CAPÍTULO XV - A PROTEÇÃO DE HEITOR
No caminho para os bastidores do sarau encontro com Heitor.
- Onde você estava, meu irmão? Seus amigos estão te procurando! - ele pergunta apressado.
Não respondo, apenas passo por ele, sinto sua presença me seguindo. Vejo a mãe conversando animadamente com Dona Isabel. Em outras circunstâncias ver minha mãe conversando com a mãe do Élio me deixaria feliz, mas agora isso me preocupa.
Chego nos bastidores e está uma zorra, Roberta nervosa sentada em um canto, Guilherme tentando acalmá-la. Lucas reclamando que algo não deu certo; Joseph perdeu uma peça da roupa, sento na cadeira mais próxima e me vem uma dor no estômago, uma vontade incontrolável de chorar. Vejo tudo desmoronando e penso em desistir quando escuto uma voz:
- Meninos - É a voz do meu irmão - Eu não conheço a maioria de vocês, provavelmente vocês também não me conhecem. Eu sou o irmão do Páris e percebi que está difícil, parece que nada vai dar certo. Nessas horas, o primeiro pensamento é desistir, abandonar o barco! Pois bem, eu conheço meu irmão e nunca vi um cara mais inteligente e guerreiro na minha vida. Creio que vocês não sejam diferentes dele, aposto que já enfrentaram muitos problemas para estar aqui. E por que desistir agora? Pode ser que lá fora estejam pessoas que vieram torcer contra, que desejam que essa apresentação não saia, ou pior ainda, que vocês paguem mico naquele palco. Mas não esqueçam que lá também tem pessoas que amam vocês e estão aqui por que acreditam. Que almejam o sucesso de vocês! E é nessas pessoas que vocês devem pensar, nas que apoiam, incentivam e acreditam em vocês por que conhecem a capacidade de cada um.
Os outros alunos começam a aplaudir o Heitor.
- Ele tem razão! Não podemos desistir tão fácil. Lucas dá pra fazer sem o aparelho danificado? – Roberta pergunta.
Lucas faz que "sim" com a cabeça.
- Páris enxuga essas lagrimas e ajuda o Joseph a improvisar uma roupa. Guilherme retoca minha maquiagem – Roberta puxa Guilherme pela mão, voltou a ser a velha Roberta mandona de sempre. – NÓS VAMOS ENTRAR NESSE PALCO E FAZER A MELHOR APRESENTAÇÃO DAS NOSSAS VIDAS – Ela grita para todos, que aplaudem e dão gritos de alegria.
O sarau começa, Guilherme e Roberta dão um show apresentando os convidados. Depois de cada apresentação, o público aplaude bastante. Está tudo dando certo.
Antes da minha participação, Tinna e Analu vêm me desejar boa sorte, Élio também vem e me abraça. Eu não retribuo.
- Só existe você na minha cabeça! – ele fala.
- Está difícil de acreditar – respondo.
- Então eu vou provar – ele me solta e saí em direção à banda.
Entro em cena com Joseph, nosso tema é quadrinhos. Apresentamos nossa pesquisa e chamamos nosso convidado, um roteirista que conseguimos fazer contato e aceitou o convite. Após a apresentação, Joseph e eu vamos até a mesa de som onde está Lucas para assistir à banda.
Ficou combinado que eles tocariam três músicas. Analu e Tinna estão belíssimas no palco. Analu canta uma música e Tinna canta as duas últimas. Quando pensávamos que tinha terminado, Élio pega o microfone e fala:
- Boa noite. Eu queria agradecer a todos pela presença, agradecer a professora Patrícia pela iniciativa do projeto. Queria parabenizar a nossa equipe, por essa organização maravilhosa e a nossa líder Roberta, que idealizou tudo isso.
Todos aplaudem e depois ele continua:
- Imagino que esse não seja o momento apropriado, mas eu quero pedir licença a vocês e a minha líder, para cantar mais uma música. Dessa vez de minha autoria, que eu fiz para uma pessoa muito especial, uma pessoa que mudou a minha vida, que me trouxe luz quando eu estava na escuridão e mostrou o que é amor de verdade. Esse garoto é o Páris, meu colega de sala e o grande amor da minha vida. - ele olha para onde estou e continua - Eu demorei muito para te encontrar, e agora eu não vou te perder assim tão fácil. Eu te amo cara!
Todos olham em minha direção, alguns aplaudem outros vaiam, meus sentimentos se misturam: felicidade, vergonha, medo! Lucas e Joseph me abraçam. Sinto que eles estão felizes por mim. A banda começa a tocar e eu percebo que é a música que ele mostrou em sua casa. Os professores tentam controlar as vaias, mas a banda toca a música até o fim.
Após o evento não consigo falar com ele, precisamos ajudar na organização final. Mas ao concluirmos, ele me espera na saída apoiado na moto como sempre, me despeço do Lucas e subo na moto.
- Você é louco - eu falo tirando o capacete ao chegar em casa - falar aquilo na frente de todo mundo.
- Eu queria falar só pra você - ele fala - mas tinha "alguém" que estava me evitando.
- Agora todos na escola sabem – falo apreensivo.
- Não ligo pra isso – ele diz com um sorriso de lado – Não me importa o que pensam.
- Estava lhe evitando com razão - falo fingindo estar com raiva para mudar de assunto.
Antes dele responder minha mãe, chega com Heitor.
- Tem certeza que fez a coisa certa? - pergunta Heitor ao cumprimentar Élio – Não me pareceu muito sensato.
- Não pensei muito na hora. Agi mais pela emoção – Élio responde.
Minha mãe abraçou nós dois ao mesmo tempo e disse:
- Que Deus abençoe e proteja vocês dois. Não querem entrar?
- Eu não posso Dona Lúcia, meus pais estão esperando.
