Lá vem o cão arrependido...

Uma das poucas coisas que ele ouviu naquela noite foi Kei cambaleando bêbado ao sair do elevador e tentar abrir a porta do apartamento errado, então ele o viu e veio cambaleando até o homem sentado encostado na sua porta.

Enji percebeu que Kei estava muito mais bêbado que o normal, ele mal se aguentava em pé e seus olhos claros varriam descoordenadamente o lugar, ele parou, piscou, bamboleou e voltou a andar.

— Olha só quem tá aqui! — disse fingindo ou não animação. — Veio fazer o que aqui? Pegar os restos da sua pseudo-heterossexualidade? — zombou.

— São três da manhã. — Enji se levantou, estava a noite toda o esperando. Enji era duas cabeças mais alto que o loiro e duas vezes mais largo, sua sombra o cobriu.

— E daí?! É a minha casa, eu posso chegar a hora que eu quiser! — esbravejou num amplo gesto e então soltou um soluço bêbado.

— Eu sei.

— Mas que merda! — Todas as tentativas de abrir a porta falharam, Enji percebeu que Kei passava no leitor o cartão de crédito e não a chave. — Não consigo entrar! Não consigo entrar na minha casa!

— Você bebeu. Cachaça.

— Caipirinha! — berrou. — Eu bebi caipirinha e outras coisas que não lembro nome… Paguei tudo no cartão! Vou mostrar… cadê o cartão? — Olhou para os lados. — Perdi o cartão. — ficou triste com o cartão na mão.

— Kei, eu vim conversar.

— Kei? — outro soluço. — É Keigo para você! Quem eu tô tentando enganar? Ninguém me chama de Keigo…

— Keigo — Enji tentou.

— Agora sou Keigo para você, é? — perguntou triste e indignado.

— Kei — Enji corrigiu —, eu vim conversar com você sobre aquilo…

— Aquilo? Ah! O pé na bunda que você me deu para tentar salvar sabe-se-lá o quê do seu casamento fracassado? Ou sobre você tentar ser um bom pai? Foi tanta coisa que quis dizer nada que eu não sei o que foi.

— Você está chateado.

— Eu tô? Nem percebi, deve ser imaginação sua. — Tentou de novo abrir a porta com o cartão de crédito.

— Não deu certo. — Enji disse alguns segundos depois.

— É a minha chave! Tem que dar! Ou tô no apartamento errado? — Olhou desconfiado ao redor. — Esse é o meu prédio?

— O casamento não deu certo, Kei. Nunca deu.

— Oh, nossa! Que choque!

— Eu pensei que se eu me afastasse de você e focasse só nas outras coisas tudo melhoraria.

— Não me usa como desculpa para as tuas merdas… — continuava passando o cartão no leitor.

— Eu não tentei voltar. Não dá para voltar. — Enji achava que jamais deveria ter casado.

— Você levou um pé na bunda e agora tá aqui. — Kei soltou um risinho ébrio e debochado. — Vai se ferrar.

— Eles não me querem lá. — Os filhos e a esposa.

— E como iam querer?! — Kei virou o rosto para Enji. — Você fez muita merda! Não é pedir desculpas e sarou para sempre o dodói!

— Kei, eu me arrependo. — Enji agarrou os pulsos do outro. Ele realmente se arrependia, mas agora não estava falando da situação da sua família.

Os olhos de Kei se tornaram ainda mais embaçados:

— Você só quer um substituto! — Lágrimas escorreram pelas bochechas.

Enji o abraçou, acolhendo-o no peito e envolvendo-o nos enormes braços.

— Não tem problema eu ser um substituto… — Kei tremia no choro. — Um dia eu vou te trocar por outro mais velho com mais dinheiro e mais bonito. — Enji não queria que aquilo fosse verdade, mas com Kei nunca se sabia se era sério ou não.

— Desculpe. — Ainda era estranha essa palavra.

— Não… — Kei chorava.

Enji se afastou e deu uma boa olhada no rosto dele que estava de os olhos fechados usando a lógica de se eu não posso ver ele também não pode, as bochechas e a ponta do nariz vermelhos e os lábios apertados. Enji colocou as duas mãos espalmadas nas bochechas dele.

— Pare de chorar.

