Próximo passo
Era muita coisa para processar e Fuyumi precisava respirar e pensar.
Natsuo estava certo sobre o pai ter um caso, só errou quanto ao gênero da pessoa. Até que Kei ou Hawks — como Natsuo — chamava o namorado do pai — era alguém bem bonito. Jamais pensou que o pai se interessaria em twinks, jamais pensou que o pai se interessaria por alguém.
Enquanto Fuyumi andava de um lado para outro na sala do apartamento pensando em tudo, Natsuo estava sentado no sofá de braços cruzados sobre o peito, pés fincados no chão e o rosto todo enrugado em uma expressão amarga e furiosa.
Meu Deus, eles são parecidos demais.
— Eu falei que ele tinha amante! — Natsuo explodiu de repente.
— É, falou. — Fuyumi parou de andar e se virou para o irmão. — Desculpe não levar a sério, Natsuo. Mas é que tudo é tão surreal…
— E nem era “a” amante, era “o” amante!
— É, tem esse detalhe. — Fuyumi não achava esse detalhe o mais importante de toda a história, porém dizia muito sobre ela. Se fosse uma mulher, o pai nunca teria saído no Hatsumode com ela e muito menos teria a levado para a própria casa. Seria óbvio demais. Continuou a andar de um lado para outro.
— Agora tudo faz sentido! Ele queria se separar para ficar com Hawks e fingir ser um bom moço!
— Isso não faz sentido porque no Japão casais gays não podem casar… — Fuyumi estacou na hora com a epifania. — Espera aí! Hawks?! Esse é o cara do videogame?! O seu amigo do videogame?!
— Sim! Ele me usou!
Quando Fuyumi achava que as coisas para a mente processar tinham acabado, aparecia mais uma. Voltou a andar em círculos.
— Como isso é possível? — sussurrou para si mesma.
— Ele se aproximou de mim para me usar!
— Usar pra quê? — Fuyumi parou de novo incrédula. — Você não é mais próximo do nosso pai.
— Sei lá! — Natsuo passou as mãos nos cabelos. — Para saber mais sobre o passado dele, como ele tratava os filhos como bosta! Não sei!
Fuyumi respirou fundo, apertou a ponte do nariz erguendo os óculos. Por que se aproximar de Natsuo? Se fosse assim, não seria melhor se aproximar dela? Afinal era a única que ainda mantinha contato com o pai e não odiava ele. O tal de Kei parecia mais perdido que todos ali, Fuyumi não acreditava que ele planejou todo esse esquema de novela, mesmo quando foi empurrado e o pai avançou para lhe bater, ele não arredou o pé dali e não parecia disposto a ir embora sem explicar nada mesmo que apanhasse. Esse foi o motivo de Fuyumi ter se colocado na frente dele, porque se não fizesse, tudo poderia ter sido muito pior… Fuyumi esperava um escândalo assim de Natsuo e não que a situação se invertesse e fosse o pai o grande protagonista. Respirou fundo novamente.
“ACHA MESMO QUE PODE MENTIR NA MINHA CARA BEM NA MINHA CASA?! QUEM PENSA QUE É? COMO PÔDE ME FAZER DE CORNO COM O MEU PRÓPRIO FILHO?!”
Ela ergueu a cabeça em choque. Seria possível? Natsuo falou que estava gostando de alguém recentemente e todo aquele papo do “amigo gostando de outro cara, mas não acho que ele é gay”?
— Natsuo. — Fuyumi ficou muito séria, mais séria do que jamais esteve. — Você dormiu com o namorado do nosso pai?
— Claro que não! Que nojo! — Os olhos de Natsuo esbugalharam de indignação, sua expressão ficou ainda mais torta e seu rosto ficou vermelho de raiva. Fuyumi acreditou no irmão, porque se ele estivesse mentindo não responderia com tanto afinco. Natsuo não sabia mentir.
Suspirou aliviada, menos uma desgraça no dia.
— Foi ele o amigo que levou um fora?
— Sim. — Natsuo voltou a cruzar os braços sobre o peito. — Aposto que ele fez algo que desagradou Endeavor e foi botado para correr.
Fuyumi permitiu-se jogar-se na poltrona, nem todo o BL do mundo tiraria essa tensão dos seus ombros. Ela contou o tempo na cabeça, Kei deve ter sido dispensado na época em que o pai anunciou o divórcio para eles no shopping, ficou super mal, mas então ele e o pai voltaram. Mas por que se separaram então? Fuyumi pensou em todos os BL com homens casados de meia-idade, geralmente eles tentavam reatar com a esposa, algo do tipo, contudo dava errado, eles se arrependiam e voltavam para o namorado. Mas o pai nem tentou reatar… como é que reata algo mais quebrado que vidro triturado? Fuyumi há anos sabia que o casamento dos pais acabou antes mesmo de Shouto nascer e o resto foi só um cadáver apodrecendo até sobrar ossos brancos.
— Por que papai acha que você dormiu com o namorado dele?
— “Namorado”, Fuyumi?! “Namorado”?!
— Ele é o que então?
— Amante! Os dois têm um caso! Ou tinham! Sei lá! — Enfiou os dedos nos cabelos.
Fuyumi não entraria agora no assunto de quê há muito tempo não existia casamento algum, apenas um papel com Natsuo, apesar de quando ele estava em seu estado normal concordar. Agora ele só queria cuspir toda a raiva do pai e piorar a situação.
— Deve ter um motivo para ele achar isso… — Fuyumi falou e fechou os olhos tentando não ter dor de cabeça.
— Humpf! — Natsuo voltou a cruzar os braços. — Que canalha! — exclamou de repente.
Fuyumi permaneceu de olhos fechados enquanto segurava os braços da poltrona:
— Natsuo, não vamos contar nada disso para a mamãe. OK?
— É claro! Deixar a nossa mãe passar por mais essa?! Melhor ela não saber mesmo, o canalha vai negar tudo de qualquer jeito.
Acho que mamãe se importar com o quê papai faz da vida pessoal dele que não atinge os filhos é um dos últimos itens da lista de prioridades dela. Quem tô tentando enganar? Isso nem sequer tá na lista!
— Quem vai contar para Shouto? — Natsuo perguntou.
— Vamos deixar ele fora disso também. — Se Fuyumi pudesse também estaria fora disso.
Ela pensou no tal de Kei ou Hawks e na história do fora que o irmão contou. Ele deveria estar muito mal agora, porém nada ele conseguiria resolver no momento, o melhor era esperar. Fuyumi também esperaria, o pai sem dúvidas estava igualmente péssimo e não falaria sobre o assunto. Talvez não falasse nunca mais sobre o assunto. Fuyumi esperaria.
Ainda não voltei do meu descanso, estou apenas adiantando esse capítulo.
O que acharam do capítulo? Deixem seus comentários, críticas, teorias e elogios.
Nos vemos amanhã! ;)
Bjinhus!
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