Capítulo 9
Carlos não era bombado, era grande e forte – definido - devido a sua estrutura óssea e provavelmente algum esporte que praticou ou ainda praticava, mas não bombado, isso era bem claro. Só que eu não estaria em perfeito estado se não tivesse alfinetado um pouco.
Na verdade, não sei o motivo de implicar com ele como faria com um amigo de infância – levando em consideração que eu só tenho uma –, ou no mínimo um amigo de longa data, principalmente por aquela ter sido apenas a segunda vez que eu o via. Única vez de uma forma social, mas pelo menos eu estava me divertindo.
Ele colocou a cadeira de volta a minha frente e tratamos logo de atacar a comida com extrema alegria.
- Na próxima vez devemos ir a um rodízio – ele falou enfiando um pedaço enorme de pizza na boca.
- Super concordo. – respondi animada para logo em seguida franzir a testa – Mas espera ai, vai ter uma próxima vez?
- Claro que vai ter. Acabamos de combinar, só falta acertar o dia. Mas por enquanto, quem acabar primeiro a fatia que está no prato fica com o ultimo pedaço de pizza.
Eu tentei comer rápido, juro que tentei, mas a boca dele é E-N-O-R-M-E e engoliu tudo em poucos pedaços. Isso tinha que ser injusto, algum tipo de hacker ou algo assim.
- Não valeu, exijo que dívida esse pedaço – disse lhe apontando o garfo.
- Não vou não, se quiser vai ter que pegar – ele falou enquanto levava um pedaço lentamente à boca e mastigava de um jeito muito irritante.
Estreitei os olhos em desafio.
- Me aguarde, hoje não farei nada, mas você vai pagar.
Me contentei em observá-lo comendo, coisa que ele fez com uma calma insuportável. - Espero que engasgue ou fiquei com dor de barriga. – Curiosamente o pedaço que ele estava comendo parecia muito mais gostoso que a pizza inteira, principalmente quando me lançava um olhar travesso e mastigava com uma calma insuportável.
Assim que ele terminou de comer voltou a colocar a cadeira ao meu lado.
- Deixa eu te mostrar uma coisa – pegou o celular e começou a procurar algo e logo me mostrou. – aqui é uma foto do meu cachorro, o nome dele é Rocky. – era um Rottweiler de pelo preto e brilhoso, olhos igualmente negros, grande e lindo.
- Ele é lindo, dá vontade de apertar.
Carlos riu enquanto eu babava na foto.
- Lindo igual o dono. – se exibiu estufando o peito.
Revirei os olhos. Alguém andou mentindo para ele dizendo que era lindo, provavelmente a mãe dele. Dei a ele uma olhadela, de canto. Ok, não tem como negar que ele é lindo, mas eu não daria o braço a torcer.
- Você nem é convencido. Humildade zero.
O homem deu de ombros.
- Só sou realista – Carlos me olhou e lançando uma expressão de quem teve a ideia do ano. – Podemos sair para passear com ele e com o Barry um dia desses, o que acha?
- Acho uma ideia ótima... e que nome é Rocky? - Lancei um sorriso de deboche.
- Olha quem fala...Barry Allen! Humph! - Debochou balançando a cabeça como se estivesse correndo e fazendo uma voz afetada.
- Oras, eu não podia revelar que ele é o flash.
Carlos riu tão alto que jogou a cabeça para trás atraindo os olhares das outras pessoas no local.
- Você está certa, – ele passou o braço pelos meus ombros se aproximando e sussurrou como se tivesse contando um segredo – você deveria comprar uma máscara para ele, assim fica mais fácil proteger a identidade secreta dele.
Virei a cabeça ficando com o meu rosto a poucos centímetros do dele.
- Ele já tem uma, usa quando sai para salvar o mundo. - Rebati como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
- Então podemos ficar tranquilos. – falou dando um sorriso extremamente sapeca.
E eu me perdi na escuridão daqueles olhos que me faziam flutuar, como quem o faz pelo espaço. Tenho certeza de que os pontos brancos daqueles olhos mais se assemelhavam com o brilho das estrelas do que qualquer outra coisa que eu pudesse imaginar.
Quase gemi em protesto quando ele se afastou.
- Vamos? – perguntou ansioso.
Virei a cabeça um pouco para o lado confusa com a pergunta. Para onde iriamos? Será que ele falou algo e eu me perdi enquanto estava perdida em naqueles olhos?
Carlos lançou um olhar rápido para a porta, então eu entendi o recado. Ir para casa.
- Vamos. - Respondi ainda meio tonta pela viagem sem aviso pelo espaço, por todo o universo.
Tivemos uma pequena discussão sobre como pagar, mas acabamos decidindo que ficaria meio a meio e como ainda estava cedo decidimos caminhar até uma praça próxima à pizzaria. Na verdade, quase implorei para ir, amo essa praça.
Corri em direção ao balanço, sentando de imediato. Fiquei observando as estrelas enquanto Carlos se sentava ao meu lado, e, pelo canto do olho percebi que estava me observando.
- Conhece as constelações? – perguntou.
- Não, nenhuma, na verdade, mas me deixa em paz olhar as estrelas.
- Algum motivo em especial?
- Não que eu saiba, elas são tão lindas que dispensam qualquer motivo, não acha? - Um sorriso involuntário surgiu em meus lábios.
- Acho sim, linda demais.
Ele ainda estava falando de estrelas? Porque olhando para elas ele não estava mais.
- Por que escolheu a medicina veterinária? - Parei de olhar o céu iluminado e comecei a me balançar, mas mantive os olhos fixos em Carlos.
- Por que escolheu engenharia química? - Perguntou com um sorriso de lado.
Me limitei a sorrir e abaixar a cabeça.
- Deixa-me reformular a pergunta: o que despertou o seu amor pela profissão?
- Bom, eu queria poder cuidar dos cachorros de rua e sempre levava o maior número possível para a minha casa. Decidi fazer o curso e me apaixonei ainda mais pela profissão. Hoje eu tenho o Rocky, que é terrível, mas daria minha vida pela dele.
Sorri em concordância pensando em como uma semana o Barry tinha mudado a minha vida e eu já não sabia como viver sem ele. Não conseguia cogitar a possibilidade.
- Eu meio que sei como é, Barry está comigo não tem nem uma semana e eu já faria de tudo por ele.
- Você não respondeu o que te fez escolher a química. - Lembrou enquanto começava a se balançar cada vez mais alto.
- Sabe que eu não sei, acho que foi algo que sempre esteve no meu sangue. Eu simplesmente amo e não me imagino fazendo nada diferente.
Ele concordou com a cabeça.
- Tem coisas que não existe explicação.
- Exatamente.
Ele pareceu pensativo por um tempo e logo abriu um sorriso – que eu estava começando a conhecer muito bem - digno de quem vai aprontar.
- Quero um sorvete, você também quer? – perguntou com um sorriso de lado.
- Quero – respondi lentamente com medo do que vinha a seguir.
– Então vamos pular do balanço e ver quem vai mais longe, quem perder paga o sorvete, combinado? - Desafiou enquanto pegava mais impulso.
- Combinado, só me deixa pegar mais impulso, não vale você ficar mais alto.
Ele concordou e esperou. Quando estávamos sincronizados no balanço e altura ele começou a contagem.
- Preparada?
- Acho que sim.
- Vou começar a contagem. Um.
- Ai, eu vou morrer.
Carlos riu.
- Dois!
- Foi um prazer te conhecer.
Ele me olhou e piscou o olho direito.
- Três! - Carlos gritou.
Eu me lancei pra frente de olhos fechados.
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