Nada certo.

Enji foi para o trabalho com a certeza de que tudo havia acabado, o cheiro de Keigo ainda estava em si mesmo após o banho. Ficou pensando no que o garoto estava fazendo agora, se ainda dormia ou se saiu para fazer algo… a imagem de Kei desolado entre os lençóis vinha a sua mente. Não acreditou que ele foi para algum lugar. Enji clareou os pensamentos, esse seu caso com o garoto jamais existiu.

Há quase uma semana não via o loiro por aí, nem nas reuniões, nem nas festas de negócios e muito menos nos lugares em que se encontravam por “coincidência”. Contudo, não era como se ele tivesse sumido do mapa, ouvia os empresários citarem o nome dele em alguns dias.

Um dia até pegou uma conversa daquele cara que Kei saía em que disse:

— Kei anda trabalhando muito. Não tem tempo para nada. Nem o vejo mais.

Enji ficou satisfeito ao saber que o garoto seguia em frente e secretamente aliviado por aquele herdeiro não estar mais rondando Kei como um urubu. Mas do que adiantaria esse alívio idiota? Logo Kei voltaria para sua vida de inúmeros parceiros e esqueceria Enji se é que já não esqueceu. Não gostou de como a frase saiu, ficou irritado e se afastou do grupo do rapaz.

Os dias continuavam passando, um mês se foi e Kei como prometido não mandou mensagens ou ligou, agora ele realmente sumiu do mapa de Enji que até excluiu o número do seu celular, o que não foi de grande ajuda pois sabia a sequência de memória. Ninguém mais falava de Kei, nem no meio dos negócios, nem nas conversas casuais e nem Yagi na vez em que Enji o visitou.

— Saudades do garoto. — Foi a única frase que tirou do homem.

Enji pensou que Kei fazia realmente um esforço para cumprir o combinado, nem mais sair com conhecidos de ambos saía. Ele também parou de ser ativo nas redes sociais, Enji não conseguiu não ser curioso e não olhar, não encontrou a conta que Kei lhe mostrou aquela vez.

— Pai?

Fuyumi não obteve resposta, os pensamentos de Enji estavam longe daquela mesa na praça de alimentação.

— Pai? — ela chamou novamente.

— O que houve? — Enji prestou atenção na filha desvanecendo qualquer imagem que fez sem querer na mente.

— O senhor está bem? — Ela inclinou a cabeça. — Parece meio… mal? — A filha não tinha mais tanto receio em falar com o pai.

— Eu estou bem, Fuyumi. Obrigado pela preocupação.

— Acho que Natsuo não vem… — Ela se encolheu um pouco.

Não há motivos para ele vir, Enji pensou. Já estava atrasado uma hora e meia e tudo o que restou aos dois ali foi o silêncio desconfortável.

— Shouto foi ver a nossa mãe… eu vou passar lá depois…

Enji acenou concordando, há alguns anos que ele não via a esposa, no máximo recebia informações sobre ela dos psiquiatras. Ela ficava bem por um tempo, prestes a receber alta e então piorava voltando a estaca zero.

Não havia como Enji ver Rei, ele deixou muitos traumas e terminou seu caso com Kei completamente ciente disso. Não se amariam, nunca se amaram, mas ao menos tentaria ser um marido e pai melhor. Devia isso à ela e aos filhos.

— Pai… acho que sobre a mamãe… o senhor devia…

— Não acredito que você veio mesmo! — Natsuo chegou segurando um capacete na mão e batendo-o na mesa. Seus olhos cinza ardiam em fúria. — Você tá mesmo dando uma segunda chance pra esse cara?!

— Natsuo… — Fuyumi pediu tentando evitar o escândalo no meio do shopping.

— Esse cara não merece perdão! Olha o que ele fez com o Touya! Olha o que ele fez com a nossa mãe! Olha o que ele fez com a gente!

— Natsuo…

— Eu entendo que você está muito bravo comigo, eu pretendo recompensar por…

— Entende?! — Natsuo interrompeu o homem. — Entende?! Recompensar pelo o quê? Acha que dizer que se arrepende à essa altura do campeonato muda alguma coisa, velho?!

— Natsuo, deixa ele falar por favor.

— Não! — Encarou indignado a irmã. — Por que você tá fazendo isso, Fuyumi? Você sabe melhor do que ninguém que esse cara é um merda.

Enji não tinha o que dizer, Natsuo sempre foi o mais revoltado da prole, achou que ele seria um empresário e herdeiro feroz, no entanto, no final, a ferocidade do garoto se virou para ele completamente. Essa também foi a primeira vez que Natsuo expôs todo aquele ódio na sua cara e Enji não o mandou calar a boca ou lhe estapeou.

— Estou tentando mudar. — Enji falou.

Como uma serpente venenosa, Natsuo se virou para o pai e cuspiu as ácidas palavras:

— Gente igual você não muda.

— Natsuo! — Fuyumi alarmada com o comportamento além do esperado do irmão.

— Por que você tem pena dele? Acha que ele não aguenta? É a verdade, gente igual a ele não muda.

— Você não precisa acreditar em mim.

— Porque é mentira! Eu não quero acreditar nessa farsa! Mas se você, velho maldito, quer mostrar mesmo que mudou, dê o divórcio para nossa mãe. Você contou sobre isso para ele, não contou, Fuyumi?

— Eu ia contar até você chegar. Natsuo, não precisamos agir assim.

— Precisamos sim. — Natsuo concluiu.

— Eu pretendo dar o divórcio para Rei sem nenhum empecilho. — Enji falou surpreendendo os dois. — Mas antes quero conversar com ela.

— Você não tem que querer nada! — Natsuo repetiu a frase que mais ouvia do pai. — Dê logo o divórcio. Acha que ela ver a sua cara nojenta fará bem? Apenas. Dê. O. Divórcio. E suma das nossas vidas depois.

Natsuo pegou o capacete e saiu praticamente fazendo buracos no chão de tão forte que caminhou para longe.

— Natsuo! — Fuyumi chamou se levantando da cadeira, parou de repente, olhou para o homenzarrão sem saber o que dizer além de “pai”.

Enji entendeu, eles se entenderam com o olhar, Fuyumi recolheu a bolsa e saiu correndo atrás do irmão. O homem continuou sentado lá recebendo sozinho os olhares curiosos das pessoas até elas se cansarem dele.

Enji se levantou para ir embora, desceu alguns andares e algo chamou sua atenção pelo canto do olho: um pontinho loiro entre tantos pontinhos. Enji virou para ver se era quem ele pensava, porém ainda assim não dava para dizer, a pessoa continuava de costas encarando uma vitrine, então outra figura chegou e tocou no ombro do loiro que o olhou e sorriu. Definitivamente não era quem Enji pensou, ficou até surpreso por confundir, essa pessoa em nada tinha a ver com aquela cheia de confiança e ousadia travessa juvenil.

O homem engoliu em seco e foi embora do shopping de uma vez. Naquela tarde de quinta-feira, Enji chamou seus advogados para negociar os termos do divórcio.

Olá!
O que acharam do capítulo?
Obrigada por lerem!
Bjinhus!

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