Círculos e baldes

Keigo circulava todos os kanjis que encontrava do seu nome na revista, o homem musculoso olhava da grande foto na outra folha. O menino ficou mesmerizado com ele, sempre acontecia quando encontrava o olhar dele. Será que um dia Keigo seria grande e forte assim? Pensou em si mesmo adulto e com o terno azul, gostou, mas preferia ver o homem do que a si mesmo.

Encontrou outro kanji do seu nome e circulou com a caneta, estava deitado no chão com a barriga para baixo e os pés para cima balançando.

Kyo dormia no quarto, levou o computador e o celular. Ele passava boa parte do dia dormindo igual a mãe e só acordava no comecinho da noite, por isso Keigo sabia que não podia assistir televisão durante o dia, exceto se fosse no mudo. Circulou outro kanji, a página inteira já estava cheia de círculos azuis, virou para a próxima um tanto triste pois não veria mais o Senhor Todoroki, porém para a sua surpresa havia outra foto dele. Menor que a anterior e ele estava sentado atrás de uma mesa de escritório.

Keigo teve uma ideia, pegou a revista e foi para a mesa da cozinha. Sorriu, estava feliz. Voltou a marcar os kanjis.

De repente ouviu Kyo sair do quarto, os cabelos escuros jogados na cara e indo sentar no sofá para ligar a televisão.

— Traz uma daquelas tortas pra mim. — Kyo mandou.

Keigo saltou da cadeira, foi para a geladeira pegar uma das tortas e um garfo. Entregou para Kyo e voltou correndo à mesa.

Kyo comia a torta quando do nada gargalhou para as notícias da televisão:

— Os Yoshida estão na merda! — Se inclinou mais para a tela enquanto comia mais uma garfada.

Os olhos verdes dele brilhavam para a reportagem e só saiu do sofá quando ela terminou. Kyo pegou o computador e sentou com os pés cruzados sobre a mesa, quase em cima da revista de Keigo. Apoiou o computador no colo.

A revista foi tomada das mãos de Keigo:

— Você tá três dias nisso. — Kyo folheava as páginas. — Olha só, marcou até os kanjis do nome do babaca também. — Observava os círculos impressionado. — Pelo visto, a droga não afetou seu cérebro mesmo.

Kyo também tomou a caneta de Keigo e escreveu algo nas páginas da revista. Mostrou para ele:

— Endeavor-san. — falou apontando cada kanji com a caneta. — Procure esses também. — Jogou as coisas de volta.

A campainha tocou, o sorriso no rosto de Kyo se desfez e ele foi devagar até a porta, mas uma de suas mãos estava sempre na parte de trás da calça. Observou com cuidado pelo olho mágico e fez uma expressão indiferente. Abriu a porta.

— Por que não ligou antes? — Kyo perguntou.

Satoshi entrou sem ser convidado no apartamento, Keigo recolheu a revista e saiu correndo para a parede.

— O que é isso? — o gângster estreitou os olhos atrás dos óculos de sol ao ver que o menino se encolheu em um lençol verde no canto da casa.

— É onde ele dorme.

Keigo se enrolou no lençol junto com a revista e a pelúcia, suas bochechas estavam cheias, as sobrancelhas apertadas e os pés prontos para se trancar no banheiro.

— Você deixa ele dormir no chão?

— Ele gosta.

— Puta de um pai você, hein? — Satoshi ironizou.

Kyo deu de ombros:

— Ela furou a camisinha.

Satoshi ignorou o hacker e virou para Keigo acuado na parede e se inclinou:

— Eu trouxe uma coisa pra você.

O menino estreitou mais os olhos e se colou mais contra a parede. Satoshi carregava uma espécie de balde e uma sacola de papel pardo.

— É bem gostoso. — insistiu. — Quer saber o que é?

— Você parece um tarado.

— Cala a boca.

— Ele vai te sequestrar, Keigo, e você nunca mais vai ver a cheirada da sua mãe.

— Da pra calar a porra da boca?!

Kyo riu e voltou para o computador. Satoshi continuava focado no garoto:

— É bem gostoso. Você gosta de frango frito?

Keigo engoliu em seco, o cheiro realmente era muito bom, ele olhou para o balde e salivou. Passaram três dias comendo miojo e Kyo nunca tinha vontade de temperar a carne que comprou.

— Vou deixar aqui pra você. — Satoshi colocou o balde no chão junto com o pacote de papel pardo que abriu. Empurrou para mais perto do menino.

Keigo continuou acuado observando o gângster se afastar com uma das mãos dentro do paletó branco.

— Tenho uma coisa pra falar contigo, seu filho da puta.

— O que? — Kyo não tirava os olhos da tela do notebook.

— Um dos meus novatos recebeu um golpe online.

— Hum?

— Logo depois de perder a carteira após cruzar com um cara de olhos verdes todo de preto. Parece que o filho da puta fez vários empréstimos com os dados dele. Engraçado, não acha?

— Não.

Satoshi avançou sobre Kyo que apenas deu um leve sorrisinho.

— Acha que me engana, seu filho da puta?! — O yakuza agarrou Kyo pelo colarinho. — Quem pensa que é para mexer com os meus homens?!

— Quem ele pensa que é para mexer comigo? Ele teve sorte que dessa vez foi só uma brincadeira. Na próxima, ele não sai vivo.

— O chefe não vai gostar disso.

— O seu chefe tá pouco se fodendo. — Kyo riu. — Eu faço mais dinheiro em um mês do que vocês em um ano.

— Você se acha o fodão, não é? Se fosse tão foda assim não teria voltado pra se esconder.

— Eu sou. — Pontual. — Agora, tira essa porra de mão de yakuza de mim, bostinha.

Satoshi soltou a roupa de Kyo que passou a mão sobre a blusa esticada antes de ajustar a postura na cadeira:

— Seu subordinado é um merdinha igual a você.

O yakuza respirou fundo, estava louco para puxar a arma e acabar com a vida desse desgraçado. Mas Kyo provavelmente também tinha uma arma e nada disso acabaria bem.

— Você é um psicopata do caralho. — Satoshi apontou. — Eu sei que foi você quem matou… — Se interrompeu ao ver Keigo tão perto do pai de repente.

O menino estava com a boca suja de molho e as mãos oleosas, cutucou o homem com o balde e assim que esse olhou, Keigo esticou os braços oferecendo o frango frito.

Kyo ficou surpreso e riu, pegou uma das coxinhas e mordeu.

— Não vai dizer nada pro cuzão que trouxe essa merda? — Kyo perguntou com frango entre os dentes branquíssimos.

Keigo olhou tímido para o homem e desviou o olhar ao falar baixinho:

— Obrigado…

Satoshi ficou perplexo, foi a primeira vez que ouviu o menino falar e as bochechas dele estavam vermelhas de vergonha. O yakuza limpou a garganta e disse para o outro homem:

— Não pense que você se livrou. Vai fazer um trabalho para mim.

— Aham. — Kyo cutucava a bochecha da criança com o osso do frango.

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Até logo!
Bjinhus!

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