Não posso desistir

Leonardo (Leo):

— Então, você aceita?

Após ouvir isso, um sentimento misto floresceu dentro de mim, um medo, receio, misturado com uma adrenalina de esperança e entusiasmo. Ainda não estava crendo no que eu ouvi, ele realmente iria me deixar ir para Paris?

— Eu… Eu não tenho certeza — falei com receio — mas vocês realmente deixariam eu ir?

Meus pais se entreolharam, seguraram a mão um do outro, meu pai Thay olhou com um olhar reconfortante e com a cabeça fez movimentos de cima para baixo. Eu me levantei em um pulo, não conseguia acreditar! Mas um internato? Eu não quero morar com mais alguém e ainda eles não iriam deixar eu ter a Lady ao meu lado.

— Pais, então, sobre a questão do dormitório e essas coisas — falo meio sem jeito, não costumo ser egoísta, mas não tinha escolha — eu poderia ficar em algum apartamento perto da escola? Quero levar a Lady comigo, sei que se ela ficasse aqui iria sentir minha falta, sabe como ela é ligada a mim e… — abaixo a cabeça — eu não quero mais alguém morando comigo, isso iria me atrapalhar nas minhas investigações e iria ficar me enchendo de perguntas e não iriam cuidar da própria vida.

— Sabíamos que iria dizer isso Leo, a gente te conhece filho. — falou Thay dando um sorriso e olhando para Mike, com um olhar satisfatório de ter já suposto essa reação vinda de mim. — Então pesquisamos um apartamento, pequeno eu diria, mas serve para você, é bem compacto, mas aconchegante.

— Só irei viver eu mesmo, então já está ótimo — falo sorridente — mas quando eu irei para Paris? E a escola aqui? Já pediram a minha transferência?

— Hoje, às oito da manhã, você tem um prova para fazer, a prova de transferência, já conversamos com o diretor da sua escola e ele deixou você fazer lá com a supervisão de um professor de sua confiança. — Eles se levantam indo em direção a porta. — Tudo dependerá de você, não disse que era inteligente? — meu pai Thay termina saindo do quarto, deixando Mike passar primeiro.

Hoje, sábado, irei fazer uma prova que irá mudar minha vida, eu estou muito ansioso, se eu passar irei poder estar mais perto dela, de achar ela. Lyli, será que você ainda se lembra de mim?

Fico eufórico com essa notícia e não consigo voltar a dormir, segurei no cordão que sempre carregava preso no pescoço e fiquei revendo algumas coisas que eu tinha aprendido esse ano. Preciso realmente passar nessa prova.

Lady, quieta veio toda manhosa e deitou em meu colo, ela realmente não gosta nem de pensar em ficar afastada de mim, acho que ela sabe que uma mudança pode acontecer em nossas vidas. Começo a fazer carinho nela enquanto lia algumas informações que eu achava importante.

Passei algumas horas estudando, na verdade tentando estudar, revi algumas coisas, mas nada de mais. Meu pai Mike me chamou para tomar um café antes de ir a escola para fazer a prova de transferência, antes de descer coloquei o uniforme, afinal, seria a última vez que eu iria usá-lo, eu sei que eu irei passar nessa prova, custe o que custar.

— Leonardo, está pronto para começar a prova? — pergunta meu professor de história, eu gostava dele, era um professor legal. 

— Sim professor, estou pronto. — respondo tirando do meu estojo o lápis, borracha e a caneta, na minha frente tinha um bloco de folhas viradas para baixo. 

— Pode virar, preenche as informações atentamente, não deixando passar nenhuma em branco. Após isso pode começar, você tem duas horas e meia para terminar essa prova. 

Ele vai indo em direção a sua mesa, de frente a mim e começa a ler algum livro que gostava. Ele sabia que eu não era de colar ou fazer alguma coisa assim, sempre fui exemplar para eles, mesmo não prestando muita atenção nas aulas, a vista de lá fora sempre me prendia, me fazia lembrar dela. 

