Capítulo 20
A viagem de volta foi confortável e agradável. Como uma grande amante do silêncio que sou, apreciei as trocas de caricias e a ausência de palavras. Assim que chegamos tive que me esforçar, não muito, em convencê-lo a subir para beber alguma coisa e sinceramente não sei que surto me deu para fazer isso, talvez um mal súbito.
Devo dizer que foi um percurso bem demorado. Nos beijamos no caminho até o elevador, esperando o elevador, no elevador, no corredor até a porta do meu apartamento e por último ficamos nos beijando na porta. O último em questão foi incrivelmente demorado e saboroso, mas tivemos que entrar ou o Barry iria acordar todo o prédio de tanto que latia. Entramos e eu abaixei logo para acariciar o Bar e acalmá-lo um pouco antes que ele desse um triplo mortal carpado na tentativa de conseguir atenção. Quando por fim ficou menos elétrico ele se voltou para meu acompanhante que nos observava com diversão no olhar.
- Gosta de uísque? – Perguntei andando para o pequeno bar que fica na sala.
- Gosto sim. Puro, por favor.
Assenti e preparei dois uísques puros sentindo minha mão tremer um pouco - enquanto colocava a bebida no copo - com a possibilidade do que ele estaria esperando para aquela noite. Tentei recuperar o controle antes de servir e voltei para o local onde os dois se encontravam rolando no chão. Eles se divertiam. Entreguei o copo para Carlos. Tomei um gole e apoiei o copo na mesa de centro.
- Vou trocar de roupa, se não se importar. – avisei.
- Pode ir, eu prometo te esperar se não demorar muito. – o chato provocou.
- Você vai me esperar. – falei com autoridade.
Ele sorriu, um daqueles sorrisos que iluminam o ambiente e eu correspondi o sorriso virando para ir ao quarto me trocar, mas voltei a falar antes mesmo de dar três passos.
- Você precisa de alguma coisa? - perguntei lembrando a cueca molhada.
- Acredito que você não tenha o que eu preciso.
Concordei balançando a cabeça lentamente.
Segui para o quarto me trocando rapidamente: vesti um short cinza que uso para dormir e uma regata lilás, joguei o vestido no cesto de roupa suja, fiz um bom coque no cabelo e respirei fundo, já pronta para voltar à sala.
Retornei para a sala apenas para encontrar Carlos jogado no sofá bebendo uísque e assistindo TV com o Barry deitado no colo dele já dormindo. Era como se ele estivesse em casa, só faltava ficar de cueca com os pés em cima da mesinha de centro. - definitivamente dê dinheiro, mas não dê intimidade – visualizei a cena e cheguei à conclusão que não era tão ruim assim, talvez eu devesse sugerir que ele fizesse isso, escondi um sorriso e fui para a área de serviço para rapidamente arrumar a bagunça do Barry. Voltei para a sala e sentei do lado do Carlos já com meu copo em mãos.
- Esse uísque é ótimo, comprou ou foi presente? – perguntou sorvendo um pequeno gole da bebida âmbar.
- Ganhei. Mais ou menos isso, na verdade. – tomei um pequeno gole e continuei – quando eu ainda estava na faculdade acabei zerando uma prova, foi a primeira vez que zerei algo, fiquei muito para baixo. Na época a Babi ainda morava aqui.
- Vocês moravam juntas? – Carlos me interrompeu.
O que me irrita demais, tratei de deixar isso bem claro com os olhos.
- Sim, morávamos. – respondi dando sequência - na época a Babi ainda morava aqui e como fiquei a semana inteira cabisbaixa ela teve uma ideia magnífica - segundo o ponto de vista dela, é claro -: Comprou duas garrafas de uísque, três garrafas de vodca e uma garrafa de vinho. Ficamos o sábado inteiro tomando um porre, acabamos com o vinho e as três garrafas de vodca.
Carlos arregalou os olhos. Sorri da reação.
– Colocamos vodca até no brigadeiro que fizemos. Melhor brigadeiro da minha vida e bem, o uísque ficou de brinde, cada uma ficou com um.
- Isso faz quanto tempo?
- Pouco mais de seis anos. – respondi terminando com a bebida do copo – quer mais?
- Quero sim, obrigado. – respondeu bebendo o que restava no copo e me entregando ele.
Peguei o copo de Carlos e nos servi mais uma dose.
- O que você fez com o quarto da Barbara? – perguntou quando lhe entreguei o copo cheio.
- Montei uma biblioteca, meus livros estavam todos em caixas. Quer ver?
