Imagens embaçadas e imagens nítidas
Fuyumi acordou com dor nas costas da poltrona de acompanhantes. Viu que o pai estava acordado há algum tempo.
— Como o senhor está se sentindo? — Fuyumi bocejou e esfregou os olhos.
O homem não respondeu. Ela olhou para o relógio no pulso e viu que em breve o médico viria com o enfermeiro dar a medicação.
Ela levantou da poltrona e esticou as costas que estalaram. Não havia nenhuma mensagem no celular sobre a cômoda, Fuyumi já havia avisado tudo o que tinha acontecido para os irmãos e os tranquilizado.
— Tá com fome, pai? Logo vão trazer o café da manhã. Espero que o suco seja melhor do que o de ontem.
— Fuyumi, você acha que seu irmão me odiou?
— Natsuo tem muita raiva do senhor, mas eu não acho que…
— Não estou falando de Natsuo.
— Shouto?
— Touya. — Enji falou e olhou para a filha no fundo dos olhos. — Você acha que ele me odiou?
Fuyumi respirou fundo e umedeceu os lábios.
— O senhor sonhou com ele? Passou a noite toda chamando o nome dele.
— Fuyumi, me responda, por favor. — Enji pediu.
— Eu não sei, pai. Touya estava em um momento muito ruim e o senhor não era exatamente um bom pai.
— Por que você está aqui? Devia me deixar sozinho . É o que eu mereço.
Ela se aproximou e segurou na barreira de proteção do leito.
— Pai, eu quero estar aqui. Isso não significa que eu esqueci tudo o que aconteceu como também não significa que não estou disposta a recomeçar se o senhor quiser. E eu sei que o senhor quer, senão eu não estaria aqui.
Se Fuyumi era alguém tão madura assim com certeza não teve nada a ver com a criação que Enji deu à ela.
— Seus irmãos não acham isso. — Ainda dava tempo dela ir embora.
— Eu não posso falar e nem decidir nada por eles, pai. Natsuo está muito magoado, mas Shouto parece disposto a acreditar no senhor. O senhor provou.
— E Touya? Touya me odiaria pelo resto da vida.
— Eu penso muito em Touya, penso que poderia ter feito mais por ele. — Era doloroso falar. — Mas não adianta agora porque não mudaria nada. Touya tinha questões fora do meu controle.
— Mas não fora do meu e eu errei.
— É, errou muito. — Fuyumi concordou. — Mas o incêndio não foi culpa sua, pai. Como o senhor ia adivinhar que alguém atearia a escola?
Lágrimas desceram pelas bochechas de Enji e com a voz quebrada falou:
— Eu vi Touya… ele estava igualzinho a antes… ele estava lá…
Fuyumi segurou a mão do pai e falou:
— Pai, bateram na sua cabeça várias vezes. O senhor teve várias concussões que causaram lesões. — explicou paciente. — O senhor lembra do policial que lhe tirou do prédio?
— Não…
— O senhor lembra de como chegou no hospital?
— Não… — Enji não lembrava de nada, apenas do filho deixando a casa e não olhando para trás.
— Quando eu cheguei aqui — Fuyumi explicava lentamente —, os médicos disseram que o senhor não queria ser medicado e que estava dizendo que tinha que buscar Touya na escola antes do incêndio. Lembra disso?
— Eu não… eu fiz isso?
— O senhor também tentou sair da máquina de raio-x porque Touya tinha que tomar o remédio. Lembra?
— Eu não lembro…
— O médico me falou que pelo estresse grande que o senhor passou mais a fumaça e as repetidas pancadas em algum momento o senhor começou a alucinar com alguns traumas. — Fuyumi falou baixinho como se confessasse um segredo. — Desde a morte de Touya, o senhor proibiu até aqueles estalinhos brilhantes em casa e nunca tinha churrasco. Teve um incêndio recente e agora esse em que o senhor estava, acho que é o suficiente para ativar coisas.
— Touya estava lá!
— Tudo bem, pai. — Fuyumi suavizou ainda mais a voz e disposta a ouvir perguntou: — Como Touya era?
— Ele estava com o uniforme da escola, magro e cheio de faixas. Ele continuava da mesma altura. Cansado. Não mudou nada, igualzinho ao dia em que…
— Morreu. — Fuyumi completou. — Pai, se Touya estava lá porque continuava igual? Já faz nove anos desde o acidente.
— Eu não sei… mas ele me olhou bem nos olhos, Fuyumi. Eu segurei nele! E ele falou comigo!