Aperto um pouco o lápis em minha mão e viro a prova, o medo de errar ou deixar passar algo me tomou assim que eu vi tudo que eu tinha que preencher. Não queria perder tempo fazendo perguntas desnecessárias, não tenho tempo para isso. Então, tirando um pouco ela da minha cabeça, comecei a fazer a prova.

Passado muito mais do que o previsto, eu já estava em casa. Ansioso, não sabia o que pensar, estava certo de que a maioria eu tinha certeza, mas algumas nem tantas. Foram tantas questões em tão pouco tempo que eu fiquei afobado para respondê-las a tempo. Meus pais não estavam em casa, provavelmente saíram, faziam isso comigo junto, mas como estava ocupado me deixaram para trás.

Na verdade, eu tenho certeza que meu pai levou o meu pai Mike para dar uma volta por ele ser um pouco preocupado de mais. Então não me importo tanto, mas estava com fome e não tinha nada, nem ao menos algo pré-pronto deixaram para mim. Além de estudar e fazer uma prova infernal, tenho que fazer meu almoço.

Coloco meu avental e vejo o que tem em casa, decidi fazer algo fácil, massa. Pego outras coisas para por além do molho e começo a preparar. 

Coloco pimenta, bacon, queijo, alguns temperos, calabresa, entre outras coisas. Enquanto cozinhava o macarrão, o que sempre deixava para fazer por último, fui preparar minha bebida, o tão famoso suco de laranja.

Me sentei, com o meu prato feito em minha frente, coloquei o suco no copo, peguei o garfo e rodei no meio daquela perfeição que fazia meu estômago cantarolar. Peguei uma quantia boa e por fim enfiei dentro de minha boca, estava muito bom, eu realmente me superei hoje, não sei se é a fome ou se eu realmente fiz algo divino, mas está muito bom.

Acabo de comer, lavo a louça e subo para meu quarto, retiro meu uniforme e vou para o banheiro tomar uma ducha para relaxar. Após isso, sento na cama e começo a secar meus cabelos, pego a pequena pedra que batia em meu peito e dou um sorriso. 

"Só mais um pouco e já estarei aí com você, como eu prometi. ", falo em voz baixa, não podia deixar alguém ouvir algo tão vergonhoso assim, eu não era assim para ninguém, além dela.

Com um sorriso bobo, deito na cama, olho para o teto e fico imaginando minha nova vida em Paris novamente, espero que eu a encontre mais cedo do que eu possa imaginar. Pensando nas possibilidades e de todas as coisas que eu queria a dizer, adormeço.

— Leo! Desça daí Leo! É muito alto! Você pode cair! — Sua voz doce e preocupada falava enquanto seus olhinhos me encaravam a subir mais e mais.

— Fique relaxada Lyli, eu jamais irei me machucar — falei sem tirar os olhos dos próximos galhos que eu iria utilizar na minha subida — acha mesmo, eu? O grande Leonardo irá cair de algo tão…

Sem querer eu pego em falso, não deveria ter fechado meus olhos e me achado tanto, mas é que na frente dela eu sempre quero ser o maioral. Começo a cair ouvido sua voz gritar meu nome.

No meio da descida o medo de não conseguir aguentar era tanta, que eu me encolhi e protegi a minha cabeça, não sabia o que fazer, nem gritar eu tive a coragem. Mas por sorte eu caio em cima de uma pilha de folhas, agradeço essa estação por fazer tantas folhas caírem assim e agradeço aquela bruxa por ter varrido aqui mais cedo. 

Levanto meio tonto, mas logo caio de novo com alguém agarrando meu pescoço, ela estava me apertando muito e derrubando algumas lágrimas. Ficou sentada em cima de mim e fechou a cara, fazendo sua fofa cara de brava.