- Só se for agora – deu uma tapa de leve nas coxas e levantou animado.
- Siga-me, velho padawan.
Carlos riu e apoiou as mãos nos meus ombros me seguindo até a minha linda biblioteca.
Abri a porta e entrei com o Carlos logo atrás, andei até à poltrona lilás que fica ao lado da porta e admirei a biblioteca. Na parede oposta à porta, tinha uma estante branca feita sob medida que ocupava toda a parede. A estante estava repleta de livros, todos cuidadosamente organizados. Do lado esquerdo da estante tinha um divã branco com um abajur de um lado e do outro uma mesinha com um estéreo em cima. Na parte oposta uma estante em formato de árvore onde os galhos ocupavam quase toda a parede.
Suspirei abobalhada.
Adorava aquele lugar, tinha sido difícil montar ele e caro, já que as estantes foram feitas sob medida o que ficou trabalhoso deixar exatamente como eu queria. Mas eu tinha conseguido e sempre que entrava na biblioteca eu sentia a sensação de dever cumprido e de ter valido cada centavo e todo o suor para que ficasse daquela forma. Me joguei na poltrona e tomei toda a bebida âmbar de uma vez, olhei para o Carlos que continuava parado ao lado da poltrona.
- O que achou? – perguntei agoniada com a falta de comentários.
- Hmm... Bonitinho. – falou com desdém.
Bonitinho? Como assim bonitinho? Esse homem estava louco?!
- Como assim bonitinho? Está doido? Esse lugar é perfeito, lindo e belo – argumentei completamente ofendida.
Parecia que uma adaga tinha perfurado meu coração, como ele ousava falar com tanta indiferença do meu espaço particular e pessoal?
- É, acho que dá para o gasto – ele me olhou pelo canto do olho e então caiu na gargalhada.
O idiota estava me zoando, cruzei os braços e bufei.
- Babaca... – sussurrei fazendo biquinho.
Carlos me olhou levantando uma sobrancelha e claramente fazendo força para não rir.
– Posso olhar os livros?
- Pode, mas vai ter que colocar no lugar se retirar.
Ele concordou e caminhou para a estante que ficava no fundo da sala. E eu obviamente aproveitei para admirá-lo, chegando à conclusão que esse homem definitivamente tem as costas mais largas do mundo, nunca enjoaria de olhar. Eu sabia que as costas dele eram musculosas e na minha inspeção pelo corpo dele mais cedo, eu também descobri que ele tinha uma cicatriz, o que eu achei bem sexy. E aquela bunda linda dele e bem arredondada dá uma enorme vontade de apertar. Franzi a testa imaginando "deve ser fofa. Quero apertar. Quero apertar sem nenhum pano atrapalhando, sentir a pele na minha...! "
- Liv.
Uma voz do além chamou meu nome me dando um susto, dei um pulo da poltrona quase deixando o copo vazio cair. Me ajeitei o mais dignamente possível no lugar e aguardei o que viria já que Carlos me olhava como se tivesse me pego no flagra, o que era verdade. Em parte pelo menos.
– Por que não conservou o quarto e deixou para hospedes?
- Bom, eu não recebo muitas visitas. – pensei melhor e corrigi - Na verdade, a única visita que eu recebo é a Babi e ela nem conta, meus parentes não vêm aqui então achei melhor usar para algo útil.
- E quando a Barbara vem aqui ela dorme em que lugar?
- No meu quarto, mas ela só vem quando está brigada com o Tony.
Eu deveria ter acrescentado essa parte da briga? Enfim, já foi.
- Entendi. – Ele respondeu lentamente enquanto lia a sinopse do livro "O retrato de Dorian Gray" – Uh! Esse parece ser bem legal. – comentou levantando os olhos do livro e me encarando – falando em dormir, onde que eu vou dormir? – perguntou com um sorrisinho no rosto.
Senti todo o meu rosto esquentar e arregalei os olhos. Não tinha pensado nisso.
- Você vai dormir aqui? – rebati tentando aparentar inocência.
Só tentando mesmo.
- Vou, não vou voltar para casa a essa hora. – ele inclinou a cabeça de leve – vou dormir com você no seu quarto? – um sorriso malicioso brincando nos lábios.
- N-não! Quero dizer. Não sei – meu rosto estava incrivelmente quente – eu realmente não tinha pensado nisso – respondi lentamente para não gaguejar.
- Então não vamos pensar nisso. – ele caminhou em direção ao som e o ligou – O que será que você estava ouvindo? – indagou para o vento dando play na função de pen drive.
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