Jantar

— Pai? — Fuyumi entrou na cozinha com certa hesitação.

O homem tirava uma caçarola fumegante do forno com a ajuda de um pano de prato. Fuyumi olhou para o pai que ficou perplexo ao ver a sacola de compras que ela carregava junto da bolsa.

— Eu não pensei que o jantar estaria pronto… acho melhor guardar os ingredientes na geladeira…

— Eu não sabia que você queria fazer o jantar por isso eu pedi para deixarem algo pronto.

— Oh — Fuyumi surpresa —, então no próximo eu cozinho.

Próximo? Enji ficou contente. Distraído quase esqueceu da caçarola, a serviu na mesa. Fuyumi guardou os itens do supermercado na geladeira e assim que acabaram ambos ficaram em pé parados sem saber o que fazer.

— Vamos jantar? — Fuyumi sugeriu nervosa.

Enji meneou concordando e eles se sentaram na mesa o que foi estranho, há anos não comiam juntos desde a morte de Touya. O homem lembrou a última vez que viu o filho mais velho no seu lugar à sua direita, era estranho como o fantasma dele pairava ali de cabeça abaixada, Fuyumi sentou onde Rei sentaria, à sua esquerda e o homem lembrou que há mais de três anos ninguém ocupava aqueles lugares além dele e Shouto.

— O trabalho vai bem, pai? — Fuyumi iniciou a conversa sem muito saber o que fazer com as mãos.

— Sim. — Enji respondeu lembrando de não entrar em assuntos “que ninguém aguenta mais” segundo Kei.

Assim o silêncio voltou a reinar na cozinha. Fuyumi nervosa começou a se servir:

— Eh… o senhor… como o senhor está?

— Estou contente que você veio hoje. — Sincero.

Fuyumi ficou surpresa, sorriu espantando o nervosismo e disse:

— Fazia tempo que não jantávamos juntos, seria bom no próximo Shouto participar também.

— E Natsuo.

A expressão da filha arrefeceu um pouco.

— Não sei se é possível…

— Natsuo não quer olhar na minha cara.

— Não acho que… — tentou minimizar.

— Ele tem razão.

Fuyumi nada disse por um tempo até que:

— Quem sabe um dia, pai? Talvez com a recuperação da mamãe.

Enji ficou reflexivo e sua conclusão foi: não, Natsuo não viria.

— Eu escutei a conversa quando Natsuo veio aqui em casa prestar homenagem a Touya. Eu sabia que ele era…

— Eu não quero falar sobre isso. — Fuyumi sombria cortou o pai. Retomou ao seu estado normal: — Pelo menos, não agora.

— Eu… — Enji desistiu de insistir.

Fuyumi terminou de encher a própria tigela, então perguntou segurando a concha:

— O senhor vai querer sopa miso?

— Sim. — Enji pegou a concha.

— Natsuo conseguiu um aumento no emprego.

— Ele não precisaria trabalhar se morasse aqui. — Enji percebeu o tom que falou tudo aquilo. — Me desculpe.

Fuyumi ainda não tinha se acostumado ao pai pedir desculpas por isso demorou para processar.

— Tudo bem! — desperta. — Ele tá muito feliz, falou até em chamar a pessoa que ele gosta para sair.

A pessoa que ele gosta? Enji se questionou, antigos hábitos morrem dificilmente, ainda se preocupava com quem os filhos se relacionavam. Mas se sentiu estranho afinal com certeza nenhum deles se relacionavam com alguém do tipo de Kei que Enji estava envolvido até o pescoço.

— A namorada dele?

— Não, eles não voltaram. É outra pessoa.

Rápido, Enji pensou. Todos os jovens atualmente devem ser assim, tinha certeza de que se não voltasse para Kei a tempo, o loiro logo arranjaria outro “mais velho, mais bonito e mais rico” num piscar de olhos. E quase fez.

— Natsuo pretende seguir carreira nessa profissão?

— Na de motoboy? — A expressão da filha dizia que a pergunta não saiu do jeito que ele queria. — Não, é só um emprego. Natsuo quer trabalhar com o curso dele da faculdade.

— Entendo.

Ficou quieto e depois tomou um gole de sopa.

— E como está seu trabalho? — Enji tentou puxar assunto.

— Vai tudo bem. As crianças são bem divertidas.

Mais uma vez o silêncio reinou e nenhuma das tentativas de conversa iam para frente porque não havia assunto entre eles. Enji evitava tocar no nome do caçula porque a voz de Kei ficava martelando na sua cabeça que daria errado.

— Shouto fez bons amigos. — Fuyumi falou de repente.

