É tudo culpa sua
Keigo assistia junto com a pelúcia um drama quando a televisão desligou sozinha. Quebrou? O menino se levantou para checar, colocou a orelha no lado e atrás do aparelho e não ouviu nada. Tentou ligar e nada. Tirou e colocou na tomada. Mas a televisão continuou desligada, Kei decidiu esperar um pouco e tentar novamente. Tiraria uma sonequinha antes da mãe chegar, abraçou a pelúcia e fechou os olhos.
Acordou com a testa suada e a camisa grudada nas costas. Estava tão quente hoje… trouxe o ventilador do quarto da mãe para a sala e tentou o ligar na tomada. Ué? Ele também quebrou? Colocou o plug dele em outras tomadas para testar e não funcionou. O menino deixou o ventilador no tapete pois carregar ele de um lado para outro lhe deixou com sede. Beberia água e tentaria de novo.
Nenhuma das garrafas estavam geladas, Keigo puxou uma cadeira de plástico para alcançar o congelador e procurar gelo. Ao puxar as forminhas viu que só tinha água nelas. Ficou encucado. Todas as coisas quebraram?
Keigo desceu com cuidado da cadeira, bebeu água e depois tentou acender as luzes da casa. Nenhum interruptor funcionava.
Mas mamãe pagou a conta de energia, pensou. Ele viu ela separando o dinheiro.
O menino correu para a única janela que tinha na casa: o balancim de vidro do banheiro sobre a pia. Keigo apoiou os dois pés sobre a porcelana verde e as mãozinhas na espelheira para não cair, mas era difícil fazer tudo isso segurando a pelúcia. Ficou na ponta dos dedos dos pés sobre a pia e forçou o balancim abrir, esticou o corpo todo para observar a rua lá fora. Algumas crianças brincavam de bola, Keigo ficou as vendo por tanto tempo que até esqueceu seu objetivo principal.
Elas riam e corriam umas com as outras numa espécie de jogo de se atingirem com a bola vermelha. Keigo só via outras crianças na televisão, não sabia que haviam tantas e tão perto! Os pais delas deixavam elas saírem assim ou elas fugiam? Não sabiam que era perigoso? Elas terminaram esse jogo e começaram outro, Keigo colocou o herói para ver com ele. Então elas terminaram esse e começaram mais um.
Keigo queria brincar também, nunca brincou com ninguém além do boneco, olhou para o balancim e viu que poderia passar por ele caso se espremesse… mas estava no segundo andar e a queda poderia lhe machucar muito feio. Viu no noticiário o que acontecia com aqueles homens de terno e gravata que se jogavam dos prédios em que trabalhavam. O menino se contentou ao ver as crianças brincando que mal percebeu a tarde passar e seus pés ficarem dormentes.
— Mamãe chegou, Keigo!
O menino se assustou e ao pular da pia acabou escorregando batendo o braço e a perna na espelheira com um grande estrondo quase a derrubando.
— Keigo! — A mãe correu para o banheiro. — O que você tá fazendo?!
Ela viu a pelúcia sobre a espelheira aberta com as prateleiras caídas e o menino segurando o braço com dor e se apoiando numa só perna.
— O que você tá fazendo?! — Avançou sobre ele segurando-o pelos ombros. — O que tava fazendo?! Não minta para mim! — Sacudiu-o com força.
— Eu queria ver se tinha luz lá fora…
— Mentiroso! — Ela o sacudiu de novo. A cabeça de Keigo não ficava no lugar deixando-o tonto. — Você tava tentando sair! Quantas vezes fez isso?!
— Não tentei sair, mamãe…
— Mentira! — ela gritava na cara dele e o prendia com unhas de ferro. Keigo sentia o coração encolher de medo. — Você tá tentando me largar que nem o seu pai! Admita!
— Não, mamãe… eu não vou deixar a senhora…
— Para de mentir! Admite o que fez!
— Não, mamãe…
SLAP!
A palma da mulher desceu veloz, cinco dedos delgados carimbaram a bochecha pálida do garoto. Lágrimas vieram aos olhos de Keigo pelo impacto, mas não foi ele quem começou a chorar, a mãe desabou abraçando ele.
— É tudo culpa sua! — Soluçava. — É… tudo… culpa… sua…!
Os braços dela apertaram-no ainda mais, tirando o ar do seu peito e comprimindo seu braço machucado. Os cabelos macios dela roçavam seu rosto e tinham cheiro de perfume e as lágrimas escuras de rímel. Ela tremia.
— Se você não tivesse nascido nada disso teria acontecido! É tudo culpa sua!
Keigo envolveu os braços ao redor da mãe, sentiu seu perfume e fechou os olhos dizendo:
— Desculpa, mamãe…
Capítulo surpresa!
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Obrigada por lerem!
Bjinhus!
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