Amigos do trabalho

— Esse é o seu filho? — o homem esticou a mão para puxar o seu nariz. — Que bonitinho. É a sua cara.

— É a cara do desgraçado do pai dele. — Afastou a mão dele de Keigo que continuou parado agarrado ao boneco.

— Você ainda tá chateada com isso? — o homem vestido de terno e gravata se agachou para falar com Keigo. — Qual o seu nome, garotão?

O aperto do garoto sobre o boneco é tão apertado quanto o silêncio de seus lábios.

— Ele não fala. — A mulher explicou.

— Ele é retardado? Você é retardado, garoto? — Cutucou a bochecha dele. O menininho nem piscou. O homem achou curioso. — Você é retardado? — O indicador apertou mais a pele rechonchuda.

— Ele não é retardado. — Se irritou.

— Você tem amigos, garoto? — Era divertido cutucar o menino e ele simplesmente não reagir. Dava mais vontade de azucriná-lo. Já tinha visto alguma criança assim?

— Deixa ele em paz. — A mãe foi para o quartinho vasculhar entre os objetos.

— Qual o seu nome, loirinho?

Keigo continuou parado e mudo. O homem observou curioso o garotinho: roupas de segunda mão, descalço, cabelo jogado para trás, rosto redondo como uma bolacha e olhos tão grandes e cristalinos como a lua cheia. Ele não tinha nenhum hematoma — o que era raro nessas situações — apesar da aparente sujeira.

— Peguei o seu nariz. — Fez a brincadeira mais idiota do mundo com ele. Mexeu o polegar entre o indicador e dedo médio.

O loirinho ficou em choque boquiaberto e levou a mão ao rosto atrás do nariz arrebitado. Quando o sentiu ficou aliviado e voltou a abraçar o bonequinho mais forte do que antes.

— Olha só, você parece que entende o que eu falo. — Riu. — Você não é retardado? É? — Cutucou o boneco.

Keigo se curvou para trás para proteger o brinquedo.

— Ah, entendi. — o homem disse. — Não pode tocar no brinquedinho? Deixa eu ver ele. Dá ele aqui. — Estendeu a mão.

Keigo ficou com todo o corpo tenso dando um passo para trás. O aperto na pelúcia intensificou.

— Deixa eu ver. — o homem insistiu. — Me dá isso aqui. — Segurou o braço do menino para puxar a pelúcia. Não precisava de muita força.

NHAC!

O menininho cravou os dentes de leite na mão do homem, prendendo a boca como uma ventosa na pele tatuada.

— Pirralho! — Empurrou a cabeça de Keigo para longe jogando-o com tudo no chão.

A nuca do menino batendo contra a parede foi audível, porém em nenhum momento ele soltou o bonequinho e nem chorou.

— Desculpe, garoto! Usei força demais! — o homem de terno se inclinou para a criança encolhida, apertava a própria mão contra a dor da mordida. — Você tá bem?

— O que foi isso? — A mulher loira saiu correndo do quartinho. — O que você fez com o meu filho?! — Abraçou o menininho que determinado protegia o brinquedo nos bracinhos.

— Acabei empurrando ele sem querer.

— Você tá bem, Keigo? — A mãe segurou suas bochechas. Ele acenou positivamente. Ela o abraçou mais forte e gritou com o homem: — Qual a merda do seu problema?! Ele não sabe se defender!

— Qual é a merda do seu problema, sua louca?! — O gangster rebateu. — Se não quer que nada aconteça com o garoto pare de trazer clientes pra sua casa! Vai se foder.

— Seu animal! — Abraçou Keigo com mais força. O menino sentia o tecido do vestido dela arranhando seu corpo. — Você assustou ele!

— Assustei caralho nenhum! É você que tá assustando ele gritando!

— Calma, meu amor. — Ela o ninava, mas Kei não estava assustado, era a mãe que tremia. Estava sem os remédios durante alguns dias. — Calma.

— Ele sabe se defender. — sacudiu a mão para se livrar da dor, a pele tinha os sulcos marcados dos dentinhos. — Olha essa merda. Tá sangrando. — Observou. — Você tem sorte de ser um pingo de gente bonitinho, pirralho, senão te daria um tapão.

— Calma, calma. — a mulher sussurrava alheia a tudo ao redor.

— Ele é feroz. Meu chefe ia gostar dele.

— Ninguém vai levar meu filho de mim! — ela gritou de repente. — Ele é meu!

O homem estalou a língua de saco cheio de tudo aquilo:

— Se acalma, mulher. Foi só uma sugestão, não sou um psicopata.

A mãe olhou raivosa para o gansgter.

— Vai querer o lance ou não? — ele perguntou impaciente.

Ela segurou os ombros do filho, fitando-o com olhos dourados emoldurados em círculos escuros numa pele opaca e a cachoeira loura sem vida que caía sobre as têmporas.

— Keigo, faça o que a mamãe mandou.

Ele meneou concordando e evitando o homem passou correndo para a porta do banheiro com o brinquedo.

— Ei, pirralho. — o homem o parou e de dentro do paletó branco retirou uma carteira de couro engraçada. Deu uma nota de dinheiro para o menino. — Desculpa aí pelo boneco.

Keigo ficou parado sem saber o que fazer. Não devia aceitar nada de estranhos.

— Não dê dinheiro pro meu filho. — A mãe tomou a nota dos dedos do criminoso e pôs no cano da bota.

O homem com desprezo estalou a língua novamente.

— Tranque a porta, Keigo.

O menino entrou no banheiro e girou completamente a chave na porta pesada. Sentou na tampa do vaso sanitário sacudindo as perninhas enquanto brincava feliz com o boneco, ficaria um tempo ali sozinho, o que não era ruim, sempre brincava quieto no banheiro quando a mãe trazia os amigos do trabalho para casa.

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Bjinhus!

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