Se tiverem algo importante para conversar, eu sugiro que deixe para amanhã. Faça ele dormir no sofá e comportem-se – fala Heitor ao passar para o quarto.
Sento ao lado de Élio, mesmo com a roupa bagunçada, cabelo desgrenhado e olhos sem expressões, ele ainda era o garoto misterioso por quem me apaixonei. Só em vê-lo novamente todo aquele turbilhão de sentimentos volta. Tudo o que quero é abraçar e beijá-lo mais uma vez.
- O que veio fazer aqui, Élio? – tento iniciar um diálogo.
- Não sei. Saí da balada sem destino e de repente estava aqui – ele responde fechando os olhos e inclinando a cabeça no sofá.
Me dou conta de que o jogo de olhares tinha mudado. Agora eu o encaro e ele foge do meu olhar.
Eu tenho tantas coisas para falar, mas sei que, nessas condições, não seria o momento adequado, então apenas o observo.
Ele vira a cabeça, aquele olhar vazio me encontra, busco algum sentimento e não encontro nenhum. Olho de volta. Ele passa a mão em meu rosto com os dedos suavemente e meu corpo sente aquele toque tão familiar.
- Você é um lobo mau, muito mau – ele fala se aproximando.
Seus lábios tocam o meu, sinto gosto de álcool com bala de menta. Ele se deita sobre mim e intensifica o beijo. Sua mão chega no meu pijama, paro o beijo e digo:
- Não! – firme e com convicção.
Ele tira a mão e beija meu pescoço, passo a mão em seus cabelos e ouço ele dizer no meu ouvido.
- Eu te amo!
Olho nos seus olhos que vão diminuindo, o álcool finalmente está fazendo efeito. Ele coloca a cabeça no meu peito e adormece. Espero um pouco e saio sem acordá-lo. Dou um beijo em sua bochecha e falo baixinho:
- Eu também de amo, idiota!
Na manhã seguinte, acordo e corro para a sala. Mas o sofá está vazio. Minha mãe, que está na cozinha preparando o café da manhã, me olha com um olhar terno.
- Ele saiu antes de acordarmos – ela diz como se me consolasse.
Volto pra cama e pego o celular.
"Entra no vídeo da Roberta, rápido." Mensagem do Lucas.
Entro no Youtube e acesso o vídeo da Roberta e de cara me assusto. Isso só pode ser coisa do Lucas.
"Como vc fez isso?" pergunto a ele por mensagem.
"Eu ñ fiz nada. É real." Ele responde.
Olho novamente e ainda não acredito. O vídeo já passa de 900 mil visualizações.
"Ela já sabe disso?" pergunto.
"Provavelmente não. Ou já teria mandado mensagem."
"Temos que comemorar"
"Sim. Fale com Joseph e Guilherme."
Mando mensagem para Guilherme, mas ele não retorna. Ele está muito esquisito. Já nem lembro a última vez que nos falamos. Deixo então o celular e vou ajudar a mãe no almoço.
Após o almoço, recebo uma mensagem de Lucas:
"Festa as 7 na acd do pai da Rô, passa aqui."
Como não tenho nada para fazer, resolvo passar a tarde lá e irmos juntos à noite. Depois de conseguir autorização da mãe, eu vou para o apartamento de Lucas.
Pergunto para o porteiro se o Senhor Hyun está em casa. Ele me anuncia e manda subir. Senhor Hyun me recebe na porta.
- Que bom que veio, Páris. Lucas está no quarto dele, pode entrar.
Ele era um senhor muito legal, e aparentemente gostava da minha amizade com seu filho. Várias vezes ouvi conversas da minha mãe no celular com ele.
A porta do quarto está destrancada, então abro e vou entrando. Vejo Lucas de costas pra porta, sentado na cadeira, de blusa e cueca, com fone de ouvido, ele se masturbava enquanto via um filme pornô na TV.
- Lucas! – chamo baixinho para não assustá-lo, mas com o fone ele não me ouve.
Jogo uma bolinha de papel, mas ele está tão concentrado que não percebe. Vou até ele e o chamo tocando seu ombro. Ele dá um salto da cadeira tentando se cobrir com a blusa e me olhando assustado, mais branco do que realmente é.
- Páris! Você quase me mata de susto – fala finalmente depois que consegue se recuperar.
- Desculpe, mas você deveria trancar a porta quando estivesse fazendo isso.
