Descobrindo gostos

— O que vocês, moleques, gostam de fazer? — Enji perguntou enquanto lia as mensagens da filha no celular. Agora trocavam mensagens.

— Uh. — Kei se arrastou pelo sofá e se sentou no seu colo com os joelhos dobrados apoiados nos lados e cara de frente para Enji. O garoto ultimamente adorava isso e ficou muito mais atrevido desde… desde… os beijos… — Meu rei vai me levar em um passeio?

— Claro que não. — Enji logo cortou as asinhas do moleque. — Mas se você quisesse sair para fazer alguma coisa… o que gostaria?

— Hum — Kei refletiu por um tempo e então — A gente não precisa sair para o que eu quero fazer…

— Não isso! — Enji o interrompeu e segurou o quadril do loiro com a mão livre para que parasse de se esfregar contra as suas calças.

— Ah! — A expressão de Kei clareou. — Então é para um dos seus filhos, grandão.

Enji não respondeu. Continuava a ler as mensagens de Fuyumi e fingir que Kei não existia, porém não tirou a mão do quadril do garoto por mais que ele tivesse aquietado o facho.

— Bom, eu gosto de…

— Ser irritante e não calar a boca.

— Uau, velhote. Fazendo piadas? Estou em choque.

— Garoto. — Enji avisou mandando-o ter cuidado com a língua.

— O que eu ia dizer é que eu gosto de ler, jogar videogames, escaladas e pular de asa delta… e comer em bons restaurantes acompanhado de homens grandes, ruivos e com o dobro da minha idade, mas esse detalhe é só uma curiosidade mesmo, nada demais, sabe?

Enji o ignorou propositalmente, o moleque realmente não perdia a oportunidade.

— Não acho que nenhum dos meus filhos gosta dessas coisas. — Não imaginava nenhum deles escalando ou pulando de asa delta. Com certeza, não era o perfil de Fuyumi.

— E do que eles gostam?

O homem ficou calado e Kei logo entendeu:

— Espera, você não sabe nada dos seus filhos? Tipo nadica de nada? — O silêncio de Enji explicou tudo. — Uau. Isso é um problema sério, né, grandão? — Kei já distraído deslizava as mãos para baixo da blusa social do maior que sentiu um toque metálico. — Tem que resolver isso.

— Minha filha gosta de romances. E de dar aulas. — Enji achou que foi a resposta lógica pois entre todas as possibilidades que o dinheiro de Enji podia oferecer ela escolheu ser professora. — E eu acho que de crianças.

— Uh — Kei cantarolou distraído nos músculos de Enji. —, será que você será vovô logo?

— O quê?!

Kei ria do susto que Enji teve, mas suas mãos continuavam percorrendo o torso do homem como se nada tivesse acontecido. Por consequência ou influência, Enji também começou a massagear distraído o quadril do garoto.

— Tô brincando. Não é porque ela é professora que ela quer ter filhos. — Kei explicou.

— Acho que quem vai ser pai primeiro é o do meio. — Enji se viu falando e pensando nas coisas que Fuyumi contou sobre Natsuo. — Ele estava namorando há um bom tempo.

— Estava? Ah, essas relações líquidas… — Kei brincou. — Nada parece durar!

— E quem é você para falar sobre relações duradouras?

Kei se aproximou do rosto de Enji e disse sorrindo:

— Tem razão. Quem eu sou? A última relação duradoura que eu tive foi… foi… nem sei! E você, meu rei? Quais suas relações duradouras? Além do seu casamento bem sucedido é claro.

— Você está ultrapassando uma linha bem clara, garoto.

— Desculpe, desculpe. — Kei ergueu as mãos em sinal de rendição. — Mas você tem razão, eu não tenho relações duradouras.

— E aquele tatuado? — Enji se viu perguntando.

— Ele? — Kei falou de um modo tão casual que Enji não gostou nenhum pouco. — Ele não é uma relação para assim dizer.

— O que quer dizer com isso?

— Ele não conta.

— Não conta? E por que você traz ele aqui para o seu apartamento?

Kei sorriu e sua voz se tornou perigosamente sedutora:

— Desse jeito vou pensar que está com ciúmes, Sr. Todoroki.

— Pare de bobagens. — Kei se desviava do assunto, o que foi bom porque Enji não queria saber daquele tatuado mal encarado por um bom tempo.

— Mas não vou trazer ele aqui mais. — Kei envolveu o pescoço de Enji com os braços.

Enji também queria ouvir que ele não dormiria mais com ninguém e nem seria tão receptivo a novos caras.

— Isso lhe agrada, meu rei? — Kei lhe deu um beijinho na ponte do nariz e em seguida nos lábios.

— Não era essa a conversa. — Tirou os braços de Kei do seu pescoço, senão logo seria tragado por aqueles olhos e aquele corpo.

— Claro, claro. — Kei concordou e suas mãos voltaram para dentro da blusa de Enji. O garoto não tinha jeito. — O que mais você sabe dos seus filhos?

— O do meio gosta de videogames.

— Incrível. — Kei ironizou. — Já podemos traçar toda a personalidade dele com base nessa única característica.

— Você não está ajudando.

— Ah, meu rei. Existem muitos jogos, muitas plataformas, só saber que ele gosta de videogames não serve.

O homem mais velho lembrou que Kei jogava essas bobagens também, talvez estivesse na moda um em específico e Natsuo o jogasse também.

— O que você gosta de jogar?

Kei disse sem tanta atenção:

— Muita coisa. Mais de vinte jogos.

Enji se incomodou com a falta de empenho do loiro e o toque novo de metal então tirou as mãos de Kei debaixo da sua blusa. Segurava ambos os pulsos apenas com uma mão e então viu o anel no indicador do garoto. Nunca tinha visto aquilo antes.

