CAPÍTULO XL - PÁRIS E SEUS AMIGOS

Hoje é a festa do encerramento do ano letivo do CEMA e eu não sinto a mínima vontade de ir. Guilherme se afastou da nossa turma porque está se sentindo excluído; Roberta ficou muito mal por se sentir culpada e não está com cabeça para festa; Joseph foi pra casa dos avós com os pais; Lucas viaja hoje para a Coréia com Senhor Hyun; Heitor vai fazer a matricula na faculdade e volta hoje ainda, mas disse que não vai pois tem muito o que organizar para a viagem.

Resumindo, apenas Élio e eu estaremos lá, e talvez não seja tão agradável assim. Mas quem sabe tenha algo mais interessante que possamos fazer essa noite.

Começo a me preparar cedo, tomo um banho bem demorado, organizo a mochila e vou falar com minha mãe.

- Mãe – começo, ela coloca o livro que lia ao seu lado no sofá e me dá atenção. – como Lucas não vai pra festa da escola, eu posso dormir na casa do Élio hoje?

Ela segura minhas mãos e pensa um pouco olhando em meus olhos, depois pergunta:

- Você está preparado para isso?

- Sim, estou – respondo.

Ela me abraça forte.

- Você tem tudo o que precisa? – ela pergunta me soltando.

- Acho que sim! – respondo apontando a mochila com a cabeça.

- Meu filho, a qualquer hora que mudar de ideia você pode me ligar, eu vou dar um jeito de pegar você. Não faça nada que você não queira.

- Obrigado, mãe. Se precisar eu ligo. E como está seu lance?

- Estamos nos conhecendo devagar. Não quero ir rápido demais. Mas até agora está sendo maravilhoso.

- Que bom, mãe, fico feliz. Espero que dessa vez tenhamos sorte.

Alguém bate na porta e vou abrir. É o Élio. Ele veio mais cedo pois tinha algo para me mostrar e eu estava curioso. Pego a mochila e saio, ouço minha mãe falando:

- Élio, cuide bem do meu bebê.

- Ele estará em bons braços, quer dizer, em boas mãos. – ele fala e ri.

Na casa de Élio, encontramos Dona Isabel no sofá, que fica muito feliz ao me ver. Aline não está em casa.

- Mãe, o Páris vai dormir aqui hoje – Élio diz depois dos cumprimentos.

- Já mandei organizar seu quarto, a Lúcia me ligou informando – não deixo de rir internamente ao saber disso.

No quarto há um colchão no chão ao lado da cama, bem organizado e macio. Sob ele, uma caixa de presentes.

- Minha mãe foi comprar o meu e o da Aline, aproveitou e comprou o seu também. Vou logo avisando que se recusar será uma ofensa. – ele deitou na cama e ficou me observando.

Pego a caixa e coloco sob as pernas, tiro a tampa e um papel de seda que havia. Encontro duas calças, duas blusas sociais e dois paletós, um branco e um preto, bordado na parte direita dos paletós e blusas há o brasão com o símbolo do CEU- Colégio Elisa Uchôa.

Fico tão feliz com o presente que não presto atenção no que ele fala, mas quando a euforia passa, algo me chama atenção.

- Espera! Você disse que sua mãe foi comprar o seu uniforme? – pergunto sem acreditar.

- Isso mesmo, vamos nos transferir para o CEU, estudaremos juntos no ano que vem.

Coloco a caixa no colchão e deito sobre ele na cama. Nossas línguas se cruzam num beijo intenso, faço carinho com a mão por trás do seu pescoço, na sua nuca, o seu ponto mais sensível. Sento no seu colo e fico admirando aquele ser que eu tanto amo.

- Precisamos nos arrumar para a festa – ele fala me encarando.

Olho aqueles olhos castanhos penetrantes, tão misteriosos quanto o sorriso de Monalisa.

- Eu não quero ir para a festa – falo desabotoando sua blusa devagar e exibindo seu peito branco e macio como a neve da manhã.

- E o que você quer fazer para substituir a festa? – seus olhos agora brilha como uma estrela solitária na imensidão do universo.

Saio de cima dele e caminho até a porta, tranco a fechadura e falo:

- Poderíamos fazer a festa só a gente!

Ele termina de tirar a blusa, se aproxima e me beija. Seu beijo agora está diferente, mais quente, úmido, forte. Ele sai da minha boca e vai para meu pescoço. Sabe que ali é o meu ponto mais sensível. Sinto seu cheiro doce e amadeirado, seu calor e a textura da sua pele. Tudo nele me atrai, me puxa, me suga. Ele pega minha mão e me leva de volta para a cama.

- Você tem certeza? – ele pergunta olhando nos meus olhos.

