CAPÍTULO 9

— Rafael.

Ele estava muito quieto e pensativo. Eu disse, olhando para ele, mas ele nada respondeu.

— Rafael — continuei — de onde meu avô conhece a Empuza?

— Essa é uma longa história, Laura. Mas saiba que é essa que eu irei contar para você agora.

Fiquei em silêncio, aguardando as cores preencherem o mundo ao meu redor. E assim aconteceu: eu estava na cozinha, e Rafael, Empuza e meus avós já haviam terminado a refeição. Esta lembrança era a continuação da lembrança anterior. Meu avô olhou para Empuza.

— Empuza, acompanhe Marieta de volta para a casa dela e agradeça aos pais dela, em meu nome, por deixá-la aqui. Afinal, acreditávamos que ela iria morrer, e seu último pedido foi que morresse ao meu lado. Como ela está viva graças a você, Rafael, ela deve voltar para a casa dos pais. E se perguntarem o que aconteceu, diga que foi... foi um milagre.

— Foi, sim. Não sei o que convenceu este anjo marrento, arrogante, egoísta, teimoso, tolo, um...

— Já chega, Empuza! — disse Antônio.

Eu, Marieta e Empuza caímos na gargalhada.

— Vamos, Marieta — disse Empuza, tomando-a pelo braço.

Nesse momento, algo aconteceu: Rafael pôs uma das mãos nas têmporas e largou Marieta. Rapidamente, Empuza chegou nele antes que ele caísse no chão.

— O que foi, anjinho? — Empuza perguntou, muito preocupada.

O rosto de Rafael estava muito pálido, e ele suava intensamente. Seus cabelos vermelhos como sangue pareciam molhados e grudentos em sua testa, como se fossem feitos de sangue.

— Ouço as vozes de meus irmãos... estão furiosos e me encontraram.

— A cidade está protegida. Não tem como entrarem aqui.

— Assim espero, Empuza.

E todos sumiram em meio àquelas trevas tão familiares para mim.

— Agora, Laura, irei te mostrar mais uma lembrança roubada. Ela é a última. Olha, eu precisei roubar essas lembranças para poder entender como tudo aconteceu. Como eu disse, eu só pude compreender depois. Na época em que essas lembranças estão passando, quero que entenda que eu não sabia dela... de Yofiel. Para mim, só meus outros irmãos me queriam morto, e eu não sabia que ela estava liderando tudo desde o início.

Ele disse tudo isso muito triste. Eu já começava a imaginar o fim trágico que essa história poderia ter. Só tive coragem de perguntar uma coisa, com a boca seca:

— Eles entraram na cidade e encontraram vocês?

Rafael assentiu positivamente e devagar. Ele estalou os dedos, e eu vi a cena se formando ao meu redor.

Era Raguel junto a Yofiel e outros anjos. Eles estavam diante de inúmeros daqueles símbolos para afastar anjos.

— O que tem lá? — perguntou um demônio.

— Não importa — disse Yofiel, seca e friamente.

Só pelo olhar dela, eu sabia que ela iria fazer algo monstruoso. O que, eu não sabia, mas foi isso que seu olhar me passou.

— Tem símbolos para manter demônios longe. Quem está lá?

— Um fugitivo perigoso dos céus — disse Raguel, também friamente.

— E por que tem esses sigilos tanto enoquianos quanto demoníacos?

Os anjos ficaram em silêncio.

— Precisamos que apague os sigilos para entrarmos na cidade.

— Olha aqui, suas anjinhas gostosas e vadias, não sei se perceberam, mas tem sigilos de demônios também. Ou seja, não posso simplesmente apagar os símbolos. E não apenas isso, pois estão ao lado dos símbolos de demônios — o demônio disse com desprezo.

— Quem disse que queremos que você vá lá apagar? — Yofiel disse, pegando uma longa faca e cortando a garganta do garoto. Ela segurou uma taça de ouro para aparar o sangue.

O demônio caiu sem vida aos pés dela.

— Yofiel, o que está... — Raguel começou a dizer, mas se perdeu nas palavras, pois Yofiel cortou também sua garganta, enchendo outra taça de ouro.

Yofiel começou a falar de forma macabra:

— Rogo pro te, Baphomet; rogo pro te et Lucifero, ut deleas hos sigilos, et ero tuus, et dabo centum millia angelorum in tributo.

Ela disse essas palavras que eu não fazia ideia do significado. Em seguida, estalou os dedos, fazendo todos os anjos que a acompanhavam caírem mortos. Uma fraca luz azul saiu de cada um deles, cintilante, e começou a circular ao redor dela. Yofiel tomou o conteúdo das taças, e seus olhos tornaram-se negros. Aquelas luzes azuis circundaram os símbolos enoquianos e, finalmente, removeram todos eles.

E a escuridão tomou conta de tudo novamente.

— Rafael, o que foi isso?

— Um ritual antigo e proibido...

Ele disse isso suavemente.

— Um ritual pra quê? O que era aquilo que ela disse?

— Latim.

— E você sabe o que quer dizer?

Perguntei, sem paciência. A resposta dele me irritou ainda mais.

— Claro que sei, sou fluente.

Nesse momento, eu quis socá-lo. Foi o que fiz, e minha mão doeu muito. Ele perguntou com sua voz calma e inocente:

— Por que fez isso?

— Eu sinceramente não faço ideia. O que esse ritual em latim, ou seja lá o que for, quer dizer?

— Ela implorou a Lúcifer para eliminar os sigilos.

— Sério, Lúcifer?

— Sim. “Rogo pro te, Baphomet; rogo pro te et Lucifero, ut deleas hos sigilos, et ero tuus, et dabo centum millia angelorum in tributo” quer dizer “Rezo por você, Baphomet; peço por você e Lúcifer, apaguem estes sigilos, e serei de vocês, e dou como tributo cem mil anjos.”

— Quem é essa coisa?

— É um demônio.

— E por que Yofiel...? Como disse, até hoje não compreendo as atitudes que ela tomou.

Fiquei em silêncio, aguardando a próxima lembrança contar o desenrolar dessa história.

Eu só tinha certeza de uma coisa: Yofiel encontraria os dois. Mas o que vai acontecer? Por que ela quer tanto a cabeça de Rafael em uma bandeja? Ele não fez nada a ela, pelo menos foi isso que ele me disse e é o que dá a entender. Sinceramente, eu gostaria de saber quais são as motivações de Yofiel... E por que um anjo estava rezando a Lúcifer e a um demônio?

Perdida nesses devaneios, não notei o mundo se formando ao meu redor.

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