Documentário
— Foi você que fez o tempurá, meu rei? — Kei perguntou no segundo prato.
— Foi.
— Está muito bom. Por que além de gostoso você cozinha tão bem?
— Tempurá não é difícil. É você que não sabe cozinhar nem para a salvar sua própria vida.
— Ai! Isso doeu? Está bravo porque sua filha cancelou o jantar? — Kei pegou mais um pouco com os hashis.
— Não estou bravo. — Enji comeu mais.
— Ahã. Deve ter sido coisa de trabalho. — Kei apontou os hashis para ele. — Logo vocês jantam juntos.
— Foi o que ela disse.
— O bom de toda essa história é que hoje eu pude ver meu rei.
— Não sei como isso pode ser bom.
— Que cruel! Mas eu sei que você gosta de mim — Kei riu e abriu a latinha de energético com o polegar.
— Pare com ideias ridículas.
— É tarde demais. — Kei fez um brinde com o copo invísivel de Enji. — Você até trouxe comida caseira feita com suas próprias mãos, meu rei.
— Não queria desperdiçar comida.
— Ahã, continue se fingindo de durão. — Tomou um gole. — Apesar de você ser *bem durão* se é que me entende.
— Nem comendo você cala a boca.
— Meu rei sabe muito bem o que cala a minha boca, é um salame do tamanho de…
— Coma quieto. — Enji ordenou irritado.
— Minha boca é um túmulo. — Kei pôs os hashis na frente dos lábios.
Enji respirou fundo e cruzou os braços sobre o peito e focou em Kei que a cada legume que enfiava na boca tomava um gole de energético. Dividiam a mesinha de centro da sala, Kei em um lado e Enji do outro. A televisão estava ligada passando algum documentário aleatório que Kei adorava, pelo menos não era um dos programas idiotas de auditório que ele fazia maratona quando estava entediado ou algum reality show americano, Enji sentia que perdia neurônios só de acompanhar Kei assistindo.
— Adoro sua comida caseira. — Kei comia com gosto como se fosse o frango fast-food que amava. — Eu só como comida caseira quando você faz, a não ser que eu esquentar pipoca de microondas seja considerado comida caseira.
— Pare de comer bobagens.
— A pipoca é light! E eu só peço comida saudável agora. Sabia que existe mais de dois tipos de batata? Eu achei que só existisse batata escovada e não escovada.
— Batata escovada não é um tipo de batata.
— Oh! Então só existe um tipo?!
Não precisava dos programas idiotas de televisão de Kei para perder neurônios, só ficar perto dele é bastante.
— É a minha primeira vez comendo tempurá. E é caseiro! Que dia incrível!
— Você está mentindo.
— Tô nada. Eu só via tempurá na televisão e nunca comprei antes. Estou feliz.
— É impossível você ter comido só agora.
— Por que é impossível? Tem um monte de coisas que eu não fiz ainda.
— Mentira. — Enji continuou com os braços cruzados sobre o peito, já havia terminado seu prato.
— É a primeira vez do tempurá, a primeira salada caseira que comi foi a que você fez, antes eu só comia a salada que vinha com o balde de frango.
— Anel de cebola frita não é salada.
— Há divergências. — Kei tomou outro gole do energético de café.
— Chega disso. — Enji tirou a latinha da mão dele.
— É a primeira vez que me impedem de beber o que eu gosto também.
— Esse energético vai te matar.
— É a primeira vez que escuto isso também. — Kei riu e comeu mais legumes. — Você é muitas das minhas primeiras vezes, meu rei.
— Igual quando você falou que era virgem?
— Hahahaha! — Kei bateu na coxa. — Eu confessei minha mentira logo em seguida, sua cara foi impagável!
— E quanto a namorada?
— Olha — Kei ergueu as mãos na defensiva —, já é bem claro que ela nunca existiu.
— Moleque. Duvido que algum dia tenha se envolvido com alguma mulher.
— No alvo. — Kei apontou para ele. — Nesse aspecto, eu sou virgem e pretendo continuar para sempre. Mas eu já fui ativo algumas vezes, sabia?
Enji achava que era impossível. Kei gostava demais de dar a bunda.
— Era bem no começo, mas aí aprendi o que era bom de verdade. — Kei falou de boca cheia.
— Seu professor te ensinou? — As narinas de Enji dilataram. O anel de aço brilhava no dedo de Kei.
— Está com ciúmes porque eu não dei o cu primeiro para você?
— Pare de falar bobagens.
— Não foi o professor, tem que esquecer ele, meu rei, águas passadas. Eu nem gostava dele tanto assim. — Kei deu um sorrisinho e disse — Não como eu gosto de você, meu rei.
Enji sentiu as orelhas ficarem vermelhas ao lembrar das palavras que Kei lhe falou há alguns dias.
— Por que você falou aquilo para mim? — Desviou o olhar.
— Aquilo o quê? Aaaah… que eu te amo? É porque eu te amo, ué. Precisa de mais? Eu só queria que você soubesse, não tem que retribuir ou nada do tipo. — Kei comia tranquilamente.
— E está tudo bem para você assim? — Havia uma nota de indignação por trás do tom sério.
— Está tudo bem para você, meu rei? Porque se pra você está bem, pra mim também está.
Enji não respondeu, ficou irritado sem saber o porquê, talvez tenha sido assim com o professor…
— Você não tem que dizer as mesmas palavras para mim ou sentir o que eu sinto. Eu só queria te falar mesmo porque gosto de falar o que eu sinto e penso, apesar de você achar que eu não penso muita coisa. Relaxa.