— E o que ele disse?
— Perguntou quem era Touya e disse que era… era… — Enji não conseguia lembrar.
— Dabi. — Fuyumi completou novamente.
— Como sabe disso?! — A cabeça de Enji doeu.
— O senhor ficou falando o nome desse cara a noite toda também. Dizendo que ele tinha levado Touya. Dabi era um dos sequestradores?
— Eu acho… — Sentia-se exausto. Levou a mão para o topo enfaixado da cabeça.
Fuyumi diria para o pai que alguém ligou para Shouto do seu número no momento do sequestro, mas foi Natsuo que atendeu e achou muito estranho. Porém, agora não era o momento.
— Fuyumi, e se Touya sobreviveu?
— Ele não sobreviveu, pai. A contagem dos — engoliu em seco — resíduos cabornizados era a exata quantidade de pessoas na escola e não havia como ele sair. Eu sei que o senhor sonha que Touya algum dia entre pela porta da casa e tudo volte ao normal. Eu também. Mas não vai acontecer. Ele morreu.
Fuyumi respirou fundo e continuou:
— Mesmo que ele escapado, a gente sabe que ele não teria durado muito sem os remédios. — Vários nós eram formados no seu estômago ao falar assim, porém, era a verdade. Touya estava condenado a uma vida curta. — Eles eram muito caros e difíceis de encontrar não havia como Touya consegui-los sozinho. Ele teria que voltar para casa.
— Eu… eu… — Enji começou a chorar. — Eu sinto muito, Fuyumi!
— Tudo bem, tudo bem. — Ela abraçou o pai apaziguando-o. — Touya está em um lugar melhor agora. Tenho certeza.
— Eu devia ter morrido! — O homem enorme soluçava nos braços de Fuyumi.
— Não diga isso, pai. Seus filhos precisam de você.
Demorou para ele deixar de chorar. Quando finalmente parou, o médico entrou e trocou a medicação. Fuyumi falou das alucinações que ele teve no dia e foi tranquilizada logo em seguida. Ordenou que o paciente relaxasse.
Enji estava mais calmo, mas não menos arrasado. Haviam tomado café, contudo, ele não quis comer. Fuyumi ligou a televisão, queria saber se algo sobre o sequestro passou na televisão, mas estranhamente ninguém falava nada sobre. Então um plantão de notícias surgiu brilhando na tela, Fuyumi comia a gelatina de abacaxi distraída, o pai olhava para as mãos entre as pernas. A repórter falava sobre um grande escândalo em uma empresa, vários documentos eram exibidos e várias pessoas cobriam os rostos para esconder das câmeras. De repente falaram um nome.
Keiichi Kyo.
Fuyumi conhecia esse nome, havia fóruns com fanfics na internet dedicado a esse cara, ele era uma espécie de criminoso cybernético, golpista e psicopata. O cara tinha fandom e recebia inúmeras cartas e presentes de gente louca apaixonada por ele. Tudo porque era lindo, Fuyumi nunca se interessou por gente assim ainda mais quando foi um louco que matou seu irmão. Ela olhou para a televisão para finalmente ver como ele era e esquecer logo em seguida.
— Também há suspeitas de ligação da empresa com criminoso condenado a pena capital, Keiichi Kyo. — a repórter falava. A foto do homem surgiu na tela.
Fuyumi levantou da poltrona mesmerizada.
— Pai, ele não é parecido com…
A repórter continuou:
— Pois seu filho entrou no programa estudantil da corporação dois anos após a sua captura.
A imagem do criminoso ficou só de um lado da tela e outra surgiu no que ficou vazio. Um rapaz lindo sorria distraído olhando para algum lugar longe da câmera.
— Takami Keigo é um jovem promissor dentro da Comissão, mas não se sabe se…
— Kei? — Os olhos de Enji esbugalharam ao ver o loiro.
Fuyumi aumentou o volume da televisão e disse perplexa:
— Pai, o senhor tem que ligar para o seu namorado.
Quem disse que o pai de Kei não apareceria na história, hein? E o que será que está passando na cabeça de Enji agora que Fuyumi falou que era impossível Touya estar vivo e do pai estar alucinando desde antes que chegou no hospital. E se fossem vocês?
O pai de Kei vai fazer sua aparição!O que acham que vai acontecer?
O que acharam do capítulo? Deixem seus comentários, críticas, teorias e elogios.
E calma aí que tem mais um capítulo para hoje!
Bjinhus!
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