- Então não deve deixar aquela mulher maravilhosa esperando - minha mãe fala já caminhando em direção à casa.
- Vocês se conheceram? - Pergunta Élio aumentando a voz para ser ouvido.
- Sim. E conversamos bastante. - minha mãe conclui e entra em casa.
- A ameaça ainda está valendo, se fizer meu irmão sofrer vou te partir ao meio - brinca Heitor enquanto também entra em casa.
- Ameaça? - pergunto estranhando.
- Duas, na verdade - ele fala me encarando.
- Quando? - pergunto sem entender.
- No dia que vim pegar você para fazer a tarefa lá em casa e hoje na escola. - ele diz - mas não se preocupe, ele quer que eu faça o que eu quero fazer: você feliz. E eu não preciso ser ameaçado para isso.
Lembrei desse dia e de como meu celular desapareceu da mochila "magicamente". Ele segura minhas mãos e me puxa ao seu encontro.
- Páris! - ele fala olhando nos meus olhos - Você quer namorar comigo?
Uma onda de felicidade toma conta do meu corpo. Meu coração acelera e, de repente, não existe mais a rua, tento abrir a boca e dizer o quanto esperei esse momento, mas as palavras teimam em não sair. Apenas gaguejo um:
- Sim. Claro que sim!
Sinto suas mãos pousarem em minha cintura e me puxarem suavemente ao encontro do seu corpo, que treme tanto quanto o meu. Meus braços involuntariamente procuram seu pescoço. E nos beijamos. E esse beijo foi diferente de todos os outros, pois sentimos nosso amor fluir. Definitivamente esse é o melhor dia da minha vida.
Quando terminamos, sinto a presença de alguém, olho para o lado e vejo Vilmar, em pé, de braços cruzados nos encarando.
Vilmar não fala nada. Passa por nós e entra em casa. Estranho esse comportamento, não faz parte da personalidade dele. Mas espero que ele me deixe em paz.
- Está tudo bem? – ele pergunta olhando para Vilmar.
- Sim. Não tem problemas.
- Ok. Tenho que ir, lobinho. - ele fala - Qualquer coisa me ligue.
Fico vendo ele se afastar, até sumir do meu campo de visão. Tenho vontade de ficar ali em pé pra sempre, para não enfrentar o que está dentro de casa. Mas infelizmente tenho que entrar.
Ouço palavras exaltadas vindo do quarto da mãe e de Vilmar. Eles devem estar discutindo novamente, será que é por minha causa?
Vou para meu quarto. Heitor está deitado de cueca, corpo ainda molhado do banho, olhando o celular e rindo, olho para os músculos de sua barriga e não deixo de pensar que sua namorada tem sorte. Meu irmão é um baita negão e ainda é carinhoso e inteligente. Rio de mim mesmo e caio na minha cama, cansado. Antes de dormir, sinto Heitor tirar meu tênis e colocar o cobertor sobre meu corpo.
Acordo na manhã seguinte um pouco mais tarde que de costume por ser sábado, olho para o lado e vejo que Heitor já foi trabalhar. Pego o celular e leio as mensagens:
"Menino! O que aconteceu ontem? Conta tudo, quero saber..." Roberta.
"Td bem? Eu acordei exausto e vc?" Lucas
"Roberta adicionou você no grupo Amados da Beta"
"Meninos, que tal um cinema para comemorar o sucesso de ontem" - mensagem da Roberta
"❤👏 Ai que tudo, eu quero miga" - postou Guilherme
" Opa, tô dentro" – Joseph
" Será que o Páris consegue levar o irmão dele, na pressa nem pude agradecer pelas palavras de incentivo" - Roberta
" Posso passar lá e pegar os dois" – Lucas
" Nos encontramos hoje às 18Hrs na entrada do shopping?" – Roberta
" 💗" - Guilherme
" 👍" – Joseph
" 🤪" – Lucas
" 👍" - Élio
Resolvo confirmar mais tarde, depois de falar com mãe e Heitor.
Helena chama na porta do quarto, veio brincar no celular. Entrego a ela e vou à cozinha tomar café, encontro Vilmar, viro e volto para o quarto, mas ouço sua voz estridente:
- Ei, moleque, vem aqui, quero falar contigo.
Penso em fingir não ouvir e voltar para o quarto, mas cedo ou tarde teremos essa conversa, então que seja agora.
- Escuta aqui, seu viadinho, se tu pensa que vai avacalhar a minha família está muito enganado. - Começa Vilmar gritando.
- Eu não estou avacalhando ninguém. - tento me manter calmo.
- Ah! claro. Por que os viadinho tem direito e blá blá blá. Na minha casa não, aqui você vai ler na minha cartilha.
- Eu não vou fingir ser uma pessoa que não sou. – falo um pouco mais alto.
- Você vai ser o que eu quiser - grita Vilmar levantando, batendo com os dois punhos na mesa e continua - enquanto você viver embaixo da minha casa, você vai fazer o que eu mandar. Essa é a minha família, e todos vocês têm que me respeitar, sua bixinha desprezível.
Ele fala enquanto se aproxima. Levanto e vou em direção ao quarto, ele me puxa pelo braço e me joga no chão. Coloca o pé no meu peito e começa a tirar o cinto.
- Volta aqui! Quem tu pensa que é para me virar as costas? O que tu precisa é de uma boa surra, pra deixar de ser mimado e agir feito homem - diz ele aos berros.
Tento sair, mas não consigo, ele é forte e me prende ao chão. Ele tira o cinto. Protejo minha cabeça com os braços, fecho os olhos e espero a primeira pancada, mas ela não vem, abro os olhos devagar e vejo Heitor segurando a mão do Vilmar.
- O que está acontecendo aqui? - Heitor pergunta.
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