— Onde conseguiu isso? — O anel era de algum aço escurecido e tão longo que cobria quase uma falange inteira do dedo.

— Ganhei. — Kei simplesmente respondeu.

— De quem? — Enji deu uma boa olhada na jóia, tinha losangos gravados e cara de coisa de roqueiro revoltado. Sem dúvida foi aquele tatuado.

— Não posso contar.

— Mentira.

— Realmente não posso contar, meu rei, é um segredo de estado…

— De quem. — Enji ordenou seco.

Kei caiu na gargalhada e por pouco não caiu para trás, Enji o puxou de volta.

— De um professor. — Kei explicou. — Meu prêmio de bom aluno. — Pontuou bem cada palavra.

Kei riu do modo confuso que Enji o fitou e então disse:

— Você sabe que eu mesmo posso comprar as coisas para mim, não sabe?

Enji soltou os pulsos e voltou ao assunto que interessava de verdade:

— Diga o que vocês, jovens, gostam de fazer. Sem gracinhas.

— Séries, cinema, cultura pop, frango frito, zoar velhos confusos com os novos tempos…

— Garoto.

Kei suspirou fundo e disse:

— Tem um jeito mais fácil de você saber o que seus filhos gostam.

— Como? — Enji ficou intrigado, teria que contratar alguém para descobrir?

— Ué? É só perguntar para eles. — Kei falou o que lhe pareceu óbvio.

O mundo iluminou para Enji com a resposta. Sim, bastava ele perguntar para Fuyumi e ela diria. É isso!

— Vai mandar a mensagem agora? — Kei perguntou esticando os olhos para o celular.

Enji virou a tela para si e tentou digitar com o polegar. Muito difícil. Grunhiu para aquelas teclas pequenininhas. Apertava numa e outra aparecia. Tirou a mão do quadril de Kei e tentou com o indicador, muito melhor, porém não menos complicado.

— Como você demora para digitar. — Kei falou repousando a cabeça no peito de Enji.

— Quieto. — Enji mandou pois Kei roçava o rosto sobre a sua blusa dificultando ainda mais a sua luta com o corretor do teclado que insistia em trocar suas palavras.

Kei se recostava no homem como um passarinho carente.

— Já disse para ficar quieto. — Enji conseguiu mandar a mensagem entre trancos e barrancos.

— O que você mandou? — Kei perguntou roçando o nariz no seu grosso pescoço.

— Não te interessa. — Enji falou observando a tela do celular pela resposta de Fuyumi.

— Você mandou algo legível? — Kei sorriu fitando o homem e depois o celular. — O que tá escrito aí? — Riu após ver a tela. — Você parece um tio do zap mandando mensagem!

O que era um tio do zap?

— Eu não conheço nenhum zap. — Enji falou.

Kei gargalhou alto do homem. Enji lhe deu um tapa na bunda assustando-o.

— Pare de gracinhas. — avisou.

— Vai me castigar? — Kei perguntou se aproximando do rosto de Enji.

— Pare de gracinhas. — O homem o encarava de volta tão sério quanto antes.

— Vai me castigar, meu rei? — Kei encaixava o nariz no seu. Beijou os lábios de Enji. — Vai?

— Moleque… — O homem repreendeu, porém abrindo a boca para a língua de Kei.

Enji se levantou do sofá com Kei agarrado ao seu corpo pelas pernas envolvendo e prendendo sua cintura. Enji o segurava pelas nádegas, largou o celular no sofá.

— Você vai se arrepender disso. — Enji afirmou enquanto seu pescoço era mordiscado ao levar Kei para o quarto.

Depois de toda aquela noite, Kei ressonava ao seu lado na cama descoberto e nu ao contrário de Enji que vestiu pelo menos a cueca. A facilidade que Kei tinha para ficar pelado era absurda demais para o homem. Quando faziam com camisinha, o garoto apenas deitava como se não estivesse com a bunda virada para cima e ficava três vezes mais sem vergonha.

Enji olhava para o celular esperando que sua mensagem fosse visualizada pela filha. Algo agoniante era essa espera. O celular apitava e toda vez ele pensava ser a filha, mas no final se tratava de outra coisa. Internet veio para enlouquecer as pessoas, por isso os adolescentes não saíam dela. Bom mesmo era no seu tempo em que…

Kei murmurou no sonho e se virou para o lado de Enji, o rosto completamente inerte próximo das mãos onde o anel prateado cintilava a luz do celular do homem.

“De um professor.” O homem relembrou a troça de Kei. “Meu prêmio de bom aluno.” Todas aquelas palavras por algum motivo para Enji saíram muito tortas da boca de Kei. Até o modo como ele mexeu os lábios lhe pareceu meio torpe como se escondesse bem mais do que dizia na brincadeira. Enji nem quis pensar nisso, porém sua mente sempre voltava para o ponto principal: Kei ganhou o anel de alguém ou era tudo uma gozação?

Algo incomodou o homem bem lá no fundo queimando devagar. Enji deixou o celular de lado e foi se deitar, deu uma última olhadela em Kei e então o cobriu com o lençol. Kei não falava mais sobre outros caras desde aquele dia em que foi pego no flagra de manhã. O anel deve ter sido somente uma piada de mau gosto como todas as outras.

Olá! Gostaram do capítulo?

Novo adendo sobre as indicações de músicas: gostei muito e me ajudaram na inspiração! Vou procurar mais do tipo. E se vocês quiserem deixar mais indicações o lugar é aqui.

Obrigado por lerem e veremos o que os próximos dias nos esperam. ;)

Bjinhus!

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