CAPÍTULO VII - ROBERTA
Uma semana se passa desde a conversa com o Élio. Nesse tempo nos encontramos aqui em casa todos os dias para ajudar com seus trabalhos e tarefas da escola. Hoje é o dia de apresentar o seminário de Biologia e, apesar de eu ter insistido muito, ele não me disse como está sua parte. Quanto a minha, fui três vezes à casa do Joseph e deixamos a nossa parte incrível, pelo menos é o que achamos. Ele enviou a pesquisa para os outros meninos da equipe por e-mail.
Continuo conversando com Lucas no intervalo das aulas, sempre no mesmo lugar, ao fim do corredor do Bloco B. Ele é mais extrovertido do que eu imaginava, é muito engraçado e eu me divirto muito com suas brincadeiras. Os slides e os vídeos que ele criou para o seminário ficaram fantásticos. Ele é realmente muito bom nisso.
Apresentar seminário nunca foi fácil, já aconteceram várias coisas esquisitas nas minhas tentativas, desde gaguejar até sair correndo da sala, mas dessa vez estou confiante, tenho ensaiado muito em casa com minha mãe, até Heitor e Helena serviram como vítimas para assistir o "ensaio assassino".
Estamos na arquibancada da quadra esportiva, Joseph e eu, esperando os outros que ainda não chegaram. Os seminários serão apresentados na próxima aula e já estamos apreensivos.
- Cadê esses caras que não chegam? – pergunta Joseph preocupado. – Será que aconteceu alguma coisa?
- Acho que não! – respondo tentando esconder meu nervosismo para não aumentar o dele. – eles devem estar chegando. Calma!
Roberta entra no ginásio, procura alguém e nos avista. Vem caminhando em nossa direção. Roberta é a melhor amiga de Guilherme, sempre senta à mesa com ele, tem 15 anos como a maioria de nós, conhece o Guilherme, o Joseph e a Luara desde o Ensino fundamental. É gordinha, ou melhor, gorda, já que ela não gosta de ser chamada de "gordinha", mas está muito bem com isso, pois para ela o importante é como a pessoa se sente, não como os outros a veem. Ela se veste muito bem, é engraçada e pratica artes marciais.
- E então meninos, como está o seminário? - ela pergunta enquanto senta ao meu lado.
- Acho que está legal. - Joseph responde. - mas estou preocupado com os outros não chegarem a tempo e estragarem tudo.
- Cadê o Guilherme? Ele veio comigo. - diz Roberta procurando.
Joseph olha para Roberta cada vez mais nervoso, tira o celular do bolso e se afasta discando.
- Fica tranquilo - fala Roberta tentando me acalmar - Vai dar tudo certo! Eles não vão furar com vocês.
Preocupado e sem ânimo pra conversar, apenas dou um sorriso.
- Eu queria ter ficado na equipe de vocês. - Ela continua - melhor do que participar da equipe das patricinhas.
Começo a rir, mais pela forma com que ela falou do que o que ela disse, e isso me relaxa. Ela se aproxima cada vez mais e fala em tom de segredo:
- Você acredita que a Mônica, aquela patricinha da primeira fila, tá afim do Élio? Pobre Élio, merece mais do que aquele projeto de socialite no pé dele.
Ela levanta, fica no alambrado olhando para a quadra e continua a falar, mas sua voz já não chega aos meus ouvidos, vou ouvindo-a cada vez mais distante. Meu peito começa a esquentar, é uma sensação estranha, inexplicável, deve ser apenas ansiedade pelo seminário. Tento me manter calmo a tempo de ouvi-la dizer:
- Aí vem o Lucas - ela começa a se afastar devagar. De repente para e olha pra mim - Acho que o Élio devia ficar com alguém do nosso grupo, combina mais com ele. - ela sorri, dá uma piscadinha, se vira e sai em direção ao Lucas.
Roberta encontra Lucas no meio da quadra, fala alguma coisa pra ele, depois o abraça e sai. Ele continua vindo em minha direção.
