Biscoitos
A porta abriu e luz entrou no pequeno apartamento. Uma sombra escura desenhada contra a luz do sol. Os olhos de Keigo arderam por um segundo e o enganaram achando que era mãe voltando do passeio.
Mas a figura não era tão esbelta e assim que deu o primeiro passo para entrar na casa, viu que era um homem todo vestido de preto carregando uma bolsa. Keigo se encolheu mais contra a parede abraçando os joelhos.
— Mas o que? Ela não te abortou? Eu sabia que ela era burra, mas não tanto.
Ele fechou a porta, não tinha nenhuma chave, apenas uma espécie de agulha retorcida na mão. Os olhos de Keigo se adaptaram ao escuro, ele não sabia o que fazer, nunca ninguém havia entrado na casa daquele jeito.
— Cadê a tua mãe?
Keigo permaneceu parado.
— Você é surdo? Cadê a tua mãe? — insistiu.
O menino não respondeu.
— Você é surdo?
Não devia falar com estranhos, dar a eles nem sequer uma palavra. Keigo acenou que não.
— Mudo?
Não novamente.
— Então diz onde está a sua mãe.
Keigo meneou mais uma vez.
— Ah, você não sabe onde ela tá. Que horas ela volta? Você também não sabe isso… Ela saiu faz tempo?
O menino olhou para a própria mão e mostrou os dedos para ele.
— Cinco minutos? Não? Cinco horas? Não? Cinco dias? — Keigo acenou que sim.
Demorou meio segundo antes do homem explodir em risadas. Lágrimas escorriam pelos olhos dele de tanto rir:
— Hahahaha! Ela te abandonou, moleque! — Ele limpou as lágrimas. — Ah, bem a cara dela. Quem mandou furar a camisinha? — O homem foi direto para a geladeira. — Caralho, ela não te deixou nem comida. Essa era família feliz que ela queria? — Riu zombando.
O estômago de Keigo doía tanto que ele não conseguia sair do lugar.
— Foda-se essa merda. — Bateu a porta da geladeira e sentou na cadeira da cozinha com os pés cruzados sobre a mesa.
De dentro da bolsa tirou um pacote de biscoitos pela metade e começou a comê-los. A barriga de Keigo roncou e seus olhos dourados estavam fincados em casa biscoito recheado que o homem levava a boca. Ele reparou nos olhos do menino e assim que o fez, Keigo desviou o olhar e escondeu a cabeça entre os braços e joelhos. Sua barriga roncava sobre a pelúcia apertada.
Algo bateu contra a sua cabeça fazendo com que a levantasse e visse um biscoito ao seu lado. Keigo o pegou com avidez e enfiou tudo na boca, outro biscoito caiu perto dos seus pés descalços, Kei o pegou como uma ave dando o rasante.
— Puta merda. Nem dá para fingir que você não saiu de mim. — Jogou outro biscoito que bateu no peito de Keigo que desesperado pegou-o sem deixar rolar para o chão.
Keigo não entendeu o que ele disse, estava preocupado em mastigar o biscoito e na festa que o estômago fazia.
O homem amassou a embalagem em uma bola e a jogou no lixo da cozinha sem sequer levantar da cadeira.
— Sua mãe pede comida de algum lugar? — ele perguntou.
Acenou que sim ainda mastigando.
— De onde?
Keigo apontou para a porta da geladeira, havia um cartão de visita preso a um ímã. O homem tinha a visão muito boa, daquela distância conseguiu enxergar os números e puxou o telefone. Então levantou-se, tirou uma nota do bolso da calça jogou-a na mesa e disse:
— Quando eles chegarem dá isso e pega o troco. Eu vou dormir. — Espreguiçou-se. — Ah, não deixa te sequestrarem, quero jantar hoje.
O homem foi direto para o quarto da mãe como se conhecesse o caminho.
O primeiro capítulo do flashback!
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Até outro dia!
Bjinhus!
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