Capítulo 5
- Você não me pega! - uma voz fina gritou animada e logo percebi que era eu quem gritava.
Uma versão minha aos cinco anos que corria loucamente balançando um boné azul. Um menino ruivo corria mais atrás e devagar.
- Você vai ver só! - com um sorriso nos lábios ele começou a correr mais rápido.
Gargalhando e já sem fôlego tentei correr mais rápido. Só que na presa tropecei em uma pedra, mas não tive tempo nem de sentir o impacto direito já que o chão sumiu e eu estava sendo levantada e rodada.
- Eu disse que você ia ver - o menino tinha me pegado pela cintura e me levantava enquanto sorria.
Ele me deitou no chão fazendo cócegas no abdômen, e eu ria cada vez mais alto, me contorcendo descontroladamente.
- Pa-para Du! - estava arfando sem parar.
Quando o ruivo se deu por satisfeito, rolou deitando de costas na grama e puxou o boné da minha mão.
- Você nunca vai me ganhar na corrida, Liv.
- Eu... Vou... Sim... - respirava com dificuldade - Você... Vai... Ver...
Consegui ouvir o riso que escapou daqueles lábios rosados e me dignei a manter o foco no céu.
Já era de noite e ao longe se ouvia música e vozes animadas. Estávamos no sitio e o céu estava lindamente estrelado.
- É lindo, não é? O céu. - Du perguntou e eu murmurei concordando - uma beleza que não precisa de explicação, é bonito e ponto. Meu pai que diz isso. - explicou, depois de alguns segundos de silêncio ele voltou a falar - Um dia eu vou estudar as estrelas e te ensinar sobre elas.
- Promete? - olhei para ele com os olhos brilhando.
- Prometo - Du me olhou, e abrindo um sorriso que mostrava todos os dentes, bagunçou meus cabelos e voltou a correr.
- Você não me pega. Lá, lá, lá, lá, lá - ele corria de um lado para o outro balançando os braços de forma desengonçada.
Levantei e me preparei para correr atrás dele como se a minha vida dependesse disso.
~=~
Acordei com um braço na minha cara que definitivamente não era o meu.
Babi.
Joguei o braço dela para o lado e logo veio o resmungo, mas só virou para o lado ainda dormindo. Levantei ainda meio sem fôlego e toda suada como se tivesse corrido uma maratona. Fazia anos que não tinha um sonho desses. Era só o que me faltava, não podia voltar a viver aquele inferno de vazio no peito, de novo não! Iria esquecer como sempre fazia.
Andei até o outro lado da cama.
- Vamos, Babi, levanta logo, já estamos atrasadas - fiquei balançando o ombro da sonolenta até ela parar de resmungar e gritar um sonoro "tô levantando".
Deixei ela lá para ir acordando aos poucos e fui para o banheiro fazer minhas necessidades e tomar um banho gelado que afastaria meus fantasmas. Deixei a água escorrer pelo meu corpo como se ela pudesse me livrar de tudo e fechei os olhos por alguns segundos, visualizando novamente as duas crianças risonhas correndo e brincando. Por um instante senti meu coração apertar e acelerar. Abri os olhos novamente um pouco agitada e meti a cabeça embaixo da água, esperando que ela fizesse o trabalho. Não afastou totalmente, mas já foi alguma coisa. É incrível como um banho ajuda. Quando se está tenso ou algo do tipo, parece que o banho lava até a alma.
Quando saí do banheiro, enrolada na toalha, encontrei uma Babi sentada na cama olhando o chão como se fosse um enigma indecifrável.
- Nunca mais me deixa beber - sua voz estava rouca e sofrida.
Engoli o riso antes que me escapasse pelos lábios.
- Ok pode deixar, agora vai tomar banho que estamos atrasadas.
Ela levantou cambaleando e foi se arrastando até o banheiro.
Coloquei um short jeans, uma camisa folgada com o desenho de um átomo, meu all star favorito - azul - e fui decidir o que fazer com o meu cabelo, solto ou preso?
Prendi meu cabelo com as mãos analisando todas as possíveis formas de prender, vendo como ficaria, depois findei deixando solto, desistindo dos possíveis penteados - que eu sei fazer - sempre analisando o formato enrolado do meu cabelo. Mordi um lado do meu lábio inferior ainda sem ideia e decidi ser lógica, já que isso sempre me ajudava.
Ele fica preso durante toda semana no laboratório melhor deixar a minha juba cacheada respirar. Penteei igual a minha cara e fui procurar o meu novo filho. Coloquei mais água e comida pra ele, o peguei e fui esperar a Babi acabar de se arrumar brincando com o bichinho na sala.
- Vai levar ele?
Levantei a cabeça e minha amiga se encontrava arrumada com short jeans e uma blusa larguinha com o escudo do capitão América. Sorri, apesar de sermos diferentes em alguns aspectos - vários na verdade - foi o nosso lado nerd que nos uniu.
- Não vou não - fiz biquinho -, minha mãe iria surtar e eu teria que ficar atrás dele o dia inteiro. Não, nem pensar.
- Poxa, não quero deixar ele aqui sozinho - falou se aproximando e fazendo carinho nele.
- Querer eu também não quero, mas ele vai ficar bem. - garanti.
- Será que vai? - ela me olhou com uma cara de cachorro abandonado e curiosamente o Barry a imitou.
Fiquei revezando de um para o outro com aquelas caras de cachorro sem dono implorando. Tenho certeza que mais um pingo de drama e eles chorariam. Fechei os olhos e comecei a repetir mentalmente - Eu não vou ceder, eu não vou ceder, eu não vou ceder! - abri os olhos novamente e eles não tinham mexido um músculo sequer do rosto. Mordi o lábio inferior tentando resistir.
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