Animal de estimação
— Esses são os documentos, senhor. — seu assistente falou colocando a pasta sobre a sua escrivaninha. — E hoje é o encontro social entre as novas negociações após a situação com a Comissão.
Passou um mês, mas todos ainda falavam sobre o enorme escândalo da Comissão, a cada dia mais informações vinham à tona e surgiram até algumas reportagens exclusivas com ex-funcionários. Enji tinha que se manter a par porque de uma forma ou de outra teria que resolver a situação da própria empresa com eles, sem dúvidas haveria uma quebra de contrato do seu lado.
Seu assistente ainda continuava na sua sala, Enji o encarou esperando que saísse. Pegou-o lhe fitando com o rosto nervoso e prestes a cuspir algo. Enji franziu as sobrancelhas.
— Senhor... senhor... sobre Haw- — ele empalideceu e desistiu. Enji não queria ouvir mais nada. — Perdão. — Curvou-se e partiu.
O empresário voltou a focar em seus papéis e fichas financeiras. Números e termos enchiam a sua mente, acabava com um atrás do outro até que entre eles havia uma projeção de lucros elaborada por Kei. O topo da folha coroado com o logo da Comissão. Lembrou que o loiro entregou a folha pessoalmente em suas mãos com um sorriso.
Enji tirou-a da bloco pronto para amassar em uma bola e jogar no lixo quando desistiu. Esticou o papel com as mãos e começou a lê-lo.
Kei sem dúvidas era muito bom no que fazia, podia vê-lo concentrado digitando o documento e depois brincando casualmente com qualquer um que se aproximasse sem perder o foco. A Comissão ganhou muito dinheiro com ele, se perguntou quanto exatamente e quanto com o pai dele.
Tudo aquilo não poderia ser verdade, mas todos os detalhes eram gritantes. Enji virou a cadeira para o computador e digitou Keiichi Kyo na busca.
Milhares de resultados apareceram. Foi a primeira vez que digitou o nome dele, muitos dos resultados eram recentes e tinham coisas intituladas "podcasts" sobre ele.
Enji clicou em um, era um arquivo de áudio de quase cinco horas. E esse só era a parte um de seis.
Escolheu outro resultado. Um artigo de revista intitulado *De Gênio a louco ou um gênio louco? Saiba tudo sobre a trajetória criminosa de Keiichi Kyo e o seu legado para a segurança da informação*. Passou a hora seguinte lendo a reportagem minuciosa, no entanto, não encontrou nada sobre os crimes que Kei disse presenciar ele cometer e nem a infância. Leu tudo. Era como se Keiichi Kyo só existisse a partir da adolescência. Não falavam do pai dele, nem dos vídeos, nem nada.
Digitou outras palavras na busca junto com Keiichi Kyo. Takami Keigo.
Vários sites faziam comparações entre a aparência dos dois. Faziam questão de pegar as melhores fotos de Kei nas redes sociais e pôr ao lado da de Keiichi Kyo segurando a placa com a sua numeração criminal. Ele sorria com uma mecha do cabelo caindo sobre a testa e um dos olhos, havia um corte no canto do lábio inferior e usava a jaqueta preta. Os comentários do site eram pura loucura:
"Como pode alguém ser tão lindo????"
"Kyo ladrão, roubou meu coração."
"Bem que a polícia podia prender ele aqui em casa hehehe..."
"Tal pai, tal filho. Aposto que esse Keigo também é um criminoso."
"Tal pai, tal filho mesmo. Dois gatos."
"Não me surpreenderia descobrir que o filho é um bandido assassino também."
"O filho dele é muito bonito. Keiichi Kyo não tinha um pau e sim um pincel. Ô moleque gostoso."
"Acho que ser twink é genético nessa família."
Saiu da página e clicou em outra. Nada do tal de Satoshi que Kei falou, muito menos sobre o tal de Goro. Veja como Keiichi Kyo destruiu um grupo da yakuza sozinho. Leu essa e outras parecidas, realmente ele parecia odiar mafiosos. Mas era só, não explicava o porquê. Foi para outra página. Crimes que Keiichi Kyo foi acusado e nunca conseguiram provar. Havia uma lista imensa, então Enji viu o nome de Goro.
"Encontraram o corpo com todos os tecidos totalmente dissolvidos um ano após a prisão de Keiichi Kyo. A perícia afirmou que Goro foi esquartejado com uma serra e suas partes mergulhadas em baldes de ácido sulfúrico que foram selados e jogados no porto da cidade encontrados por construtores do novo pier que substitui o abandonado. Não há provas que comprovem a autoria do criminoso, mas colegas de gangue de Goro afirmaram que viram ele ameaçar e bater em Keiichi Kyo várias vezes, no entanto, eles também afirmam Goro tinha muitos desafetos perigosos por seu comportamento e pelo parentesco próximo com um chefe yakuza..."
Foi o único indício que encontrou que condizia com o que Kei falou. Nenhuma outra matéria dizia mais nada além das especulações sobre a relação entre pai e filho.
O dia escureceu e já era hora de Enji partir para a tal da reunião social da qual não estava com nenhuma paciência.
Estavam no mesmo prédio e sala de recepções em que viu Kei se agarrar com aquele herdeiro. Seus olhos dardejaram pelo ambiente procurando o empresário sucessor, ele tomava champanhe com alguns colegas em um canto.
