Refeições

— Por que isso tá tão verde? — Kei ergueu uma sobrancelha desconfiada para o prato.

— São legumes frescos ao vapor. — Enji disse enxugando as mãos no pano de prato que teve que comprar pois a casa de Kei não tinha nada.

— Legal. E quando ficam prontos?

— Estão prontos.

— Sério? Eles parecem verdes demais.

— Porque são frescos.

Kei olhou para o prato de volta:

— Legal. — Seus olhos brilharam: — Cadê o molho?

— Que molho?

— O molho para comer com os legumes. Cadê o frango? Vai chegar ainda?

— Não tem frango. Nem molho.

— E eu vou comer isso com o quê?!

— Essa é a refeição completa.

— O quê?! — Kei ficou totalmente transtornado da cadeira do balcão. — Você espera que eu coma isso sem nada?!

— Não espero. Você vai.

— Eu quero frango! — Kei encarava incrédulo o prato repleto de legumes e vegetais que Enji preparou para o jantar. — Não vou comer sem frango.

— Acabou frango frito para você. — Enji pegou o próprio prato e começou a comer os legumes. — Coma.

— Vou pedir frango. — Kei tateou os bolsos do paletó que Enji lhe cobriu. — Cadê o meu celular?

Tentou levantar do balcão, porém a tontura o fez desistir no início do ato. Tocou devagar o curativo na cabeça. Derrotado disse:

— Você vai ter que me levar para a cama.

Observou toda a variedade de legumes no prato, explicava o porquê Enji demorou tanto nas compras. Ele deixou Kei no apartamento assim que chegaram e foi categórico:

— Não faça nenhuma idiotice.

— Tudo bem. — Kei deitou na cama com a ajuda dele. — Você pode pegar uma calça para mim? — Até aquele momento ainda estava enrolado na toalha ensanguentada e paletó.

Enji fez o que foi pedido e lhe deu um último olhar denso antes de sair:

— Volto logo.

Agora estavam no balcão da cozinha do apartamento sentados de frente um para o outro em um jantar saudável que Enji fez com as próprias mãos. Então, seu rei também cozinhava…

— Que horas você pretende comer? — Enji irritado.

— Estou me preparando psicologicamente. — Kei não tinha ideia do nome de metade dos vegetais no prato.

— Quanto tempo você não come salada?

Kei pegou o hashi e escolheu aquela coisa comprida e verde.

— Acho que desde… desde… eu não lembro muito bem.

— E no orfanato?

— Eu devo ter comido algo assim lá, mas não foram muitas vezes.

— Desde lá você já era fresco com comida?

— Não era isso, lá não tinha verba para salada. — Kei mordeu o legume.

— Eu não sabia disso. — Na sua casa nunca faltou nada. — O que vocês comiam?

— O que davam para comer. Muito ramén instantâneo e umas carnes esquisitas.

Enji refletiu enquanto comia o jantar que fez, nunca havia pensado no assunto, apesar de sua empresa fazer doações para alguns abrigos e orfanatos. O mais perto que chegou deles foi quando sua equipe de marketing achou que seria bom ele visitar uns e dar uns brinquedos porcarias da marca infantil adquirida por seu grupo de sócios. Odiou cada segundo mais deprimente que o outro.

— Como você não adquiriu uma úlcera no estômago até agora?

Kei riu e catou uma cenoura, sua cara fez uma expressão azeda ao mordê-la, mas logo ele se recompôs:

— Eu adorava. Nunca comi tão bem e às vezes tinha frango frito. Eu pedia para repetir mesmo cheio.

— Então foi aí que começou a sua obsessão.

O sorriso congelou no rosto de Kei por um mero e quase imperceptível instante. Contudo, o garoto foi veloz em lhe dar o lustre costumeiro e perguntou:

— Qual seu prato preferido, grandão?

Ele desviou de assunto? Enji questionou-se.

— Kuzumochi. — respondeu. Se Kei não queria tocar nesse tópico, ele não tocaria. A curiosidade ficou em banho-maria nas suas entranhas.

— E você sabe cozinhar ele, meu rei?

— É claro que sei.

— Podemos comer kuzumochi?

Enji ponderou e deu a resposta:

— Sim. Farei amanhã.

— Você vem amanhã?

— Qual o problema? — Enji o olhou desconfiado, no entanto tudo o que o rosto de Kei cintilava era alegria. O homem aparecia vários dias da semana de qualquer forma, qual a diferença vir todos os dias? Ao menos o garoto idiota seria obrigado a comer decentemente no jantar.

— Nenhum. — Kei afirmou satisfeito e pegou outra porção de legumes.

O que acharam do capítulo?
Aos poucos começamos a desvendar o passado de Kei… o que será que nos aguarda futuramente?
Deixem suas críticas, comentários, elogios e teorias.
Bjinhus!

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