Respeito e gratidão

— Um ano depois meu pai foi preso e Satoshi apareceu no orfanato dizendo que conseguiu um jeito de pagar a dívida que tinha comigo. Não demorou para eu entrar no programa estudantil da Comissão.

Kei falou muita coisa apenas naquelas duas horas. Não conseguia sequer pensar nelas direito.

— Eu fiz tudo dentro das minhas possibilidades e do que a Comissão permitia para ser alguém melhor como você dizia nas suas entrevistas. Mas merda acontece.

— O que você quer com toda essa história?

— Que você saiba tudo pela minha boca. — Kei falou se levantando da poltrona. — Você é a pessoa que eu mais amo no mundo, não quero mentir mais e acho que passei tanto tempo fingindo que nada aconteceu que achei que poderia acreditar que nada aconteceu mesmo. Mas dá pra ver que não deu certo.

— Você não viu mais o seu pai?

Kei meneou que não.

— É melhor assim. Não vai sair nada de bom dessa história toda.

— Você pensa nele?

Keigo enfiou as mãos nos bolsos e deu de ombros:

— É o meu pai afinal, penso nele, acho que não tanto quanto deveria e agora que todos sabem a verdade e eu contei tudo pra você, acho que não vou pensar mais.

Enji estava muito confuso, seu peito pesava, só de imaginar os filhos nas mesmas situações era intragável. Sua boca ficou amarga.

— Eu não espero que você entenda ou sei lá. Só não quero que fique mentiras em entre nós. Ah, o anel que eu tinha era de um professor com quem eu tive um caso no ensino médio. A parte dele noivar era verdade.

Kei tinha um pai criminoso, uma mãe viciada e testemunhou vários crimes que Enji sequer conseguia imaginar. Sua cabeça doía.

— Eu… — Enji tentou falar, mas não saiu nenhuma palavra depois disso.

— Meu pai fez uma escolha e eu fiz a minha. Já acabou. Está tudo bem.

— Tudo bem? — Revolta encheu o peito de Enji. — Ele apontou para a sua cabeça!

— Podia ser pior, ele podia ter atirado em mim.

— Ele ficou sem balas! — Enji ouviu muito bem a história. Que tipo de pessoa faz isso?!

— A arma não estava aberta e travada. É assim que a gente sabe que está sem balas.

— O que? — a expressão do acamado mudou.

— É. — Kei concordou.

Enji olhou para as próprias mãos. Abriu e fechou os dedos pesados. Kyo era um sociopata homicida com requintes de crueldade. Ouviu falar de todos os crimes terríveis que ele cometeu e mesmo assim ele… era difícil de acreditar.

— Não adianta revirar o passado quando não há nada que se possa fazer em relação a ele. O jeito é seguir em frente com o que dá. — Ele se virou e arrastou a poltrona de volta para o lugar. — E tentar melhorar. As pessoas fazem escolhas.

Enji levou a mão às têmporas.

— Agora que tudo foi explicado posso dizer que eu gostava de Kyo mesmo ele sendo um puta de um bandido. — Suspirou aliviado. — É bom falar isso em voz alta.

— Kyo é um criminoso perigoso.

— E por isso parei de gostar dele. Não conseguir melhorar é triste. Entendo isso desde aquela época, mas mesmo eu não consigo mudar em alguns aspectos.

Kei continuou:

— Tudo bem você ter nojo de mim por motivos reais agora. — Kei voltou para seu lado. — Só não queria que tudo o que restasse entre nós fossem mentiras. Porque o que eu sinto é real.

A cabeça de Enji latejava.

— Eu não dormi com Natsuo, mas acho que isso pouco importa agora. Sou filho de um criminoso afinal.

O garoto falou calmamente:

— Bom, acho que é a minha vez de fechar o ciclo e ir embora agora.

Ele sorriu, mas tudo o que havia ali era tristeza.

Kei se curvou respeitosamente:

— Obrigado pelo tempo que passamos juntos. Foi o melhor tempo da minha vida. — Os braços dele estavam juntos ao corpo e sua cabeça em paralelo ao chão. — Muito obrigado, Endeavor-san, serei agradecido por toda a minha vida.

Ele levantou a cabeça, estava orgulhoso. Seu sorriso foi sereno:

— Adeus, Endeavor-san. Adeus, Todoroki Enji. E adeus, meu rei.

Kei se virou e andou até a porta, não parou ou olhou sobre o ombro porque não tinha o que olhar e achava que Enji não gostaria que ele olhasse, além do que não queria que ele visse suas lágrimas.

Enji ficou parado vendo o garoto partir.

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