— Não tô chorando! — Os olhos mais apertados e o nariz fungando. Kei era bonito até assim. Até bêbado às três da manhã, desorientado e cheirando a bebidas coloridas. O longo casaco azul com gola de camurça contrastava com o cabelo claro penteado para trás e emoldurava o rosto bem delineado.

— OK.

— E eu não vou te desculpar. — fungou.

— OK. — Enji limpou as lágrimas dele com beijos suaves nas bochechas.

— Isso é bom…

— É?

— Faz mais.

— OK.

— Quer entrar?

— Você não tá bravo comigo?

— Tô! — Ele abriu os olhos. — Mas isso não quer dizer que eu não quero que você me coma. — As bochechas e o nariz estavam vermelhos, Kei o encarava decido sem qualquer pingo de vergonha. Era difícil ele ficar tímido com algo.

— Você tá bêbado.

— Quer entrar? — repetiu como se a bebedeira fosse nada.

— Vamos. — Enji concordou e pegou o cartão do crédito da mão de Kei e com cuidado pegou a carteira dele no casaco, guardou o cartão de crédito e pegou a chave.

— Por que você tá me roubando? Você é rico. — Kei assistia confuso a tudo.

— Eu não tô te roubando, tô pegando a chave.

— Que chave? — Observou ao redor ainda mais confuso. — A gente tá na sua casa? Vou conhecer teus filhos? Eu tô bêbado, não é uma boa ideia.

— Você não vai conhecer meus filhos.

— Que cara grosso. — ele ficou indignado, riu e esticou a mão para agarrar a parte do meio entre as pernas de Enji que desviou a mão para longe. Kei riu ainda mais alto.

Enji abriu a porta do apartamento e pegou a mão de Kei que tropeçou no batente da porta, Enji o pegou no colo.

— Uau. — Kei sorriu. — Tô me sentindo casado. — Abraçou o pescoço de Enji e descansou o rosto no peito dele, então abriu os olhos de supetão e disse apontando para o tapete da sala: — Bora fazer aqui.

— Não. Vamos para o quarto.

— Uh, romântico. — concluiu.

Abriu a porta do quarto e o colocou deitado na cama, Kei agarrou a gola da camisa social de Enji e o impediu de se levantar.

— Me beija.

— Você tá bêbado.

— Tô. Me beija.

Enji se inclinou e tocou os lábios dele suavemente com os seus. Kei tentou por a língua na sua boca, Enji o afastou devagar.

— Vamos tirar a roupa.

— Opa! — Kei se sentou como um raio, logo depois a sua expressão entortou. — Eu não tô bem… — reclamou com o indicador e o polegar apertando a ponte do nariz.

— Deita. — Enji disse empurrando devagar Kei para que ele se deitasse de novo. — Vou tirar a sua roupa.

Kei não disse nada, apenas ficou sorrindo enquanto Enji tirava seus sapatos e meias, tirou o casaco, a blusa e finalmente a calça. Kei o fitava o tempo todo com aquela cara embriagada e vermelha entre os lençóis brancos, Enji desde daquele primeiro dia achou que ele combinava com a brancura dos lençóis feito um anjo de asas vermelhas e olhar boêmio. Torcia para todas as vezes em que fosse à casa de Kei os lençóis fossem brancos.

— Vem — Enji disse oferecendo a mão quando a calça de Kei foi descartada — vamos tomar banho.

— Eu não quero tomar banho. — ele virou e se enrolou todo.

— Então só lavar a cabeça.

— Não. Deita aqui.

— Depois de você tomar banho.

Kei virou para ele e esticou os braços, queria ser carregado novamente e Enji o fez. Kei não reclamou da água fria e nem do xampu no cabelo, ficou quieto quando Enji o enxugou e apontou onde as cuecas ficavam para que Enji pegasse uma seca e limpa. Quando tudo acabou ele deitou na cama e segurou a manga molhada de Enji, ele jogou a toalha na cadeira do computador e deitou ao lado de Kei embrulhando os dois.

— Fica aqui. — Kei deitou sobre o peito de Enji. — Você pode me usar como substituto o quanto quiser… mas por favor, demora para me jogar fora.

Enji o abraçou sentindo o cheiro do xampu no cabelo úmido, se alguém vai largar alguém primeiro será você. Fechou os olhos para dormir ao sentir que Kei dormiu faz tempo.

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