CAPÍTULO 2: A fuga


  No dia seguinte, o clima já estava mais denso. Ventos fortes vindo do oeste, as folhas caiam e algumas gotas já estavam caindo dos céus. Seria mais um dia normal para aqueles sete (ou seis) Magos. A Chácara, bem cuidada como sempre, já estava a espera de seus sábios. O Conselho, marcado para as 17h00 daquele dia, já contavam com alguns presentes. Da esquerda para a direita: Omom, Falsan e Prosne já estavam em suas respectivas cadeiras velhas e antigas. Faltavam alguns minutos para o início, mas os três já estavam por lá. 

  Prosne se levantou de sua cadeira, colocou seu velho chapéu e saiu. — Ainda está cedo. Vou respirar ar puro, companheiros.

  Caminhando pelo bosque, Prosne encontrou Elthenkai fazendo o caminho para ir ao Conselho. — Ora! Se não é meu velho amigo. — Prosne, sua mania de chegar cedo...

  Prosne estendeu seu cajado e impediu a passagem de Elthenkai. — Está preocupado com algo, não está? Não pense que pode enganar outro mago, caro. — Fal. Há dias não o vejo. Já não sei o que pensar...E se ele se rebelar contra nós? Ver em mim a imagem de um vilão? — Meu velho e bom amigo, você fez a sua parte. O que acontecer a partir de agora, não terá dedo seu. Você não pode fazer nada. Livre-se desta culpa, homem! — Eu não tenho coragem para detê-lo. Se ele nos virar as costas, serei um peso morto. Não terei peito para enfrentá-lo nas sombras. — Amigo, amigo...Quantas batalhas já travamos juntos? Não se preocupe com isso. Nós, e principalmente eu, estarei aqui. Se necessário, façamos o serviço sujo. — Não diga isso, Prosne. Soa pesado demais. - Concluia Elthenkai, nitidamente transtornado com a situação.

  — Ah, vá em frente. Eu vou fazer uma rápida colheita antes de ir.

  Prosne seguiu em frente, mas Elthenkai não ficara para colher suas deliciosas frutas roxas. 

  Poucos metros atrás, estava Fal. Com sua franja caída sobre o olho esquerdo. Sua índole já não era mais a mesma. — Elthenkai... —Você nunca me chamou assim, meu jovem. - Responde o velho Mago com sua voz tranquila.

  — O homem morto nas minhas memórias...O assassino, seu rosto está moldado nas ruínas atrás das sete cadeiras do conselho. Não me diga que um dos heróis do Reino matou meu pai? Pois eu sou a criança que engatinha nos surtos. Você sabe do que estou falando! - Exclama. — Fal, meu jovem...É uma longa história...Deveríamos debatê-la outro dia. O tempo já não nos quer aqui fora.

  — Então eu vou direto ao ponto. - Numa fração de segundos, Fal já sumira da vista de seu mestre. Entretanto, ele não havia ido embora de vez. Rumou a Chácara. Ponto vital da história.

  É claro que nada disso havia chegado aos ouvido dos Magos - somente Prosne estava mais ciente da circunstância - e muito menos de outras criaturas mágicas. O Vale, então, sequer sabia do que estava acontecendo do outro lado. 

  Elthenkai partiu para a Chácara ciente de que Fal havia partido para lá, também. Preocupadíssimo com a situação, Elthenkai já não sabia o que era o certo a se fazer naquele instante.

  No Conselho, Prosne já havia voltado. Estava arrumando sua cadeira para se sentar. Neste segundo, Fal sobe a curta escada e adentra a Chácara. Sua presença já não era mais a mesma. Omom, Falsan e Prosne olharam de repente e viram a figura de Fal se aproximando. Omom, aos poucos se levantava da sua cadeira, já esperava o pior. Ao levantar a mão direita para pegar seu cajado, Fal abriu a boca. — Sem armas, senhor. Não venho para batalhar, venho para ter respostas. — Pois, diga, Fal, estamos à sua espera. - Abaixava sua mão calmamente.

  — Venho saber sobre o terceiro homem das ruínas atrás de vocês. Constam 7, creio que sejam uma geração passada de Magos do Conselho. Qual sua ligação com meu passado? - Indagou.

  — Ora, ora...Refere-se a Valamar, o Heróico. — Não me importo com sua alcunha, senhor. Vá ao ponto.

  Falsan ajeitou seu chapéu marrom, olhou delicadamente para os dois e assumiu uma postura duvidosa em relação ao clima do ambiente.

