Capítulo 3

Fui caminhando com ele calmamente até à veterinária e assim que cheguei me deparei com um balcão de frente para porta. O local era pintado de azul bebê, com prateleiras ocupando as paredes repletas de medicamentos, brinquedos, comida etc. Falei com a recepcionista que me olhava com um ar de enfado, enquanto fazia a ficha do Barry Allen. Devo ressaltar que a única vez que ela mudou a expressão foi quando eu disse o nome dele. Claramente ela tinha entendido a ideia do nome e preferiu engolir o riso ao perguntar o motivo dele. Assim que terminamos sentei com o já batizado Barry no meu colo em um banco próximo a uma porta. Depois mais ou menos cinco minutos uma voz grave e poderosa me chamou:
- Srta. Lívia, entre, por favor!
Com um leve tremor na espinha me levantei e entrei naquela sala levemente decorada de branco e com vários pôsteres de cuidado com os animais, a importância das vacinas e curiosidades espalhados. Tinha também uma mesa metálica, encostada na parede oposta à que ficava a escrivaninha com o computador.
O homem sentado de costas na cadeira não era tão interessante, foi então que ele levantou e prendeu toda a minha atenção. Ele usava uma calça jeans surrada, um all star branco sujo e um o jaleco branco que estava fechado, mas dava para ver que a camisa que usava por baixo era preta, sem falar que se podia perceber o peitoral largo que ele tinha. – MINHA NOSSA –. O rosto quadrado que transpirava força e determinação era coberto com uma barba ruiva bem aparada. Os cabelos ruivos cacheados e levemente bagunçados lhe davam um ar descontraído e selvagem que quase se assemelhava a um leão. Mais pelo vigor que emanava dele do que por qualquer outra coisa. Isso me fez lembrar que eu sempre quis afundar meus dedos em uma juba de leão, me fazendo imaginar se a sensação de afundar os dedos no cabelo dele seria a mesma de uma juba de leão. Isso era estranho. 
Seus olhos eram pretos feito ônix.
Hipnotizantes. Na verdade, se você olhasse por muito tempo, davam a impressão de derreterem.
Suspirando de leve pra não ser notada, observei aquele homem maravilhoso se aproximar com um sorriso amigável estampado no rosto. 
- Oi pequenino, como você está? – ele perguntou fazendo carinho no Barry e sorrindo quando o bichinho respondeu com lambidas na mão dele.
Depois da boa resposta que teve, ele se voltou na minha direção com aqueles olhos penetrantes como se me avaliasse.
- Prazer, meu nome é Carlos. – se apresentou com um tom de voz neutro. Um tom profissional, eu diria. – Coloque ele ali na mesa, por favor – pediu apontando para a mesa metálica.
Assenti com calma enquanto caminhava até o local indicado. Coloquei o Barry lá sentadinho fazendo um pequeno esforço para que ficasse parado. Não tive muito sucesso então me limitei a ficar cercando a mesa para que ele não caísse. 
– Então, o que o nosso amiguinho tem? – o homem perguntou analisando alguma coisa no computador.
Como assim o que o Barry tem?
Comecei a sentir o pânico tomar conta do meu corpo. Será que na faculdade de medicina veterinária as pessoas são treinadas para desenvolverem alguma habilidade mística em identificar cachorros doentes? Até por que não existe outro motivo para ele perguntar qual o problema com o meu filho, certo?
Ou existe? 
Olhei para o veterinário que me observava com a sobrancelha arqueada em um ar de inquisição. Abri um sorriso vacilante antes de enfim responder a pergunta.
- Hã... Nada. Eu espero. Eu... – ele ainda observava – Eu o encontrei hoje na rua e decidi adotar – esclareci - então o trouxe para fazer uma consulta. – sorri de lado tentando não deixar o meu nervosismo transparecer.
- Sim, entendo. É melhor prevenir do que remediar, certo? – perguntou com um sorriso apaziguador.
Senti um alivio instantâneo tomar conta do meu corpo, então ele só tinha perguntado para se certificar que não era nada. E agora, pensando bem, fazia muito mais sentido já que eu cheguei no medico de animais com um animal. Alguma coisa ele haveria de precisar, certo?
Agora me sentindo mais relaxada – e muito estúpida - resolvi me voltar para aquela maravilhosa versão humana de um leãozinho.
- Exatamente, mas eu nem sei do que ele precisa para sobreviver, você sabe? – perguntei animada depois da constatação que surtei por nada.
E então veio o arrependimento – sua idiota, é claro que ele sabe – ele estudou para isso e sinceramente não é tão difícil assim adivinhar as necessidades básicas de um cachorro. Apesar de que se ele não soubesse, o mais recomendado naquele momento seria pegar o Barry, ir embora dali e esperar que ele tivesse o bom senso de devolver o diploma ou o que quer que lhe desse licença para cuidar de animais.
Apesar da mancada e de uma vontade enorme de abaixar a cabeça pela vergonha, eu mantive o rosto levantado o encarando.
- Sei sim – respondeu enquanto tentava esconder o riso da minha pergunta idiota – levanta ele um pouco, por favor.
- Claro.

Auxiliei o veterinário gostoso enquanto ele examinava o Barry vendo as patinha, apertando a barriguinha, vendo as partes intimas dele e tudo mais.
- Está tudo bem com ele, Não deve ter ficado mais que algumas horas na rua. Como não sabemos se ele foi medicado, o que aparentemente não foi, vou receitar um medicamento para vermes e vocês voltam aqui semana que vem para as vacinas. Com a recepcionista você pode comprar o básico como vasilha para comida, água, comida e coleira.
Muita informação ao mesmo tempo, acho que fiquei tonta.
– Aqui está a receita com o nome do remédio. Entendeu tudo? – Me perguntou entregando o papel.
Eu apenas assenti ainda registrando tudo. 
- Comprar. Básico. Remédio. Voltar. Vacina. – respondi contando nos dedos - Acho que entendi sim. – disse por fim.
Ele abriu um largo sorriso que me fez sentir um calor invadindo meu corpo. Acabei retribuindo ao sorriso sem perceber, e tenho certeza que foi um dos melhores já que meus olhos quase se fecharam com o movimento.
- Ótimo, vejo vocês dois em breve. Até mais. – se despediu abrindo a porta para que pudesse passar. 
- Até. – respondi fazendo um breve aceno de cabeça ao passar pela porta.
Sai da sala e passei na recepcionista para comprar o indicado. O Barry parecia observar tudo e eu esperava que nem mesmo ele percebesse o quanto aquele homem me chamou atenção. Por fim o prendi na coleira e guia, colocando o curioso no chão para caminharmos de volta para casa.

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