Te amo!

ㅡ Deu um pouco mais de trabalho que da outra vez. Tive que trocar o... ㅡ o mecânico começou a explicar os nomes técnicos, termos que Jimin, na sua santa ignorância como mauricinho nascido em berço de ouro, nunca precisou saber. Na verdade sequer havia trocado o pneu de um carro, imagina entender tudo que fazia parte de um. Por isso apenas balançou a cabeça, hipnozado pelo jeito que o bíceps do outro quase estouravam naquela roupa sem graça. ㅡ... Então não vai mais fazer aquele barulho estranho. Mas caso o problema persistir, traz aqui que dou uma olhada de graça. São três meses de garantia.

Jimin surpirou.

ㅡ Perfeito.

ㅡ Certo. Aqui estão as chaves. Seu carro está ali na frente.

ㅡ Ok, então... muito obrigado, Jungkook. Você é meu herói. Sério. ㅡ gracejou, se aproximando para tocar, hesitantemente, o ombro alheio. ㅡ Uau, seu trapézio é gigante.

ㅡ É... o serviço braçal aqui é bem pesado. ㅡ resmungou, olhando envezado a mão do outro, até que Jimin tirou dali, se afastando.

ㅡ Ok... Vou nessa. Obrigado novamente. ㅡ chiou, engolindo em seco. ㅡ Agora não preciso mais depender do Uber.

ㅡ Beleza. ㅡ sibilou Jungkook, logo voltou sua atenção para a prancheta, sendo totalmente indiferente ao redemoinho que fazia no estômago de Jimin. ㅡ Tchau.

O mauricinho voltou no mesmo instante.

ㅡ Sério?

ㅡ O quê?

Jimin deu um sorriso tímido, alisando a gravata preta de seda. Não conseguiu encarar por muito tempo o moreno musculoso de quase um metro e oitenta.

Um minuto inteiro se passou.

Jungkook ficou ali, esperando alguma explicação para o comportamento incomum do cliente. Geralmente Jimin vinha e pegava o carro, não existia muita conversa, mas agora o baixinho estava agindo de um jeito estranho, ficando vermelho e inquieto, balançando os pés, enquanto abraça o próprio corpo.

ㅡ É que... ㅡ mastigou os lábios, sem conseguir esconder um sorriso. ㅡ Eu também.

ㅡ Também o quê?

Jimin enrubeceu, voltando a olhar para a gravata.

ㅡ Você sabe... Te amo.

ㅡ "Te amo"?

A voz estrondosa do mecânico tirou o mauricinho de sua nuvem brilhante. Jimin piscou os olhos aturdido.

ㅡ É que... N-não foi o que você falou?

ㅡ Tá maluco, cara?! ㅡ sua voz subiu uma oitava.

ㅡ Bem, é q-que... eu virei de costas e você disse "te amo".

ㅡ Eu nunca falei isso. Sou casado, porra! E você é casado também. Que papo é esse?

ㅡ D-desculpa...

Jungkook bufou.

ㅡ Foda... Por que eu diria isso? Você ficou maluco? ㅡ questionou irritado. ㅡ Eu te conheço há... O quê? Dez anos?

ㅡ S-sim... ㅡ gaguejou.

ㅡ A gente fez o fundamental no mesmo colégio. Eu vendo e conserto carros para sua família... pai, irmãos, tios. Porra, cara. Que merda! ㅡ xingou, obviamente zangado com aquele disparate.

ㅡ Desculpa. Eu só... ㅡ gesticulou, coçando a nuca. ㅡ Tipo... Meio que achei estranho, pensei "Te amo é o caralho. O Jungkook enlouqueceu?", mas só concordei na hora, sabe? Meio que pareceu um "te amo" rápido. Mas é claro que não foi isso que falou, você disse um "tchau". ㅡ revirou os olhos. ㅡ Você não falaria "te amo" do nada, óbvio. Só tem homem aqui... Nada a ver. Eu que entendi errado, foi mal, cara. ㅡ se aproximou, dando um soquinho divertido no peitoral alheio. Peitoral esse bem construído, exposto pelos botões soltos do macacão cinza, sujo de graxa.