As portas do elevador abriram e boa parte dos convidados olharam para a direção. Fujiwara e seu grupo riam ao entrar.
— Esse filho da puta tá muito feliz. — Enji ouviu as pessoas na sua frente de costas para si comentarem. Um homem em um terno e uma mulher em um conjunto blazer.
— É claro que ele tá. Conseguiu boa parte dos clientes que quebraram contrato com a Comissão. — a mulher falou bebericando o champanhe. — Veio aqui só ver a gente tentar e rir da nossa cara.
O Grupo Fujiwara entrou em contato com a empresa de Enji cinco dias depois do escândalo. Disseram que analisariam a proposta.
— Ele já repôs todo o dinheiro que perdeu. — ela completou.
— Repôs? — o homem soprou incrédulo. — Ouvi dizer que ele já até triplicou! É um grande filho da puta mesmo.
— Cretino desgraçado.
— Ele é quase tão ruim quanto o pai.
— Acho que é pior. — ela discordou. — Tá sabendo?
— De que?
— Que ele comprou uma mansão nova.
— Ah, que ele comprou uma mansão para a nova "secretária". — o homem bebeu mais champanhe.
— Não! Esse é velho! — rebateu empolgada.
— O que? — ele não acreditou. — Já? Mas não faz nem um ano que isso aconteceu.
— Ele deu um chute na bunda dessa e comprou uma mansão nova mês passado.
— Sério? Mas ele troca de um em um ano — o homem estava intrigado. — Quem é a "secretária" da vez?
— Ninguém sabe. — ela também estava intrigada. — Estão dizendo que não trabalha pro grupo.
— Mas ele sempre contrata as amantes.
— Tá todo mundo esperando uma nova contratada aparecer no escritório dele. Meus colegas que trabalham lá dizem que todo mundo tá louco pra saber. Quando descobrirem, eu te conto.
O homem segurou uma risadinha.
— Fujiwara é um cretino.
Enji fungou, odiava essas fofocas do meio de trabalho, mas tinha que concordar, Fujiwara era um cretino. Jamais teve qualquer simpatia por ele. Jovem, já tinha má-fama. Sua reputação pessoal era péssima assim como as condutas do mesmo cunho.
Apesar de todas as fofocas direcionadas a Fujiwara, Enji não olhava para ele e sim para o herdeiro que foi um dos casos de Kei. Ou ainda seria? Ninguém querer ser visto com Kei no profissional era uma coisa, o que não significava que não poderiam se encontrar às escondidas. Talvez quando o herdeiro saísse do evento, fosse se encontrar com Kei em um hotel ou bar ou até no próprio apartamento. Mas Kei falou que não levava mais ninguém para a própria casa além de Enji, o que era mentira, pois quase pegou Dabi saindo de lá...
Quem sabe Kei na verdade não estivesse na casa do herdeiro só esperando ele voltar? Podia imaginar a cena. O herdeiro não estava muito empolgado com a festa afinal.
O rapaz deixou a taça em uma bandeja dos garçons e foi em direção ao banheiro. Enji instintivamente deu um passo para o seguir, mas logo reprimiu.
Ficou boa parte da festa ouvindo propostas que não tinha interesse, a de Fujiwara era melhor e ele, apesar de ser um cretino na vida pessoal era um bom profissional e não encheu a paciência de Enji nenhuma vez tentando lhe convencer.
Enji entrou no elevador para ir embora, então alguém correu e impediu que as portas se fechassem. Era o herdeiro. Enji cruzou os braços sobre o peito e se manteve firme encarando o horizonte.
Mais homens entraram no elevador. Eles riam, era Fujiwara e seu grupo de seguidores. A amante nova estava mesmo deixando-o de bom-humor mais que o comum.
— Você está parece muito feliz, Fujiwara-san. — o herdeiro disse de repente.
Fujiwara acenou para um dos seus homens apertar o botão, as portas se fecharam e a inércia do elevador foi quebrada e sentida. Eles desciam devagar.
— Estou. — Fujiwara sorriu. Era conhecido por não ter vergonha alguma, na verdade, era orgulhoso da fama que tinha.
— Uma nova secretária está o ajudando?
Os homens riram e ficaram curiosos. Enji só queria chegar no térreo.
— Não, não. — Fujiwara sorriu bem-humorado.
— São os negócios?
— Também. — Ele riu. — Mas estou empolgado com outras coisas.
— Um novo campeonato?
Fujiwara era conhecido por jogar muito bem golfe. Enji nunca gostou de golfe.
— Não — Fujiwara sorriu satisfeito e olhou de esguelha para o herdeiro ao lado de Enji e às suas costas —, digamos que é um animal de estimação. Nunca tive um.
Os homens de Fujiwara ficaram confusos.
— Um cachorro ou gato?
— Acho que está mais para um pássaro.
— Qual tipo?
Fujiwara fingiu pensar e falou:
— Uma espécie de passarinho.
— Minha mãe coleciona aves tropicais.
— Ah, não pretendo colecionar. — Fujiwara explicou.
— Pássaros não gostam de ficar sozinhos.
— Verdade? Não acho que é um problema. Arranjei um lindo viveiro. — Fujiwara falou com um sorriso distraído.
O que acharam do capítulo? Gostaram? Deixem seus comentários, críticas, teorias e elogios.
O que será que acontecerá?
Até amanhã!
Bjinhus!
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