Capítulo 22


Amanheceu e abrindo levemente os olhos, percebi uma claridade que vinha da janela, o que me fez voltar a fechá-los, me recusando a acordar totalmente. Aconcheguei-me mais e senti algo grande, duro e roliço nas minhas costas que me fez ficar completamente tensa e arregalar os olhos.

— Bom dia, flor do dia – sussurrou no meu ouvido com a voz rouca de sono.

— Bom dia. O que aconteceu com o se comportar? – perguntei girando em seus braços para ficarmos frente a frente.

— Bom, – ele começou enquanto apertava mais o abraço – eu só estou te abraçando, não fiz nada demais.

— Não fez... Ainda!

Sorri e em um movimento rápido - rápido o suficiente para alguém recém-acordada - o virei fazendo deitar totalmente as costas na cama e eu ficando por cima dele. Sentei bem em cima da sua cintura.

— Será que você está acordado o suficiente?

— Você sabe que eu estou – um sorriso malicioso brincava em seus lábios – então quer dizer que ontem não podia e hoje pode?

— Não sei do que você está falando – me mexi um pouco em cima dele — eu apenas quero conversar.

— E quer conversar assim? – perguntou enquanto alisava a minha coxa.

— É muito mais confortável assim – arranhei um pouco seu abdômen.

— Tenho que concordar – ele se mexeu um pouco se ajeitando e sorriu quando me colocou exatamente onde queria — é muito mais confortável. Então, sobre o que quer conversar?

— Hmm, me deixa pensar – tamborilei em cima do seu abdômen — Me fala sobre a sua vida.

— Eu sou daqui mesmo, mas aos treze anos eu me mudei com a minha família. – senti meu coração apertar de leve com uma lembrança distante, mas ignorei o sentimento — voltei há pouco tempo e encontrei uma mulher maravilhosa – ele sentou me envolvendo pela cintura tentando me beijar.

O empurrei fazendo com que voltasse a deitar.

— Só tem isso para me falar? Que absurdo – reclamei.

— O que mais posso falar? Já sabe a minha profissão e sabe que estou disponível para você, algo mais importa? – ele tornou a levantar e dessa vez permiti que me beijasse.
Não tive tempo para aproveitar o beijo que foi interrompido por uma louca escancarando a porta.

— Acorda logo! Hoje eu quero ir...

Dei um pulo com o susto e cairia no chão com toda a certeza se Carlos não tivesse me segurando. Olhei um pouco assustada e constrangida para Babi que nos olhava completamente descrente do que via.

— Minha nossa, me desculpem! – disse enquanto saía do quarto, na certa morta de vergonha, não nos dando tempo de absorver nada.

Dei um salto e corri atrás da Barbara, que tentava convencer o namorado a ir embora do apartamento. Ela explicava o que tinha visto em poucas palavras enquanto Tony ria e insistia em ficar para ver o final da história. Senti meu rosto queimar quando ele levantou o braço e apontou na minha direção.

— Teve uma boa noite, tampinha? – seu olhar transbordava malícia.

— Não! – respondi automaticamente só para contrariá-lo.

— Então quer dizer que o Carlos não deu conta do recado – ele tremia tentando controlar as risadas que ocasionalmente escapavam de sua boca.

— Me desculpe mesmo, Liv. Eu juro que não sabia. Se soubesse não teria aparecido aqui. Minha nossa! Eu deveria ter imaginado, como fui tão lenta em perceber que já estavam nesse nível de relação? Todos os sinais estavam lá na noite anterior e eu ignorando. Eu não queria ter atrapalhado, já estamos indo – ela falou tudo muito rápido enquanto tentava empurrar o brutamonte do Tony que se contorcia de tanto rir.

— Não é nada disso, Babi. Não estávamos fazendo nada, isso é coisa da sua cabeça. Não atrapalhou em nada, não fizemos nada – tentei acalmá-la.

— Ah, mas atrapalhou sim e como atrapalhou – Carlos falou atrás de mim.

Há quanto tempo esse louco estava ali? Olhei para trás e lá estava ele todo imponente só de cueca boxer, me olhando com um sorriso malicioso e alisando o peitoral.
Espera aí, como que ele foi ficar sem roupa? Não me lembro em nenhum momento que tenha tirado.­

— O que você está fazendo?

— Vim ver se precisava de ajuda para voltar logo para o quarto. – senti meu rosto pegar fogo de tanta vergonha — Essa mulher é terrível, tem um fogo que só...

