— Keigo… — A mãe veio o abraçar no meio da noite. A voz grogue lhe era comum ao ouvido de criança. — Você não vai me largar como o seu pai, vai?

O quarto estava tão silencioso que ele podia escutar a respiração dela sobre seus cabelos:

— Não, mamãe… — respondeu baixinho.

— Você não vai mesmo me largar? Tem certeza?

— Tenho, mamãe. — Nunca deixaria a mãe. Nunca. Nunquinha mesmo.

— Eu trouxe um presente para você. — sussurrou ao seu ouvido apertando ainda mais a criança no abraço.

— Presente? — Os olhos dourados de Kei se esbugalharam, nunca ganhou nenhum presente, nem no aniversário se tivesse um.

— Sim. — ela acenou enfatizando, o queixo contra o topo da cabeça do menino. — Quer ver?

Keigo meneou tentando disfarçar a alegria com medo de que se ficasse muito feliz logo acabaria. A mãe o soltou e pegou uma sacola de loja de conveniência, cheias de garrafas como sempre, mas dessa vez havia algo rechonchudo entre elas dando um volume a mais ao plástico. A mãe tirou a pelúcia de dentro: um bonequinho de herói de fogo com uniforme, chamas e tudo.

A boca de Keigo caiu, ficou paralisado no lugar sem acreditar. Era mesmo para ele?

— É aquele que a gente viu na loja, lembra? Pode pegar. — a mulher sorriu e ofereceu o boneco para ele que pegou com todo o cuidado do mundo.

— Obrigado! — Abraçou o bonequinho e depois abraçou a mãe. As lantejoulas do vestido dela não o incomodaram.

A mãe também ficou feliz, mas estava cansada:

— Agora pega o meu remédio para dormir, Keigo, e não me incomoda enquanto assisto a televisão.

O menino pulou da cama com o brinquedo em mãos, correu até o armário e abriu o fundo secreto dele onde ela guardava as pílulas coloridas. Deu um frasco para ela.

— Não faça barulho enquanto eu estiver vendo meu programa.

Keigo meneou, escalou a cama de volta com suas pernas curtinhas e o boneco agarrado ao peito. A mãe sentou no sofá que ficava a poucos metros de distância, a luz azulada da televisão iluminando a todos. O brinquedo era lindo, esse era o melhor dia da sua vida.

Capítulo surpresa curtinho!
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Bjinhus!