- Kei, parabéns pelo trabalho. - O homem todo vestido de jeans até para o trabalho falou de forma elegante. Seu cabelo ajeitadinho para o lado brilhava de tão bem ajustado.

- Obrigado. - agradeceu sentado na cadeira de frente para a longa mesa da Comissão.

- Você é a prova do sucesso do programa. - O homem lhe observava por trás dos papéis empilhados. - O presidente ficaria orgulhoso se estivesse vivo.

Kei acenou concordando.

- Logo teremos que renovar o seu contrato.

O homem ajeitou o cabelo pela quarta vez e continuou:

- Nossos negócios com Todoroki Enji caminham bem, há o que se falar em expansões e todos estão satisfeitos com a compra da empresa de Yagi. Contudo, queremos nos focar na parceria Comissão-Todoroki. Soube que a ligação de vocês é bem forte. Uma excelente amizade?

- E como.

O homem limpou a garganta com o punho fechado sobre a boca e disse:

- O Senhor Fujiwara gostaria de encontrar você novamente, Takami.

- A Comissão quer esse encontro? - Kei perguntou despreocupado com as mãos nos bolsos.

- Ela não tem nenhum interesse, porém Fujiwara insiste em encontrá-lo, disse que você é um jovem de ouro. Não é contagiante?

- Não acho. Ele é um velho chato.

- Que absurdo, Takami.

- Me chama só de Kei, Tsunagu. - o loiro interrompeu.

- Se você prefere assim. - Tsunagu acenou concordando. Um perfeito cavaleiro. - Que absurdo, Takami. Onde estão seus modos? Fujiwara tem muito a ensinar.

Kei suspirou:

- Ele só quer que eu chupe o pau dele de novo.

- Você faz esse tipo de coisa?! - Tsunagu ficou ultrajado.

Kei deu de ombros tão calmo quanto antes. O homem não parecia ser capaz de conceber tal ideia.

- Eu enjoei dele. Ele é do tipo que vai ficar chantageando e não larga do osso...

- Keigo como sempre brincalhão. - Um homem no final dos trinta anos e com cara de extremamente cansado entrou na sala de reuniões.

- Brincadeira?! - Tsunagu olhou para o recém chegado em seu terno amassado e gravata frouxa pretos.

- Meu humor é um pouco ácido. - Kei concordou dando uma piscadela para Tsunagu. - Não ligue muito.

- Nunca entendi essas anedotas de baixo calão e conteúdo sexual. - Tsunagu explicou. - Porém, estamos em uma sociedade moderna e não colocarei minha vontade sobre o seu senso de humor. Por favor, continue com suas piadas.

- Uau. - Kei riu.

- Jeanist - Mera chamou o colega de trabalho pelo apelido -, você já terminou os assuntos com Keigo?

- Sim, todos os formulários foram revistos. Desempenho excelente.

- Hm. - Mera cansado. - Você pode dar um momento para mim e ele? Temos que repassar alguns contratos.

- Claro. - Jeanist meneou e com classe deixou a sala com sua pasta jeans embaixo do braço.

Assim que ele fechou as amplas portas, Mera se jogou na cadeira que aquele ocupava.

- Aaaaaa. - resmungou com as mãos sobre a cara, o cabelo bege estava cheio como se ele não tivesse dormido bem. E não dormiu. Mera sempre sempre era usado para excesso de trabalho e ele não era um viciado nele. - Preciso de uma folga! Esses putos!

Mera tirou o microfone da orelha e o largou sobre a mesa nos inúmeros papéis:

- Eu tenho que resolver toda essa merda hoje. - Encarou sem o mínimo entusiasmo toda aquela papelada. - E ninguém quer me contratar um assistente! Não recebo um aumento faz dois anos! Um dia vou me demitir e me mudar para o Caribe. Aaaaaaaa.

- Tô com tempo livre, posso ajudar se quiser.

Mera fitou Kei, a postura e ombros do homem continuavam caídos como se todo aquele trabalho o inclinasse mais e mais. As bolsas embaixo dos seus olhos faziam com que parecesse mais magro do que era.

- Você entrou em contato com a sua mãe?

- Não. - Kei respondeu a verdade - Ando bem ocupado - mas não o motivo.

- Acredito que sim. Ela está recebendo os cheques adequadamente. - Ele limpou a garganta claramente desconfortável: - Recentemente, chegou um envelope para a família Takami.

Kei achou muito incomum.

- Conversei com o restante dos conselheiros do programa e eles decidiram não lhe contar, porém, eu acho melhor você saber - Apoiou os braços cansados sobre a mesa -... seu pai não conseguiu a apelação para sair da pena de execução.

- OK.

- Apenas isso? - O homem com os olhos pretos injetados de cafeína pareceu surpreso, mas não o suficiente para o cansaço desaparecer.

- Sim.

