Capítulo 15

Retornamos aos personagens que iniciamos o jogo e depois de dois longos rounds estávamos empatados mais uma vez. Eu estava ganhando o terceiro round quando Carlos puxou o meu joystick e colocou atrás dele me impossibilitando de continuar a jogar.

- Ei, me devolve o controle – exigi.

- Não devolvo não, você vai ficar aqui e eu vou ganhar.

Olhei para a televisão e o meu personagem estava levando uma surra.

- Não vale! – me exaltei.

Com uma enorme indignação me joguei sobre ele tentando pegar os dois controles, mas ele era claramente muito mais forte que eu e me impedia sem muito esforço. Empurrei ele com toda a força que eu tinha tentando fazer com que ficasse deitado no sofá. Consegui realizar o meu objetivo e fui presenteada com uma visão da ponta do meu joystick. Puxei o controle com força e voltei a sentar no sofá tentando retomar o jogo. Carlos gargalhava com gosto, Barry e Rocky não paravam de latir em completa animação.

- Isso não vai ficar assim – Carlos urrou.

Ele pulou na minha direção e me fazendo deitar no sofá, pegou o meu joystick e largou em qualquer lugar, levantou minhas mãos acima da minha cabeça as segurando com apenas uma das mãos e com a que estava livre começou uma sessão de tortura.

Eu definitivamente detestava cócegas e esse era o jeito que Carlos estava me torturando. Eu me contorcia toda tentando sair, mas estava rindo tanto que estava perdendo as forças. Forcei, empurrei e implorei, mas ele não diminuiu a intensidade nem por um segundo. Barry latia desesperado pensando que eu estava sendo machucada devido os gritos de protesto, os poucos gritos que eu conseguia dar em uma pausa entre uma risada e outra.

Quando eu pensei que não iria mais aguentar ele parou de repente e ficou me olhando com aquele sorriso de tirar o fôlego.

Seus olhos prenderam a minha atenção, aqueles olhos. Eles brilhavam tanto que lembravam estrelas na eterna escuridão do espaço, e eu me perdi neles. Senti uma carga elétrica transpassar o meu corpo e aquecer meu coração, o muro que eu construí por tantos anos pela primeira vez se encontrava rachado e correndo risco de cair. Meu coração disparou pela nova sensação e o silêncio reinou sendo quebrado apenas pela nossa respiração um pouco alterada.

Carlos passou a mão no meu rosto, relaxando a mão que segurava os meus pulsos. Me mexi de leve embaixo dele para ficar em uma posição mais confortável e foi o movimento necessário para que ele me soltasse de vez, levando a mão até a minha cintura e puxando para que pudéssemos ficar muito mais colados do que já estávamos. Levei a mão até a nuca dele, sem nunca quebrar o contato visual e o puxei de leve para o beijo.

Meu corpo formigava de desejo e eu já conseguia imaginar, fantasiando como seria o beijo dele. Ele hesitou por um segundo, mas logo se aproximou devagar.

Eu já estava sentindo o gosto do hálito dele, que tinha uma mistura de hortelã e molho de macarrão, quando uma música estridente começou a tocar me dando um susto tão grande que o empurrei para longe. Sentei de imediato procurando a origem daquele barulho, o som vinha do meu celular. Peguei de imediato. O nome da Barbara brilhava na tela e por dentro eu a amaldiçoei repetidas vezes enquanto atendia.

- Fala. – disse quase vociferando.

- Como assim fala? Quem fala é você que não me ligou de volta, o que aconteceu lá? – ela exigiu saber.

Olhei de leve para o Carlos que estava sentado no chão com os cachorros evitando me olhar.

- Eu não posso falar agora, te ligo mais tarde.

- Espera ai, você ainda está com ele?

- Sim – falei o mais baixo que pude.

- Ótimo, eu ia te chamar para ir dançar, aproveita e chama ele - respondeu toda animada.

- Não sei, vou pensar e te aviso.

- Avisa mesmo para eu poder me programar.

Autoritária como sempre.

- Pode deixar.

- Tchau.

- Beijos.

Desliguei o telefone e virei para o Carlos que me olhava curioso, mas assim que o olhei ele desviou o rosto constrangido. Levantou e sumiu no corredor me deixando completamente sozinha, ou quase, já que Barry e Rocky ainda estavam me fazendo companhia. Esperei sem saber o que fazer, indagando todas as coisas que ele poderia ter ido fazer e todos os motivos que o fizeram sumir desse jeito. Podia ser que ele estivesse apertado, louco para ir ao banheiro, ou podia estar enjoado da minha cara, arrependido do quase beijo. Talvez estivesse se sentindo forçado a seguir em frente, poderia... ah! Precisava parar de pensar.