— Eu não disse para você não ter feito isso? E se você morresse? — Mesmo conseguindo deixar a sua voz estável para brigar comigo, suas mãos cruzadas na frente de seu peito tremiam. — Nunca mais faça isso novamente! Você me entendeu? 

Não conseguindo me conter, começo a dar risada da pose que ela estava fazendo e de como ela não consegue fingir, além de ser a coisa mais fofa. Ela começa a me dar uns tapas, perguntando o motivo da graça, mas eu a abraço e começo a fazer carinho em sua cabeça, enrolando alguns fios de seu cabelo em meu dedo.

— Me desculpe, nunca mais faço isso, não precisa se preocupar, estou bem não estou? — falo a afastando um pouco e dando um sorriso de canto, tentando enxugar uma de suas lágrimas. — Mas só por agora, quando eu crescer mais um pouco eu irei tentar novamente e irei levar você comigo.

— V-você! — ela fala me empurrando para trás. — Eu não irei subir nisso nunca! E você jamais irá tentar de novo! Se tentar eu não falo mais com você!

— Mas não sou eu que fica toda triste quando não consegue a minha atenção por cinco minutos, sou?

Ela me bate, ficando toda vermelha.

— Fica quieto Leo! Não se atreva a começar a me encher!

Começo a ri novamente e concordo com ela, pelo menos assim fiz ela dar um sorriso de canto, mesmo que seja por alguns segundos. Realmente, é a garota mais fofa que eu já conheci.

— Senhoras e senhores, podem retirar o cinto de segurança e se dirigir a saída da aeronave, nós da companhia Suril agradecemos a todos por ter nos escolhidos. 

 Acordo com todos começando a sair do avião, me levanto e começo a me ajeitar para sair. Estava quebrado, nunca dormi tão mal assim, pego a minha mala de mão e a casinha da Lady, olho para ver se ela está tudo bem, mas pelo visto está dormindo ainda, verifico se não deixei nada e começo a me dirigir a saída.  

Espero minha mala chegar, mando mensagem para meus pais dizendo que cheguei e que estava já indo para o apartamento. Graças as minhas aulas extras de francês consegui pedir um táxi e ir para o meu destino.

Vou até o balcão e peço a minha chave, a atendente olha para mim e começa a retirar algumas papeladas para eu assinar. Deixo a Lady em cima da mala e começo a fazer o que ela me pedia. Após tantos papéis ela me entrega o cartão do meu apartamento e fala que só pode ser aberto com ele, ela fala mais algumas coisas sobre a portaria e de como eu pegava o elevador e me libera.

A agradeço, pego novamente a Lady e as minhas coisas e vou para o elevador, como ela disse ele só vai me levar no andar que foi programado, tentei ir em outros, mas não acendia a luz do botão, indicando que eu tinha acesso. Achei isso sensacional, fiquei empolgado com tudo isso, terei que guardar esse cartão com a minha vida. 

Chego no meu andar e me deparo com um corredor largo, mas não tão comprido. Tem umas 6 portas em cada lado, além de ser bem decorado. Olho no cartão o número do meu apartamento e vou indo em sua direção, como sempre a última porta, no final do corredor. 

Passo o cartão na porta e espero ela destrancar, seguro na maçaneta, ansioso para ver como é dentro. Abro com tudo, entro com minhas malas e a Lady, coloco ela no chão e abro a casinha para ela sair.

— Essa é a nossa nova casa minha pequena. — falo dando carinho nela.

Fecho a porta atrás de mim e vou adentrando cada vez mais, era perfeito, não iria pedir por mais. O único corredor que tinha era da porta para a sala, a sala era aberta com a cozinha e tinha duas portas a sua esquerda, um para um banheiro e meu quarto. No meu quarto tinha um closet e mais um banheiro. Era compacto como meu pai disse, mas era perfeito.