— Ela disse que você não deu conta do recado – Tony interrompeu secando as lágrimas de tanto rir.

— Mentira! Eu não disse isso – olhei com raiva para Tony e depois com desespero para Carlos que me olhava de sobrancelha erguida.

— Então quer dizer que rolou algo sim? Vou precisar ter a conversa com ele? – Tony perguntou enquanto abria as pernas e cruzava os braços sobre o peitoral e inflava feito um peixe-boi na sua pose de amigo protetor.

— Que conversa? – Carlos perguntou passando na minha frente.

— Quais as suas intenções com a Lívia? O que sente por ela? E devo avisar também que se a fizer sofrer vai se ver comigo – Antônio falou com tom ameaçador enquanto dava socos de leve na mão esquerda.

Adiantei-me e fiquei entre os dois, olhei para Carlos que abria a boca para responder e o interrompi me voltando para o Tony.

— Não rolou nada e não precisa da conversa – disse tentando controlar a voz que ameaçou falhar me virando para Carlos — Você vai para o quarto colocar uma roupa – mandei – que eu nem sei como saiu do seu corpo.

— Não sabe? Posso te ajudar a lembrar se quiser – disse enquanto enlaçava minha cintura.

Olhei para ele com raiva então rapidamente afastou os braços e foi para o quarto.

— E vocês dois sentem, eu vou soltar o Barry – fui para a área de serviço e soltei meu filhinho, que começou a correr para todos os lados.

Para ganhar tempo em meio a tanto constrangimento limpei rapidamente a bagunça do Barry e depois fui para a cozinha colocar café para fazer. Me apoiei na pia com as mãos na cabeça tentando parar, respirar e me acalmar. Definitivamente tem coisas que só acontecem comigo. Não é possível que aquela fosse a rotina normal... de uma pessoa normal, só podia ser algum castigo por só ter amigos doidos, só podia ser isso.

Estava de olhos fechados tentando organizar as ideias quando senti alguém encostar no meu ombro. Levantei a cabeça lentamente, olhei para trás e lá estava Babi pedindo desculpas com o olhar.

— Tem certeza de que não atrapalhamos nada? – perguntou se aproximando mais.

— Tenho. Não vou negar que tivemos bem perto de fazer sexo só que isso foi de madrugada, essa manhã estávamos só brincando.

— Precisamos conversar, não?

Concordei com a cabeça.

— Eu vim te chamar para irmos ao cinema, Tony quer assistir um filme que só tem bomba e eu não quero – ela disse fazendo biquinho.

— Vamos sim, só me deixa terminar de consertar essa confusão matinal – passei o braço por cima do ombro dela e juntas voltamos para a sala.

— Você sabe que já está de tarde, né? – Babi perguntou zombeteira e eu a ignorei com todo o amor.

Quando chegamos na sala Tony brincava com o Barry, ou devia dizer que torturava meu amorzinho?

Ele estava balançando e sacudindo o meu filhote para todos os lados. Adiantei-me e o peguei das mãos do malvado.

— Está doido? Quer matar meu bebê? – perguntei enquanto dava um ponta pé nele e abraçava o Barry.

— Eu só estava brincando, sua chata. – ele disse rindo enquanto alisava o local do chute, mas logo ficou sério — Está tudo bem, Liv? – os olhos concentrados em mim eram de atenção e preocupação.

— Esta sim, Gigante. Não se preocupe, juro que não aconteceu nada.

— Não quero que mais ninguém te magoe ou machuque, sabe que se ele fizer algo pode contar comigo.

— Eu sei e eu vou. Falando nele, ainda não voltou? – perguntei já me virando para ir ao quarto quando Carlos se materializou entre o corredor e a sala com o sorriso malicioso de sempre.

— Sentiu minha falta, né?

— Nem um pouco – provoquei tentando manter o rosto sério — tem café na cafeteira, sinta-se à vontade.

— Apesar de querer, não posso, tenho que ir para casa ver Rocky. – concordei — será que eu posso levar o livro que vi ontem?

— Pode sim, pega lá. – ele sorriu de leve e se afastou indo para a biblioteca.

— Impressão minha ou ele está menos agitado? – Barbara perguntou baixinho ao meu lado.

— Não é impressão não – respondi lentamente enquanto tentava entender o que tinha acontecido com ele.

Rápido como foi ele voltou com o livro em mãos, me deu um beijo na testa se despediu dos outros e prometeu ligar de noite. Assim que a porta fechou, eu senti um vazio no meu peito, um vazio que há muito não sentia.

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