  — Seu pai, meu jovem. Era um Mago de absoluto poder e sabedoria. Ajudou muitas pessoas, fez grandes trabalhos ao lado do Conselho. Definitivamente, um dos grandes da nossa classe.

  — E foi assassinado sem se defender, não é isso? O homem assassinado nas Montanhas em minhas lembranças. É ele, não é? - Fal já mostrava repulsa a classe naquele instante.

  — Seu pai se perdeu nas sombras. Mexeu com criaturas erradas, se tornou um usuário de magia negra. - A mansidão nas falas de Omom beiravam o ridículo. Uma situação complexa, e o velho mago parecia contá-la como se fosse um conto para crianças dormirem.

  — Há quanto tempo estão ocultado isso para mim? — Ora, sua memória foi apagada para preservá-lo do pior, meu querido.

  — Há algo pior que ter crescido sem pais, sem amigos, privado de todo o mundo e depois de anos saber que seu pai foi assassinado por aqueles que ele tanto ajudou? - Neste momento, Fal já adotava uma postura semelhante a um Mago das trevas. O jovem retirou o broche do Conselho do peito e o arremessou ao chão.

  — Que os Deuses antigos os perdoem pelas atrocidades que cometeram, pois eu não irei perdoar. - Fal deixou seu cajado de lado e num lapso de fúria deixou o local.

  Ao partir, passou entre Pize, Nat-Rum e Falsan que estavam chegando. Os três ficaram sem entender nada do que estava acontecendo. 

  Os três adentraram ao Conselho. Prosne, puxou seu cajado e assumiu a responsabilidade. — Eu vou atrás dele. - Prosne saiu em direção ao bosque. Minutos depois, Elthenkai chegara ao Conselho. — Perdoem-me, onde está ele, onde está, onde ele foi!? - Estremecia o mestre de Fal.

  — Prosne foi atrás há alguns minutos, Elthenkai. Se acalme, homem. - Dizia Omom.

  Elthenkai recolheu seu cajado e deixou a fala no ar. — Temo pelo pior.

  O perigo real se aproximava. Fal já estava distante, próximo a Floresta Morta. Sentindo fortes dores de cabeça e querendo ou não, temendo pelo seu passado que estava sendo aberto para ele mesmo. Ao passar da caminhada, a odor forte da floresta aumentava. A neblina era maior, o clima era desagradável e muitas criaturas das trevas poderiam frequentá-la.

  — Você não vai passar! - Ouve-se o grito de Prosne ao fundo. Já dentro da Floresta Morta, o Mago alcançou-o.

  — Eu já disse. Estou fora do grupo. Não faço parte de um conluio de assassinos mentirosos.

  Prosne caminhava lentamente em direção ao garoto e com autoridade afirmou ao garoto. — Você sabe por qual motivo essa floresta está amaldiçoada? Criaturas boas não habitam-na. Nada cresce por aqui como se vê. Seu pai fez isso com ela. — Está mentindo novamente? 

    — Creio que seja seu fim. Foi bom enquanto durou. — Besteira. Você está em seu túmulo!

  Prosne ergueu seu cajado, mas fora apunhalado pelas costas. A figura de Fal desapareceu a sua frente, e com muito sangue, Prosne se virou. 

  — Magia Negra...Como pôde fazer isto, seu...Desde quando começou com isso? - Dizia demoradamente o Mago.

  — Nunca foi minha intenção. Eu só não posso conviver com as pessoas que ocultaram a verdade de mim. Preciso partir. - Os cabelos de Fal deram uma leve escurecida, e em choque, o Mago, que agora era um servidor das trevas, sumiu na neblina em diante.

  Horas depois, Elthenkai chegara ao local. Trêmulo, ele vê o chapéu de seu amigo ao chão. Mais a frente, o corpo.

  Ele corre, segura-o, que abre os olhos por uma última vez. — Amigo, está perdido. Ele está nas sombras. Não há mais o que possamos fazer. Eu fracassei em lhe ajudar. Ele sequer precisou de seu cajado para me confrontar... Eu só peço perdão.

  Elthenkai reflete com seu amigo em seus braços. Seus olhos, marejados. — Não faça isso comigo, homem. Abra os olhos! Continue conosco.

  Elthenkai fechou os olhos de seu amigo. Balbuciando, o Mestre de Fal se levantou com o companheiro em seus braços e se retirou da Floresta Morta.


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