Começo a desfazer as minhas malas e pedir algo para comer no aplicativo que eu sabia que pegava em Paris. Guardei todas as minhas coisas em seus devidos lugares, coloquei o tapete da Lady em um canto da sala e minhas coisas de higiene no banheiro. O mais interessante é que tinha um brinde de boas vindas no banheiro, dando-me pasta dental, shampoo e condicionador, isso iria me ajudar até eu começar a comprar as coisas.

Meu celular começa a tocar, o nome do meu pai Mike aparece no celular, dou um sorriso e atendo. Começo a falar sobre a viagem e de como tudo foi certo, ele me fazia perguntar como se tivesse algum louco no corredor ou algo assim, mas eu disse que não, acho que o jeito que ele conheceu o meu pai foi traumatizante para ele.

Enquanto eu falava a recepcionista ligou no telefone do apartamento dizendo que o entregador chegou, a agradeço e falo que já estou descendo. Falo para os meus pais sobre o entregador e desligo, graças a eles eu consigo saber sobre os supermercados e farmácias que tem aqui perto, além da minha escola. 

Comi mexendo no celular e vendo onde eu poderia já pedir um plano de internet, não quero usar o do prédio, pois por todos usarem deve ficar lerdo em momentos que eu irei precisar. Tomei um banho e me deitei na cama que ali tinha, o apartamento já vinha com alguns móveis básicos, fico contente com isso, afinal, cheguei nele a noite.

Lady se acomodou no vão que tinha perto da minha barriga e virou uma bola, me aconcheguei e depois de várias tentativas e horas eu consegui cair no sono, eu tinha somente 2 dias para arrumar tudo aqui antes de começar a estudar, precisava me organizar, amanhã será um dia muito puxado.

— Leonardo, por favor, poderia entrar e se apresentar a turma? — a voz feminina e autoritária me chama.

Estou parado de frente a porta, estou muito nervoso, não sou bom em apresentações, muito menos ter que me acostumar em um lugar estranho. Um frio invade minha barriga, fecho a cara de nervoso e entro na sala. Minha expressão sempre foi fechada e séria, desde pequeno, isso me ajudava a não ter que ligar com coisas que eu não queria ou com outras pessoas que não seja necessário.

Quando eu entro sinto todos os olhares em mim e algumas risadas de garotas, reviro os olhos, não gosto de garotas assanhadas, os comportamentos delas são os piores. Olho para frente, todos esperando eu falar. É com você Leo, só não fique nervoso.

Lylia (Lyli):

— Me chamo Leonardo Mercier Aoki, prazer em conhecê-los. — Ele olha para a professora depois de dizer sua pequena apresentação, mesmo com um ar arrogante ele consegue fazer as meninas babarem por ele.

Nossa professora não esperava que ele fosse assim, provavelmente iria querer que ele falasse mais. Então, sem perder sua postura olhou para a minha direção e deu um sorriso doce, fiquei sem meio entender o motivo do sorriso até ela começar a falar:

— Bom Leo, seu lugar será ali no fundo, era o único que tinha. — Ela o olha com um sorriso de aprovação com o lugar e espera ele dizer algo ou ir até ele.

Ele a olha de relance e vai vindo na minha direção. Meus olhos estavam arregalados, um suor frio começou a descer pela minha espinha, meu coração batia cada vez mais rápido, será que ele ainda se lembra de mim? 

Uma esperança quase mínima cresceu no meu coração, enquanto ele vinha, na sua câmera lenta, fazendo todos perderem seus focos e ele ser o único a se destacar, eu ia o encarando, não conseguia tirar os olhos de seu rosto, na esperança dele olhar para mim e falar meu nome, igual falava antes.

Mas a única coisa que ele fez, foi se sentar ao meu lado e deixar sua mochila do outro lado, apoiou seu rosto com uma de suas mãos em cima da mesa e olhou para a vista que eu tanto queria. Após ter apreciado olhou para o seu outro lado, percebeu que eu estava o encarando, isso fez ele ficar desconfortável, pois começou a arrumar sua postura.

