Capítulo 6
Estacionei o carro em frente à casa dos meus pais e Barbara já foi descendo toda feliz com o Barry no braço. Eu juro que tentei resistir, mas o rosto triste deles foi muito mais forte, meu coração não suportou.
- Tia Fátima! - Babi gritou e saiu correndo em direção a casa - que cheiro maravilhoso! Já está tudo pronto? Quer ajuda?
A louca entrou na casa fazendo a maior bagunça e gritando pelos quatro ventos. Ótimo, vou ter que levar tudo sozinha. Fui carregando as coisas do Barry e entrei em casa.
- Obrigada pela ajuda, Babi! - gritei assim que entrei.
Fui colocando tudo no sofá e segui até a cozinha que pelo barulho estava uma bagunça. O cheiro da comida trazia lembranças de quando morava com minha mãe. Com a correria do trabalho, geralmente eu costumava comer coisas "prontas".
- Que bom que veio, minha querida, estava com muita saudade de você! - minha mãe falava enquanto terminava de dar um abraço na Babi - e você! - ela acusou apontando ameaçadoramente a colher de pau na minha direção.
Levantei os braços e me afastei alguns passos.
Minha mãe sempre preocupada com a qualidade de tudo que fazia, estava usando um avental por cima de um vestido florido que ia até o chão e uma touca na cabeça. Como há muitos anos memorizei o cabelo dela de tanto pentear quando criança, era tão volumoso e cacheado quanto o meu, apesar de ultimamente está caindo bastante. Por isso a touca, para evitar de ter cabelo na comida. Sem perceber acabei dando um sorriso de lado ao me visualizar no futuro. Não nos trejeitos, mas no físico. Não só o cabelo, mas eu definitivamente era uma versão mais nova da minha mãe; tínhamos o mesmo tom de pele, o formato do corpo parecido e algumas expressões faciais.
Apesar de negar só para perturbar a minha mãe, eu sabia que éramos parecidas e que eu ficaria maravilhosa aos cinquenta anos.
- Você disse que estaria aqui às dez horas. - Dona Fátima acusou balançando a colher de pau perigosamente próximo ao meu nariz.
- Pois é, mãe, eu disse, mas em minha defesa a Babi apareceu lá em casa e acabamos indo dormir tarde. Não foi culpa minha, eu juro.
- Tudo bem, - ela disse balançando a colher como quem diz para esquecer o assunto, quase levando meu pobre nariz junto e voltando para a preparação da comida - pelo menos vocês chegaram antes dos convidados... e desde quando você tem cachorro, heim?
- Desde ontem, eu o encont-
- E o Tony, onde está? - minha mãe sempre me cortava.
Delicada feito um cavalo.
- Não sei não, tia, briguei com ele e fui para a casa da Liv - respondeu olhando para o Barry que estava cheirando algo um canto perto da mesa.
- Vocês têm que parar com isso e se resolverem.
- Eu sei, tia, vou me resolver com ele ainda esse mês, eu prometo. - Barbara falou com a mão direita no coração e a esquerda erguida próximo à cabeça.
Minha mãe balançou a cabeça com falsa indignação enquanto lutava para engolir o riso antes de continuar cozinhar.
Peguei as coisas do Barry, deixei comida e água em um canto e me juntei à Babi como auxiliar de cozinha da mamãe. Tínhamos acabado de fazer a comida e assim que eu guardei a última colher eu ouvi meu pai gritar.
- Chegamos!
Timing perfeito.
- Quem chegamos? - perguntei gritando de volta.
Poucos segundos depois meu pai entrou na cozinha e foi nos saudar, seguido de alguns tios e tias. Fui levantada e rodada por meu pai.
- Que saudade da minha pretinha favorita, você sempre some.
Pelo canto do olho eu vi a minha mãe apoiar as mãos no quadril enquanto fazia força para manter o rosto zangado, mas os olhos brilhando de diversão e carinho a delatavam.
- Eu vim aqui semana passada, pai - respondi rindo enquanto ele me colocava no chão.