- Talvez devêssemos contar à sua mãe?

- Se você acha melhor. - Kei deu de ombros já entediado com o assunto. - Talvez ela fique feliz.

Mera engoliu em seco perante a frieza com que o loiro dizia tudo aquilo. Mas ele era um homem estressado e fatigado demais para qualquer assunto o deixar chocado.

- Com os meus contatos posso conseguir uma visita para seu pai.

- Melhor não, minha mãe vai dar muito trabalho para vocês.

- Eu falava sobre *você* visitar seu pai.

- Ah... - Kei compreendeu. - Não, obrigado.

- Tem certeza? Pode ser sua última chance.

- Tenho sim.

- É, siga em frente, siga em frente... - Mera repetiu o verso daquela música famosa como se tivesse a ouvido várias vezes em palestras motivacionais sobre trabalhar bem ao máximo. Desdenhou.

Logo, tirou um envelope do paletó do terno e pôs sobre a mesa:

- Eu consegui as informações que você me pediu sobre o Shigaraki. Preciso de um cigarro. - Tocou na fronte com enxaqueca. - Esse trabalho vai me matar.

Kei puxou um maço do bolso e deu para o homem, o loiro trazia cigarros todas as vezes que se encontrava com ele.

- Obrigado. - Mera já abria o pacote pegando um. - O nome completo é Tomura Shigaraki, mas o nome real é Tenko Shimura, ele é neto da Nana, você sabe quem é, lar abusivo, o pai era bem rígido, quando a irmã sumiu, Tenko fugiu de casa e virou um gansgter. Tem algumas ligações com a Yakuza, mas não é um. Tem o próprio bando e...

- Melhor amigo de Twice.

Mera chiou com o cigarro entre os dedos:

- Essa história parece que nunca some. - Espantou a fumaça com a mão. - Como você soube?

- Tenho meus contatos.

- O tal de Dabi?

- Esse seu gosto para homens... eu levantei tudo sobre esse Dabi e é como se ele não existisse. Não há nada dele de dez anos atrás. Ele brotou do nada. Não te preocupa?

Kei não respondeu. Mera continuou o relatório:

- Shigaraki tá tentando vários golpes, um maior que o outro.

- Ele tentou sequestrar Endeavor.

- Como? - Pela primeira vez Mera estava fora de algo.

- Ele chamou uns capangas para sequestrar Todoroki Enji, mas ele conseguiu escapar com a minha ajuda.

- Então você tá em risco, Keigo.

- Ele não sabe que foi eu.

- Assim como ele não sabe de você e Twice?

- Sim. - Kei concordou. - Eu frequentava um bar da área que ele controla e nada aconteceu.

- Ele tá no escuro. - Mera refletiu. - Temos vantagem se desenrolar algo... vou colocar uns seguranças perto do seu apartamento e...

- Não precisa.

- Tudo bem. Você sabe as regras.

- Twice continua internado no mesmo lugar? - Kei tirou os olhos da informação do envelope.

- Hm. Você pretende visitar o túmulo dele?

- Ele morreu? - Kei ficou em choque.

- Há alguns meses. Um surto o levou a um infarto ao menos foi o que os enfermeiros disseram.

- A Comissão? - Kei sugeriu.

- Foram os enfermeiros, bateram a cabeça dele numa tentativa de fuga. Não se sinta culpado.

- Eu não me sinto mal. Acho que esse era o único destino dele afinal... se não fossem os enfermeiros, talvez ele mesmo fizesse...

- Se ele escapasse viria atrás de você.

- Eu sei.

Mera ficou calado até chegar na metade do cigarro:

- Shigaraki pode não ter desistido de sequestrar Todoroki. Tome cuidado nesse caso de vocês.

- Sim. - Não havia nada que a Comissão não soubesse sobre si.

- Você consegue mesmo seduzir qualquer um. Por isso aquele mala do Fujiwara não sai do seu pé, toda vez que me vê só quer saber de você. - Mera riu com o entusiasmo que sua condição de saturado deixava. - Quanto tempo?

- Alguns meses.

- Ele tá se divorciando. É culpa sua?

- Não, o casamento ruiu há anos.

- Parabéns. Você conseguiu, tá com seu ídolo da infância.

Kei sorriu.

Mera deu a última baforada no cigarro e disse:

- Não se preocupe, merece um pouco de privacidade. - Descartou as cinzas dos filtro no cinzeiro e apagou o cigarro contra elas. - Não vou contar para a Comissão.

Essa foi uma surpresa para Kei. Traria mais cigarros e cafés para Mera.

Gostaram do capítulo surpresa?
Grandes revelações hoje!
Deixem seus comentários, elogios, críticas e teorias! Voltei para dizer que a música que o Mera faz referência é Bohemian Rhapsody. Obrigado por lerem! Bjinhus e até o próximo capítulo!