— Tá olhando o que? Tem algo no meu rosto? — ele me assusta com suas perguntas rudes, quase me esqueci que ele era assim, quando pequenos ele só era doce comigo.

Um desânimo bateu, ele não me reconheceu, mas é claro né sua idiota, você cresceu, ao contrário dele, você mudou, não fique chateada, uma hora ele irá saber quem é você, só você tentar falar com ele e o lembrar de antigamente.

— Hey, tô falando com você, tem algo no meu rosto para você ainda tá me encarando? Tá viajando menina? Nunca viu um garoto na vida? — ele me fala tirando do meu transe, esqueci que ainda estava o encarando.

— D-desculpa. — falo me virando para frente. — Não tem nada, desculpa por ficar te encarando.

Ele solta um "estranha" em voz baixa e vira para frente. A professora nos encara e dá um sorriso. Eu sabia o que iria acontecer, mas eu não queria, não agora.

— Minha querida representante, você irá mostrar a escola para o Leonardo depois da aula. — ela fala olhando para mim. — Certifique-se de mostrar tudo, se ele quiser podem fazer isso no intervalo também. Afinal a escola é grande, então fazer uma parte no intervalo e depois que acabar as aulas. — Sinto olhares me penetrando ainda mais, as meninas iriam me matar com tanto ódio emanando assim pelos seus olhares. — Não se importa de fazer isso no intervalo também, certo Leonardo?

— Sim professora, não me importo. — ele fala dando de ombros, olha para mim de novo e fala. — Ficarei em seus cuidados, então certifique-se de mostrar tudo. 

— S-sim, eu irei. — falo olhando para frente, como ele conseguia intimidar alguém com só um olhar? Mas que olhar frio, não lembro dele ser assim antes, será que eu era cega?

Assim a professora deu início a aula, fiquei prestando atenção nela, fazendo de tudo para não perder o foco, se não iria ficar o encarando até não aguentar mais. Algumas vezes eu o olhava, uma hora ele prestava atenção, outra ele ficava olhando para a janela, com um olhar viajante, no que será que ele está pensando? No meio dessas suas viagens ele dava um sorriso de canto, mostrando o sorriso que ele sempre mostrava para mim.

Aquilo me fez congelar, por um momento pensei que eu não deveria falar a ele sobre a gente, provavelmente ele nem sequer lembra de mim, já tem alguém em sua cabeça que o faça sorrir daquele jeito. Fiquei pensando quase as aulas inteiras se deveria ou não, até sentir alguém batendo em meu ombro. 

— Vamos, me mostre a metade da escola, começa da onde quiser, não sei andar por aqui mesmo — ele fala colocando sua mão no bolso e esperando eu me levantar.

— T-tudo bem, vamos começar pela ala direita então — falo me levantando e o conduzindo para a saída da sala.

Por ele estar com uma cara séria e fechada, as meninas não ousaram vir falar com ele, nem a minha irmã tentou dar um oi, por onde eu passava as meninas ficaram cochichando e ele cada vez mais irritado com isso, deu para perceber já que cada passo ele fechava ainda mais a cara, além de revirar os olhos para algumas conversas que escutava sobre ele.

— Aqui fica a enfermaria, trabalha dois doutores aqui, eles vão revezando entre si os dias ou fica no lugar de um quando o outro não pode vir. Quer entrar para conhecer?

— Quando tiver passando mal eu entro. Vamos para o próximo — ele fala andando na minha frente.

Mesmo que eu saiba que ele está sendo rude ou ignorante comigo, fico feliz por eu ser a pessoa que mostra os lugares para ele, assim consigo passar mais tempo ao seu lado, sempre quis passar um tempo assim. Vou mostrando tudo que tinha no lado direito da escola e começamos a voltar.