- Meu pai não entra no meu quarto. E você deveria bater.
- Eu bati, chamei, até joguei uma bolinha de papel, mas você estava tão concentrado que nem percebeu.
Começamos a rir percebendo como aquela situação era ridícula. Só então percebo que o vídeo na TV era com dois homens. Olho para Lucas curioso enquanto ele veste um short.
- Que foi? – ele perguntou intrigado.
- Por que está assistindo vídeos de homens? Você é gay? – pergunto sorrindo.
- Não. Apenas curiosidade. Não me diga que você é preconceituoso!? – ele finge uma falsa surpresa.
Ele tem razão: assistir pornô gay não torna necessariamente a pessoa em homossexual. Viro e continuo assistindo ao vídeo. Lucas termina de se vestir e vai desligar quando percebe o meu interesse.
- Quer continuar assistindo? – pergunta.
- Pode deixar – respondo sentando na poltrona.
Assistimos àquele vídeo e depois mais alguns, comentamos sobre as caras e bocas dos atores e rimos das encenações malfeitas.
- Não vai mesmo me contar quem é o garoto que você é a fim? – pergunto lembrando de uma conversa antiga.
- Eu não disse que era a fim de um garoto. Eu disse que existia um garoto que "talvez" eu tivesse curiosidade em experimentar. É diferente. Você está distorcendo minhas palavras.
Começo a rir da rapidez com que ele negou.
- E quem é esse garoto misterioso?
Ele ri e continua assistindo. Não imaginaria que um dia eu fosse fazer isso com meu melhor amigo, e parecia algo tão natural, apenas dois adolescentes assistindo a vídeos pornô e conversando "putaria", como todo adolescente.
- Você fica aí assistindo e eu vou pra minha cama terminar o que eu estava fazendo antes de ser interrompido bruscamente – ele fala se levantando.
- Tá, então eu vou fazer aqui também – falo rindo.
- Então vamos fazer juntos. – ele volta a sentar. – não igual você fez com o João Pedro. Apenas fazer.
- Tudo bem – falo rindo. Mas estava nervoso.
Tiramos nossos shorts e começamos a nos tocar. No começo evitamos olhar um para o outro. Fixamos apenas na televisão e no vídeo, mas logo relaxamos e já estamos rindo. Ele termina primeiro e logo depois foi minha vez, ficamos exaustos apenas rindo um do outro.
-Vamos nos arrumar. Está quase na hora da festa – ele me fala jogando umatoalha.
Chegamos à academia e já estão todos aqui. A essa altura, o vídeo já tinha ultrapassado um milhão de visualizações e até os professores da escola vieram dar os parabéns. Tiramos muitas fotos, comemos salgados e bebemos refrigerante, tudo pago pelo pai de Roberta, que estava radiante.
Guilherme sai na metade da festa. Alguns garotos vêm em um carro e levam-no. Percebo que Roberta fica um pouco triste com isso, mas logo está dançando com a gente. Pouco a pouco as pessoas vão saindo restando apenas Roberta, Joseph, Élio, Heitor, Lucas e eu.
Roberta, Joseph e Élio somem, me deixando com Lucas e Heitor.
- Páris, me empresta seu celular, quero mostrar uma coisa para seu irmão - pede Lucas.
Apenas pego o celular e entrego. Somos tão próximos que sabemos a senha um do outro. Ele se afasta com Heitor e ficam vendo algo no meu celular. De repente eles se aproximam.
- Ei, mano, você vai ter que fazer um favor pra nós – fala Heitor enigmático.
Ele tira um envelope do bolso e me entrega.
- Aqui está uma surpresa para a Roberta. Eu quero que você vá no quarto dela e coloque na escrivaninha.
- Mas por que não entregamos a ela pessoalmente?
- É uma brincadeira que estamos fazendo – responde Lucas – ela precisa encontrar esse envelope na escrivaninha.
- Mas eu não vou sozinho. – respondo-lhe.
- Então eu vou distrair ela e o Lucas vai contigo.
Vamos Lucas e eu ao quarto de Roberta, nos esgueirando pela casa tentando não ser vistos. Na porta do quarto Lucas, fala baixinho:
- Você entra e coloca o envelope na escrivaninha. Eu fico aqui vigiando.
Abro a porta e entro, vejo uma pessoa sentada na cama de costas, ouço a porta fechar e ser trancada atrás de mim. A pessoa na cama se assusta e vira. É Élio.
