Capítulo 10

Isso vai doer, vai doer, vai doer... Doeu. Eu só tive o reflexo de apoiar as mãos no chão para não bater com o rosto e virar a cabeça caso o plano "A" desse errado. Depois que o impacto passou, eu olhei para o lado e vi Carlos alguns centímetros atrás.

- Eu ganhei! – abri um sorriso enorme – a experiência de quase morte valeu a pena.

Ele riu e virou de costas olhando o céu. Fiz o mesmo e fiquei contemplando a beleza que se encontrava a minha frente. Cruzei as pernas e apoiei os braços abaixo da cabeça. Observar o céu é um costume que tenho desde a infância. Sempre penso em comprar um telescópio para melhorar a contemplação, mas sempre acabo esquecendo.

Pelo canto dos olhos, observei que Carlos estava completamente absorto e tão compenetrado, que fiquei com pena de chamar a atenção dele. Uma brisa leve soprou do oeste refrescando meu corpo aquecido pela adrenalina que a pouco tinha sentido. Me senti revigorada e animada com a situação que nos encontrávamos.

Depois de uns dez minutos em um silêncio reconfortador ele se sentou tão rápido que até me assustou.

- Vamos tomar o sorvete? – perguntou de repente.

- Só se for agora.

Ele levantou e depois me ajudou a levantar.

- Conhece alguma sorveteria?

- Conheço sim, siga a mestra.

- Sim senhora! - Carlos bateu continência e me seguiu.

Caminhamos até a sorveteria próxima ao prédio que eu moro. Era uma sorveteria retrô espaçosa e muito bem decorada com cartazes de músicos. Tinha caixas de som espalhadas por todo o local, bancos posicionados no balcão e mesas com bancos compridos e estofamentos vermelhos. A regra da sorveteria era cada um montar o próprio sorvete a seu gosto e vontade, foi o que fizemos. O meu ficou enorme e bem caro, e assim que ele pagou fomos para a rua ficar andando sem rumo enquanto tomávamos o sorvete.

- Como você conseguiu pular tão longe? - Perguntou com um leve tom de indignação na voz.

- Muito simples, sou mais leve que você e mais nova, o que me dá mais força e agilidade, também não posso esquecer de informar que sou muito habilidosa.

- Habilidosa? Você?

Impressão minha ou tinha deboche em sua voz?

- Claro que sim!

Ele riu.

- Você estava quase chorando antes de pular.

- Isso é tática para te deixar confiante e desleixado, – falei sabiamente – também é conhecido de estratégia, um dia te ensino o conceito.

- Me ensine, por favor, minha vida econômica pode depender desse aprendizado.

Sorri e continuei devorando o meu sorvete. O dele já tinha acabado então resolveu pegar um pouco do meu.

- Ei! Não faça isso!

Virei de costas e comecei a me afastar para impedi-lo de pegar, mas ele me abraçou pela cintura com um braço e com o outro ficou tentando pegar o sorvete.

Fiquei me contorcendo e tomando o sorvete o mais rápido que pude, mas Carlos era mais forte e no final das contas acabamos dividindo o sorvete. Claro, por livre e espontânea pressão. Quando o sorvete finalmente acabou, ele me soltou e passou a me olhar com um sorriso triunfante.

- Não valeu, você vai ter que me pagar outro! - Cruzei o braço e bati o pé em pura irritação.

- Eu não, ninguém mandou deixar sorvete dando sopa por ai.

- Eu não deixei... – respirei fundo e contei até dez – ...está bom. Você já me deve duas e eu vou para casa.

Fiz uma virada dramática então comecei a caminhar de queixo erguido, pisando duro. Carlos só conseguiu rir e me acompanhou um passo atrás fazendo comentários de como o último pedaço de pizza e o sorvete estavam ótimos.

Irritante, irritante, irritante. Não sei por que eu aceitei o convite, ele deve ser a pessoa mais irritante do planeta e eu a mais idiota por ainda assim não conseguir sentir raiva dele por todas essas atitudes infantis. Eu colaborava, eu sei, incitava com mais infantilidade e apesar de... ser engraçado... de qualquer forma ele era irritante!

Quando chegamos em frente ao prédio eu me virei de forma tempestuosa para ele, só que já se encontrava bem próximo de mim, o que me assustou. Quase que de súbito dei um passo para trás.

- Então... Até amanhã? – perguntei tentando disfarçar, não muito bem.

- Sim, claro até – respondeu coçando a nuca e começando a se afastar lentamente, mas voltou rapidamente e sapecou um beijo no meu rosto. Fez um breve aceno e foi embora antes que eu pudesse ter qualquer reação.

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