- Sim. Você não quer? – pergunto com medo da resposta.

- É o que mais quero nessa vida – ele responde sorrindo.

Deito na cama e começo a ver estrelas. É um momento mágico, tenho sensações que nunca imaginei sentir na minha vida. Sinto todo seu amor por mim e tento mostrar todo o meu amor por ele.

Quando terminamos, ficamos abraçados. Eu estou suado e exausto, mais completamente feliz.

- Quer tomar banho comigo? – ele pergunta acariciando meu queixo.

- Sim – respondo, e tenho certeza que meus olhos e sorrisos entregaram minha felicidade.

No banho brincamos, sorrimos, beijamos. Curtimos essa noite inesquecível que estamos vivendo juntos.

Quando saio enrolado em um roupão do Élio, pego meu celular e vejo três ligações e uma mensagem do Guilherme, também tem uma ligação do Lucas. Abro a mensagem:

"Páris, socorro! Preciso da sua ajuda, aprontaram comigo, me ajuda meu amigo"

Ligo rapidamente pra ele, mas cai direto na caixa de mensagens. Élio sai do banheiro rápido e fala:

- Guilherme precisa de ajuda. Ele está sozinho na Praia dos Afogados. Vou buscar ele.

- Eu vou também.

Nós nos vestimos rápido e saímos. A caminho ligo para Lucas para saber o que ele quer.

- O que você estava fazendo? – ele pergunta do outro lado da linha.

- Eu estava na casa do Élio – respondo estranhando o tom da conversa.

- Isso eu sei! Olha o Guilherme foi abandonado numa praia e precisa da nossa ajuda.

- Já sei. Estamos indo pra lá. Você sabe o que aconteceu?

- Algo com o namorado dele, não entendi direito. Vocês estão indo pra lá? Eu estou quase chegando...

- Na Coréia? Quando chegarmos lá te dou notícias. Não se preocupe.

- Não. Estou quase chegando onde ele está. Não fui pra Coréia.

- O que? Por quê? – perguntei surpreso.

- Vou esperar vocês aqui. Quando vocês chegarem, a gente conversa – e desliga.

Quando chegamos, vemos a praia deserta, longe da cidade, aproximadamente uma hora. Nenhum ser vivo até onde a vista alcança, com exceção de dois garotos sentados na areia. Guilherme está chorando e Lucas, ao lado, sem saber o que fazer.

Abraço Guilherme que retribui. Élio também nos abraça. Lucas fica do lado olhando até Élio puxá-lo pela blusa e ficamos assim por um tempo, sem nada a falar, apenas dando o apoio que o Gui necessita.

Vejo um carro passar ao longe na estrada. Estamos caminhando em direção ao carro quando uma moto com duas pessoas para na pista. Reconheço a moto e, quando o passageiro tira o capacete, eu tenho certeza: Heitor e Joseph na moto do Senhor Geraldo.

Eles correm até nós.

- Está tudo bem? – pergunta o Joseph se aproximando.

Heitor passa por ele e dá um abraço em Guilherme.

- Desculpe, eu não vi sua mensagem há tempo – ele fala ainda abraçado.

- Eu vou contar o que aconteceu – Guilherme fala olhando para cada um de nós.

Sentamos todos na areia novamente. Antes de Guilherme começar, para novamente um carro e Roberta sai de dentro. Ela nos avista e corre em nossa direção, Guilherme corre ao seu encontro e eles se abraçam, demoradamente.

- Eu não imaginei que todos vocês estariam aqui, eu achei que ninguém viria – começa Guilherme. – Eu me iludi pelo Tarcísio, estava cego por ele. Depois de tudo o que ele fez, eu já estava pensando em terminar, mas ele me convidou para um jantar romântico, eu aceitei e ele me trouxe para cá. Quando chegamos aqui, ele queria transar comigo, eu não queria, ele insistiu e começou a ficar agressivo, eu corri, não sabia para onde, mas corri, ele foi embora e me deixou aqui.

Roberta o abraça. E ele continua:

- Meu celular estava quase descarregando, fiquei com medo de ficar aqui sozinho e não queria ligar para meus pais. Então liguei para Roberta, a primeira pessoa que me veio à cabeça. Mas caiu na caixa postal. Deixo um recado e desligo o celular.

- Eu saí com umas amigas – justifica Roberta – e meu celular descarregou. Quando chego em casa, coloco pra carregar e ouço a mensagem. Ligo de volta e cai na caixa postal, ligo para o Joseph para pedir ele que viesse ajudar, mas ele não atende, então peguei um Uber e vim.

- Pra mim? – pergunta Joseph pegando o celular. – ah, estou vendo agora, acho que já estávamos vindo.

