CAPITULO XXV - O VIOLETA DE ÉLIO

Como o objetivo era pegar todos, nos dividimos em duas duplas. Heitor e Élio ficam na base protegendo a bandeira e preparando alguma armadilha, enquanto Lucas e eu tentamos pegar a bandeira do outro time.

Já espero que não vai dá certo, mas como o importante é a diversão, corremos um pouco e depois caminhamos até chegar a uma pedra enorme onde resolvemos descansar.

- Tudo bem com você? – Lucas pergunta.

- Sim – respondo cansado. – Só preciso descansar um pouco.

Sento na grama e ele fica reversando, olha para o caminho e para mim. Algum tempo depois, já estou melhor e levanto. Lucas avista nossos "inimigos" e me puxa para o chão.

- Estão os três juntos. Não vai dar para enfrentar – ele fala baixo para não ser ouvido. – Joseph tá protegendo a bandeira. Eu vou distraí-los e você vai até o quartel deles e rouba a bandeira do Joseph.

- E como eu vou fazer isso?

- Sei lá, enrola ele – Lucas fala olhando em direção à mata.

- Tá certo!

- Toma cuidado – ele diz, depois levanta, respira fundo e sai correndo.

Ouço o barulho dos outros correndo atrás dele. Espero alguns minutos e saio em direção ao quartel deles pensando em como vou distrair o Joseph.

Estou próximo ao quartel quando alguém me puxa pelo braço e tapa minha boca com a mão. Tento me soltar, mas fico com medo de machucar o outro braço então desisto. Sinto as mãos me prendendo relaxarem e soltarem aos poucos. Quando me viro, reconheço João Pedro.

- É você seu... – falo dando pequenos murros em seu peito. Ele apenas ri.

Ele me empurra na árvore e me beija, tão rápido que não tive reação. Seu beijo é forte, intenso. Sinto sua boca explorar a minha com vigor e energia. Minha mão está no seu peito, mas não tem força para empurrar. Sua mão acaricia minha cintura levemente. Fecho os olhos e aproveito o momento. Ele termina o beijo e se afasta devagar.

- Seu amigo oriental está daquele lado – ele aponta. – encontre ele e vá, meu time tá voltando.

Me afasto na direção indicada. Ouço Joseph gritar meu nome e começo a correr. Passo por Lucas tentando subir em uma árvore.

- Vem, eles estão atrás da gente. – digo e continuo correndo, ouço seus passos me seguindo, entramos mata a dentro e paramos sob árvores tão densas que não dá para ver o céu.

Cansados, o peito ardendo, a respiração ofegante, coloco a mão no joelho e busco ar. Lucas deita na grama com um braço sobre os olhos e outro na barriga.

- Acho que despistamos eles... – ele fala arfando. – mas você sabe como voltar?

- É só voltar pelo mesmo caminho que viemos – digo e sento também. – O que acha que ia fazer subindo naquela árvore?

- Não estava subindo, estava descendo. Subi para averiguar o território e acabei vendo uma coisa... – ele fala sentando e pegando um graveto.

- O que você viu? – pergunto interessado.

- Você beijando o João Pedro! – ele fala rápido e eu me assusto com aquela frase. Não imaginava que alguém poderia ter visto, mas é o Lucas em quem eu confio.

- Eu não o beijei, ele que me beijou.

- Faz diferença? – ele me olhava esquisito.

- Sim. Faz toda diferença!

Ele não fala mais nada e continua riscando o chão. Ele sempre faz isso quando algo o incomoda. Descansamos mais um pouco e eu o chamo:

- Vem, já vai anoitecer. Vamos ver quem ganhou o jogo.

Começamos a caminhar por onde viemos, mas eu não consigo lembrar daquelas árvores, passamos por elas muito rápido. O sol já está se pondo e temos que chegar antes de anoitecer. Como na noite anterior, o céu está nublado. Encontro o que parece uma trilha e resolvo seguir. Com certeza, ela nos levará a algum lugar. Não quero dizer ao Lucas que estamos perdidos, isso só vai apavorá-lo.

O sol vai se pondo. E, como não há lua, vai ficando cada vez mais escuro. Eu olho para ele e seguro sua mão para não nos separar. Começa a chover, um sereno fino e espaçoso. Corro para baixo de uma árvore.

- Tecnicamente, não deveríamos ficar embaixo de árvores, elas atraem raios – Lucas fala olhando para cima.

- Mas não há raios hoje – falo também olhando para cima, depois olho para ele e continuo. – Lucas eu tenho que te contar uma coisa.

- Se for que estamos perdidos, eu já sei, acabamos de passar por uma árvore pela terceira vez.

- E você não está com medo? – pergunto.

- Muito – foi a resposta.

A chuva e o frio aumentam intensamente. O gesso molhado faz meu braço doer. Seguro no seu ombro e percebo que ele está tremendo. Eu o abraço na esperança do calor do meu corpo esquentá-lo.

- O que você está fazendo? - Ele pergunta com os lábios trêmulos.

- Tentando te aquecer.

- Isso é tão bom – ele fala e me abraça de volta.

Ficamos assim por algum tempo quando ouço o barulho de uma moto. O barulho diminui e ouço alguém gritar nossos nomes. Me afasto dele devagar e vou até a trilha. Começo a gritar. O barulho fica mais próximo até chegar onde estamos.

- Vocês estão bem? – é o Heitor na moto do Élio. – Isso foi muita irresponsabilidade. A mãe vai te matar. Subam aqui, vamos voltar pra casa ainda hoje.

Voltamos para o acampamento e encontramos Roberta, Guilherme e Élio. Os outros estavam nos procurando. Heitor solta fogos de artifício para indicar que já havíamos sido encontrados e chamar os outros de volta.

Vou até Élio e dou-lhe um abraço. Ele não retribui e sai, vai ajudar a desmontar o acampamento. Olho para Roberta com cara de interrogação.

- Não sei, migo, ele voltou do jogo com essa cara e não abriu a boca – responde Roberta à minha indagação.

Desmontamos o acampamento e partimos. Élio não espera e vai sozinho na frente. Damos um jeito de colocar Joseph no carro conosco e voltamos para a cidade. João Pedro vai próximo a gente.

Chego em casa, ouço o sermão da Dona Lúcia e vou para o banho. Na volta, vejo uma mensagem no celular. Deve ser o Élio para se justificar, abro então rapidamente o dispositivo, pois estou curioso.

"Ganhei um PS 4 pro e 1 bolo, quer vir comer comigo amanhã? Pd trazer o Heitor o bolo é enorme. 🙂😋" – Lucas

"Pai ñ sabe o que aconteceu no camp, e eu ñ vou contar, senão ñ haverá próxima vez 🤫" – Lucas.

Que bom, ele está feliz apesar de tudo e ainda quer uma próxima vez. Por enquanto eu só quero dormir. Aproveito que estou com o celular na mão e mando uma mensagem para o Élio.

"Tudo bem com você? Não nos esperou. Quando vou lhe ver? Já estou com saudades. 😍😘❤"

Ele recebe e visualiza a mensagem, mas não responde. O que será que está acontecendo?

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top