Fujiwara
— Oh! Endeavor-san! Que coincidência! — Kei disse assim que pisou na sala de reuniões.
Enji discutia algo com seus assistentes que cumprimentaram Kei com acenos de cabeça, o loiro mesmo tão jovem era bem conhecido no ramo. Ele sorriu do seu jeito casual e despreocupado para eles.
— Como pode ser coincidência? — Enji perguntou. — A reunião hoje será com a Comissão. — Foi o que ele disse, porém estava surpreso, não sabia que Kei viria com os representantes, com certeza não era uma mera coincidência. Kei mexeu um ou dois pauzinhos.
— É bom ver o senhor Todoroki depois de tanto tempo.
Enji continuou com a carranca irritada de sempre. Tanto tempo? Que tanto tempo? Kei engoliu sua porra ontem mesmo, mas pela sua expressão as pessoas de fora jamais saberiam. Gostava de provocar.
O garoto carregava uma pasta igual as que Enji e seus assistentes tinham. Ele acenou para eles com ela e se retirou para o lado daquele homem sempre cansado chamado Mera. Selecionaram as páginas e começaram a discutir profissionalmente, Kei confiante em tudo o que dizia.
Mera se virou para os outros representantes, um deles sussurrou algo no ouvido de Kei que sussurrou algo de volta no dele. Se eles estivessem em um bar, Enji ficaria irritadiço, porém, esse tipo de atitude era bem comum no mundo dos negócios. Mas não foi isso que chamou a atenção de Enji e sim o comportamento deles, todos tão juntos vestidos de preto, menos Kei em suas roupas modernas, agindo como se fossem um só. Não lhe causou a admiração que achou que sentiria, na verdade, um estranhamento. Então pensou que além de Kei e dos que negociavam com ele a pequena união jamais conheceu outra pessoa que trabalhasse ou trabalhou na Comissão que era um conglomerado extremamente poderoso e famoso. Devia perguntar sobre a empresa para Kei mais tarde.
— Podemos começar a reunião, senhores? — Mera perguntou sem um pingo de animação.
Não havia nada mais do que excelência na Comissão, tudo saiu perfeitamente bem e Kei fez comentários relevantes além de esclarecer dúvidas dos outros sócios de Enji. Quando a reunião acabou estavam tão encantados com a capacidade do garoto que o convidaram para o almoço.
— É claro. — Sorriu concordando.
— Nunca ninguém me convida para nada mesmo. — Mera falou indiferente ao lado de Kei.
— Sr. Mera também está convidado. — o sócio mais novo esclareceu.
Ele não estava nenhum pouco entusiasmado:
— Oba. — A palavra saiu seca e inexpressiva.
Enji junto com seus assistentes já se retirava da sala de reuniões, havia muitos compromissos na agenda hoje.
— Endeavor-san, vem conosco? — Ouviu Kei perguntar quando cruzava o batente.
Enji o ignorou e seguiu andando.
— Acho que ele não gosta muito de mim. — Kei deu de ombros.
— Não ligue. — um dos sócios disse. — Endeavor-san é do tipo lobo solitário.
— Não é muito sociável realmente. — outro sócio pôs a mão sobre o seu ombro.
Mera notou como Kei conseguia fazer com que todos ali lhe orbitassem, foi por isso que o trouxe. A Comissão estava de olho em alguns sócios e investidores da empresa do Todoroki. Não era como se o rapaz não soubesse, gostavam de fingir que Kei era um passarinho bonitinho para se fascinarem e acariciarem quando na verdade era uma ave de rapina que a Comissão treinou bem. Todoroki sem dúvidas pensava do mesmo jeito e Kei se fazia assim para ele.
Mera suspirou com a pasta embaixo do braço observando aqueles dois torcendo para que o caso deles não lhe trouxesse nenhum trabalho. Não aguentava mais trabalhar. A Comissão não estava tão interessada em controlar a empresa de Enji, então podia respirar com ao menos esse alívio e poderia dar essa folga para o garoto já que ele conseguiu as ações de All Might. Que o garoto se divertisse o quanto quisesse com o ídolo, mas soubesse escolher se o momento chegasse.
