Limpando a superfície
Keigo acordou, o coração de Kyo ainda batia e ele não estava tão frio quanto antes. O menino deixou Endeavor-san como companhia para o homem e saiu do quarto.
Todo o apartamento tinha um cheiro ferroso misturado com o álcool do remédio, agora que era havia amanhecido e os raios de sol entravam pelas frestas da única janela do banheiro as manchas vermelhas apareciam, não eram mais sombras invisíveis na escuridão.
Acendeu as luzes da sala/cozinha e viu o caminho rubro que Kyo deixou quando se apoiou na parede e as pegadas escuras ao pisar nos pingos de sangue que deixava. Keigo olhou para as próprias mãos marrons pelo sangue seco e na blusa preferida manchada. O menino encheu um balde com água na pia da cozinha, misturou com detergente líquido, pegou a esponja que lavavam a louça e um pano seco.
Carregava o balde com os dois braços e fazia o possível para a água não derramar, levou-o para a porta de entrada. A maçaneta de metal estava coberta de sangue assim como a chave enfiada na fechadura, Keigo abriu a porta devagar para não fazer barulho e viu que o outro lado da maçaneta também estava sujo. Limpou com a esponja, mal alcançava, mas conseguiu tirar toda a sujeira. Fechou a porta e espremeu a esponja dentro do balde, a parte amarela ficou cobre e a água que saiu entre os seus dedos manchou a água limpa.
Keigo esfregou todas as manchas do chão e depois as da parede, o pano pendurado em seu ombro não era mais branco assim como a esponja não era mais amarela.
Quando chegou ao quarto, Kyo ainda dormia profundamente e não parecia ouvir nada, a espuma escura fazia bolinhas de ar marrons quando Keigo as esfregava com força, tudo que era sujo sumia do chão, mas entrava por baixo de suas unhas e manchava o pano de chão branco no seu ombro. Acabou com o quarto e foi para o banheiro que era o pior lugar, onde Kyo sentou havia uma enorme mancha, as bordas da pia estavam carimbadas com as digitais dele e os produtos da espelheira jogados por todos os lugares. As cerdas da sua escova de dentes agora eram vermelhas.
Suor pingava da sua testa e se misturava a espuma. Keigo continuava a esfregar, não conseguia parar por mais que seus braços doessem e cansado por ficar tanto tempo de joelhos. A pele deles já estava marcada e irritada pelas frestas entre as lajotas. Ao acabar, a respiração pesava e o peito subia e descia pelo esforço, a água estava turva, o pano ficou marrom e a esponja desgastada. Keigo despejou toda a água do balde no ralo do chuveiro e ficou vendo a correnteza de sangue sendo levada embora.
Subiu no seu banquinho para alcançar a pia, recolheu as escovas de dentes, a pasta e o anticeptico bucal e os colocou nas prateleiras da espelheira e então a fechou. Seu reflexo apareceu e Keigo assustou-se, suas bochechas estavam vermelhas pelo esforço e pelo sangue de Kyo assim como algumas partes do pescoço.
Ele desceu do banquinho, foi para o quarto e pegou a toalha que Kyo usou, o sangue parecia não acabar nunca. Keigo prestou muita atenção na respiração ritmada do homem e tocou em sua testa sem saber o porquê além de que era isso o que os adultos faziam. Kyo não estava mais tão frio, isso devia ser bom, não deveria?
Keigo foi para a apertada área de serviço, jogou o pano de chão dentro da máquina assim como a toalha imunda. Ficou parado encarando os panos manchados, não havia nada limpo ali.
Em um impulso, tirou a blusa e a jogou com força lá dentro, depois o short, de repente as roupas lhe grudavam, pinicavam e sufocavam como uma segunda pele irritante que não servia para nada, se livrou da cueca e a jogou lá dentro também. Bateu a porta da máquina de lavar com um estrondo, ela não fechou, Keigo bateu de novo, de novo, mais uma vez. A porta fechou, água começou a encher e rodar as roupas em um vulto.
As pernas de Keigo estavam bambas, mas não era de cansaço, não sabia o porquê, apenas se deixou cair no chão abraçando elas e enfiando o rosto nos joelhos. O chão era gelado contra a sua pele pegajosa, tremia, mas não era de frio, e soluçava, mas não era porque precisava de um susto ou beber água.
Não chorou quando a mãe foi embora, mesmo sabendo que no fundo ela realmente não voltaria, não chorou quando ficou com tanta fome que pensou seriamente em comer as baratas que via pelo apartamento ou quando tentavam tomar Endeavor-san de si. Keigo não chorou nenhuma vezinha e não sabia o porquê. Kyo lhe contou todas aquelas coisas que não entendia, Keigo limpou todo aquele sangue que não entendia como tanto podia sair de alguém, jogou todas as suas roupas na máquina e se encolheu no chão sem entender. Keigo não entendia um monte de coisas e agora chorava muito também sem saber o porquê.
O que estão achando da fic até agora? E do capítulo? Deixem seus comentários, críticas, teorias e elogios.
Até logo.
Bjinhus!
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