Quando por fim desisti e me convenci de que ele não queria que eu continuasse ali, peguei Barry no colo e caminhei em direção à porta. Já estava quase com a mão na maçaneta quando Carlos apareceu feito um fantasma ao meu lado. Ou ele foi muito silencioso, ou eu estava ficando surda.

- Vai embora? – perguntou meio decepcionado.

- Bom, você sumiu e eu não sabia o que fazer, pensei que quisesse ficar sozinho.

- Não, eu só tive que resolver um assunto urgente. – respondeu evitando o contato visual.

Franzi a testa sem conseguir entender o que isso significava.

- Ata...

De repente pairou um silêncio constrangedor que preencheu toda a sala e começou a me sufocar. Fiquei sem saber o que falar e ele também me pareceu desconfortável com a situação. Foi tudo ficando um pouco estranho e eu comecei a me balançar sobre os calcanhares numa péssima tentativa de contar os segundos e ao mesmo tempo fazer tudo passar mais rápido, o que claramente não funcionava então eu ficava mais nervosa.

- Então... – Ele criou coragem e começou um pouco pensativo – eu não pude deixar de ouvir a sua conversa no celular – me olhou e vendo que eu estava prestando atenção continuou – você tem algum compromisso com alguém?

- Não exatamente. Estavam me chamando para sair, mas ainda estou pensando se vou.

- Ah, entendo. – a voz estava neutra, exatamente o mesmo tom de mais cedo que tinha usado na clínica - Alguém que você costuma sair, imagino.

Ainda nervoso e escolhendo as palavras, colocou as mãos dentro dos bolsos do short e de cabeça baixa olhava para os próprios pés descalços.

- Sim, sempre saímos. Me divirto horrores. – olhei de relance e pude ver ele dar um leve chute no ar, quase imperceptível – Barbara e eu estamos sempre juntas.

Carlos pareceu receber uma carga elétrica de tanto que estremeceu. Tive que fazer um grande esforço para não rir. Os olhos dele se arregalaram e começou a desviar a atenção para todos os lados de nervoso que estava.

- Barbara? – ele sussurrou ainda aturdido.

Ficamos nos encarando, virei a cabeça de leve tentando parecer séria e então ele pareceu se recuperar e falando todo enrolado.

– Minha nossa, e-eu nã-não sabia que você era... Você sabe, me desculpe.

– tentou se desculpar.

Foi a gota d'água! Não consegui mais aguentar e caí na gargalhada. Não acreditava que ele pensava que Babi e eu nos pegávamos. Minha nossa... se fosse assim não teria rolado o clima de minutos atrás. Minha barriga doía de tanto rir.

Carlos me olhava assustado e intrigado. Só depois de me acalmar e conseguir parar de rir foi que resolvi esclarecer as coisas.

- Não é esse o caso, mas se esse fosse, Barbara seria um ótimo partido.

Ele pareceu aliviado e abriu um enorme sorriso.

Depois de pensar um pouco, tomei o mínimo de coragem necessária – entende-se por muita coragem – e resolvi seguir o conselho da minha amiga convidando Carlos para sair.

– Ela estava me chamando para ir dançar e beber, quer ir? – convidei dando meu melhor sorriso para não transparecer nervosa e ansiosa pela resposta.

- Claro que quero – aceitou animado e de bom grado - e... me desculpe pelo o que eu disse, eu não sabia e você acabou me deixando confuso. – completou com um sorriso sem graça no rosto.

- Não se preocupe, não foi ofensa nenhuma. – sorri para tranquizá-lo, o que pareceu funcionar, já que não parecia tão mais envergonhado – vou te passar o endereço de lá, tem algum lugar para anotar?

- Tenho sim, só um segundo.

Carlos inspecionou a prateleira pegando um papel e caneta. Escrevi rapidamente o endereço da casa de show, a hora que deveríamos estar por lá e meu telefone.

- Quando chegar me ligue para nos encontrarmos – dei um beijo em seu rosto bem rápido.

Abri a porta e saí caminhando para o elevador, liguei para a Barbara avisando que iria e combinei o horário. Naquele momento, sem perceber sorri de leve enquanto saía do elevador, pronta para ir pra casa me arrumar. Como ela disse a noite prometia.

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