O homem cansado escolheu o restaurante de sempre quando a Comissão queria agradar. Mera já sabia o menú todo de cabeça assim como Kei, no entanto fingia lê-lo para poder descansar a mente e não ter que fingir que tinha saco para tudo aquilo enquanto o colega monopolizava a conversa e tirava risos dos futuros investidores.
— Takami Keigo? — A voz conhecida fez com que Mera tirasse os olhos da fonte elegante da cartela de vinhos.
Mera quis revirar os olhos, mas estava cansado demais para isso também. Apenas fechou a cartela e a colocou embaixo das mãos cruzadas aguardando o que Kei faria. O loiro por sua vez sorriu cordialmente para o CEO, se levantou da mesa e o cumprimentou se curvando.
— Sr. Fujiwara. É bom revê-lo.
— Estou atrapalhando? — Fujiwara perguntou olhando de Kei para os outros ao redor. O homem também estava acompanhado de outros funcionários que o seguiam como cãezinhos.
— Fujiwara Chise? — um dos sócios de Enji perguntou empolgado. Mera não tinha interesse em diferenciar qual.
Fujiwara meneou concordando.
— Este é Fujiwara Chise. — Kei apresentou para todos na mesa. — Da família Chise.
Todos ficaram surpresos. Ah! Mera odiava essas famílias ricas de gerações e gerações. O estouro da bolha econômica nos anos finais do século passado nem fizeram cócegas nelas. Todos fediam a dinheiro velho. Seria muito bom se eu tivesse nascido rico, não teria que me matar trabalhando. Mera se permitiu fantasiar com todos os canais de pay per view que assinaria se tivesse todo o tempo livre que gente rica tem.
Os sócios de Endeavor se levantaram para cumprimentar o homem, um dando um aperto mais firme que o outro. Mera continuou sentado com vontade de um cigarro.
— Podemos almoçar juntos? Sinto que há muitos assuntos interessantes para se discutir. — Fujiwara sugeriu.
Quem era Kei para dizer não? Quem era Mera para dizer não? Se um dia saísse da Comissão precisaria procurar emprego em outro lugar… enquanto Kei? Bom, Keigo nunca deixaria a Comissão.
— Excelente ideia. — o loiro sorriu e puxou a cadeira ao seu lado para o homem sentar.
Fujiwara deu dicas de todos os pratos e como os sócios queriam puxar o saco dele para futuros investimentos pediram o que ele sugeriu até Kei levantar o dedo e sugerir um acompanhamento diferente. Fujiwara sorriu e concordou. Mera escolheu o próprio prato, foda-se era no cartão da empresa mesmo.
O CEO era um homem de meia-idade, um ou dois anos mais novo que o Todoroki, considerado um mestre da mais alta estirpe desde de sempre. Ele tinha cabelos pretos como piche penteados para trás com gel já rajados de branco nas têmporas, um maxilar forte, sobrancelhas densas, ombros largos e um queixo duplo. Sorriso branquíssimo e afiado como navalha. Um típico tubarão-branco dos negócios.
Um tubarão-branco pronto para saltar das águas e abocanhar um certo gavião… Ele poderia salivar olhando Kei. Mera não sabia o que Kei fez para esse homem, mas fez muito bem. Fujiwara ainda era um playboy mesmo depois dos trinta, a Comissão tinha informações muito concludentes quanto a isso.
Todas as suas secretárias eram amantes contratadas. Fujiwara foi casado duas vezes e teve dois filhos oficiais que assumiriam os negócios depois dele. E um bastardo vivendo na Europa com a mãe e o “pai” com uma pensão e poupança muito gordas. Atualmente não tinha uma amante oficial.
Por culpa de Kei.
Fujiwara queria Keigo no posto, foi bem claro quanto a isso: “Me dê ele e eu assino o que mais vocês quiserem”. Mas a Comissão já tinha tudo o que queria e colocou a proposta dela em modo suspensão, o que quer dizer que nunca aconteceria. Fujiwara há meses mexia seus botões para contatar Kei.
Agora ele sorria para Kei e lhe servia vinho direto na taça. Se Fujiwara não pudesse ter Kei da Comissão ele teria os investidores que a Comissão queria até ela ceder. Péssima ideia. Fujiwara e Kei lutavam nas entrelinhas para quem dominava a conversa. Mera observava a disputa e os sócios divididos e absorvidos pelo jogo.