Ficaram em silêncio por algum tempo, apenas o som da mastigação de Kei e da televisão ecoavam pela sala. Kei já estava distraído com o documentário quando Enji perguntou sem tirar os olhos da mesa, a testa estava franzida:
— Foi a primeira vez que falou aquilo para alguém?
— Hã? Ah, não. Quero dizer, falar eu já falei, é claro…
— Foi para o professor, não foi? — Enji interrogou.
— Como quer que eu acredite que não tem ciúmes se não esquece esse professor?
— É você que não esquece ele.
— Sério, grandão? Ele foi um caso que não deu certo e eu nunca quis que desse. E não foi para ele que eu falei. E não, não foi para outro caso sórdido da minha vida promíscua horrorosa de sair dando o cu por aí. — Kei ironizou.
O loiro suspirou e continuou:
— Eu falei para os cuidadores do orfanato e esse tipo de gente. Falei porque todo mundo falava e era o que queriam de mim. Não entendia o significado. Mas agora entendo e foi a primeira vez que falei sabendo disso foi para você. Quer que eu repita?
Enji não respondeu, achava um desperdício Kei usar essas palavras com ele quando poderia arranjar alguém muito melhor. Kei falou de repente:
— Amo você!
Enji se espantou, Kei aproveitou a chance e pegou o energético de volta.
— Sua cara sempre é impagável! — Tomou cuidado para não se engasgar com a bebida quando ela escorreu do canto da boca para o queixo. Limpou com as costas da mão. — Nunca vi nada igual!
Enji apertou o próprio bíceps.
— Eu não sou como esses caras. — Estou me separando. Mas não podia dizer que era por causa de Kei, porque não era, mas não podia negar que havia um pequena porcentagem atribuída ao garoto.
— Claro que não. Você é único, meu rei.
Kei disse e continuou comendo, mas Enji sabia que Kei pensava nesta relação com um prazo de validade, ao menos antes, mas agora poderia ser diferente? Depois do divórcio o que seria dos dois? Não é como se Enji pudesse providenciar uma vida confortável ao lado de Kei, o que os filhos diriam? Quanto tempo passariam assim? Kei parecia muito ciente disso e por esse motivo só vivia o momento. A pergunta era: ele quer viver mais do que só o momento? E se quiser? Será com Enji ou outra pessoa? O que Enji poderia proporcionar para ele além de encontros escondidos? Disse que não era como esses outros homens, mas qual a diferença além do divórcio? Aquele empresário que viu Kei beijando na festa de negócios era de outra geração e sem dúvidas assumiria Kei se esse quisesse. Mas pensar em outra pessoa com seu passarinho lhe causava mal estar. A sua relação com Kei duraria o tempo que esse quisesse.
— Eu também não fiz muitas coisas ainda, meu rei… — falou sugestivo.
— Duvido, você é uma putinha.
— Ai! Você tá muito mau hoje, hein? Espero que continue assim na cama e não só da boca para fora. — Kei comeu outro legume e bebeu um gole do energético para acompanhar, seus olhos dourados voltaram para o brilho da televisão.
O documentário mostrava uma casa japonesa antiga e especialistas discutindo sobre o cômodo atual.
— Olha só, essa casa nem parece de verdade. É uma das coisas que eu não fiz, nunca vi uma assim de perto.
— Nunca entrou em uma casa japonesa? — Enji perguntou incrédulo afinal Kei era japonês e estavam no Japão.
— Já entrei nas modernas e naquelas mansões tradicionais super tecnológicas de chão aquecido. — Kei não tirava os olhos da televisão. — Mas nessas centenárias, não. Os empresários só gostam das ultras modernas agora com design misturado ao ocidental. São bonitas, mas não têm essa magia.
— Que magia? — Às vezes esquecia como Kei falava nada com nada.
— A magia dessas casas antigas, essas casas que parecem ser coisa de dorama. Eu nunca entrei numa, uma vez teríamos uma reunião na casa de um investidor, a casa dele tava como tesouro nacional na internet, fiquei empolgado, mas aí remarcaram para a torre comercial. A torre era bacana, mas não era uma casa centenária. — Bebeu mais. — Fiquei meio desapontado e não consegui mais ir em nenhuma casa assim.
— O que tem de especial nisso? — Enji cresceu em uma casa centenária e não entendia nada do que Kei queria dizer.
— É claro que você não entende. Você nasceu podre de rico numa família tradicional. Eu vim de um orfanato meio merda que o prédio antes era um armazém e agora virou um supermercado.
— Não há nada de mais nessas casas.
— Claro que sim. No orfanato, eu vi a entrevista desse cara que morava em uma casa japonesa centenária muito bonita que abrigou gerações. Fiquei fascinado e eu pensei na época que deveria ser muito legal ter algo assim.
— Como assim?
Kei tirou os olhos da televisão e lhe fitou:
— Ter um lugar de origem. Pertencer a algo sólido.
Enji refletiu sobre o peso que aquilo tinha para Kei, ele não tinha família, não tinha um relacionamento estável e tudo o que havia para si era a Comissão, mas trabalho e poder não preenchem vários vazios. Disso o homem mais velho entendia bem. Então, Enji convidou:
— Eu posso levar você para uma casa dessas.
Desculpe a demora e a falta de capítulo ontem, gente. Mas amanhã (que no caso é hoje) tem mais de uma atualização!
O que acharam do capítulo? Deixem seus comentários, críticas, teorias e elogios.
Obrigado por lerem.
Nos vemos amanhã!
Bjinhus!
A
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