- Eu pensei que eu era a sua pretinha favorita, Ricardo. - minha mãe falou ainda lutando com a vontade de rir.
Babi deu um passo para o lado com um medo fingido.
- Não... - meu pai falou se aproximando da minha mãe com calma - a Lívia é minha pretinha favorita e você é o meu chocolate preferido - a essa altura ele já a tinha abraçado pela cintura - sabe porquê?
Minha mãe negou com a cabeça da forma mais desavergonhada possível, ele se aproximou a cabeça de seu ouvido e sussurrou algo antes de depositar um beijo leve em seus lábios. Na verdade eu sabia o que ele tinha falado pra ela, mas fingi não saber para evitar constrangimentos.
Adorava aquilo era uma brincadeira antiga nossa, quase uma saudação particular. Ainda sorrindo eu fui cumprimentar meus parentes recém-chegados e logo a bagunça começou.
Acenderam a churrasqueira, conversa que mais parecia gritaria por todo o lado e não parava de chegar gente. Minha mãe tinha convidado tantos solteiros que eu nem conseguia contar. No começo ela foi sutil ao me jogar para cima de cada um, mas conforme o tempo passava e eu sempre dava um jeito de fugir deles ela começou a ser mais direta a ponto de mencionar o matrimonio para um dos meninos. O rapaz fez uma cara de desespero que doeu meu coração e me apiedando dele, o dispensei o mais rápido possível e fugi para perto da minha amiga traidora que assistia tudo enquanto morria de rir.
- Eu te convidei para não deixar que essas apresentações acontecessem e não para ficar rindo da desgraça alheia - acusei emburrada e fazendo bico.
- Em primeiro lugar você me convidou porque apareci lá e você já tinha compromisso - ela tomou um gole de cerveja - em segundo eu nunca que iria me privar de um bom divertimento.
Bufei e me joguei na cadeira ao lado dela.
- Você não disse que não ia mais beber? - observei apontando para o copo em sua mão.
- Disse - deu outro enorme gole na cerveja - mas o melhor remédio para a ressaca é continuar bebendo - falou com altivez e terminou a cerveja.
- Você vai acabar com o seu fígado isso sim.
- Não vou não. Me diga o que esses pretendentes da vez tinham de errado?
- Nada - peguei uma carne na bandeja que meu tio José passou servindo, depois que ele saiu continuei - só não quero nada com ninguém muito menos com alguém que a minha mãe me apresente. - respondi torcendo para que ela deixasse o assunto quieto.
- Sim, eu já sei dessa parte, só não entendo porque nunca dá uma chance para eles - me olhou de canto esperando uma resposta.
Fiquei quieta feito uma estátua, não valia a pena enrolar em um assunto que não existia resposta certa.
- O cara certo vai aparecer na hora certa - zombou lambendo os dedos que há poucos segundos segurava uma carne.
Fiz muxoxo e revirei os olhos.
Eu sabia que era importante para a minha mãe que eu namorasse, casasse e tivesse filhos. O motivo era que ela queria netos e queria logo. Filhos não estavam nos meus planos imediatos, mas também não descartava a ideia totalmente. Só que eu não iria casar e ter filho com qualquer um.
- E o que você vai fazer nesse meio tempo? - perguntou não se contentando com o meu silêncio.
- Viver a minha vida - respondi sabiamente.
- Assistir series e comer, você quer dizer - rebateu Babi ironicamente decifrando o real sentido da minha frase.
- Cada um tem a sua definição do que é viver.
- Você é impossível, sabia?
- Sabia.
Babi revirou os olhos e me puxou para uma parte da varanda onde o pessoal estava jogando corte.
O resto da tarde seguiu sem mais acontecimentos relevantes, apenas fiquei jogando, conversando com a minha amiga e com alguns primos, que teimavam em dar em cima dela quando o Tony não estava por perto. Até porque eles não tinham coragem de fazer isso na cara dele. Ao fim do dia Babi meu ajudou a arrumar a bagunça para a minha mãe.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top