Quando o almoço acabou, Fujiwara incutiu:
— Poderíamos nos encontrar novamente. O que acha, Kei?
Kei sorriu, o convite era só para ele e o empresário colocando-o assim na frente dos outros passava uma impressão de confiança em Kei que poderia ser o intermediário em negociações futuras. Mera odiava esses joguinhos. Os sócios de Enji olhavam para o rapaz com expectativa.
— Claro. — Kei não podia recusar na frente de todas aquelas pessoas importantes e uma vez que aceitasse ir, teria que ir para não desagradar Fujiwara e a relação dele com a Comissão. Por isso todos os meses de esquiva. — Seria ótimo.
Mera bebeu mais vinho da taça para harmonizar com a última garfada da refeição enquanto via a atuação impecável de Kei que jamais desagradaria a Comissão.
— Vejo você nas próximas semanas, Kei. — Fujiwara sorriu vitorioso. Depois se despediu dos homens: — Senhores.
Todos os sócios de Enji ficaram contentes com a refeição e deram seus contatos pessoais para Kei e Mera. Alguém tão admirado por Fujiwara Chise devia ser alguém que com certeza valia a pena investir limpando todas as suas suspeitas sobre a Comissão e estavam ansiosos para saber como o encontro deles se daria.
Se despediram dos sócios na frente do restaurante, esperaram eles partirem para Mera pegar o primeiro cigarro.
— Não que eu me importe… mas o que você vai fazer? — o cansado ofereceu um cigarro para o rapaz. O inverno na rua continuava ferindo seus ossos, Kei aceitou um com dedos frios e vermelhos.
— Você se importa sim. — Kei aceitou o isqueiro de Mera também. Soltou uma baforada e devolveu o plástico laranja. — Pode complicar seu trabalho.
— Tsc. — Cerrou os dentes com o cigarro entre eles. — Vai fazer o que ele quer?
— Nah… aí ele vai querer de novo. E de novo. E de novo. Vou só dar um fora nele bem respeitoso.
— Esses ricos de merda. — Mera tirou o cigarro da boca. — Nunca acostumados a perder.
— É só esse o interesse real dele.
— Mimado. O pai dele era um merdinha também. Tal pai, tal filho.
Kei riu e bateu as cinzas do cigarro para longe:
— O pai dele era assim também?
Mera agradeceu silenciosamente a Kei por ter perguntado mesmo já sabendo da história. O rapaz estava fazendo um favor ao deixar Mera extravasar toda sua raiva:
— Teve uns cinco filhos bastardos. — Mera disse cansado. — Chise é sortudo de ser legítimo.
Mera deu mais um longo trago e soltou a fumaça junto com as palavras:
— Quando eu era criança achava que as pessoas ricas não tinham esse tipo de problema.
Kei riu. Mera continuou:
— Com o tempo e nesses negócios a gente vê que quem mais tem esse tipo de problemas e piores é gente rica. Quanto maior o dinheiro, maior o drama.
O loiro deu de ombros. Mera não esperava que o rapaz começasse a destrinchar a vida do Todoroki ali, a Comissão sabia da internação da esposa dele. Que tipo de cara começa um caso quando a esposa está numa clínica psiquiátrica há anos?
Mera decidiu ser um bom adulto e dar um conselho:
— O que eu mais aprendi nessa vida é que o melhor é ficar longe dessa gente e do drama todo. — Gesticulou com o cigarro queimado quase até o filtro na mão.
— Não pretendo manter nada de Fujiwara.
Mera resolveu aceitar a deixa. Então quer dizer que ele e o Todoroki não tinham nada muito intenso… ou era isso que Keigo queria que ele acreditasse? Só de pensar, sua cabeça doía.
— Não desagrade muito o babaca do Chise. — falou jogando a bituca do cigarro no chão.
— Não é como se ele pudesse cancelar o contrato. — Kei soltou uma espiral de fumaça pelos lábios.
— Graças a Deus às multas milionárias. — Mera apagou o cigarro com o sapato.
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