- Nossa cara! - ele fala assim que chega - você está branco! O que aconteceu?
- Só estou ansioso pelo seminário - respondo. - Por que demorou tanto?
- Tive problemas para renderizar o vídeo, mas agora está tudo bem. Cadê os outros?
- Joseph está nervoso ligando para vocês.
- Eu sei. Ele me ligou 8 vezes em 10 minutos. Cabecinha quente hein! - Ele faz uma careta enquanto fala a última frase.
- Guilherme atendeu uma vez - Fala Joseph se aproximando e olhando para o celular - e disse que estava indo na casa do Élio. Agora nem ele, nem o Élio atendem.
- Calma cara! eles devem estar vindo. - tento acalmá-lo.
Roberta aparece no portão do ginásio e avisa que o professor está chamando, nos olhamos assustados e vamos para a sala com o Joseph ligando mais uma vez.
Como 3 equipes já haviam apresentado na aula anterior, faltavam apenas 3 para apresentar nessa aula. Por ordem de sorteio seríamos a segunda, enquanto isso Élio e Joseph tem tempo para chegar.
Durante a apresentação da primeira equipe, Lucas levanta da mesa e senta ao meu lado, discretamente me entrega o celular e leio uma mensagem do Élio: "Acalmem a fera, estamos resolvendo um problema e já chegamos". Olhei pro Lucas que levantou as sobrancelhas e voltamos a prestar atenção no seminário.
Chegou a nossa vez. Joseph olha pra gente com cara de desespero, nos levantamos, Roberta me puxa pela mão e me deseja boa sorte. Vamos para a frente da sala e Lucas conecta o laptop. Joseph está visivelmente angustiado. Quando o professor diz "podem começar" ouvimos um grito vindo do corredor:
- Esperem!
Depois de um instante, Guilherme aparece na porta, segurando dois instrumentos musicais.
- Professor, espere, temos que montar nossos instrumentos – ele fala com a respiração ofegante.
Depois de Guilherme, entra Élio com uma caixa amplificada e duas garotas, uma empurrando uma bateria em uma espécie de carrinho e a outra com as mãos cheias de fios elétricos.
Nesse instante olho para Joseph e Lucas e percebo que eles estão tão surpresos quanto eu. Ficamos olhando-os montarem seus instrumentos, o que não demora muito por que parece que já estavam quase finalizados.
Joseph começa a apresentação fazendo a introdução do seminário. Guilherme dá continuidade e, em seguida, é minha vez. Olho para a frente e vejo toda aquela turma me olhando, engulo um seco e olho para o papel nas minhas mãos, que anotei caso isso acontecesse, as letras parecem que ganham vida e se entrelaçam uma nas outras, olho para trás e meu olhar instintivamente procura o Élio. Ele pisca e sorri, olho para Lucas e ele acena que sim com a cabeça, olho para o papel e começo a ler enquanto vejo Élio vindo em minha direção. Ele para do meu lado, bem próximo, o que me deixa mais seguro, respiro fundo e começo a falar o texto da maneira que ensaiei em casa. Ao terminar é como se um peso enorme saísse das minhas costas.
Lucas passa o vídeo de animação que ele criou e Élio encerra a apresentação cantando uma paródia da banda Evanescence sobre o sistema reprodutor. A sala vai ao delírio e no fim da apresentação todos aplaudem.
Voltamos aos nossos lugares para assistir à apresentação da última equipe. Élio vem depois de se despedir das suas amigas que ajudaram a tocar a paródia. Ele chega todo sorridente e senta ao meu lado.
Após a apresentação da última equipe, o professor anuncia as notas e a nossa equipe é a única a fechar um dez. Começamos a gritar e a comemorar. Saímos da sala ainda comemorando e, no pátio, Élio me convida para tirar uma foto e depois me abraça. Nesse momento, meu coração se acalma, não vejo mais ninguém, as pessoas, a escola, todos somem. É só Élio, eu, o abraço e essa felicidade que toma conta de todo o meu corpo.
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