Histórico
— O que foi? O que tá me olhando? — Kyo perguntou.
Keigo abaixou a cabeça envergonhado, esperou três dias para o moço sair do computador, mas agora não conseguia falar.
— O que? — Kyo colocava água quente no copo do macarrão instantâneo. — Só tem sabor carne.
O menino levantou o bonequinho para que ele entendesse.
— É pra eu jogar água no boneco ou o que? Ah, tá. — Compreensão passou sobre o rosto de Kyo. — Tá bom. É sua recompensa por ter limpado a mesa sem eu pedir.
Os olhos de Keigo brilharam, Kyo achou graça e deixou os noddles esfriando sobre a bancada do armário. Tirou o celular do bolso e clicou em algo.
— Vê o babaca aí. Tem um vídeo inteiro dele. — Deu o celular para o menino que nunca tinha pego em um, nem o da mãe. — Quando terminar, traz o macarrão pra mim. Até lá tá pronto. — Voltou para a frente do computador.
Assistia ao vídeo fascinado, o homem falava sobre números e muitas coisas que Keigo não fazia ideia do que eram, mas gostava de vê-lo mesmo assim. O vídeo terminou, Keigo colocou o celular na mesa e levou o macarrão instantâneo para Kyo que sequer tirou os olhos do computador, pegou o próprio copo e se perguntou com os olhos indo do celular para o macarrão se Kyo deixaria ele assistir de novo.
— Pega logo esse celular, pirralho. — Kyo mandou digitando com uma mão e comendo com a outra.
Alegria preencheu todo o corpinho de Keigo que puxou o celular de volta, mas ficou sem saber o que fazer. A tela do vídeo estava preta e tudo o que havia nela era uma setinha fazendo um giro. Kyo riu:
— Essa você vai ter que adivinhar sozinho.
Keigo decidiu clicar na seta e para a sua surpresa o vídeo recomeçou. Abriu a boca estupefato. Keigo só conseguiu comer depois que assistiu ao vídeo de novo. Queria ver mais uma vez, porém o celular vibrou e a tela mudou de repente.
— Me dá. — Kyo pegou o telefone e atendeu. — Tá bom. É, tô aqui mesmo.
Keigo recolhia os copos do macarrão para jogar fora, quando alguém bateu na porta e Kyo foi abrir.
— Ele está aqui?! — Satoshi ficou chocado.
O menino largou os copos no chão e saiu correndo para agarrar o boneco de pelúcia.
— Ela não levou ele?! Mas Tomie foi embora faz mais de uma semana! — Satoshi estava incrédulo. — Ela deixou ele aqui?!
Keigo estreitou os olhos para Satoshi e apertou mais o brinquedo para protegê-lo.
— Acho que ele não gosta de você. Vem cá, pirralho. — Sinalizou.
Arredio se aproximou, mas se manteve o tempo todo atrás das pernas de Kyo para evitar que Satoshi tentasse lhe tomar o boneco mais uma vez.
— Ele é bem obediente. Parece um cãozinho treinado às vezes. Conhece esse idiota, Keigo?
Acenou confirmando.
— Você gosta dele? — Kyo se divertia com as reações.
Keigo meneou que não. Kyo riu alto e deu um peteleco na bochecha dele.
— Vá brincar na parede ou sei lá.
— Por que ele escuta você? — Satoshi entrou no apartamento vendo a criança sentar contra uma parede sem tirar os olhos dele. — Ele me mordeu da última vez.
— Cheguei e estava morrendo de fome. Dei comida.
Satoshi refletiu um pouco antes de perguntar:
— Quanto tempo ele ficou aqui?
— Sei lá, uns cinco dias. — Kyo pegou uma das caixinhas que conectava no computador e deu para Satoshi. — Aqui está.
— Você tem muita coragem em voltar. — Satoshi guardou o objeto no paletó. — Ninguém esqueceu o que você fez. Foi você, não foi?
— Alguma prova?
— Nenhuma.
— Então não foi eu.
— O chefe está de olho. Você não me engana.
Kyo sorriu e se inclinou:
— É em você que ele deveria está de olho. Seu histórico de internet, suas mensagens, suas chamadas…
Satoshi assustou-se. Kyo continuou:
— Seria tão estranho se alguém descobrisse algo suspeito…
— Qual é a sua?! — Satoshi irritado tirou um bolo de dinheiro do paletó enrolado por um elástico.
Kyo pegou o dinheiro ainda com aquele sorrisinho e folheou as notas com o polegar.
— Certinho.
Satoshi umedeceu os lábios ainda irritado e apontou para o hacker:
— Você ainda vai se ferrar.
— É melhor você devolver o meu HD quando acabar.
O yakuza olhou de Kyo para Keigo e disse:
— Não faça mal ao garoto.
— Se manda. Tá na hora da sonequinha dele. — Kyo indicou com o queixo.
Satoshi deu uma última olhada para o menino lhe encarando com raiva da parede e foi embora.
Voltaram a ficar só os dois no apartamento. Kyo brincava jogando o bolo dinheiro para cima e para baixo ao falar:
— Se arruma, vamos sair pra comprar umas coisas.
O que acharam do capítulo? Deixem seus comentários, críticas, teorias e elogios.
Até logo.
Bjinhus!
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