Tinha uma trilha brilhosa de suor ali. Todavia Jimin não sentia nojo. Ele queria mesmo era enfiar seu nariz nos peitões de Jungkook e inspirar a pele úmida até o odor másculo impregnar seu pulmões.

Porra, pensar naquelas mãos grandes sujas de graxa, manchando seu corpo depois de um dia árduo de trabalho, fazia seus pelos eriçarem e uma parte adormecida sua inchar no meio das pernas.

Não podia ficar excitado ali, como iria explicar isso para o mecânico sem parecer um pervertido?

Engulindo em seco, o mais novo deu alguns passos para trás, mantendo uma distância segura entre eles. Foi constrangimento demais para uma pessoa só digerir em um dia. Além disso, Jungkook ainda espreitava os olhos, desconfiado.

ㅡ O quê?

ㅡ É que você disse "eu também".

ㅡ F-falei?

ㅡ Sim, você disse. ㅡ o mecânico cruzou os braços de um jeito intimidador, ao mesmo tempo que Jimin olhava para os lados, procurando alguma saída de emergência.

O mauricinho não descartou a alternativa de fingir desmaio. Tantos anos fazendo teatro, afinal, serviriam de alguma coisa.

ㅡ Bem... Eu falei. Sim, eu disse, mas... ㅡ riu embaraçado. As maçãs do seu rosto nunca tinham ficado tão quentes. Jesus, ele estava muito vermelho como um tomate. ㅡ Apenas entendi você falando "te amo" e resolvi responder um "também" por educação mesmo.

ㅡ Hunrum... ㅡ grunhiu o mais velho, com o semblante taciturno, nada convencido.

ㅡ Reflexo. Foi puro reflexo. ㅡ Jimin tentou explicar melhor. ㅡ Eu não queria te deixar no vácuo, sabe?

ㅡ Sei...

ㅡ Seria chato da minha parte escutar um "te amo" e não dizer nada. ㅡ encolheu os ombros estreitos. ㅡ Só isso.

ㅡ Entendi. ㅡ Jungkook soprou o ar, como quem já estivesse cansado daquela conversa. ㅡ Seu carro está ali. Verifique se está tudo em ordem. Tenha um bom dia.

ㅡ Você também.

Jimin mordeu os lábios se virando. Seu coração tinha subido uma ingrime montanha russa e agora ele caía rapidamente. Não, seu coração despencava em queda livre. O frio no estômago e o aperto no peito lembrava muito a vez que subiu naquele brinquedo e teve um ataque de pânico.

Mas seu coração começou a bombear de novo quando ouviu o mecânico murmurar em suas costas.

ㅡ Agora foi um...

ㅡ Foi um tchau. ㅡ rosnou o mecânico.

ㅡ É que tava mais para um "tchaumo". ㅡ insistiu. ㅡ Sei lá, parecia até mais do que da primeira vez. ㅡ Jungkook cerrou a mandibula, pronto para sacar uma chave de fendas e assassinar o mauricinho sem filtro, mas Jimin se antecipou, piorando ainda mais as coisas. ㅡ Estou apenas querendo dizer que seu "tchau" lembra um "te amo". Tem a mesma sinfonia.

ㅡ Ainda está duvidando de mim? Acha que sou gay?!

ㅡ Não, não, Jungkook. Imagina... ㅡ levantou as mãos em defensiva. O outro estava prestes a ter uma síncope, uma veia pulsava em sua têmpera, era assustador. ㅡ Apenas estou tentando te ajudar aqui. Essa situação foi confusa e pode ser evitada no futuro até com outro cliente. Você poderia, de repente, falar uma coisa que não tem nada a ver. Assim eu também não ficaria na dúvida, porque, veja bem, o cenário é esse: estou de costas, um pouco distante, e você solta essa coisa que parece outra... Então se puder falar um "até logo, Jimin", seria bem melhor. Não acha?

