Cordas
Aviso: violência e tortura explícitas!
Arrancaram três unhas de Kei. Polegar, indicador e médio. A primeira doeu duas vezes, enfiaram a ponta do afiada do alicate na carne embaixo da unha e puxaram, mas não saiu inteira, uma parte ficou, então enfiaram de novo na parte sangrando e arrancaram tudo. Kei esperneou e se debateu, a voz voltou ao tom infantil e a cadeira em que estava caiu de lado. Os soluços e lágrimas se misturavam a saliva no chão frio do galpão. Seu peito subia e descia arfando de dor. Era uma dor aguda como tirar a cutícula, porém a cutícula era todo o seu dedo. Sentia pulsar e queria desesperadamente apertá-lo para a dor diminuir.
Ergueram a cadeira e dessa vez seguraram os ombros de Kei para ele não cair de novo. Shigaraki mostrou o pedaço de unha ensanguentada preso no alicate. Kei ainda arfava. Soltaram seus braços de trás da cadeira para amarrar seus pulsos nos braços dela. Seguraram seu rosto para que visse a próxima.
A segunda unha foi mais fácil de arrancar, Kei mordeu os lábios até sair sangue e xingou jogando perdigotos a metros de distância. Os capangas não deixavam se mover nem para sossegar a dor no seu aperto de ferro, somente as pernas esticavam e chutavam o chão.
- Ainda não vai falar? Faltam oito unhas.
Se Kei estivesse de bexiga cheia sem dúvida teria se urinado. O peito subia e descia e tudo na sua frente era névoa de dor.
- Não desmaia, bonitão. - Uma mulher deu tapinhas na sua bochecha. - Ainda não acabou.
A cabeça de Kei pendeu para o lado, mas logo todo seu corpo ficou tenso quando arrancaram a terceira unha. Já estavam profissionais nisso.
Shigaraki saiu de trás da cadeira de Kei e jogou a unha para longe.
- Vou dar um tempo para você pensar melhor. - Abriu e fechou o alicate. - Cuidem dele.
O líder deixou o galpão e boa parte o seguiu, exceto duas pessoas. E então começou outra rodada de socos no estômago e tapas no rosto. Kei se engasgou com a própria bile e os dois homens ficaram rindo ao vê-lo sufocar e se sujar.
- Até que aguenta bem para um engomadinho da Comissão. - Era o mesmo cara que tinha lhe estapeado antes. - Vai ser divertido brincar com você. - Cuspiu no seu rosto.
Eles finalmente deixaram a sala e Kei desmaiou.
- Mas que merda você se meteu, hein?
A mente de Kei caminhou de volta para a consciência ao ouvir a voz de Dabi.
- Era para ter saído da cidade. - Ele acendeu um cigarro com um isqueiro de metal. - Por que não escutou?
- Você tá aqui? - Kei sentia todo seu rosto inchado e mal conseguia abrir um dos olhos.
- Tô aqui já faz um tempão, você não viu porque tava ocupado sendo saco de pancada. - Guardou o isqueiro no bolso. A brasa laranja brilhava viva na ponta do cigarro.
- Quanto tempo tô aqui? - Kei olhou ao redor procurando qualquer indício de horas. Nada.
- Já tá de madrugada. - Dabi soltou uma espiral de fumaça para o teto. - Os imbecis lá fora estão dormindo.
- A Comissão vai te dar uma fortuna se me ajudar. - Sabia que seria inútil, contudo tentou mesmo assim.
- Não tem como nós dois sairmos vivos daqui. - Colocou o cigarro na boca. Os piercings cirúrgicos dele cintilavam na má iluminação.
- Eu vou contar para eles de nós dois. - Jogou a última cartada.
- Não vai, não. - Dabi pegou seu blefe. - Senão eles vão achar que você fez mais coisa e você vai apanhar mais para tirarem a confissão. Nessa altura, você vai confessar até que causou a 1ª Guerra Mundial e o estouro da bolha financeira.
- O que você quer?
- Te ver uma última vez. - Dabi sorriu. - Um cu desse tem que ser prestigiado.
- Você vai me ver muitos dias ainda.
- Ha, não vou não. Shigaraki tortura você mais por diversão e porque ele acha que pode ser que conte algo da Comissão, mas ele sabe que a probabilidade da segunda opção é bem pouca.
- Querem mandar um recado para a Comissão. - Kei juntou os pontos.
- De amanhã você não passa.
- Merda. - Kei suspirou. - Puta merda. - Apoiou a cabeça no encosto da cadeira. - Tô fodido.
- Shigaraki acha que vai ser um aviso justo para essa "empresa corrupta que tirou a vida de Twice".
Kei riu e disse:
- Mas foi isso mesmo que a Comissão fez.
- E que você ajudou. - Tirou o cigarro da boca com o médio e o indicador e apontou para Kei. Os dedos desse estavam latejando.
- É, que eu ajudei. - Não tinha orgulho de admitir isso.
- Ei, o que você fez para Twice, precisamente?
- Achei que fosse um dos homens de Shigaraki. - Kei ironizou.
- Ah, ele não me conta os detalhes. Só sei das coisas na hora. - A brasa laranja avivou e brilharam em seus olhos turquesa. - Não gosta muito de mim, nem quando eu "descobri" a localização do seu apartamento isso mudou, mas eu não gosto muito dele também. - Deu de ombros.
- Filho da puta.
- Por que a surpresa? Eu te dei todos os avisos. Agora conte sobre Twice.