— Você conheceu os amigos dele?! — Enji tirou a atenção da tigela.

— Sim, ele me apresentou Midoriya, Bakugou e o restante.

— Eu não gosto de nenhum deles. Eu sempre digo para ele escolher bem as amizades!

— Ah… eles são bons meninos. — Fuyumi disse um pouco desanimada. — É bom Touya… digo, Shouto ter amigos.

Enji fitou a filha desprevenido pela troca de nomes ao mesmo tempo que sem surpresa. Touya não tinha amizades… todos achavam que Enji não reparava.

Enji disse:

— Pelo menos eles não parecem tão ruins quanto aqueles amigos de Natsuo.

Fuyumi cobriu o sorriso:

— Eles não eram tão ruins assim.

— Eles eram péssimos.

— Natsuo estava um pouquinho perdido.

Até hoje está, Enji pensou relembrando da fase em que Natsuo na escola se envolveu com um bando de delinquentes mirins, logo após a morte de Touya.

— Foi minha culpa. — Enji admitiu. — Eu deveria ter sido mais atento ao seu irmão.

— Natsuo precisava extravasar. — foi tudo que Fuyumi disse.

— Sim. — Enji concordou. — Você gostou da comida?

— Tá tudo muito bom. — Fuyumi falou envergonhada.

Terminaram o jantar e lavaram a louça ouvindo apenas o som contínuo da corrente de água.

— Eu comprei alguns livros de romance para você, você disse que gostava. Estão no seu quarto se você quiser ver.

Enji queria que a filha ficasse mais um pouco, porém tinha vergonha de pedir e eles não pareciam ter muitos tópicos em comum.

— Ah! Obrigada! — ela sorriu constrangida sem esperar pela atitude do pai. Enji ficou feliz. — Só vou ao memorial antes.

A antecipação fazia o homem abrir e fechar as mãos enquanto acompanhava Fuyumi ao quarto, ele planejou ficar na sala esperando a filha avaliar os livros e decidir se gostava de algum. Agora estava de pé no corredor de braços cruzados fingindo fazer algo pois não conseguia ficar sentado. Pensou em mandar uma mensagem para Kei, mas o que mandaria? Não ousaria abrir a conversa durante a estada de qualquer dos filhos, pois Kei enviava uma foto mais indecente que a outra. A última que o garoto enviou foi dele com um pepino gigante na boca no supermercado e a legenda: “me lembrou de você ;3”. O garoto não tinha nenhuma vergonha!

— Nenhum BL… — ouviu Fuyumi sussurrar. — Espera. A última edição de Meu Arqui-inimigo, o Rei Dos Demônios, Está Loucamente Apaixonado Por Mim!

A voz estridente de felicidade de Fuyumi ecoou no corredor fazendo o homem despertar dos próprios pensamentos com um supetão. Nunca ouviu a filha assim! O que era BL?

Enji voltou contente para a sala de estar, Fuyumi surgiu logo depois radiante, guardou o livro na bolsa.

— O jantar foi muito bom, pai.

— Sim, foi.

— Eu tenho que ir agora. — Seu semblante demonstrava pressa e euforia contida. — Tenho que… corrigir algumas provas.

— Volte quando quiser, a casa é sua também.

— Vou voltar.

Fuyumi caminhou até a porta e então parou um segundo para dizer com certo carinho:

— Boa noite, pai.

— Boa noite, Fuyumi. — Enji não lembrava a última vez que ficou tão contente.

Olá, galerinha! Voltei!
Ando sumida porque estou bem ocupada ultimamente. Tenho avisos aqui para vocês: a fanfic atingiu 10 mil visualizações! Estou muito feliz por cada um de vocês que vêm e lêem o que eu escrevo! Muito obrigado!
O segundo aviso é: eu vi no mangá como são os pais de Kei, no entanto, eu já tinha imaginado uma aparência e personalidades para eles que divergem e muito do original, por isso eles serão do jeito que eu pensei antes, só permanecerão os nomes. Vocês já devem ter notado pelos capítulos em que temos vislumbres da mãe de Kei.
O terceiro aviso é: assim que a história principal acabar, eu pretendo fazer vários extras e um deles é o do Shouto e sua vida amorosa (não é TodoDeku), mas vamos deixar isso para mais tarde…
Eu também estou trabalhando em uma história original que será bem errada e não sei se postarei aqui, tenho outra história original postada aqui que é Defensores de Alguma Coisa, não tem hot, mas tem gays, se quiserem é só darem uma olhada.

Deixem seus comentários, elogios, críticas e teorias. Obrigado por lerem e nos vemos no próximo capítulo!

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