O Reflexo Das Estrelas
As estrelas estão se apagando.
Um sopro, uma alteração diminuta na massa celeste cuja origem é desconhecida à nossa civilização porque eles, no auge da soberania e mesquinhez, acreditam reter o condão de ocultar. Mas não de mim. E não do astrônomo que em 1959 observou e descreveu o fenômeno incomum da chácara de sua família no nordeste do país.
Disse ele, em suas exatas palavras, tratar-se de um movimento lento e ritmado dos astros, semi-oculto por uma pesada nuvem gasosa que obliterou a visão de seu telescópio. Um fato que, posteriormente, pesou na balança para o declínio de sua carreira ilustre.
Eles culparam a poluição luminosa devido ao aumento significativo das áreas urbanas e as emissões de CO² na atmosfera terrestre. Nada disso é real. Nunca foi, e é ridículo, atrevo-me ao termo "estúpido", que a resposta que os teóricos tanto procuravam tenha sido encontrada por acaso, décadas depois, na insignificância de uma poça refletindo a lua crescente, quando meus olhos vagaram e descobriram, na superfície trêmula, algo tão excepcionalmente assombroso que falharam em desviar o foco por uma fração significante de tempo.
Corri o mais rápido que pude. O conteúdo coletado não preenchia nem metade de um copo, mas me dispus a guardá-lo em recusa a acreditar em minha própria mente. Absurdo, então, que encarasse a abóbada que refletia em busca da imagem de sua superfície e nada de semelhante encontrasse além da mesma lua. E mais curioso foi levar o copo para dentro e descobrir que o efeito se dissipou em sua ausência, então testei.
Coloquei meu próprio telescópio na grama, um modelo barato que pouco observava com clareza, mas que pensei ser útil dada a descoberta. Apontei-o para as estrelas e posicionei minuciosamente, apertando e ajustando o foco até capturar o astro mais próximo.
Inicialmente, nada de extraordinário ocorreu. Alguns minutos se passaram e duvidei de minha clareza mental, então a nuvem veio, tão densa quanto as presentes na troposfera e tão surpreendente quanto afirmou o falecido astrônomo. Ocupou o espaço por quase quarenta e cinco minutos então, tão repentinamente quanto chegou, partiu, levando consigo a estrela que admirava.
Arrepiada e de mãos trêmulas, levantei o copo. Ainda estava lá, brilhando tanto quanto antes, em um mar de bilhões de astros apagados. E enquanto encarava, pisquei. O simples gesto pareceu congelar cada molécula do meu sangue, assombrando-me de tal forma que deixei o copo cair e rolar no chão, espalhando a água da poça na grama úmida, porque não me lembro de ter piscado. Não nessa realidade.
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