- Eu fui amigo dele e...
- Fingiu. - Dabi corrigiu.
- Não, eu não fingi. Eu realmente fui amigo dele, tentei ajudar com os problemas e...
- E isso justifica o que você fez? - Dabi estava se divertindo com a conversa.
- Não, não justifica.
- Termine de contar. - Carregava um sorrisinho.
- Usei da confiança dele e fiz ele me entregar todas as informações internas e podres que tinha da empresa que trabalhou em anos e deu um chute nele quando os problemas da cabeça começaram a surgir. Depois, fiz ele me contar sobre os outros que tinham essas conexões obscuras com outras empresas, entreguei para a Comissão e a Comissão entregou todos eles que não fossem úteis para a polícia e entreguei a ideia de mercado dele para a Comissão assim como os espiões que tinha lá dentro.
- A Comissão tinha espiões infiltrados? - perguntou levemente surpreso. - Vocês parecem uma seita.
- Não espiões, mas gente que talvez pudessem trair.
- Uau. Mas não foi só isso, não foi? Shigaraki parece puto demais.
- Não foi. Twice seria preso se não se juntasse com a Comissão, tentei levar ele para o nosso lado, porém ele recusou e tentou me matar com uma barra de ferro. A polícia chegou e ele foi preso em flagrante, a Comissão conseguiu provar que ele era doido e não podia responder por si próprio. Ele foi internado.
- Mas os pertences dele que podiam incriminar a Comissão ainda eram um problema.
- Sim, Twice me falou de um parente distante que ele tinha, eu fui atrás dele em nome da Comissão. Conseguimos uma procuração para esse parente que passou a tomar conta de tudo que era do Twice, transferiu ele de hospital e proibiu qualquer visita, ele deu todos os HD's e computadores para a Comissão em troca de uma fortuna. Twice precisava de ajuda...
- E você ajudou?
- Ele não quis... foi leal aos amigos até o fim...
- Você se arrepende? - Davi estava genuinamente curioso.
Kei demorou para responder.
- Se não fosse a Comissão, seria outro. O grupo Fuji estava de olho nele, ao menos não o mataríamos.
- Oh. - Dabi riu e se aproximou debochando. - Isso faz você se sentir melhor?
Não há nada que faça. Kei abaixou a cabeça.
Dabi assobiou:
- E esses caras de fora pensam que são sem escrúpulos. Você ganha de todo mundo desse prédio.
O rapaz agachou na altura de Kei, inclinou a cabeça e segurou com cuidado o queixo de Kei:
- Será que você queria mesmo ajudar ele ou só levar uma companhia para a sua gaiola de ouro na Comissão, passarinho? Deve ser tão solitário lá dentro. Nem o seu velho consegue te consolar?
Kei lembrou do apelido que Enji lhe dera e temeu por ele.
- Passarinho?
- Você lembra muito um. - Escrutinhou Kei. - Não é uma associação difícil. Não me surpreenderia se o teu idoso te chamasse assim.
- Que velho? - Kei questionou. - Levei um pé na bunda.
- O lance de vocês já acabou? - Dabi lhe soltou e levantou. - Que pena. Eu diria para você tentar a sorte com o velho que salvou do sequestro de Shigaraki, vocês podem se ver no inferno sei lá. Shigaraki tá tão puto que talvez esqueça a recompensa e mate o velho só porque você salvou ele. Tão impulsivo. - Dabi riu.
- Do que tá falando? - o coração de Kei disparou. - Shigaraki tá com o velho?
- Nossa, por que a preocupação?Parece mesmo que você quer dar para ele. - Soprou uma rosquinha de fumaça. - Shigaraki ainda quer sequestrar o velho, quer a grana e detesta esses reis do mundo corporativo. Uma grande perda de tempo na verdade.
Kei fez todos os cálculos na cabeça, Enji vivia cercado de seguranças, exceto quando estava consigo, porém eles terminaram, então Enji estava seguro. Sentiu certo alívio.
- Eu me preocuparia mais comigo mesmo na sua situação. - Dabi aconselhou. - O negócio não está bom para o seu lado. Um dos caras lá fora gostou demais da sua carinha bonita, se tivesse tempo você estaria amarrado de quatro agora.
Eu teria uma chance então... pensou sem esperanças.
- Vão acabar comigo aqui, me jogar numa vala na estrada e dizer onde meu corpo está para a Comissão?
Dabi soprou outra espiral de fumaça para o teto:
- Reparou que aqui não tem sistema contra incêndio?
- Ha.
- Bom, meu tempo acabou. Logo os babacas acordam. - Dabi fumava quase o filtro do cigarro. - Algum último pedido?
- Você não vai fazer o que eu quero.
- Não mesmo, passarinho. Você tá sozinho nessa.
- Me dá um cigarro. - Kei falou conformado. - Quero fumar um desde de manhã.
Dabi riu, tirou do bolso o maço, colocou o cigarro na boca de Kei e acendeu-o com o isqueiro azul.
- Foi bom enquanto durou. - o tatuado disse.
- Nem tanto. - Kei soltou a primeira baforada.
- Queria dizer que espero que você sente em muita pica nesse tal de lugar melhor, mas a gente sabe que você vai direto pro inferno. - Dabi deu as costas e acenou enquanto se retirava - Adeus, Kei.
No galpão, ficou apenas Kei, as caixas, a cadeira e o cigarro.
Acharam que eu não ia voltar hoje?
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Obrigado por lerem.
Nos vemos amanhã!
Bjinhus!
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