Tenho ainda a sorte de ser vizinha dele na classe, ver ele estudando, concentrado em algo ou até mesmo viajando, era umas das coisas que eu mais sonhava em poder ver. Ele continua sendo como antes, mesmo sendo grosso agora, sei que no fundo é uma boa pessoa, sempre tem seus motivos de agir assim.

A cor laranja batia na janela gigante que tinha no corredor, fazendo assim entrar e parar na última porta, a porta que eu mais amava abrir. Fico empolgada por ter escolhido deixar ela no final, não contenho o sorriso e vou na direção dela.

— E por fim aqui fica a biblioteca, onde muitos alunos vêm para estudar ou achar um lugar silencioso para pôr suas ideias em dia, nele tem computadores com registros de todos, facilitando assim você fazer sua ficha da biblioteca para pegar alguns livros e pesquisar sobre trabalhos que os professores passam. — Me viro de novo para ele. — Nela tem diversos corredores enormes com todos os tipos de…

A porta se abre com tudo, dando um impacto nas minhas costas e me fazendo cair, sou um pouco desajeitada então não iria conseguir parar a queda, eu iria realmente com a cara para o chão. 

Mas, incrivelmente, alguém tenta parar minha queda, sinto suas mãos tentando me segurar pela minha cintura, olho para cima e o vejo com uma cara de quem fez isso o mais ágil que poderia. A luz do pôr do sol fazia tudo ser mais bonito, algo mágico. Ele consegue me parar com uma de suas mãos, estava surpresa, não esperava ele tentar me salvar, realmente isso não mudou nele. 

Quando eu iria abrir a minha boca para agradecer, um carrinho começa a sair da biblioteca me empurrando ainda mais contra ele, assim o mesmo tentando me segurar com as duas mãos, mas nós dois caímos no chão, ele amortece minha queda ficando por baixo de mim, ouço algo batendo, provavelmente ele bateu a cabeça no chão.

Escutamos alguém pedindo desculpas e me levanto com a cabeça meio tonta. Estava preocupada com ele, por minha causa ele deve estar machucado, saio de cima dele e o olho preocupada tentando achar algum lugar cortado ou sangrando.

— Leo? V-você tá bem? Se machucou? 

— Estou bem, só com um possível galo na cabeça agora, mas você está bem? — ele me pergunta, encarando meu rosto com um olhar de preocupado, mas logo volta a seu olhar de antes.  — Vê se presta atenção com esse carrinho.

— Mil perdões, o meu professor pediu isso as pressas e eu esqueci de olhar para frente — o garoto fala com o carrinho cheio de livros e já saindo da situação. — Desculpa, mas preciso ir. 

Ele começa a ir a passos rápidos para onde fica a sala dos professores. Sem reação me levanto e volto meu olhar para o Leo, que ainda estava no chão com a mão na cabeça. 

— Essa gente, não consegue prestar atenção em volta — ele fala se levantando, me fazendo olhar para algo que estava pendurado em seu pescoço.

— Você ainda tem… — falo surpresa olhando aquela pequena pedra o fazendo voltar sua atenção em mim. 

— Tenho? Tenho o que? — pergunta olhando para onde eu estava concentrada. — Ah, isso é algo especial para mim, mas como assim eu ainda tenho? Você também tem uma pedra dessas?

Ele me pega de surpresa, não sabia o que responder. Desvio o meu olhar e ajeito meu uniforme, pego minhas coisas que caíram no chão e falo andando para a onde fica a saída da escola.

— Só vi ela em alguns livros que fala sobre essas pedras, foi só uma intuição, não a tenho, só a acho bonita. — Estava vermelha de mais para encará-lo. — C-como já te apresentei a escola inteira irei me retirar, te vejo amanhã.

Começo a andar com uns passos mais longos, o deixando para trás, não sei o motivo da minha mentira, mas sabia que ainda não estava pronta para dizer a ele sobre nós. Espero que eu consiga ter mais coragem nos próximos dias.

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