Jungkook relaxou um pouco, erguendo a sobrancelha.

Seu rosto era indecifrável. Havia uma ruga em sua testa, mas também um leve repuxar dos lábios, como se achasse aquilo engraçado.

ㅡ "Até logo"?

ㅡ Prefiro assim. Aí não pareceria com nada. ㅡ pigarreou, endireitando a coluna. Os funcionários já cochichavam e davam risadinhas, na certa achando graça pelo discussão idiota dos dois adultos por causa de praticamente nada, mas Jimin não podia simplesmente deixar passar aquilo em branco, precisa se explicar. ㅡ Ou você pode dizer um "vai com Deus" que também funciona. Eu só... Nossa, desculpa, Jungkook. ㅡ pinçou o nariz, fechando os olhos.

Jimin estava atrasado para uma reunião com sua equipe de logística, mas continuava preso ali, mexido demais com algo que não passou de um delírio seu, uma fantasia idiota com o seu mecânico super hetero, abrindo sua bunda no banco de trás do seu carro. Isso tudo após consertá-lo, mãos sujas lhe revindicando até chorar de prazer. No entanto, até onde se sabia, Jungkook não pendia para esse lado... Ele também não, nunca se envolveu com homens, então também era hétero. Ou melhor, um "bi-curioso" com zero experiência.

ㅡ Talvez o problema seja eu. É que... estou com a cabeça cheia por causa do divórcio. E por mais que a separação seja amigável, é muito estressante ter que mudar de apartamento e suportar a chuva de opiniões da família. Pelo menos não tivemos filhos... Quer dizer, sem crianças traumatizadas pela separação dos pais querendo ser o próximo Restart, certo? ㅡ perguntou, tentando pescar alguma emoção do mecânico, mas Jungkook era uma paredão imóvel lhe olhando estranho, como se tivesse surgido uma segunda cabeça em seu pescoço. ㅡ Eu só... Se quiser tomar uma cerveja, trocar um papo... ee botar terror na mulherada. Haha ㅡ deu uma risada forçada, limpando o suor frio que brotava em sua testa. Por Deus, sempre que ficava nervoso, sua língua ganhava vida própria e não conseguia mais parar de falar. ㅡ O que não é impossível, já que você tem meu número, é só mandar uma mensagem e... Enfim, estou indo embora.

ㅡ Hurum. ㅡ resmungou Jungkook.

ㅡ Então até logo! ㅡ borbulhou simpático, com o sorriso engessado.

O coitado estava tão tenso que se forçasse um movimento brutal seus ossos partiriam. Entretanto, foram cinco passos que precisou dar até ouvir em alto e bom som Jungkook falar:

ㅡ Te amo!

ㅡ Eeeeei! Agora você disse! ㅡ voltou feliz, balançando o indicador, mas a carranca do mecânico continuava intacta.

O que foi confuso.

ㅡ Estou zoando, caralho! Te amo porra nenhuma. Vai se foder, viado filho da puta! ㅡ Jimin abriu a boca para retrucar, mas fechou, murchando no processo. ㅡ Vaza, Jimin!

Outro berro e não demorou muito para o mauricinho reagir.

Tremendo, Jimin deu meia volta com os calcanhares e a passos apressados finalmente entrou em seu carro e partiu.

ㅡ Ei, Tião! ㅡ rosnou Jungkook, massageando o pau semi duro que se contorcia em desconforto.

ㅡ Sim, patrão?

ㅡ Ainda vou comer aquele moleque!

.
.
.

Se riram um pouco,
já valeu a pena. Eu amei escrever esse curtinha, que aliás vocês pediram e fiz a continuação, hein?

Só tô revisando aqui e já solto.

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