- Como fiquei com medo do celular descarregar e a Roberta não ler a mensagem, eu liguei para o Élio, ele poderia vir me pegar, mas ele também não atende. – continua Guilherme.

- O celular estava no silencioso e eu estava ocupado - justifica Élio.

- Depois eu liguei pro Heitor, que foi mais um que não atendeu.

- Desculpa, Guilherme – começa Heitor. – eu cheguei cansado e acabei dormindo. Quando acordei liguei de volta e não deu certo, vi uma mensagem do Lucas com essa localização, liguei de volta para Joseph, que também tinha ligado e viemos pra cá.

- Eu já estava ficando triste. O medo de ficar aqui estava aumentando quando liguei pro Páris.

- Eu também estava ocupado, e o celular estava no silencioso. Desculpe, amigo.

- No desespero, eu liguei para o Joseph. Na esperança dele encontrar a Roberta. Mas quem atendeu foi Dona Margarida, sua mãe, dizendo que ele tinha ido jogar futebol e tinha deixado o celular em casa.

- Minha mãe é muito preocupada com essas coisas. Ela mandou meu irmão me chamar, liguei de volta e caiu direto na caixa postal. Liguei pra Roberta e também aconteceu o mesmo. Minha mãe ficou preocupada e mandou eu vir para ajudar. Assim que cheguei na rodoviária liguei pro Heitor, caiu na caixa postal, mas ele retornou pouco tempo depois, expliquei o que tava acontecendo, ele passou lá, e depois viemos pra cá. – explica Joseph.

- Finalmente liguei para o Lucas, mesmo sabendo que ele não poderia ajudar muito por está em outro país. Ele atendeu e eu contei o que estava acontecendo e, antes dele responder, meu celular desligou.

Olhamos para o Lucas, de todos ali ele era o que gerava mais curiosidade, ele fica constrangido com tanta atenção mas começa a falar:

- Na hora que o celular tocou, eu estava entrando no túnel de embarque, ouvi o Guilherme e depois achei que ele tinha desligado, liguei de volta e não consegui. Já dentro do avião, procurei a localização dele no laptop e vi que estava nesse local deserto. Imaginei que algo errado estava acontecendo, liguei para o Páris que não atendeu, mandei a localização para o Élio e Heitor porque são os únicos que têm transporte. Disse para meu pai que não podia ir pra Coreia com ele, peguei minha mochila e saí correndo do avião.

Ninguém fala nada, estamos completamente surpresos nesse momento.

- Esse não é o Lucas, um ET abduziu o corpo dele, tenho certeza. – brinca Joseph.

- Provavelmente ficarei de castigo pelo resto da minha vida, mas sou eu sim, e não me arrependo. Não poderia deixar um amigo em apuros e sei que fariam o mesmo por mim – fala Lucas.

Todos rimos e alguns bagunçam o cabelo dele.

- Gente, muito obrigado por estarem aqui. Pensei que estavam com raiva de mim, que não me queriam mais entre vocês, depois do que fiz e falei.

- A culpa também foi nossa, por não percebermos o seu sofrimento. Estávamos magoando você e não nos demos conta. Espero que me perdoe! – Roberta o puxa para um abraço.

-Está tudo perdoado, como não perdoar meus melhores amigos? – Guilherme nos puxapara o abraço.

Ficamos ali sentados na areia, quando Guilherme se levanta e fala:

- Gente me desculpe, mas eu preciso fazer isso – ele tirou a roupa ficando só com uma cueca pequena preta, que realçava sua pele clara, e correu para o mar, mergulhando e emergiu gritando.

Começamos a rir dele quando Heitor diz:

- Ah! Foda-se! – também tirou sua roupa e correu para o mar.

Joseph e Roberta se olham e fazem o mesmo, seguido por Élio que me dá um beijo na minha bochecha e sai correndo. Olho para o Lucas e falo:

- Sua vez!

- Tá louco! Tô muito bem aqui. Pode ir se quiser – é a resposta.

Fico ali, sentado na areia, com meu melhor amigo do lado, amizade que começou na sala de aula, mas que vou levar pra vida toda. Posso dizer que o amo, pois amizade também é um ato de amor.

Vejo os outros brincando na água e lembro de como cada um deles foi importante para mim nesse ano. Posso chamar cada um de amigo, com suas características próprias que os diferem dos demais, mas que os tornam únicos. Lembro-me do Aloysius e sua comparação com o arco-íris e entendo o que ele queria dizer: cada um com sua beleza e força, mas juntos ficamos mais belos e mais fortes.

Diza lenda que quem chegar ao fim do arco-íris encontrará um pote cheio de ouro. Euencontro, enfim, algo mais valioso: a amizade...

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top