Me viro e bato na porta.
- Lucas, não tem graça. Abre essa porta – grito.
- Abra o envelope – ouço a voz de Roberta do outro lado.
Já percebo que eles estão mancomunados nessa. Ouço passos se afastando da porta. Olho para o envelope na minha mão e estendo o braço para Élio. Ele pega, abre e lê, sorri e deita na cama. Pego a carta e começo a leitura:
"Somos amigos de vocês e estamos preocupados com o rumo que as coisas estão indo. Sabemos que vocês se amam e só precisam conversar sobre isso, esperamos pacientes a oportunidade aparecer, já que não teve, resolvemos criar a nossa própria. Vocês só vão sair desse quarto quando conversarem e se entenderem. Esperamos que entendam que estamos fazendo isso por que amamos vocês dois e queremos vê-los felizes. Um abraço. Estamos na expectativa.
Roberta, Lucas, Joseph, Heitor e Guilherme."
Fecho a carta e sento na cama, do lado contrário a ele.
- Como você veio parar aqui? – ele pergunta olhando para o teto.
- Eles disseram que era uma surpresa para a Roberta e eu tinha que colocar o envelope na escrivaninha. E você?
- Roberta disse que queria minha ajuda para o próximo vídeo, pediu para eu esperar enquanto ela ia buscar umas anotações. Me empresta seu celular, eu ligo pra minha irmã e ela vem me pegar.
- Lucas ficou com meu celular. Cadê o seu?
- Joseph pediu para tirar umas fotos.
Começamos a rir de nós mesmos por termos sido enganados por nossos amigos. De repente paramos e um silêncio tomou conta do quarto. Tudo o que eu queria era conversar com ele, desfazer esse mal-entendido e voltar a ser o que era antes. Eu espero ele tomar a iniciativa, mas o conhecendo, sei que isso não vai acontecer, então eu tento iniciar a conversa.
- Posso saber por que você está me evitando?
- Já que estão nos forçando a isso. Vamos conversar – ele fala ainda com os olhos no teto.
- Não precisamos, se você não quiser.
- Tudo bem. Já está na hora mesmo.
Ele me conta o que aconteceu no acampamento. Como ele se sentiu traído quando viu João Pedro me beijando. Ele queria me dar um tempo por isso se afastou. Ouço tudo calmamente, sem interromper, e depois conto a minha versão da história.
- Eu não queria conversar com você, mas também não queria me afastar de você – ele continua. – Então eu comecei a beber. Eu bebo para tirar você da cabeça. Em uma dessas farras eu apaguei na casa de um amigo. E no dia seguinte, a Mônica coloca aquela foto no Facebook.
- Quer dizer que vocês não dormiram juntos?
- Não. Meu amigo disse que ela só entrou, tirou a foto e foi embora.
- E por que não disse a verdade?
- Na minha cabeça, você estava gostando do João Pedro. Eu estava sozinho, se ela queria se passar por minha namorada que fosse.
Conversamos sobre tudo o que nos afligia, e conseguimos entender como cada um se sentiu diante da situação. Quando percebemos que já não tínhamos mais o que conversar, decidimos chamar nossos amigos.
Depois de vários gritos e batidas na porta, ninguém aparece. Élio tira a roupa ficando só de cueca e deita na cama.
- O que você está fazendo? – pergunto.
- Está claro que eles não vão abrir. Então eu vou dormir.
Tiro blusa e tênis e me deito ao seu lado.
- Vai dormir de calça? – ele pergunta enquanto me cubro com o lençol.
- Sim.
- Isso é medo de mim?
- Sim – respondo sorrindo.
Elesorri e vira para o lado.
NOTA DO AUTOR
Finalmente concluímos a parte 3. Agora partiremos para a parte 4, onde os mistérios serão revelados e finalmente saberemos como termina a história para nosso grupo favorito.
Lembrando você de colocar a estrelinha em cada capítulo, é muito importante para aumentar a visibilidade do livro e fazê-lo chegar à mais leitores. Pode comentar à vontade, estarei sempre interagindo com vocês, e adoro ler e acompanhar seus comentários.
Muito obrigado por chegar até aqui, e se quiserem continuar a experiência além do livro me visitem no Instagram cearense sonhador. Lá encontrarão imagens, vídeos e curiosidades sobre os nossos personagens favoritos.
Vejo você na parte 4, beijos e até lá.
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